A
teologia triunfalista[1]
ensina que o homem é bom, que sempre vai vencer e conquistar, que nosso planeta é o melhor lugar do mundo, este é o lema! A teologia bíblica nos convida a
participarmos dos sofrimentos de Cristo, a sermos testemunhas, a vivermos como
estrangeiros em terra estranha, a colocarmos nossa esperança em Deus e não em
nós mesmos ou nos outros, vivermos uma vida não pelo que vemos, mas, pelo que
cremos. Esta filosofia de vida aos olhos dos ímpios parece loucura, “confiar em
um Deus invisível”. Devemos lembrar que fomos salvos pela loucura da pregação,
e estamos firmados em uma rocha, a pedra angular! Quando penso na doutrina da
providência me vejo frágil, debilitado e
limitado. Mas vejo nas páginas das Escrituras um Deus criador e sustentador de
sua criação. O nosso Deus não é o deus relojoeiro que deu corda no mundo e foi
embora, nosso Deus reina soberanamente sobre sua criação. Berkhof[2] em
sua teologia sistemática traz a seguinte definição sobre a doutrina da
providência:
A palavra é derivada do termo latino providentia, que corresponde ao grego pronoia. Estas palavras significam primariamente presciência ou previsão, mas gradativamente adquiriram outros sentidos. A previsão é, de um lado, associada a planos para o futuro e, de outro, à realização concreta desses planos. Assim, a palavra “providência” a significar a provisão que Deus faz para os fins do seu governo, bem como a preservação e governo de suas criaturas.
Muitas
vezes usamos esta bela e robusta doutrina apenas para refutar as heresias do
teísmo aberto[3],
usamos no gabinete pastoral para aconselhar um irmão que acabou de perder
emprego e tem uma família para sustentar. Mas, existem momentos que mesmo como
pastores/teólogos nós não conseguimos orar conforme prescreve esta doutrina. Esta
doutrina é transcendente enquanto nos estamos impactados e estacionados pelos
nossos sofrimentos, me faz lembrar a oração do salmista no Salmo 121.1-8 :
“Levantarei os meus olhos para os montes, de
onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.
Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que
não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. O Senhor é quem te guarda; o
Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia nem a lua de
noite. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor
guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre”.
Ao nos
debruçarmos nesta doutrina experimentarmos um relacionamento com nosso Pai! O
pensamento pós-moderno apela para a experiência e reduz a mensagem do
evangelho, por outro lado alguns teólogos racionalistas fundamentam-se na
autonomia da razão, daí vemos uma teologia apenas no discurso. Quando olho para
nossa herança reformada vejo homens como Lutero, Zwínglio, Calvino e outros que
mesmo em meio todo tipo de provação confiam na providência Divina. O velho Calvino[4]
nas institutas faz o seguinte comentário sobre a Providência:
“Apenas
pela fé compreendemos que o mundo foi disposto pela Palavra de Deus, pois que,
se não chegamos até sua providência, por mais que parecemos compreendê-lo com a
mente e confessá-lo com a língua, não podemos entender o que vale dizer que
Deus é Criado”.
Esta
citação mostra como é nosso entendimento muitas vezes desta doutrina, Deus não
apenas criou o mundo, Ele conserva e sustenta com seu poder e nenhum evento
acontece que não esteja em seu decreto. Nosso Deus é soberano, assim cantamos
no culto solene ao Senhor! Desafio é cantar esta canção em plena segunda-feira
onde somos impactados por problemas e aflições, este é o desafio de todo
cristão, viver como peregrino em terra estranha confiando na providência. Ao
longo da caminhada fiz orações que hoje me envergonho! Hoje olho para meus
problemas e aflições sabendo que meu Deus é bom. Sempre bom. Finalizo com uma
frase do C.S Lewis
“Deus sussurra a nós na
saúde e prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de
Deus. Então Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí então
ouvimos o ribombar de Sua voz."
Quando olhamos para a doutrina da
providência aprendemos que muitos problemas que enfrentamos são pedagógicos e
assim percebemos que estamos sendo moldados pelo Criador. A Ele seja a glória
para todo sempre amém.
[1] O “triunfalismo” é um
comportamento de sutileza típica: aproveitando-se das circunstâncias que estão
ao redor do crente, o adversário levanta homens e mulheres que geram
expectativas de um “paraíso na terra”, desviando os olhares do povo daquilo que
é relevante e permanente: a vida eterna.
[2] BERKHOF, Louis. Teologia
Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. – 4ª Ed. Revisada, São Paulo:
Cultura Cristã, 2012. p.153.
[3] Teísmo aberto é a teologia que
nega a onipresença, a onipotência e a onisciência de Deus.
[4] CALVINO, João, A instituição da
religião cristã, Tomo I, Livros I e II; tradução Carlos Eduardo de
Oliveira...et al., tradução do livro II, Carlo Eduardo de Oliveira. –São Paulo:
Editora UNESP, 2008, p. 184.