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21 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (3/4)

Por Hans Rookmaaker 
A música faz a pessoa
O que podemos dizer sobre a música como parte do nosso estilo de vida cristão? A música é o ambiente que criamos para nós mesmos. A música não é simplesmente algo que temos em comum com todo mundo. Ela não é apenas 95%. É 95% mais 5%. A primeira coisa que faço quando visito a casa de alguém é olhar seus discos, pois eles me dizem quem a pessoa é. Em holandês temos a expressão “as roupas fazem o homem.” Ela significa que conhecemos uma pessoa pelo modo que ela se veste. Similarmente, a música é uma expressão de nós mesmos. As pessoas não ouvem qualquer coisa. Elas escolhem as músicas que criam e ouvem. Isso porque há uma intrínseca conexão entre a música que nos rodeia e quem somos.
Quando manuseio os discos de alguém, não suponho que eles contenham apenas hinos e canções evangélicas – nem só de hinos viverá o homem! Em meio aos seus discos, espero que haja diversos tipos de música. Se vejo que em sua coleção há música medieval, romântica e moderna, logo entendo que você é alguém com um amplo interesse neste mundo e que quer saber mais sobre outros pontos de vista em relação à vida. Nesse sentido, a música é como café, chá ou refrigerante. Ouvimos os nossos contemporâneos em sua expressão musical e conseguimos conhecê-los através de sua música. Toda a sabedoria e tolice das pessoas do passado e do presente chegam até nós através da música.
Não é porque ouvimos Beethoven que tenhamos que necessariamente concordar com ele. Significa apenas que achamos que vale a pena ouvir o que ele tem a dizer. Se ouvirmos uma passagem triste na música de Beethoven, escutaremos não apenas sua expressão de tristeza, mas também seremos confrontados com a sua visão de tristeza em relação ao seu ponto de partida como humanista. Isso significa que se ouço sua música, acabo entrando em um tipo de discussão. Ouvir música é dialogar.
As pessoas me perguntam sobre que tipo de música deveriam tocar em um bar com propósitos evangelísticos. Sempre respondo: “Isso é muitíssimo importante: pela música que você toca, qualquer um que entrar nesse bar saberá quem você é.” Isto não implica em que você deva tocar hinos o tempo inteiro. Mas significa que você tem que fazer escolhas. Alguns tipos de música não podem ser tocados nesse ambiente, porque são inadequados. Outras músicas podem parecer impróprias à primeira vista, mas podem causar uma impressão diferente se você se permitir escutá-las novamente. Aprender a fazer boas escolhas leva tempo. É preciso experimentar vários tipos de música e viver com elas por um período. Reflita sobre música. Dialogue com ela.
A influência da música
Se a música faz parte do nosso ambiente, surge a questão: Que influência ela exerce sobre nós?  Primeiro, precisamos fazer uma distinção entre música ao vivo e música tocada no rádio ou gramofone. Há uma grande diferença entre ouvir uma gravação e estar em uma apresentação ao vivo. Uma pessoa pode ouvir o rádio o dia inteiro, mas talvez não consiga ouvir uma banda durante todo esse tempo, especialmente se essa pessoa não se sentir à vontade com o tipo de música tocada. Assim, a música ao vivo tem um impacto muito mais forte.
Não devemos exagerar a influência da música. Ela não é tão grande. Quando ouvimos um disco moderno, não nos submetemos a uma lavagem cerebral e passamos a pensar como pessoas modernas. Por outro lado, a música tem um impacto e é importante considerarmos o tipo de  música que ouvimos. De fato, pensar que a música ou um filme não nos afeta de modo algum não é ser otimista, mas ser muito pessimista. Pense nisso: alguém tem uma grande ideia. cria um roteiro cinematográfico e levanta recursos na ordem de milhões de dólares. Em seguida, muitas pessoas trabalham duro durante um ano inteiro e, finalmente, o filme vem às telas. Você acha que todas aquelas pessoas estariam dispostas a desperdiçar suor, sangue e lágrimas se não fosse para o filme ter nenhum impacto sobre as pessoas? Filmes devem causar impacto mesmo. O Dr. Schaeffer sempre cita este poema japonês:
"Ele pulou na água e não causou ondas".
Isto é Zen-Budismo. Mas como cristão, eu digo: “Você pula na água e – quer queira, quer não – causa ondas.” Todos causamos ondas porque a vida humana é significativa.
Claro, alguns tipos de música são mais influentes que outros e a influência também varia de acordo com diferentes pessoas. Conheço uma pessoa que desperdiçou a metade de um ano no cenário das drogas. Mas já faz quatro ou cinco anos que ele se afastou delas. Ele me disse: “Se eu ouvir um disco do Pink Floyd, ele tem um efeito imediato em mim: Não tomo mais banho; não arrumo o quarto; fico na cama pela manhã e tenho que fazer um esforço descomunal para me por de pé novamente; isso leva vários dias.” A música do Pink Floyd tem uma influência muito forte sobre esse indivíduo em particular por ele ter participado do mundo dos entorpecentes. Talvez outra pessoa não assimile esse tipo de música de forma tão impactante justamente por não ter as mesmas associações. As músicas que mais apreciamos e com as quais nos identificamos são aquelas que mais nos influenciam.  Por isso precisamos ser cautelosos e devemos praticar a autodisciplina. Mas não devemos fazer regras gerais. Não podemos dizer “Isto é bom e isto é mau.” 
Nosso chamado pode também desempenhar um importante papel nesse sentido: se quisermos conhecer e compreender outra pessoa, talvez seja preciso que ouçamos as músicas que ela ouve. Somos livres para escolher a música que queremos ouvir, contudo devemos ser responsáveis por nossas escolhas. Se certos livros, imagens ou músicas nos levam para uma direção pecaminosa, é melhor deixá-los de lado. Algumas pessoas conseguem ler coisas consideradas muito fortes para outras pessoas e vice-versa. Portanto, cada indivíduo tem sua própria responsabilidade. A questão a se fazer diante de Deus é esta: Essas coisas convêm? Mas isso não é simplesmente uma questão de obedecer regras. Foi por essa razão que Paulo ensinou: “Ponde tudo à prova. Retende o que é bom.”
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Fonte: L'abrarte

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