Por Alan Rennê Alexandrino
A pergunta a ser feita agora é: Por qual motivo a pregação expositiva se impõe sobre a pregação tópica? O que leva os defensores da exposição bíblica identificarem a mesma como sendo a “pregação bíblica”? Albert Mohler se expressa a este respeito com as seguintes palavras: “Quero argumentar que a pregação central à adoração cristã é a pregação expositiva. De fato, creio que a única forma de pregação cristã autêntica é a pregação expositiva”.[1] Ele diz mais: “De acordo com a Bíblia, exposição é pregação. E pregação é exposição”.[2] Sua argumentação parte do princípio de que, o padrão apresentado nas Escrituras é o da exposição, não meramente o de um simples compartilhar de um texto, muito menos de ideias ou tópicos amparados por passagens das Escrituras. Mohler entende que as Escrituras apresentam, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que pregar significa “ler o texto e explicá-lo – reprovando, repreendendo, exortando e ensinando com paciência, diretamente do texto da Escritura”.[3] Ele parte de Neemias 8.8 e Deuteronômio 4, extraindo desta última passagem o tríplice princípio:
1) O único Deus vivo e verdadeiro é o Deus que fala;
2) O verdadeiro povo de Deus são os que ouvem a Deus falando com eles;
3) A vida do povo de Deus depende de ouvir a Palavra de Deus.
O princípio é que o Senhor Deus ainda fala por meio da sua Palavra escrita. Por essa razão, o pregador deve expor fielmente a Palavra escrita de Deus. Ele diz: “Entretanto, se você crê – se você crê verdadeiramente – que Deus fala por meio de sua Palavra, por que substituir a pregação expositiva da Bíblia por qualquer outra coisa?”[4]
A razão para tal convicção é que, “somente a Escritura é inspirada por Deus e, portanto, [...] Somente ela é suficiente para o ensino, a repreensão, a correção e a educação do povo de Deus”.[5]
As Sagradas Escrituras são inspiradas. “Inspiração é a obra inteiramente sobrenatural do Espírito Santo, pela qual os escritores foram totalmente governados, tanto na sua escolha e divisão do material, bem como em seu pensamento e expressão, de tal forma que, expressam a revelação de Deus perfeitamente”.[6] Isto posto, irmãos, podemos ter uma ideia da conexão entre inspiração e exposição das Sagradas quando recordamos as instruções do apóstolo Paulo para Timóteo, em sua segunda carta. Em pelo menos três ocasiões o apóstolo faz referência ao relacionamento de Timóteo com a Sagrada Escritura. Timóteo deve se apresentar “a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem (ovrqotome,w) a palavra da verdade” (2.15). Alguns léxicos interpretam o termo grego com o sentido de “corretamente seguir e ensinara mensagem de Deus para realizar um curso em linha reta, ou seja, ensinar com precisão” a Palavra.[7] Timóteo deve ter o cuidado de sempre se manter no caminho ensinado pela Palavra, nunca se desviar dele, nem ensinar outra coisa que não seja a Palavra. No capítulo 4, o apóstolo o exorta, com veemência, a pregar a Palavra. Na verdade, Paulo exige que Timóteo jure que pregará a Palavra: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra...” (4.1-2a). Esta Palavra, único objeto e fonte da pregação de Timóteo, foi mencionada anteriormente por Paulo como “Escritura” (grafh.) e reputada como sendo “inspirada por Deus” (qeo,pneustoj) (3.16).
Então, pregação bíblica e expositiva é uma implicação da inspiração da Escritura Sagrada. Derek Thomas expressou isso da seguinte maneira:
Pregação expositiva é um resultado necessário da doutrina da inspiração divina da Escritura [...] Independentemente do que possamos sentir com relação à Bíblia à medida que a lemos, a Escritura mantém a qualidade de ‘sopro de Deus’. O pregador deve fazer a Palavra de Deus conhecida e compreendida. Ele deve se limitar a ela, sem acrescentar ou subtrair nada.[8]
J. Alec Motyer afirmou que, “um ministro expositor é a resposta adequada à Escritura inspirada... Central a tudo isso, é a importância que a Palavra ‘exposição’ contém em si mesma: uma demonstração do que existe”.[9]
Por essa razão, exposição pressupõe inspiração. Inspiração implica exposição.
[1] R. Albert Mohler, Jr. Deus Não Está em Silêncio: pregando em um mundo pós-moderno. p. 57.
[2] Ibid. p. 58.
[3] Ibid. p. 60.
[4] Ibid. p. 66.
[5] Ibid. p. 72.
[6] G. H. Kersten. Reformed Dogmatics: a systematic treatment of Reformed Doctrine. Vol. 1. Grand Rapids, MI: Netherlands Reformed Book, 2009. p. 15.
[7] Friberg Greek Lexicon in BIBLEWORKS 7.0.
[8] Derek Thomas. “A Pregação Expositiva: Mantendo os Olhos no Texto”. In: R. Albert Mohler Jr (Ed.). Apascenta o meu Rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 50.
[9] Ibid.