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14 de nov. de 2014

8 motivos bíblicos para dizer: “Racismo não!”

Por John Piper

No jornal de quarta-feira eu leio as seguintes palavras:

Há forte evidência de que salientar as diferenças pouco trabalha para melhorar as relações raciais, e pode ainda exacerbar as mesmas diferenças.

Por exemplo, os distritos escolares de Minneapolis e St. Paul fizeram da dispendiosa educação de diversidade uma prioridade por décadas. Apesar disso, o distrito de Minneapolis recentemente anunciou que “racismo embutido” continua a permear as suas escolas, enquanto que um estudo de 1994 da People para a American Way descobriu que as “relações raciais e a tolerância” nas escolas de ensino médio de St. Paul estão “desmoronando”. (Katherine Kersten, “‘Diversity Training’ Efforts Proceed from False Premise,” StarTribune, 10 de Janeiro de 1996, p. A13)

E a situação também não é boa nas igrejas. Eu já ouvi observações humilhantes e prejudiciais em nossa própria igreja sobre minorias étnicas. E um pastor negro me disse recentemente que um de seus membros negros se sentiu provocado com um novo frequentador branco e disse: “Eu tenho que me aborrecer com gente branca a semana inteira; eu não quero ter que fazer isso na igreja aos domingos”.

Então já é tempo de a igreja, colocar nova energia nessa questão e trabalhá-la. Para esse fim, eu quero estabelecer um fundamento bíblico na forma de oito teses.

1. Deus criou todos os grupos étnicos a partir de um ancestral humano.

Atos 17.26:

[Deus] de um só fez toda a raça humana [pan ethnos = todo grupo étnico] para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação.

Observe duas coisas nesse texto.

Primeiro, observe que Deus é o CRIADOR dos grupos étnicos. “Deus fez de um só toda a raça humana”. Grupos étnicos não simplesmente aconteceram a partir de mudanças genéticas aleatórias. Eles aconteceram pelo desígnio e propósito de Deus. O texto diz claramente: “DEUS criou cada ethnos”.

Segundo, observe que Deus criou todos os grupos étnicos a partir de um ancestral humano. Paulo diz: “Ele fez DE UM SÓ cada ethnos”. Isso tem um murro especial quando você pondera o porquê de ele escolher dizer especificamente isso a esses atenienses no aerópago. Os atenienses apreciavam se vangloriar de que eles eram os autochthones, que quer dizer que eles haviam nascido em seu próprio solo nativo e não eram imigrantes de algum outro lugar ou grupo étnico. (Veja Lenski e Bruce, ad. loc.) Paulo escolhe confrontar esse orgulho étnico logo de cara. Deus criou todos os grupos étnicos — atenienses e bárbaros — e ele os criou a partir de um ancestral comum. Então vocês, atenienses, são feitos do mesmo tecido que os desprezados bárbaros e citas.

2. Todo membro de todo grupo étnico é feito à imagem de Deus.

Gênesis 1.27:

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Quando você coloca esse ensino de Gênesis 1 (que Deus criou o primeiro homem à sua imagem) junto com o ensino de Atos 17.26 (que Deus criou todos os grupos étnicos a partir desse primeiro ancestral), o que surge é que todos os membros de todos os grupos étnicos são criados à imagem de Deus.

Não importa qual a cor da pele, ou as feições do rosto, ou a textura do cabelo, ou outros traços genéticos; todo ser humano em todo grupo étnico possui uma alma imortal à imagem de Deus: uma mente com poderes de raciocínio singulares semelhantes aos de Deus, um coração com capacidade para julgamentos morais e afeições espirituais, e um potencial para relacionamento com Deus que separa completamente cada pessoa dos animais que Deus criou. Todo ser humano, seja qual for a cor, forma, idade, gênero, inteligência, saúde ou classe social, é criado à imagem de Deus.

3. Na determinação do significado de quem você é, ser uma pessoa à imagem de Deus se compara com as diferenças étnicas da mesma maneira que o sol do meio dia se compara com um castiçal.

Em outras palavras, encontrar a sua identidade principal em ser branco ou ser negro, ou em qualquer outro traço de cor étnico, é como se orgulhar de carregar uma luz de vela debaixo do céu sem nuvens ao meio dia. Velas têm seu lugar. Mas não para iluminar o dia. Então cor e etnia têm o seu lugar, mas não como a glória e maravilha principal da nossa identidade como seres humanos. A glória primária de quem nós somos é o que nos une em nossa humanidade semelhante a Deus, não o que nos diferencia em nossa própria afiliação étnica.

Essa é a mais fundamental razão pela qual programas de “treinamento de diversidade” normalmente dão um tiro no pé em sua tentativa de nutrir respeito mútuo entre grupos étnicos. Eles concentram maior atenção no que é comparativamente menor, e virtualmente nenhuma atenção no que é infinita e gloriosamente maior — nossa permanência singular sobre toda a criação como indivíduos criados à imagem de Deus.

Se os nossos filhos e filhas têm cem ovos, vamos ensiná-los a colocar noventa e nove ovos na cesta chamada “pessoa feita à imagem de Deus” e um ovo na cesta chamada “distinção étnica”.

4. A predição de uma maldição que Noé proclamou sobre alguns descendentes de Cam em Gênesis 9.25 é irrelevante na decisão de como a raça negra deve ser vista e tratada.

Ao longo dos séculos algumas pessoas tentaram provar que a raça negra está destinada a ser subserviente por causa das palavras de Noé sobre o seu filho Cam que foi o pai dos povos africanos. Observemos o próprio texto da Escritura, e então eu darei três razões de porque isso não determina como os povos da África devem ser vistos e tratados. Lembre-se que Noé tinha três filhos: Sem, Cam e Jafé.

Gênesis 9.21–25:

Bebendo do vinho, embriagou-se [Noé] e se pôs nu dentro de sua tenda. Cam, pai de Canaã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos. Então, Sem e Jafé tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem. Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço. Então disse: “Maldito seja [ou “será”] Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos”.

Agora observe três coisas:

A Maldição de Noé Cai sobre Canaã

Primeiro, Noé toma essa ocasião do pecado de seu filho Cam e a usa para fazer uma predição sobre a prosperidade do filho mais novo de Cam, Canaã. Basicamente a predição é que os cananitas eventualmente seriam subjugados pelos descendentes de Sem e Jafé.

Ora, há muitas perguntas a se fazer aqui. Mas eu só tenho tempo para apontar algumas poucas relevantes ao nosso ponto principal. Cam tinha quatro filhos de acordo com Gênesis 10.6. “Os filhos de [eram] Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã”. Ora, em termos gerais, Cuxe é provavelmente o ancestral dos povos da Etiópia; Mizraim é o ancestral dos egípcios; e Pute é o ancestral dos povos do norte da África, os líbios. Mas Canaã é o único dos quatro filhos que não é ancestral de povos africanos. Gênesis 10.15–18 cita os descendentes de Canaã: “Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus”. Todos esses povos eram habitantes de Canaã e proximidades, não da África. E a predição de Noé se tornou verdade quando as nações cananitas foram expulsas pelos israelitas por causa de sua perversidade (Deuteronômio 9.4–5). Então a maldição não recai sobre os povos africanos, mas sobre os cananitas.

A Maldição de Noé Não Trata de Indivíduos

Segundo, a nação predita de Noé não dita como o povo de Deus deve tratar cananitas individuais. Por exemplo, cinco capítulos depois, em Gênesis 14.18, Abraão, descendente de Sete, encontra um cananita nativo chamado Melquisedeque, que era homem justo e “sacerdote do Deus Altíssimo”, e que abençoou Abraão. Abraão deu a ele o dízimo dos seus espólios. Então nem mesmo o fato de que Deus ordena julgamento sobre nações perversas dita a nós como devemos tratar indivíduos nas mesmas nações.

Deus Planeja Redenção para Todas as Nações

Terceiro, em Gênesis 12, Deus coloca em ação um grande plano de rendenção para todas as nações, para resgatá-las dessa e de qualquer outra maldição de pecado e julgamento. Ele chama a Abrão para todas as nações e faz uma aliança com ele e promete: Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”. “Todas as famílias da terra” inclui as famílias cananitas.

Então o que vemos é que, com Abraão, Deus está colocando em ação um plano de redenção que derruba cada maldição sobre qualquer pessoa que recebe a bênção de Abraão, a saber, o perdão e a aceitação de Deus que vem através de Jesus Cristo, a semente de Abraão (Gálatas 3.13–14). O que nos leva para a quinta tese:

5. É propósito e ordem de Deus que façamos discípulos para Jesus Cristo de cada grupo étnico do mundo, sem distinção.

Mateus 28.18–20:

Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Fazei discípulos de “todas as nações” — isto é, de todo grupo étnico. É a mesma expressão de Atos 17.26, onde diz que Deus de um só criou “toda a raça humana” — todo grupo étnico. Assim como todos os grupos étnicos são criados à imagem de Deus, o objetivo de Deus é redimir pessoas de todo grupo étnico. O fato de sermos feitos à imagem de Deus não significa que somos salvos. Todos somos distorcidos pelo pecado. As singulares maneiras em que fomos criados para refletir a glória e o valor de Deus foram amplamente arruinadas. Então Deus enviou o seu Filho, Jesus, ao mundo para morrer por nós para que possamos crer nele e ser perdoados, limpos e restaurados, para que nos tornássemos troféus da sua graça.

6. Todos os crentes em Jesus Cristo, de todo grupo étnico, são unidos uns aos outros não apenas em uma simples humanidade à imagem de Deus, mas ainda mais, como irmãos e irmãs em Cristo e membros do mesmo corpo.

Romanos 12.4–5:

Assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros.

O corpo de Cristo tem uma mão negra, um pulso branco, um braço amarelo e um ombro vermelho. E o pulso branco não pode dizer para a mão negra: “Não preciso de você” (1 Coríntios 12.21). E o braço amarelo não pode dizer ao ombro vermelho: “Por eu não ser um ombro, não sou parte do corpo” (1 Coríntios 12.15).

Outra figura, além de um corpo, é uma família.

1 João 3.1:

Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus.

Em outras palavras, se a nossa identidade como indivíduos humanos criados à imagem de Deus é maior do que todas as diferenças étnicas (visto no ponto no. 3), então a nossa identidade como filhos de Deus renascidos é ainda maior do que todas as diferenças étnicas. Eu diria da seguinte maneira: A glória da nossa semelhança familiar em Cristo é muito maior do que as nossas diferenças étnicas, tanto quanto o oceano é maior do que um dedal.

Antes vimos uma grande verdade — de que somos mais unidos pela nossa humanidade do que separados pela nossa afiliação étnica. Mas essa é uma verdade ainda maior, que em Cristo temos unidade sobre unidade. No topo de uma comum pessoalidade humana à imagem de Deus, temos uma comum pessoalidade redimida à imagem de Cristo. E quão menos devemos ser divididos pelas nossas diferenças étnicas! “[Não há] grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Colossenses 3.11).

7. A Bíblia proíbe casamento entre um crente e um incrédulo, mas não entre membros de diferentes grupos étnicos.

1 Coríntios 7.39:

A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor.

“Somente no Senhor”. A Bíblia nos direciona claramente a não casar com incrédulos. Se já estamos casados com um incrédulo, devemos permanecer casados (1 Coríntios 7.12–13; 1 Pedro 3.1–6). Mas se estamos livres para casar, devemos casar apenas com aquele que compartilha da nossa lealdade a Jesus.

Esse era o ponto principal das advertências do Antigo quanto a casar com aqueles que pertenciam a nações pagãs. Por exemplo, Deuteronômio 7.3–4:

Nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros.

A questão não é mistura de cores, ou mistura de costumes, ou identidade do clã. A questão é: haverá uma lealdade comum ao Deus verdadeiro nesse casamento, ou haverá afeições divididas? A proibição na Palavra de Deus não é contra casamento inter-racial, mas contra casamento entre crente e incrédulo. Isso é exatamente o que esperaríamos se a grande base da nossa identidade não são as nossas diferenças étnicas, mas a nossa comum humanidade à imagem de Deus e a nossa nova humanidade à imagem de Cristo.

8. Portanto, contra o crescente espírito de indiferença, alienação e hostilidade no nosso país, nós abraçaremos a supremacia do amor de Deus para dar novos passos pessoal e coletivamente em direção à reconciliação racial, expressada visivelmente em nossa comunidade e em nossa igreja.

Que venhamos a banir cada pensamento de depreciação e falta de amor das nossas mentes.

Expulsemos de nossas bocas cada palavra ou tom de escárnio ou desdém.

Saiamos do nosso conforto para mostrar unidade pessoal e afetuosa com cristãos de todos os contextos étnicos.

Sejamos o sal e a luz da nossa hostil e assustadora sociedade com atos corajosos de bondade e respeito inter-raciais.

Resumindo, olhemos para Cristo e sejamos perdoados, limpos, curados e capacitados ao amor.
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