Por Thiago Oliveira
Não me recordo do que era a propaganda, só sei que
dizia: “Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”. Vi, numa
fonte não muito confiável, que essa frase usada numa obra publicitária era do Albert
Einstein. É uma boa frase e faz sentido. Todavia, se a isolarmos, podemos
concluir erroneamente que as respostas não são importantes. E elas são. Toda
interrogação que se levanta anseia por uma exclamação. Logicamente, nem sempre
as encontrará, mas está em busca. Afinal, quem estaria disposto a dar uma vida
por uma interrogação sabendo que nunca encontraria uma resposta? A humanidade
anseia por respostas, e elas têm valor semelhante ao das perguntas.
Esse texto surge para contrapor uma ideia que vem
sendo propagada na teologia e, através da internet, ganha adeptos nas fileiras
das igrejas. Nomes como os de Caio Fábio e Ricardo Gondim[1] ventilam a ideia de que
questionar é bem mais válido do que afirmar. Para esses e outros nomes da
“teologia do livre pensamento”, termos ou expressões, tais como: soberania
divina, inerrância bíblica, ortodoxia, apologética, dogmática e etc., não fazem
mais sentido e poderiam até mesmo ser abolidos, pois – como afirmam – não é
possível limitar Deus dentro de um sistema teológico. Há uma frase que gostam
muito de usar: “Deus não cabe dentro de uma caixa”. Mas, será esse o xis da
questão?
Antes de abordar o assunto da caixa, gostaria de
voltar ao assunto Interrogação X Exclamação. Pois, precisamos desmistificar a
superioridade das perguntas em detrimento das respostas. Rubem Alves, falecido
recentemente, homem que largou o ministério (era pastor presbiteriano) e
costumava vilipendiar a fé protestante, é um dos maiores nomes dessa teologia
que despreza proposições. Para ele, os teólogos são como um galo que se
vangloriava por achar que o sol dependia do seu canto para nascer. Alves gostava
de fazer uso de analogia com aves. Costumava dizer que não era preso em gaiolas
douradas[2], e por isso, decidiu voar
mais alto, por cima dos dogmas e da religião institucionalizada. Muitos de seus
admiradores querem voar também, e para isso, livram-se de todo corpo
doutrinário que se baseia em sentenças afirmativas.
Mas, o Evangelho embora tenha muito espaço para o
questionamento e, seja tolerante para com as dúvidas (Jd 22 diz: tenham compaixão
daqueles que duvidam), é uma mensagem que reclama para si o exclusivismo da
verdade. E se existe apenas uma verdade, logo todo o restante é mentira. Se o
Evangelho é verdadeiro, e só ele o é, logo, todos os demais credos são
enganosos, por mais que os seus adeptos sejam sinceros em sua maneira de crer,
eles estão crendo numa inverdade. Se isso nos incomoda no cristianismo, deve
nos incomodar o fato de Cristo ter feito diversas afirmações dogmáticas acerca do
céu e do inferno. Toda vez que Jesus dizia, o “Reino dos Céus é semelhante
a...” e toda vez que ele referiu-se a si mesmo como o “Eu sou”, estava sendo
dogmático e dando respostas aos questionamentos de seus discípulos e/ou seus
adversários.[3]
De igual modo, os apóstolos, como podemos ver nas epístolas que compõem o Novo
Testamento, falam de maneira proposicional e são bem taxativos. Então, se você
considera o dogma uma gaiola e quer voar não sei para onde, saiba que eu
prefiro ficar numa gaiola com o ensino de Cristo e dos apóstolos do que
experimentar de uma liberdade que me leva para longe de seus princípios. Pois,
as suas palavras, são palavras de vida eterna (Jo 6.68).
Daí a gente retoma a questão da caixa. Como dito
anteriormente, os teólogos liberais dizem que Deus não pode ser encaixotado.
Mas eu gostaria de fazer outra pergunta: E se Deus decidiu se encaixotar?
Absurdo! Impossível! Talvez não, e eu explico.
Há dois termos teológicos usados sobre a divindade,
são eles: transcendência e imanência. O primeiro discorre sobre o caráter
intangível do ser divino, que está muito aquém da nossa total compreensão.
Precisamos ser honestos, não sabemos tudo acerca de Deus. Há muitas coisas que
não conseguimos entender. Mas, como cristão apenas temos fé. Por exemplo:
Trindade. Há diversas explicações sobre ela. Tertuliano sentenciou: “três
pessoas, uma substância” de modo que Deus é único, mas Ele é três pessoas. Isso
está muito além de nosso intelecto. Apenas cremos e devemos crer. O segundo
termo, imanência, refere-se à forma como esse Deus transcendente se relaciona
com os homens, um relacionamento revelacional. Deus se revela e intervém na
história humana. Imanência é isso. E como Ele se revela?
Existe uma dupla revelação: a Geral (Natureza) e a
Especial (o Filho e as Escrituras). Deus se revela através das obras de Suas
mãos e através da Palavra. Esta segunda, mais específica, se deu de maneira
processual. Tomemos por exemplo, o Tabernáculo e a Arca da Aliança. Neles,
habitava a presença e a glória de Deus. Mas sabemos que os objetos não
continham Deus. Todavia, quando a Sua glória enchia o lugar Santíssimo, não há
dúvidas de que Ele estava presente naquele recinto. Deus é bem maior que o
santuário e bem maior que a Arca. Mas, Ele se revelou através deles e também se
fez sentir presente entre a congregação de Israel. E nessa revelação processual
o ápice é o Cristo na forma humana. Ele era totalmente divino, mesmo quando um
bebezinho carregado por Maria de um lado para outro. Podemos limitar a grandeza
divina a um corpo de uma criança? Não! Mas, quis Deus se revelar assim ao
mundo, esvaziando a si mesmo para habitar entre nós (ver Fl 2.5-11), não
deixando de ser Deus. Aonde quero chegar com isso?
Quero chegar até à Bíblia e até as informações que
ela nos fornece sobre o Divino. Obviamente o SENHOR é bem maior, no entanto,
quis Ele deixar este conhecimento fixo, que não pode sofrer acréscimos, para
que os homens tivessem noção de quem Ele é, e de tabela descobrissem também
algo sobre si, ou seja, que são pecadores que se encontram sobre a Ira divina,
necessitados da graça para obter o perdão de seus pecados, e consequentemente a
salvação. Aprouve ao Soberano deixar-nos um livro sagrado que nos conte aquilo
que precisamos saber. A Bíblia não nos fornece todas as informações sobre Deus.
Mas, ela nos dá as informações que são necessárias. Se quiserem tratar as
Escrituras, isto é, o seu conteúdo, como uma caixa, que seja, Deus quis se
encaixotar e se encaixotou.
Para concluir, direciono esse texto a você que está
deslumbrado com essa teologia das interrogações. Já diz a máxima: “sem um caminho a seguir, qualquer caminho
serve”. Esta frase é dita pelo gato, da obra “Alice no País das
Maravilhas”. Portanto, cuidado com esse perguntado sem fim que não leva a lugar
(resposta) algum. Se você é nascido nos anos de 1980, como eu, deve lembrar-se
do desenho animado “Caverna do Dragão”. Nele, as crianças perdidas num mundo
paralelo queriam saber o caminho de volta para casa. O Mestre dos Magos, um guia
sábio e eloquente, nunca lhes dava uma resposta direta (dogmática), e com isso,
os garotos nunca encontravam a passagem de volta ao lar. Pense nisso!
[1] Citando apenas dois nomes nacionais e excluindo nomes norte-americanos do
movimento “Igreja Emergente” tais como o Rob Bell.
[2] Esta ideia do Rubem
Alves está no livro Religião e Repressão, antes chamado Protestantismo e
Repressão, da Editora Loyola.
[3]
Exemplos: Em João 14.6 é uma declaração exclusivista. Jesus é o único caminho
para o Pai. E em João 3.18 a ênfase é na condenação de quem não crê nele.