Por
Daniel Clós Cesar
Talvez
você olhe para o movimento gospel e veja uma série de eventos e campanhas que
parecem contradizer o que digo. Você vê Congressos de Batalha Espiritual, Cultos
de Quebra de Maldições Hereditárias, atos proféticos contra o deus da Babilônia,
etc. Mas isso mostra como a igreja enfrenta de forma pragmática e simplória o
Pecado dentro da própria igreja.
Primeiro:
Como o Pecado é visto na igreja? Suas definições beiram a estupidez mental, não
fosse a clara minimização proposta por líderes do alto de seus púlpitos que na
verdade desejam apenas dar a plateia o que ela deseja. O Pecado é definido como
engano, como obra de Satanás, como erro de percurso, como vacilo... o famoso “sem-querer-querendo”.
Menos como fruto da cobiça do homem que dando lugar a tentação permite o
nascimento do Pecado que gera a morte (Tiago 1.15).
Mas
se é tão simples sua definição, porque mascará-la? É uma falta de conhecimento
do pastor ou do pregador? Absolutamente não. É descaradamente a manipulação da
Palavra de Deus em prol do Homem, para glorificar o Homem e não Deus. Ai dizer
que o Pecado é fruto da minha própria cobiça ou concupiscência, eu retiro a
responsabilidade que costumamos colocar no diabo ou na vizinha que se veste de
forma inadequada e coloco sobre o membro dizimista da igreja. Acontece que essa
distorção dá também uma falsa ilusão de arrependimento e busca por
santificação, pois, se o meu Pecado tem origem externa, não há nenhuma luta interna.
Segundo:
Mas e os cultos e congressos de Batalha Espiritual e Quebra de Maldições
Hereditárias? Mais uma falácia do movimento gospel. Porque o apóstolo Paulo não
cita em nenhum momento esse tipo de evento, mas orações simples como: “Não deis
lugar ao diabo” (Efésios 4.27)? Apesar das dificuldades de logística (organizar
um evento), custo (torcer do bolso dos membros - ofertas e dízimos) e
preparação (peças de teatro e coreografias de dança profética), um evento de
Batalha Espiritual ou Quebra de Maldições resume a busca constante do cristão
por Santificação e Dedicação ao Evangelho por um único ato. Ato de preencher
uma ficha ou receber a unção profética feita com algum óleo comprado em uma
loja de artigos evangélicos por R$5,99.
É
muito mais simples para um pastor ou líder religioso promover um evento que
dará as suas ovelhas o conforto, ainda que momentâneo (dura até o próximo
evento), de seus pecados encobertos e de suas vidas desgarradas. Ir ao púlpito
e “afirmar e determinar” libertação e cura, é mais fácil que dedicar tempo e
joelhos para ensinar e orar pela igreja. Ainda que seja fisicamente cansativo
pular três horas a frente de uma plateia, e mentalmente menos cansativo que
buscar uma comunhão com Deus e lutar contra as trevas para a real conversão das
ovelhas de sua congregação.
Terceiro:
Mas temos que cuidar com o legalismo, não acha? Sim, é fato que a igreja cristã
por muito tempo lidou com um legalismo exacerbado, e ainda luta em alguns
nichos, no entanto, o caminho contra o legalismo não é e nem pode ser o
liberalismo doutrinário ou teológico. As pregações contemporâneas tornaram-se
verdadeiras anomalias doutrinárias, todo o tipo de bizarrice surge nos púlpitos
diariamente, a criatividade do inferno parece não ter limites, beiram ao
cômico, todavia, são trágicas.
O
Pecado é tratado como um erro de percurso, ou pior, como uma oportunidade para
o testemunho. O púlpito por vezes é espaço para contos eróticos de ex-garotas
de programas ou histórias de bar de ex-alcoólatras. Pastores e líderes
acreditam realmente que testemunhos de homens pecadores são mais fortes que o
Testemunho da Cruz. Não é de admirar que tenha gente fazendo do prefácio da
Bíblia sua biografia como forma de incentivar a leitura do livro sagrado. Ao
invés de uma pregação expositiva como meio para a Salvação, o testemunho de
sucesso torna-se o meio cambaleante de pessoas irem até Cristo. Acontece que o
resultado disso é uma busca em Cristo pelos motivos errados. Cristo não é
buscado por ser o Salvador, mas por ser o solucionador de problemas.
Pregadores
do Evangelho necessitam mostrar a igreja o real estrago do Pecado em uma vida
não transformada. Ele não deve ser elevado a posição de um deus a ser temido,
mas não pode ser desprezado como apenas um sinal de nascença que não faz
diferença no corpo. Não! Este sinal leva a morte. Pastores, sejam corajosos, e
não covardes como vocês têm sido. Deus irá requerer de vocês. Não tenham
preocupação maior com este tempo do que com a Eternidade.