Por Thiago Oliveira e Thomas Magnum
A vaidade é algo comum em todo
ser humano, mas, gostaríamos, com esse texto, chamar a atenção dos músicos: instrumentistas
e cantores. Esta é uma categoria que tem ganhado muita notoriedade com o boom
da música gospel e vem moldando a forma de cultuar da Igreja. Anteriormente, a
congregação cantava embalada por hinários e um organista. Isto foi mudando e
após a revolucionária década de 1960 a sonoridade pop invadiu as liturgias, com isso boa parte das igrejas aderiu ao que chamamos de “liturgia contemporânea”.
Embora gostemos das letras
contidas nos hinários, pois teologicamente são bem robustas, não desprezamos a
musicalidade de nossa época. Os louvores podem sim ter uma melodia que
comportem serem tocadas por instrumentos como guitarra, bateria e baixo. Quanto
a isso, não há nada de errado em si. O foco importante deve estar no
comportamento do grupo de louvor e, sobretudo, no conteúdo daquilo que se
canta. Fica a pergunta no ar: Os louvores contemporâneos são bíblicos?
Todos os cantores e
instrumentistas que compõem os grupos de louvor devem saber exatamente o que
significa louvar a Deus, e porque isso é parte importante no culto. Em Efésios
5.19, o apóstolo Paulo vai citar os elementos de culto e lá estão listados
hinos e cânticos espirituais. Este é o respaldo bíblico para que a música seja
parte importante no ajuntamento dos remidos para adorar ao Deus verdadeiro
(durante a reforma do século 16, alguns teólogos eram contra as músicas
executadas nos cultos). Portanto, é necessário entender que o objetivo do louvor
não é demonstrar técnica exuberante e nem chamar a atenção da igreja a um
determinado instrumento ou cantor. O objetivo do período de louvor é a glória
de Deus.
Tendo este pressuposto bem
definido (o louvor é para glorificarmos a Deus), gostaríamos de elencar alguns
conselhos práticos para que os grupos de louvor pudessem se apresentar sem
querer roubar a glória de Deus. Um princípio joanino deve vir sempre à mente
quando o assunto é louvor e adoração: “É
necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3.30). Agora vamos
aos pontos, que formam meia dúzia de conselhos bem práticos:
I) Cantem a Bíblia: Organizem o repertório com músicas que mostrem
claramente passagens bíblicas. Algo precioso da herança reformada é o princípio
de que temos que ler a Bíblia, orar a Bíblia, pregar a Bíblia, cantar a Bíblia
e viver a Bíblia. Se ela é nossa fonte suprema de sabedoria, o livro da
revelação que nos alimenta espiritualmente, o retrato de Cristo (pois aponta
para ele) e nosso guia prático, então porque cantar letras derivadas de outros
mananciais? Chega de tanto humanismo e psicologia barata que fala que “você é
campeão e vencedor”. Paremos com esses “hinos” que amaciam nosso ego e que não
tem respaldo na Palavra. Embasemos nossas canções na Sagrada Escritura. Isto
agrada a Deus.
II) Não molde o repertório ao
gosto pessoal: O culto é determinado por Deus e não está ao bel prazer do
grupo de músicos. Deus o instituiu para
ser comunitário. A Igreja é quem louva e não o grupo de louvor sozinho. Lembrem que a
congregação é multi-geracional, isto é, tem diversas gerações: idosos, adultos,
jovens, adolescentes e crianças. Temos visto que o estilo de música mais
atraente para o público jovem tem dominado as listas de canções nos cultos.
Lembrem que, na igreja, nem todo mundo é fã de solos de guitarra e gritos
ensurdecedores. Parem de tocar músicas que fazem aeróbica. Não desprezem os
antigos hinos, toque-os alternando-os com hinos mais recentes. E não esqueçam da
importância do nosso primeiro item, que é cantar a Bíblia.
III) Abaixem o
volume e evitem o estrelato: Como dito acima, o culto é comunitário. A
igreja canta junto numa só voz. A maioria esmagadora dos grupos de louvor cobre
a voz da congregação devido ao alto volume do seu som amplificado. É preciso
ter sensibilidade e evitar o exibicionismo. A congregação também encontra
dificuldades quando a música escolhida tem um tom muito elevado, onde apenas o
cantor consegue alcançar as notas. Ademais, quando um músico toca em uma
apresentação fora da igreja, ele está apresentando sua arte, em muitos casos
deve realmente demonstrar técnica e virtuosismo instrumental, mas, no culto
solene o objetivo não é esse, é apenas acompanhar a melodia e conduzir o povo a
louvar a Deus. Conduzir o louvor - e não se apresentar - é o propósito.
Entendeu?
IV) Não queiram ser
os mais importantes no culto: Como foi frisado, o momento de louvor é para
a igreja cantar ao Senhor. Sendo assim, não é o momento para orações extensas e
pregações no meio da música. A pregação será realizada pelo pastor. A música na
igreja não pode ofuscar a pregação. Em muitos lugares temos de quinze à vinte minutos de
pregação e quase duas horas de música. Nesse caso, tanto o pastor como os músicos
devem ter ciência que estão em desobediência a Palavra de Deus e invalidando a
pregação do evangelho. A música comunica o evangelho, mas, a pregação foi o
meio criado por Deus para que os homens creiam e se arrependam dos seus
pecados. Não se pode reposicionar a música no lugar da pregação. E também, o
momento do louvor não prepara o coração da igreja para a pregação, quem prepara
a igreja para o momento da exposição da Palavra é o Espirito Santo. Não
acredite que o momento do louvor é mais importante no culto, pois não é. A
pregação é o momento que Deus fala com sua igreja. A pregação foi determinada
por Deus como meio de transmissão de sua poderosa graça, pois nela, a Escritura
é exposta e por meio da exposição bíblica o Espírito Santo age convertendo
corações. Tenham cuidado para não negligenciar aquilo que Deus deu importância
no seu culto.
V) Zelem por uma boa
conduta: Os músicos cristãos devem ter uma vida piedosa, santa e não
escandalosa e ímpia como acontece em alguns casos. Tocar na igreja não pode ser
um passatempo, mas, um exercício piedoso. Componentes carnais, insubordinados
ou estrelas devem se arrepender ou então serem afastados de seus afazeres nas
atividades musicais na igreja. Os músicos cristãos devem reger suas atividades
diárias pela Escritura Sagrada. Devem ler a Bíblia, amar a Palavra de Deus. O
momento de louvor não é um show, aqueles que cantam e tocam na igreja devem saber que sua presença a frente da congregação é algo de responsabilidade para
com Deus e não para inflar o ego. Por isso deve-se atentar também até para o
tipo de roupa do grupo. Mulheres com roupas extremamente apertadas e sensuais,
ou homens da mesma forma amantes de si mesmo e da sensualidade não podem estar
a frente desse momento solene no culto.
VI) Dediquem-se a música com esmero: Os músicos crentes devem estudar seu
instrumento (isso inclui a voz) de forma excelente. Devem ser bons músicos, pois
estão fazendo para glória de Deus. Certa feita, um sapateiro perguntou para
Lutero o que deveria fazer para agradar a Deus. O Reformador lhe respondeu
dizendo que ele deveria cuidar dos sapatos de maneira caprichada, assim,
poderia até “engraxar sapatos para o louvor do SENHOR Deus”. Os músicos cristãos devem ter boa técnica e
conhecer os mais variados gêneros musicais, devem ser exímios conhecedores de
sua arte. Deus é o autor de todas as coisas. O grande artista que fez o homem a
Sua imagem e semelhança, dotando o ser humano com vários dons. A música é um
dom divino e precisa ser executada e desenvolvida com uma mentalidade
reverente. O compositor erudito Johann Sebastian Bach entendeu isso. Ele compôs
suas sinfonias dando o máximo de si e ao final de cada partitura colocava a
sigla S.D.G. (Só a Deus Glória, do latim Soli
Deo Gloria).
Bem, aqui finalizamos na expectativa
que tais conselhos ajudem a todos os que trabalham com a música nas
congregações. Falamos como irmãos em Cristo, e membros que amam a Igreja do
SENHOR, valorizando o culto comunitário como sendo uma fonte vigorosa que nos
incentiva no caminho do Evangelho.
Graça e Paz.