Por Thiago Oliveira
“E
disse-lhes Jesus: eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém nem ao Pai,
senão por mim”.
João 14:6
Se
você já leu alguma coisa do Kuyper ou do Schaeffer, você faz ideia do que as
palavras antítese e síntese querem dizer na pergunta que dá título ao texto. Ambas
remetem a uma metodologia do pensamento. O Cristianismo - visto como um sistema
- se utiliza da antítese. Já os sistemas mundanos usam a síntese para chegar as
suas conclusões.
A
antítese funciona da seguinte maneira: Se A é verdadeiro, logo A não pode ser
falso. Tendo duas alternativas, poderíamos ilustrar assim: A e B, se A é
verdadeiro, logo B é falso. Já a síntese vai dizer que a verdade é parcial
tanto em A quanto em B, desembocando numa terceira via: C. Portanto, temos:
De
acordo com a dialética, da qual o filósofo alemão - Hegel - pode ser
considerado o patrono, a síntese pode gerar outra tese e outra antítese, que
por sua vez criam uma nova síntese e a coisa vai se repetindo de forma contínua
e inesgotável.
Em
termos práticos, veremos como o sistema da síntese funciona, e como ele se opõe
ao Cristianismo: A Bíblia afirma que Deus criou homem e mulher (Gn 1.27). Se
Adão é macho (A), Eva (B) é fêmea. Logo, Adão não pode ser
mulher e nem Eva pode ser homem. Todavia, sabemos que isto já foi sintetizado.
Vemos em nossa sociedade homens e mulheres com a aparência cada vez mais
andrógina. Também presenciamos o nascimento de outro gênero para além de homem
e mulher, que é o transexual (C).
Raciocinando pelo escopo da síntese, o homem nasce João, mas pode se tornar
Joana e assumir uma identidade de gênero contrária a do seu nascimento.
E
para ilustrar a dialética, que está sempre desenvolvendo novas sínteses, o
próprio conceito de transexualidade já está sendo questionado pelos
representantes do segmento LGBT. Transexual é a pessoa que fez a cirurgia de
mudança de sexo e passou a ter uma identidade de gênero distinta da do seu
nascimento, e travesti é aquela que apesar de se apresentar como alguém de um
gênero diferente, ainda possui seu órgão sexual original. Mas, recentemente
estive numa palestra sobre homofobia onde o palestrante falou algo mais ou
menos assim: “Quem foi que disse que para
ser mulher tem que ter vagina e para ser homem tem que ter pênis?” Soa
absurdo esse tipo de questionamento? Não para quem abraça o sistema da síntese.
Negar
a antítese é abdicar dos absolutos morais. Eis o perigo. Verdade e mentira;
certo e errado; justo e injusto; esses conceitos todos serão relativizados,
perdendo assim o seu significado. Se não existe significado no campo da moral,
a vida perde o sentido. Daí vem o niilismo e leva a humanidade a viver num
estágio de desespero. Quando alcançamos o niilismo, barbárie ou suicídio são as
alternativas mais comuns. O homem da síntese “matou” Deus, como sugeriu Nietzsche,
e com isso também assassinou a si próprio: desespero total.
No
entanto, o niilismo não é só capaz de produzir ateus com potencial suicida. Ele
também foi capaz de fazer o homem moderno dar um salto de fé irracional, em
busca de um significado para a sua existência. Fugindo assim da razão, o homem
tenta escapar do desespero e parte em busca de experiências que vão desde o uso
de entorpecentes, até o misticismo religioso. Por isso que a religião –
contrariando os iluministas que previam o fim da mesma no século 20 – continua
firme e forte no novo milênio.
Isso
explica o crescimento do sincretismo religioso. O que importa, para o homem de
nossa época, é buscar uma experiência que fuja do campo racional e nos leve a
um campo metafísico inexplicável. É o que vemos constantemente na mídia. Num
certo programa de domingo, um cantor gospel evangélico é uma das atrações. Só
que ele está rodeado de pessoas que professam outros credos. Cada um começa a
falar sobre sua fé. Daí, constatamos o discurso comum de que a fé pela fé é
algo bom. No fim do programa, a apresentadora pede para que todos cantem em
veneração ao “deus-Samba”. O pagode então começa e os créditos vão subindo na
tela.
Como
cristãos, precisamos nos opor a síntese e continuar raciocinando por antítese.
No texto de João 14.6, Jesus disse que ele era o caminho para Deus-Pai. Logo,
nenhum outro ente pode nos conduzir a Deus. A salvação está garantida apenas
por intermédio de Cristo. Quem crer nele está salvo, quem não crer está
condenado (Jo 3.36). Jesus também alega ser a verdade. Esta é uma declaração
singular. Ele não é mais uma dentre tantas verdades espalhadas mundo afora. A
antítese dessa proposição é a de que outro credo, que não confessa Cristo como
verdadeiro, é totalmente falso. E o que é falso, por antítese, não pode ser
verdade.
Por
fim, Jesus diz que é a vida. Não é Buda que é a vida. Tampouco Maomé. Nenhuma
divindade africana, hindu, grega ou romana é a vida. Apenas Cristo é. Portanto,
em Jesus está o sentido que os homens em seu desespero tanto procuram nos seus
experimentos místicos e irracionais. Ele é a resposta para o dilema dos homens
pós-modernos.
Fica
claro que a antítese se encaixa no Cristianismo, caindo nele como uma luva. Só
que o evangelicalismo precisa ficar atento. A síntese tem adentrado em muitas
congregações. O que mais vemos por aí são manifestações misteriosas e
incomunicáveis. Quando se pede uma razão para tais experiências, a saída é
alegar que são mistérios de Deus impossíveis de serem explicados. Isto é fé
pela fé e não coaduna com o Cristianismo revelacional, no qual Deus se comunica
e opera também no campo da razão. A revelação está ligada a razão e devemos
crer porque é verdade. A fé cristã não é cega e inexplicável, ela faz sentido e
é comunicável.
Em
sua carta, Pedro diz que devemos estar aptos para responder a qualquer um que
nos pedir a razão da nossa esperança (1 Pd 3.15). E Paulo aos romanos vai falar
do culto racional, que transforma o mundo pela renovação do entendimento (Rm
12.1-2). Agir contrariando estes preceitos é dar o salto irracional que os
homens no desespero têm dado para tentar encontrar algum significado no mundo.
Conversando certa vez com um rapaz, ouvia-o falar com entusiasmo sobre a sua
conversão. Ele falava que sentiu algo diferente, não sabia explicar direito.
Perguntei a ele o porquê de ter confessado a Cristo e ele me disse que não
fazia ideia. Aquele rapaz não foi ao Salvador por ter reconhecido sua miserável
natureza pecaminosa. Ele não foi até o nosso Redentor por ter ciência de que
estava condenado sem Jesus. Foi apenas uma experiência mística sem envolver a
razão.
Pude
ter uma boa conversa com aquele irmão. Falei do texto de 1 Pedro 3.15 para ele
e o instiguei a estar sempre discernindo as experiências com embasamento
bíblico. Dias depois ele me agradeceu e disse que aquela conversa estava
reverberando em seu íntimo. Passado um tempo, vi o mesmo com um bloco de
anotações e uma caneta, estava tomando nota daquilo que o pregador estava
expondo. Louvei a Deus por ter visto aquela cena.
O
Cristianismo é a verdade. A Bíblia é verdadeira em todo seu conteúdo. Alguns
dizem erroneamente que sem o Espírito Santo a Bíblia é um livro como qualquer
outro. Não! A Escritura não se torna verdadeira por conta da atuação do
Espírito de Deus. O que o Santo Espírito faz é apenas atestar aos que por Ele
são iluminados, que cada linha que ali está registrada é verdadeira. Logo, o
que é verdade não pode ser falso. Continuemos por este caminho. Na antítese
permanecemos na ortodoxia; e o SENHOR é glorificado nisso.
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GLOSSÁRIO:
Andrógino: Aquele que mescla em sua aparência
traços masculinos e femininos.
Antítese: O oposto de uma tese, ou, o contraste
entre duas coisas. Ex: alegria é a antítese da tristeza.
Dialética: Movimento triplo em que tese e antítese
resultam numa síntese, que por sua vez cria outra tese e outra antítese e o
movimento continua nesse fluxo.
Metafísico: Usado aqui como sinônimo para
sobrenatural, ou seja, aquilo que empírica e experiencialmente não se pode
catalogar.
Misticismo: Disposição para crer e procurar viver
no sobrenatural, sem muita fundamentação. A busca pela realidade metafísica através
de iluminação imediata.
Niilismo: A crença de que a existência não tem
significado e com isso toda a vida não faz sentido.
Ortodoxia: O ensino correto, sistematizado e
alinhado à Escritura.
Síntese: O resultado da combinação parcial de
tese e antítese