Senhoras e senhores
leitores, hoje não me dirigirei aos pentecostais, nem à turma gospel que vemos
por aí. Mas algo tem me incomodado bastante depois de alguns comentários a
respeito da última participação do Pr. Marcos Granconato no programa Vejam Só.
Não tenho intenção alguma em criar algum tipo de briga com o pastor. Na
verdade, vejo o Granconato como um excelente expositor da Palavra de Deus, um
homem que tem sido muito usado por Deus para que se inicie uma verdadeira
reforma na igreja brasileira. Tem sido realmente fiel e um ótimo defensor da
pura e sã doutrina. Dito isso, me dirigirei aos reformados ou pelo menos, aos
que assim se intitulam.
Às vezes me pergunto até onde o limite do humor pode ir. Na verdade, no fundo, não é de humor que estou falando, mas de arrogância. Até onde a prepotência pode levar o coração de um bom estudante das Santas Escrituras. Será que toda a teologia que professamos, todos os conjuntos de doutrinas reformadas, e todo o nosso entendimento deveria nos levar a posicionamentos tão grotescos e impiedosos? A pergunta que faço é: Se nos intitulamos calvinistas, temos refletido na humildade que o próprio Calvino tinha?
"Não há nada em nós,
exceto podridão; nada, senão pecado e morte. Então, permitamos que o Deus vivo,
a fonte da vida, a glória eterna e o infinito poder; venha e se aproxima de
nossa miséria e felicidade e fragilidade, bem como deste profundo abismo de
toda iniquidade - o homem; permitamos não somente que a majestade se aproxime
desse homem, mas também se torne um com ele, na pessoa de Jesus Cristo."
João Calvino
O que dizer na de Cristo,
o próprio Deus?
“Que, sendo em forma de
Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo,
tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma
de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de
cruz.” Filipenses 2:6-8
Nós que afirmamos
doutrinas profundamente humilhantes, por que tratamos com tanto menosprezo quem
não concorda? Há alguma coerência ou lógica nisso? A única resposta que
encontro é que com a boca dizem crer nas doutrinas da graça, na soberania de
Deus e em todos esses temas comuns aos reformados; mas por dentro, no coração,
nada disso é importante. Ganhar uma disputa teológica é mais importante. Entrar
no grupo dos reformados da igreja é o mais importante. Bater no peito e dizer “eu sou calvinista” é
o mais importante. Querem apenas mais uma “vitória com sabor de mel”, só que
reformada.
Nesses dias, vi um jovem
rebatendo um pastor nos comentários e fizeram aquela pergunta para ele: “Se
ficasse provado que Deus fosse tal como os calvinistas dizem ser, você o
adoraria?” A resposta não foi dada. Seu coração prepotente e orgulhoso não
permitiu. Estava mais preso às verdades sobre Deus do que ao próprio Deus. E
lanço a pergunta: E se ficasse provado que Deus fosse tal como os arminianos
dizem ser, você o adoraria? Tenha humildade, pelo menos, para respondê-la de
forma honesta e, se a reposta for “não”, é de arrependimento que você precisa.
A grande questão é que o
número de reformados ou calvinistas só cresce no Brasil e se isso não for
cuidadosamente analisado, criaremos no meio de nós apenas descrentes reformados
e calvinistas cujos corações não foram em nada transformados. São pessoas que se alimentam de disputas
soteriológicas, mas nunca se doam, em um amor sacrificial e de autonegação,
para uma vida verdadeiramente piedosa. Precisamos muito conhecer – de verdade –
a depravação de nosso coração e reconhecer – de verdade – que nada somos. Fiquei feliz quando expus minha opinião sobre
algumas respostas arrogantes do pastor Marcos (com todo respeito) e as
exaltações dessas gerações de modinhas-reformados, ao ver que ainda existem
alguns que odeiam com vigor tais demonstrações de prepotência. Veja o que meu
amigo Yago Martins disse:
“Na geração do Turn Down
For What, arrogância virou método apologético. Aplaudir debatedor por
comentários mal-educados não engrandece ninguém. Como disseram alguns amigos, é
muito Vincent Cheung para pouco Francis Schaeffer.”
E quero dizer, que grande
parte da culpa é nossa. Espectadores que damos mais audiência a esses eventos
do que a outros muito mais relevantes e importantes para uma cultura caída e
cheia de almas perdidas. Não desvalorizo a apologética, mas engradeço as que
são feitas para a inteira e única glória de Deus. A quem estamos criticando? Nossos irmãos! E a
quem alimentando? Nosso ego. Antes de sairmos julgando tudo e todos, nós
reformados, precisamos nos criticar duramente. Sofri pra aprender isso, mas
Deus tem me ensinado. Falta piedade na nossa apologética.
Gostaria de finalizar com
as palavras de Agostinho, homem do qual Calvino bebeu muito para formular seus
pensamentos:
“Quando perguntaram a certo retórico qual era a sua primeira regra de retórica, ele respondeu: ‘Elocução.’; Qual era a sua segunda regra: ‘Elocução’; qual era a terceira: ‘Elocução’. Então, se você me perguntar a respeito dos preceitos da religião cristã – primeiro, segundo, terceiro –, eu lhe direi: ‘Humildade’”.