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10 de jun. de 2015

A Questão Ética no Ciberespaço

Por Thomas Magnum

Ao transcorrermos sobre o campo da ética devemos ter em mente algumas questões importantes. A ética é o correto procedimento nas mais variadas camadas de conhecimento e cultura. De fato vivemos um momento ímpar no ocidente em relação à ética, tendo em vista a ascensão da modernidade e a proliferação do relativismo. Uma sociedade relativizada é responsável por sua destruição cultural, social, histórica e moral. É imprescindível refletirmos sobre a ética nos meios massivos, por isso é importante que uma população consciente de sua cidadania e responsabilidade ética seja recíproca aos observatórios da mídia, eles são responsáveis por apontar os erros e manipulações dos conglomerados, e das investidas antiéticas das empresas de comunicação. Como também seus pontos positivos e suas contribuições, podemos citar como exemplo o observatório da imprensa que a mais de dez anos sob a chefia de seu fundador, o jornalista Alberto Dines, é responsável por um trabalho formidável e de utilidade pública.

Quando analisamos a questão ética nas redes sociais podemos identificar a evolução pluralista e narcisista. Mais do que nunca as pessoas tornaram-se amantes de si mesmas como disse o Apostolo Paulo. A libertinagem sexual da informação, principalmente nas redes sociais tornou-se algo comum e evidente. O Facebook tomou a posição de: "espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?" Jovens sarados que querem mostrar suas divisões abdominais, que desejam mostrar ardentemente o quanto malham e são vistosos. Garotas que desejam ardentemente serem alvos do desejo dos homens aflorando instintos pecaminosos através de suas selfs, usando roupas sensuais, fazendo caras e bocas, insinuando-se para receberem comentários recheados de concupiscência.

Quando tratamos desses fatores devemos entender que isso não está fora da esfera cristã evangélica, não é anormal encontrarmos em redes sociais fotos de garotas seminuas dizendo “Obrigado Senhor por mais um dia”, isso parece sem importância para muitos, mas ao considerarmos a ética cristã contida na Palavra de Deus, identificamos tais pecados da geração atual. Toda manifestação sensual e erótica fora do matrimônio é pecado e condenado na Bíblia como prostituição. Muitos jovens esquecem que terão que viver muito ainda, e tais comportamentos que estarão registrados na rede podem causar situações desconfortáveis e constrangedoras no futuro.  Uma pesquisa publicada pelo site olhar digital apontou que um em cada três casamentos acabam por causa do Facebook. Relacionamentos extraconjugais, flertes entre pessoas casadas e solteiras (muitas delas ditas cristãs) acontecem de forma absurda nas redes sociais.

Inúmeras páginas no Facebook são de conteúdo erótico e pornográfico e essa cultura que entroniza o sexo como “divindade” tende a descer mais fundo nesse abismo de perdição e iniquidade. A imoralidade tem sido sacralizada, as conversas indecentes, os olhares lascivos, os relacionamentos pecaminosos tem sido cada dia marca registrada nas grandes mídias. Como cristãos devemos filtrar o conteúdo que consumimos. Devemos fazer tudo para glória de Deus e viver dignificando seu santo nome. Outra pesquisa recente mostrou que as pessoas querem mais privacidade no Facebook, no entanto, essa privacidade é um disparate com o que muitas pessoas postam diariamente. Muitos se colocam em situação de risco, marcando os lugares onde estão e com quem estão; abrindo facilmente a possibilidade de serem encontradas para os mais variados fins.

A revista pernambucana Olhar Cristão publicou uma matéria muito interessante sobre a igreja e as redes sociais, na sua edição de número 6, Julho/Agosto do ano passado. A matéria de capa foi o Evangelho na Rede contendo valiosas opiniões de especialistas em redes sociais, pastores, teólogos, missiólogos e Jornalistas. A matéria escrita por Carlos Henrique da Silva em um trecho nos trás algo cabível a nossa pauta:

O Fenômeno brasileiro é observado também a nível internacional: chamado de “capital da mídia social do universo” pelo Wall Street Journal numa reportagem em fevereiro, o Brasil é um dos campeões de participação, mesmo enfrentando dificuldades básicas de conexão comparadas com potências como os Estados Unidos e Japão".

Essa presença marcante do Brasileiro na rede pode servir como meio eficaz de propagação da mensagem do evangelho, nossa ética é regida pelas Escrituras Sagradas e deve ser manifestada em todas as camadas em que estivermos presentes.

Em seu livro Os Cristãos e os desafios contemporâneos o falecido Reverendo John Stott nos presenteia com uma maravilhosa obra sobre cosmovisão cristã, gostaria de citar um trecho do livro que Stott diz:

"Os cristãos devem permear a sociedade, apesar de os cristãos serem moral e espiritualmente diferentes dos não cristãos – ao menos deveriam ser – eles não devem viver segregados socialmente. Ao contrário, a sua luz deve brilhar na escuridão e o seu sal deve infiltrar a carne em decomposição. Os cristãos podem influenciar a sociedade até mesmo quando ela rejeita veementemente a fé cristã"¹.

Como cristãos não devemos estar alienados da sociedade, mas, viver de forma a brilhar como luz nas trevas como disse Jesus:

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. 

Mateus 5.13-16


A ética cristã permeia todas as nossas relações na sociedade, nos diz que renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, devemos viver neste presente século de forma sóbria, justa e piedosamente (Tito 2.12). [grifo meu]


No seu tratado monumental sobre ética o livro A Doutrina da Vida cristã² o Dr. John Frame nos mostra a base da ética não cristã em três princípios:

Ética teleológica – Para alguns eticistas não cristãos, prevalece o principio teleológico. Para eles o mais importante é o objetivo que buscamos, em geral definido como felicidade ou prazer.

Ética deontológica – Também temos entre os eticistas não cristãos o principio deontológico, que busca princípios éticos absolutos, principio que deve ser externo a nós mesmos, deve ser universal, necessário e transcendente.

Ética existencial – Defende o a bondade interior, a interiorização do homem é responsável por sua melhora como dizia Jean-Paul Sartre.

Vemos, no entanto, essa manifestação filosófica sobre o procedimento humano presente nas sociedades virtuais das redes, note que, os três princípios defendidos por eticistas não cristãos são cabalmente cumpridos em sua totalidade e perfeição somente em Deus e não no homem. Na ética não cristã o homem prevalece. Na ética cristã,  Deus é o autor e causador de uma melhoria na vida interior e exterior do indivíduo. Portanto nossas relações sociais, incluindo as redes sociais devem ser a manifestação da graça comum aos homens, assim nosso viver falará mais do que nossas palavras. O problema do cristianismo moderno não é só o tipo de pregação, mas, a vida da mensagem. Nosso viver mostrará o poder de Deus em nossas vidas, nossa ética deve ser regida pela vontade soberana de Deus manifestada em sua Palavra. Como cristãos devemos utilizar as redes sociais para dignificar e honrar a Deus.
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1 - Os Cristãos e os desafios contemporâneos, John Stott – Ed. Ultimato
2 - A Doutrina da Vida cristã, John Frame – Ed. Cultura Cristã