“Acerca dos dons espirituais, não
quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que
éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que
fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus
é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora,
há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”.
1Coríntios
12.1-5
A
carta que o apóstolo Paulo escreve aos irmãos que congregavam em Corinto é um
texto exortativo para uma congregação recheada de sectarismo. Lemos no capítulo
3 que havia entre aqueles irmãos, inveja, contenda e disseções (v.3). Havia
partidarismo e uns alegavam ser discípulos do próprio Paulo e outros alegavam
ser discípulos de Apolo (v.4). No
capítulo 11 vemos que havia sectarismo até na hora da ceia (vv. 17-21). Os mais
ricos comiam de maneira apressada, como glutões, e o exagero chegava ao ponto
de se embriagarem com o vinho. Os mais pobres ficavam com fome. Uma coisa
horrível.
No
texto que começamos lendo, no capítulo 12, a divisão é causada também por causa
dos dons. Havia, podemos assim dizer, um grupo mais carismático, enfatizando a
questão do dom de línguas de uma maneira exacerbada, e um grupo, digamos, não
carismático. Paulo vai tratar sobre a questão das línguas mais adiante, no
capítulo 14, mas este não é o objetivo do nosso estudo. Focaremos naquilo que
ele fala acerca da unidade do corpo de Cristo, isto é, a Igreja, por meio da
atuação do Espírito do SENHOR.
Para
salvar os eleitos em Cristo, Deus faz uso de um método. A metodologia divina é
a Pregação, seguida dos seguintes sacramentos: Batismo e Ceia. Assim Deus chama
para si aqueles que são seus escolhidos desde antes da fundação do mundo (Ef
1.4). Como a salvação é pela graça e não por méritos humanos, os meios para
obter-se a salvação também são graciosos. Por conta disso, a atuação divina se
faz presente em todas as etapas de nossa salvação. O Espírito Santo, que é
Deus, substância indivisível junto com Pai e Filho, eterno majestoso como as
demais pessoas da Trindade, é o vínculo que une todos os santos por meio da
pregação, do batismo e da ceia.
Nos
primeiros versículos do capítulo 12, o apóstolo dos gentios afirma que se não
fosse o Espírito Santo, ninguém seria capaz de confessar o senhorio de Cristo.
Essa confissão de fé que assegura a salvação de todo o que proclama que Jesus é
o Senhor (Rm 10.9 e 14) é algo que parte do próprio Espírito. Cristo ao falar
com os doze revelou que o Espírito Santo - por ele enviado - iria convencer os
homens do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). E para que os homens creiam
e confessem é necessário que haja a pregação do evangelho (Rm 10.14).
A
pregação é algo que não é humano. Nenhum homem seria capaz de pregar ou ensinar
(de modo ortodoxo) aquém de ter o Espírito do Senhor derramado sobre si. Jesus
noticiou aos apóstolos que o Espírito da Verdade os guiaria em toda a verdade
(Jo 16.13). Seria Ele quem anunciaria o que os apóstolos deveriam proclamar entre as
nações. Antes de ser assunto aos céus, Jesus disse aos seus: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo,
que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Em todo
livro de Atos vemos que o enredo é o desdobramento dessa palavra. Logo após o
evento do Pentecostes, Pedro em sua pregação inaugural da Igreja relaciona esse
evento com a profecia de Joel, em que o derramamento do Espírito é a causa
motriz do anúncio do Evangelho (At 2.17,18). E vemos que todo o empreendimento
missionário foi compelido pelo direcionamento do Santo Espírito. As passagens
de Atos 11.12; 13.4; 16.6 testificam isso claramente. Escrevendo aos
tessalonicenses, Paulo, juntamente com Silas e Timóteo assim afirmaram:
“Porque o nosso evangelho não foi a vós
somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita
certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós”.
1
Tessalonicenses 1:5
Na
igreja primitiva, toda a conversão era seguida pelo batismo. Já naquele sermão
inaugural, o apóstolo Pedro, cheio do poder que vem do Alto faz o apelo a
multidão que ali estava: “Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Nos versos que se
seguem, o relato de Lucas diz que naquele dia, mais de 3 mil almas foram
batizadas (At 2.41), e diz mais: Eles perseveravam na doutrina, na comunhão, no
partir do pão e nas orações (At 2.42). Todos os que criam, estavam juntos e
tinham tudo em comum (At 2.44).
Voltando
ao texto inicial, 1 Coríntios 12, o versículo 5 afirma que em meio a
diversidade de dons presente na Igreja, todos estão vinculados a mesma fonte,
que é o Espírito Santo. Esse vínculo ocorre pela fé que Ele opera em nós e é
externado, ou seja, evidenciado através do batismo. Atentemos para o que diz o
verso 13: “Pois todos nós fomos batizados
em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer
livres, e todos temos bebido de um Espírito”.
Coisa
maravilhosa é saber que o Santo Espírito é quem forma e quem concede unidade
aos crentes. O Batismo é um só, por meio do mesmo Espírito e SENHOR (Ef 4.4).
Este sacramento não é desprovido de significado. Por meio do batismo,
sepultamos o velho homem e ressuscitamos pelo poder divino dentre os mortos (Rm
6.4 e Cl 2.12). Morremos para o mundo e andamos em novidade de vida, como seres
renovados. Ser batizado é ter identificação com a pessoa e obra de Cristo, além
de ser o recebimento de um selo que testifica que somos parte do seu corpo.
Uma
ressalva precisa ser feita aqui. O batismo não confere salvação. Ele é apenas
um símbolo visível dela. O dom que Pedro se referiu em sua pregação no dia de
Pentecostes (At 2.38) é conferido por conta do arrependimento que é o termo
imperativo. A expressão “seja batizado” está na voz passiva. O que isto quer
dizer? Que o batismo em si não é o portador da salvação é apenas o testemunho
dela. Com isso não devemos desprezar o sacramento batismal, pois além de servir
como um testemunho público da nossa fé, ele também serve a nossa fé, nos
comunicando que nossos pecados foram perdoados e não mais serão imputados. A
dívida que tínhamos para com Deus foi liquidada por Cristo. Aleluia!
Existem
algumas pessoas que não se batizaram, mas que foram salvos acrescentados ao
corpo de Cristo? Sim, existem. Um exemplo bíblico que temos é o ladrão da cruz
que se converteu e escutou do Salvador que o céu seria a sua morada (Lc 23.43).
No entanto, o verdadeiro cristão não negligencia o batismo, pelo contrário por
ele anseia e se alegra ao recebê-lo. Afinal, negligenciar tal sacramento é
desobedecer ao mandamento do Senhor, batizando em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28.19).
Uma
vez salvos e batizados, sendo habitados pelo Espírito de Cristo, que é
derramado sobre os seus remidos, participamos da Santa Ceia, uma ordenança
feita pela Igreja até que o SENHOR retorne para buscá-la e leva-la aos céus. Em
Atos 20.7, registrasse que no primeiro dia da semana, os apóstolos reuniam-se
para cear. A ceia era feita nas casas, com frequência (At 2.46).
Celebrar
a ceia é fazer exatamente como Jesus fez na noite em que foi traído. Ele tomou
o pão ordenando que o comessem, pois aquilo significava o seu corpo que seria
moído e ordenou que bebessem do vinho, significando seu sangue, derramado para
a remissão dos pecados (Mt 26. 26,27). Ao participarmos da mesa do Senhor, com os
elementos que ele instituiu, fazemos isso em sua memória até que ele venha.
Assim registra um dos texto mais utilizados por pastores ao ministrarem este
sacramento, 1 Coríntios 11. 23-29.
O
fazer em memória de Cristo é ter em mente o que Ele fez para que nós fôssemos
salvos da ira divina. A ceia nos lembra de que a salvação é mérito de Cristo e
nós a conquistamos pela graça. Além disso, é o anúncio de sua morte, isso é,
uma forma de proclamar a boa-nova. Mas, o que não devemos esquecer é que a ceia
é um ato de fé, pois requer promessa: “Porque todas as vezes que comerdes este
pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha (v.26)”.
Comer do pão e beber do vinho é testificar de que Ele virá. E se este
sacramento nos serve como um meio de exercitarmos a nossa fé, não podemos, de
modo algum, deixar de realiza-lo.
Ali,
diante da mesa do Senhor, Ele se faz presente e nós precisamos glorificá-lo por
essa realidade. A presença não é física. Não é tangível. A presença é
espiritual, pois se dá por meio do seu Espírito. Jesus prometeu que não nos
deixaria órfãos, mas enviaria o Consolador, que é um outro nome do Espírito
Santo (Jo 14. 8 e 26). Ele está conosco até a consumação dos séculos (Mt
28.20). O SENHOR está na ceia, pois ela é uma reunião feita pelo seu povo em
seu nome (Mt 18.20).
Para
concluir, gostaria de enfatizar que o Cristão necessita da Igreja. Digo mais,
sem a Igreja é impossível seguir o cristianismo. Não há vida fora do corpo. Um
dedo que está fora da mão é um dedo morto que logo apodrecerá. Os meios de
graça foram confiados a Igreja. Nela, Deus levantou homens para pregar. O
batismo e a ceia são parte inerente da vida em comunidade. Por isso, não deixe
de congregar. Não viva isolado. Participe de uma comunidade de fé onde a
Palavra é ensinada fidedignamente. Participe da Igreja, mesmo ela não sendo
perfeita, pois aqui nesta terra ela jamais será. Participe da Igreja com fé de
que na glória, ela será alva mais que a neve. A perfeição não é o foco,
perseverança sim.
A
Deus toda glória!