Por Thomas Magnum
Porque os olhos do Senhor estão
sobre os justos, e os seus ouvidos, atentos à sua súplica; mas o rosto do
Senhor está contra os que praticam o mal. I Pedro 3.12.
Ao meditarmos
nesse trecho das Escrituras, nos deparamos com algo de tamanha beleza e ternura,
vindo da parte de Deus para seu povo. O texto nos diz que o Senhor põe seus olhos sobre os seus, Ele
está a nos contemplar e guardar. O olhar de Deus para seu povo é um olhar
amoroso, cuidadoso, paterno, acalentador. Diante de tamanha perseguição que os
crentes na época de Pedro estavam sofrendo quando essa epístola foi escrita, a
luta era ferrenha e opressora. Thiago diz em sua carta: Chamamos de felizes os que suportaram aflições. Ouvistes sobre a
paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu. Porque o Senhor é cheio de
misericórdia e compaixão (Thiago 5.11).
As perseguições e desventuras desse mundo, os desapontamentos e
traições, o abandono, a decepção, são presentes na natureza decaída. Mas, temos
conforto vindo de Deus. Felizes são os que suportam tamanhas afrontas dessa
vida, porque tais aflições promovem a paciência no crente. O Apóstolo Paulo nos
disse: Em razão disso, nós mesmos nos
orgulhamos de vós diante das igrejas de Deus por causa da vossa perseverança e
fé em todas as perseguições e aflições que suportais. 2 Tessalonicenses 1.4.
A aflição também é promotora de perseverança, as lutas não afastam o crente de
Deus, mas, ao contrário o trazem para mais perto de seu Senhor e Rei.
Portanto, justificados pela fé, temos paz com Deus,
por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem obtivemos também acesso pela
fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória
de Deus. E não somente isso, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo
que a tribulação produz perseverança, e a perseverança, a aprovação, e a aprovação,
a esperança; e a esperança não causa decepção, visto que o amor de Deus foi
derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado. Romanos 5.1-5
O fato é que não
podemos sondar a mente do Senhor, sua sabedoria e conhecimento excedem nossa compreensão.
Resta-nos compreender o que a Palavra nos diz, que sua vontade é boa, perfeita
e agradável (Romanos 12.2). Como dizia Edwards, nós só vemos parte do mosaico,
nossa visão é limitada, Deus vê todo mosaico. Nosso sofrimento tem um bom
propósito vindo de Deus. Como podemos ler em Romanos 8.28:
Sabemos
que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam,
dos que são chamados segundo o seu propósito.
O Senhor tem
bons propósitos mesmo na ascensão de calamidades e sofrimentos de nossas vidas,
Ele tem o controle de tudo, Ele governa, Ele é o sustentador de todas as
coisas. Ao estudarmos sobre a providência de Deus descobriremos isso. Vemos
vários exemplos bíblicos dessa providência, no Antigo Testamento vemos o agir
soberano de Deus na vida de José, vendido pelos irmãos, levado prisioneiro para
o Egito, Deus usou todo seu sofrimento para um propósito. Vemos a história de
Jó, Deus sabia quem era seu servo, seus limites, sua estrutura, mas, Deus tinha
um bom propósito com seu sofrimento. Em muitos outros casos na Bíblia vemos
revelados os planos de Deus para a vida do seu povo, mas, também encontramos
casos que o sofrimento não é justificado como no caso de Hemã (Salmo 88). Esse
homem sofreu desde sua mocidade. Padeceu muitas dores, privações emocionais,
clamando ao Senhor por socorro, no entanto Deus não o tira do sofrimento, o
salmo termina sem resposta divina. Vemos também o Apóstolo Paulo clamando para
que Deus tirasse o espinho da carne, qual foi a resposta divina? Não. Deus lhe
garantiu a suficiência da graça, era só o que bastava. Essa graça é que sustenta.
O salmista nos diz:
Foi
bom eu ter passado por aflição, para que aprendesse teus decretos (Salmos
119.71).
Deus tem sempre
uma finalidade pedagógica com o sofrimento em nossas vidas. O sofrimento é o
caminho do aprendizado e da formação do caráter cristão em nós. Essa condição
de aflição trabalha em nós a humildade de espírito, a dependência, a carência
da vida com Deus. O sofrimento é o caminho que nos leva às fontes de Deus, Ele
faz brotar água da rocha na sequidão de nosso deserto. Ele rega nossa terra
árida com vapor celestial. Ele aperfeiçoa em nós o caráter de Cristo. Ele emudece
nossa soberba e humilha nosso ego, para nos ensinar um caminho mais excelente. O
sofrimento nos sobrevém para nosso bem como diz a Escritura:
Sabemos
que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam,
dos que são chamados segundo o seu propósito. Romanos 8.28
Calvino nos diz acerca do
sofrimento:
"O Bem dos filhos
de Deus é que eles se tornem cada vez mais identificados com o seu Senhor (Rm
8.29,30). Nesse propósito, até mesmo as aflições cooperam para o bem: Os
sofrimentos dessa vida longe estão de obstruir nossa salvação; antes, ao
contrário são seus assistentes. [...] Embora os eleitos e os réprobos se vejam
expostos, sem distinção, aos mesmos males, todavia existe uma enorme diferença
entre eles, pois Deus instrui os crentes pela instrumentalidade das aflições e
consolida sua salvação.¹ As aflições, portanto, não devem ser um motivo para
nos sentirmos entristecidos, amargurados ou sobrecarregados, a menos que também
reprovemos a eleição do Senhor, pelo qual fomos predestinados para vida, e
vivamos relutantes em levar em nosso ser a imagem do Filho de Deus, por meio da
qual somos preparados para a glória celestial". ²
Finalizamos com
o celeste consolo do salmo 46:
Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem
presente na angústia. Por isso, não temeremos, ainda que a terra trema e os
montes afundem nas profundezas do mar; ainda que as águas venham a rugir e
espumar, ainda que os montes estremeçam na sua fúria. Há um rio cujas correntes
alegram a cidade de Deus, o lugar santo das moradas do Altíssimo. Deus está no
meio dela, e não será abalada; Deus a ajudará desde o amanhecer. As nações se
enfurecem, os reinos se abalam; ele levanta sua voz, e a terra se dissolve. O
SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é nosso refúgio.
Vinde, contemplai as obras do SENHOR, que
devastações fez na terra. Ele acaba com
as guerras até os confins do mundo; quebra o arco e despedaça a lança; destrói
os carros com fogo. Aquietai-vos e sabei
que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus
de Jacó é nosso refúgio.
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1 João
Calvino, Comentário de Romanos, p. 293.
2 João Calvino, Comentário de Romanos, p. 295.
2 João Calvino, Comentário de Romanos, p. 295.