Deveríamos
almejar ser uma subcultura?
O
tópico “Cristianismo e Música” é parte de um tema mais abrangente,
“cristianismo e cultura”, o qual pode ser dividido em duas partes: nossas
próprias formas culturais e o nosso relacionamento com a cultura que nos cerca.
Primeiramente,
nossas próprias formas culturais. Ser humano é ser cultural. Não há outra
possibilidade. Se você decidir viver em uma caverna sem roupas quentes e comer
apenas sopa e pão, então você poderia dizer que fugiu da cultura. Eu lhe diria
que você criou o seu próprio tipo de cultura, uma cultura muito ascética, mas,
ainda assim, uma cultura (um estilo particular de viver). Cultura é um estilo
de vida: o modo pelo qual fazemos as coisas, as coisas que observamos, as
coisas que amamos, as coisas que não amamos e colocamos fora da nossa órbita.
Não podemos escapar da cultura, pois somos humanos.
Muitos
evangélicos olham para a cultura com total negatividade. Essa é a cultura
deles: serem negativos para com a cultura. Por esta razão, nós do L’Abri
sentimos que precisamos dar uma pequena contribuição para que isso mude. Por
essa razão, temos um concerto como parte desta conferência do L’Abri nos EUA.
Não vemos esse concerto como um anexo supérfluo ou de menor importância. Muito
menos o vemos como um simples ornamento ou diversão. Não, ele é algo central em
relação a mensagem que defendemos. Fui abordado por alguém que perguntou: “Por
que vocês incluíram um concerto nessa conferência? O que um concerto tem a ver
com cristianismo?” Eu respondi: “Tudo! É o nosso estilo de vida!.”
Outro
argumento importante a se fazer quando pensamos em cristianismo e cultura é que
nunca deveríamos almejar ser uma subcultura. De certo modo é inevitável
tornar-se uma subcultura. Tão logo você tenha um grupo de pessoas reunidas e
que têm seus próprios costumes, nasce certo tipo de subcultura. Isso em si não
é algo ruim. Mas acho que não deveríamos fazer disso nossa meta, pois a tarefa
do cristão é ser parte da cultura como um todo. Nossa missão não é apenas para
nossos amigos, mas para o mundo, a nação e a cultura na qual estamos
inseridos. Cristo disse: “Vocês são o sal do mundo.” Ele quer que sejamos “o
sal que salga” de modo que combatamos a corrupção. Lutamos contra a corrupção
buscando manter as coisas saudáveis e dar-lhes sabor. Não fazemos isso apenas
para o nosso pequeno círculo, mas para o mundo inteiro. Lutamos por retidão e
justiça no mundo à nossa volta. Pode ser que fazendo isso nos tornemos uma
subcultura. Se sentirmos que todo mundo à nossa volta está agindo errado e por
isso tentarmos fazer as coisas de um modo melhor ainda que ninguém queira
ouvir, então isso obviamente significa que somos diferentes. Não devemos ter
medo disso. Não devemos ter medo de ser uma subcultura, mas jamais deveríamos
buscar ser uma.
Cerca
de seis ou sete anos atrás testemunhamos a chegada da minissaia. Dois meses
depois, todas as garotas cristãs já as usavam. Na minha percepção, isso ocorreu
de maneira muito fácil. Não acho que as garotas cristãs devam sempre estar dois
anos atrasadas em relação à moda. Não é isso que estou dizendo. Contudo,
naqueles dias, usar minissaia significava que a mulher estava disponível.
Isto foi declarado abertamente pelas pessoas que a desenharam. Então não é por
puritanismo que estou dizendo isso, mas por causa do contexto. Quem não
quisesse parecer “disponível”, deveria se perguntar se deveria vestir tal peça
de roupa. Não podemos simplesmente seguir as tendências. Nem devemos tentar. Na
verdade, deveríamos tentar sermos nós mesmos.
Durante
um longo período da história ocidental, os cristãos deram o tom trabalhando
para o bem-estar de todos. Os princípios morais que existem na Europa
Ocidental, Canadá e Estados Unidos da América têm suas raízes no cristianismo.
Talvez não somente no cristianismo, mas o cristianismo indubitavelmente
deu-lhes uma imensa contribuição. De certo modo, todas essas foram nações
cristãs. Claro que nunca o foram perfeitamente e não significa que todas as
pessoas eram cristãs. Porém, se a monogamia está presente nas leis de todos os
países ocidentais, podemos dizer que esse fato veio do cristianismo. Todavia
hoje as coisas estão mudando. Os cristãos estão se tornando uma pequena
minoria, isto é, os cristãos que realmente creem na Bíblia.
Otimismo Equivocado
Otimismo Equivocado
Sendo uma pequena minoria, como deveríamos agir? Mais do que nunca, devemos ler o Antigo Testamento, particularmente os profetas, pois eles falam de uma situação parecida: uma nação que originalmente era temente a Deus estava O renegando o Criador. Havia um pequeno grupo que ainda acreditava: 7000 pessoas que não se curvaram. Eles confrontaram os outros: “Retornem ao Senhor e sejam abençoados.” Creio que deveríamos fazer o mesmo. Nosso primeiro chamado não é evangelizar, mas sermos profetas e dizer: “Voltem-se para o Senhor. Se não, Deus virá com o seu julgamento.” Sofonias declarou: “Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da terra, que tendes posto por obra o seu juizo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor.” (Sofonias 2:3).
Primeiramente, busque retidão (justiça). É muito difícil para os jovens de hoje terem um estilo de vida diferente de todos à sua volta. As pressões sociais são muito grandes. Mas, ainda assim, isto é o que somos chamados a fazer: sermos retos (justos). Isso não significa que devamos ser antiquados; podemos ser retos de uma forma nova. Em segundo lugar, Sofonias nos invoca a buscar a humildade. Isso implica aceitarmos que somos minoria e que não mudaremos o mundo. Não podemos simplesmente dizer: “Sigam-nos e tudo vai dar certo.” Isso seria um otimismo equivocado. Precisamos compreender que, mesmo que amanhã o mundo se arrependa e se torne cristão, ainda precisaremos de pelo menos duas gerações ou mais para reerguer o que foi derrubado.
No Novo Testamento, a primeira carta de Pedro também se dirige a pessoas crentes vivendo em um mundo descrente. Os cristãos daquela época também eram uma minoria muito pequena. Pedro diz a eles que era provável que acabassem na cadeia, mas que não tivessem medo. No L’Abri holandês, sempre dizemos às pessoas que querem se tornar cristãs: “Você compreende que dentro de dez anos você pode estar na cadeia ou em um campo de concentração?” Na maior parte do mundo a situação é essa. Até mesmo muito perto daqui, na Espanha, até bem pouco tempo, rapazes de 18 anos de idade entravam compulsoriamente no Exército por um ou dois anos e tinham que ir à Missa todo domingo pela manhã. No momento da transubstanciação, eles tinham que apresentar armas. Se você fosse protestante, não poderia fazer tal coisa e, consequentemente teria que passar seu período de serviço militar na cadeia. Assim, estamos em uma situação excepcional em que ainda podemos falar livremente em nossos países. Contudo isto pode não durar muito tempo. Sejamos humildes.
Fonte:L'abrarte