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6 de jun. de 2015

A Síndrome de Eurico

Por Thiago Azevedo

Há algumas semanas o mundo do futebol ficou chocado com mais uma declaração do senhor Eurico Miranda, presidente do Vasco da Gama.  O Sr. Eurico teceu um comentário em resposta as possíveis críticas vindas de alguns dos próprios atletas do clube, e proferiu a seguinte frase: “Aqui no Vasco, ninguém pode ter opinião diferente da minha” (veja aqui). 

A “Síndrome de Eurico” acomete as mais diversas instituições, seja profissional, filantrópica, educacional ou religiosa. Aqui, cabe a nós abordarmos as instituições religiosas.

As igrejas na atualidade possuem diversos líderes que aplicam na íntegra a síndrome mencionada. Os riscos são mais eminentes nos governos episcopais, àqueles que toda e qualquer autoridade recai sobre uma única pessoa. Já diz um velho ditado que se alguém deseja conhecer uma pessoa de fato é só conceder poder a mesma. A sensação de poder é vertiginosa, e isso aliado ao desejo inerente que o ser humano possui de sempre querer mais, é a composição perfeita para uma bomba relógio que antes mesmo de estourar, causa ditaduras diversas e opiniões unilaterais. Uma das marcas principais de um líder é saber ouvir e aceitar opiniões. A própria Bíblia pode nos mostrar dentre vários, um bom exemplo em Êxodo 18.

Algumas perguntas são necessárias após a leitura do capítulo sugerido: quais feitos Moisés havia realizado até aquele momento? Moisés havia libertado o povo hebreu do Egito. Por meio da intervenção divina tocou o mar e este se abriu, Moisés tinha habilidades conferidas pelo próprio Deus, e o próprio Deus disse que tinha mais intimidade com Moises do que com qualquer outra pessoa daquela época (Números 12:6-8). E Jetro quem era?  Jetro era apenas o sogro de Moisés, personagem bíblica sem grandes feitos atrelados ao seu nome. Mas, mesmo assim, Moisés o ouviu e executou seu conselho (Êxodo 18:13-24). Uma das principais características da liderança de Moisés era sua humildade. Talvez se esta situação fosse nos dias atuais, a resposta fosse outra, do tipo: “Quem você pensa que é para me aconselhar?”. Esta pergunta é característica de quem executa a “Síndrome de Eurico”.

Um bom líder é aquele que é humilde em primeiro lugar, aceita as críticas, abre espaço para tempestade de opiniões, não oprime, delega responsabilidades, repassa os elogios e retém às críticas. Ou seja, só há liderança porque há liderados, uma coisa deve está concatenada na outra e a primeira depende mais da segunda do que o inverso, na maioria das vezes. O caráter de servir do líder deve ser sempre levado em consideração. O próprio Jesus executou esta tarefa (Marcos 10:45). Na atualidade os pastores não falham apenas em não saber pregar, este seria o ponto principal, mas falham por não saber liderar, outro fator importante. Logo, temos a negligência de dois dos principais aspectos para que haja êxito ministerial: pregação e liderança.

Pastores se esquecem  de que o nome de Deus pode ser glorificado também por meio de uma liderança harmoniosa, justa e equitativa que não oprima ninguém. Ser líder não é sufocar e oprimir, mas sim conduzir em amor. O líder cristão deve entender que ele, apesar de líder, sempre será um líder servo (sempre estará debaixo de uma liderança maior que é Deus), segundo as palavras de Robert K. Greenleaf : o grande líder é visto primeiro como servo, e este simples fato é chave para sua grandeza... (pessoas) só vão responder espontaneamente àqueles indivíduos que são escolhidos por serem servos aprovados e de confiança” (grifo nosso).

Um líder cristão não realiza meramente sua vontade, mas sim a de Deus. Suas decisões não são meramente suas decisões, e por isso são aceitas pelos liderados. Pois, estes reconhecem os indícios de que além de Deus conduzir, o líder é um mero instrumento d’Este. Eis aqui a grande distinção entre liderança e liderança cristã.  Portanto, fica claro que a “Síndrome de Eurico” não deve fazer parte de uma liderança cristã pautada nas Escrituras Sagradas. Você leitor, agora está apto a saber se os líderes de sua igreja possuem ou não está síndrome, se sua liderança é de fato cristã ou não. Pois existe a possibilidade latente de uma liderança está atuando dentro de uma igreja, com linguagem cristã, trajes cristãos, e não ser cristã de fato, ser apenas uma liderança como qualquer outra. Assim, não será difícil identifica-la, pois a “Síndrome de Eurico” é a sua marca mais eminente. 

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