Por Michael Horton
"Sabe, porém isto:
Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas,
avarentos jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais,
ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio
de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos
dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe,
entretanto, o poder. Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que
penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas
sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e
jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e
Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de
todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia, não irão
avante: porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu
com a daqueles" (II Tim. 3:1-9).
A Inglaterra, que uma vez
já foi conhecida pela sua vitalidade espiritual, agora está mergulhada numa
letargia espiritual e a visão missionária dos Estados Unidos está substituindo
aquilo que a Inglaterra deixou de lado. Além disso, muita coisa do que Deus
está fazendo hoje está acontecendo fora desses dois países. Eu espero que a
Igreja no Brasil esteja em constante oração para que, a partir do Brasil, uma
outra reforma e um grande despertamento venha e tome conta do mundo.
Não sabemos o que Deus vai
fazer no mundo, mas seria muito emocionante se pudéssemos fazer parte daquilo
que Ele deseja fazer no Brasil. É maravilhoso ser um cristão e saber que Deus
tem todas as coisas debaixo do Seu controle. Todos nós sabemos da necessidade
de um grande avivamento, mas ao mesmo tempo existe uma grande polêmica nesses
dias sobre a questão. Sem sombra de dúvidas, se convidássemos as pessoas para
uma reunião de avivamento, muitas delas viriam com conceitos diferentes do que
é avivamento. Assim sendo, faz-se necessário ter uma definição clara em nossa
mente do significado desse termo. Qual a diferença entre avivamento e
avivalismo, se assim podemos chamar?
Avivalismo e Pragmatismo
Avivalismo, especialmente
na tradição deixada por Charles Finney, é, na realidade, um fenômeno americano
e queremos tratar de parte desse fenômeno. Não somente porque é um produto
feito na América, mas porque muitos dos movimentos que estão vindo dos Estados
Unidos para outras partes do mundo têm essa visão característica de entender
avivamento segundo o modelo de Charles Finney.
Esse modelo tem como base
o que nós chamamos de pragmatismo. Se você for abrir um negócio você tem que
ser pragmático e se você vai criar uma família, existe uma série de
considerações práticas que você precisa sempre ter em mente; e, certamente, o
mesmo se aplica quando nós estamos fundando uma Igreja e queremos
desenvolvê-la.
Todos sabemos que há
preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo é uma filosofia
que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e
elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”
Quais os perigos do
pragmatismo? Voltando para o texto de II Tim. 3: 1-9, consideraremos
primeiramente os aspectos relativos à nossa chamada para o
ministério. Vejamos, então, o contexto do nosso ministério. Paulo se
refere a esse contexto como sendo o dos “últimos dias”. Sabemos que os “últimos
dias” começaram com o tempo dos apóstolos, e terminarão com a segunda vinda do
nosso Senhor. Portanto, estamos vivendo nos “últimos dias”, como, também,
Timóteo estava vivendo nos “últimos dias”. Qual é o contexto, então, do
ministério nesse período entre as duas vindas de Cristo? Paulo diz, em primeiro
lugar, que nos últimos dias os homens serão amantes de si mesmos.
Narcisimo e Auto-Estima
Christen Lash, um
sociólogo americano bastante conhecido, escreveu um livro sobre a cultura
americana cujo título é: “O culto do Narcisismo”. Essa é uma acusação difícil
de se fazer, porque o que ela implica é que a cultura americana é uma cultura
onde as pessoas se endeusam. E como vocês se lembram “Narciso” é o nome daquele
jovem da lenda grega que costumava admirar o seu próprio reflexo no espelho das
águas. Mas isso não somente é parte da nossa cultura, como também se tornou
parte das nossas igrejas. Muitos dos movimentos que se intitulam “avivados”, em
nossos dias, simplesmente estão reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do
“eu”. Isso pode ser visto na declaração de um desses pastores que afirmou: “A
Reforma errou porque foi centralizada em Deus e não no homem, como devia ser”.
Esse pastor escreveu um livro cujo título é: “Crendo no Deus Que Crê em Você”.
Uma certa ocasião, trouxemos esse cidadão para falar no nosso programa de
rádio. Então eu li essa passagem, onde Paulo diz que as pessoas serão amantes
de si mesmas, e perguntei-lhe: “Como você pode dizer às pessoas que a salvação
começa com o amor próprio, quando Paulo diz que nos últimos dias as pessoas
serão amantes de si mesmas? Não estaria ele dizendo que isso é uma coisa
errada, e que nós não devíamos ser amantes de nós mesmos? E como Deus vai nos
fazer felizes com esse falso evangelho narcisista?”
O que está acontecendo é
que a piedade e a santidade deixaram de ser os referenciais pelos quais
julgamos se um movimento é ou não é do Espírito. Assim, o critério que tem sido
adotado é: “Funciona? Vai me fazer feliz? Vai me ajudar a criar minha família?
Vai consertar o meu casamento?”. Todas essas questões são importantes, à luz
das Escrituras, mas não são as mais importantes.
Em segundo lugar, Paulo
diz que eles serão amantes do dinheiro. Porque as pessoas amam excessivamente a
si mesmas, elas criam o evangelho da auto-estima; e porque as pessoas amam
excessivamente o dinheiro, elas criam o evangelho da prosperidade.
Rebeldia, desprezo pelo
passado e busca do prazer
Paulo diz ainda que haverá
muito orgulho e revolta contra as autoridades. Haverá pessoas desobedientes aos
pais. Uma geração não se preocupará com a geração anterior. O cantor Bob Marley
escreveu uma música sobre a cultura americana dizendo: “Povo do futuro, onde
está o teu passado? Povo do futuro, quanto tempo vocês vão durar?” O povo que
não tem passado também não tem futuro. Não sei se Bob Marley era crente, mas
com certeza esses versos refletem um ponto de vista bíblico ao tentar se
segurar naquilo que pede o seu passado.
Eu quero lhes garantir que
se levarem a doutrina bíblica a sério, muitos irmãos e irmãs vão lhes dizer que
vocês não estão andando nos passos do Espírito; vão lhes dizer que o Espírito
Santo hoje quer fazer uma coisa inteiramente nova, tal como nunca fez no
passado. E o que vocês vão falar? Vão falar sobre os grandes avivamentos do
passado, sobre a Reforma? Qual o valor disso para os amantes de si mesmos e
materialistas? Eles responderão que Deus está fazendo algo completamente
diferente nos dias de hoje. Mais uma vez eu quero lembrar que isso faz parte do
narcisismo que diz o seguinte: - “eu é que sou importante e aqueles da minha
geração é que são importantes e não os que vieram antes de nós”.
E ele diz também que as
pessoas serão hedonistas, amantes do prazer, nos últimos dias; como ele diz no
verso 4, serão mais “amigos dos prazeres que amigos de Deus”. Mais uma vez
queremos enfatizar: Se você perguntar em uma Igreja: “Vocês concordam com o hedonismo?”
Creio que ninguém vai responder sim a essa pergunta. Mas se você entrar numa
livraria evangélica, se ouvir uma emissora de rádio evangélica, se prestar
atenção a muitos sermões evangélicos, você ouvirá mensagens afirmando que o
Cristianismo é a melhor maneira para você se auto-realizar. Quantos testemunhos
temos visto que funcionam como comerciais de televisão? Nos Estados Unidos,
temos aquelas propagandas de dieta que mostram uma pessoa antes e depois da
dieta. Muitas vezes, os testemunhos dos crentes são assim: “Antes eu era
triste, agora sou feliz; antes eu era deprimido, mas agora eu estou
extremamente motivado para viver”. Esses são benefícios maravilhosos, mas, por
vezes, a verdade é que nós, como cristãos, nos tornamos tristes. Algumas vezes,
o caminho da cruz é o caminho do sofrimento, e nem sempre estamos tão
entusiasmados a respeito disso. Apesar de tudo isso, a perspectiva que
predomina nos nossos dias é que temos que viver para satisfazer a nós mesmos.
Moralidade sem piedade
No verso 5 do texto
destacado, Paulo diz: “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o
poder”. Veja bem! O que Paulo está dizendo é que pode haver uma moralidade sem
Deus. Existem pagãos que tem uma vida moral excelente, e há ímpios que
acreditam ser errado você trair sua esposa. Há pessoas não cristãs que têm
famílias muito boas. Mas será que este é o propósito do cristianismo? Consertar
tudo aquilo que está moralmente errado no mundo, ou será que o foco está em
Deus, nos Seus mandamentos justos, e no Evangelho pelo qual nós devemos viver?
É esse o contexto do nosso
ministério. Então respondamos à pergunta: Qual o nosso chamado para o
ministério? O exemplo de Paulo é alguma coisa que temos de imitar nesse
sentido. Mas agora perguntamos: Como, historicamente, essa filosofia do
pragmatismo dominou o pensamento moderno? A figura mais destacada no cenário
evangélico, neste sentido, é a de Carlos Finney. Quantos de vocês já ouviram
falar de Charles Finney? Quase todo mundo. Isso é significante porque Finney é uma
pessoa muito importante para aqueles que são proponentes do movimento de
crescimento da Igreja e do movimento de sinais e prodígios.
Evangelho ou Pragmatismo?
Charles Finney era
presbiteriano, mas atacou a Confissão de Fé de Westminster que ele próprio
subscrevera. Ele a chamou de: “um papa de papel”. Ele dizia, no século XIX em
que viveu: “Nós já somos pessoas muito ilustradas e racionais para acreditar em
todas essas coisas aí que a Confissão de Fé está dizendo”. Vejam algumas das
coisas que Charles Finney escreveu:
Quando o homem se torna
religioso - disse Finney - ele não recebe um poder que não tinha antes, ele
simplesmente muda a sua vontade, e resolve seguir, agora, numa direção moral.
Religião é obra do homem, não é um milagre e nem depende de um milagre em qualquer
sentido; é simplesmente um resultado filosófico do uso correto de técnicas. O
homem já possui, por natureza, toda a habilidade necessária para prestar
perfeita obediência a Deus, portanto o objetivo do ministro é emocionar as
pessoas até que se disponham a tomar essas decisões.
Foi dessa filosofia que
nasceu o que ficou chamado naquela época de “novas medidas introduzidas por
Finney”. Por exemplo: O sistema de apelo para que as pessoas se manifestem
fisicamente e caminhem até à frente em resposta à pregação nasceu com Charles
Finney, nesse período. Em sua Teologia Sistemática, Finney nega explicitamente
a doutrina do pecado original. Ele diz ainda que a doutrina da substituição
vicária de Cristo é uma ficção, e que a justificação pela graça, por meio da fé
somente, é “outro evangelho”. Com certeza, é um evangelho diferente daquele que
Finney estava pregando.
É isso que Paulo diz a
Timóteo, quando fala de pessoas que têm forma de piedade mas negam, entretanto,
o seu poder. Afinal de contas, onde reside o poder da piedade? É o poder de
Deus para a salvação! E que poder é esse? É o evangelho de Jesus Cristo!
Somente o Evangelho pode nos capacitar a viver a vida cristã. Portanto, é
possível ter moralidade sem piedade; e esse é o resultado do pragmatismo.
Mais tarde, tornou-se
conhecida a idéia de D.L. Moody. Ele disse no século XIX que não faz nenhuma
diferença como você leva alguém a Deus; se você conseguir fazer isso, não
importa o meio. O importante é levar, de qualquer maneira, a Deus.
Uma vez perguntaram a
Moody: Qual é a sua teologia? Ele disse: “Minha teologia? nem sei se eu tenho
uma!”. Vejam bem! Moody era um vendedor de sapatos, e um dia ele disse que ao
se tornar evangelista não mudou de profissão, o que ele havia feito era trocado
de produto.
Como abordamos o
pragmatismo corporativo da nossa cultura? Alguns dizem que a contribuição
distinta da América para a história da filosofia foi a criação do pragmatismo.
Um dos grandes pais do pragmatismo e quem o transferiu da esfera religiosa para
a esfera secular foi William James. Ele era filho de pastor; pastor, ele
próprio, e também professor da Universidade de Harward. Ele disse: “Faça a
seguinte pergunta: Como é que você define que determinada verdade é o que você
deve crer?” E acrescentou: “A resposta é que você tem que determinar o seu
valor em termos de experiência e resultado”. Então, com princípios pragmáticos,
analisou a doutrina de Deus dizendo o seguinte: “Se a doutrina de Deus
funciona, então é verdade. O pragmatismo tem que adiar questões dogmáticas
porque no começo nós não sabemos qual reivindicação doutrinária vai produzir
resultado”.
Acredito que quase ninguém
iria marcar essas coisas num exame tipo teste dizendo que acredita nelas, mas,
na prática, o que acontece é que esse é o credo do evangelicalismo mundial
hoje. Um evangelista americano famoso disse: “Não tente entender, simplesmente
comece a desfrutar, porque funciona; eu já tentei”. Ele estava falando a
respeito da meditação transcendental da Nova Era. Na década de 50 do nosso século,
esse pragmatismo se desenvolveu em termos de pensamento positivo. Foi então
publicado um livro chamado “A Mágica do Crer”. Esse livro propõe que há uma
certa qualidade mágica no simples ato de crer. Porém, a verdade é outra. No
cristianismo, o que salva não é o ato da fé, mas sim o objeto da fé. Nós não
somos salvos pela fé, não somos justificados pela fé; nós somos justificados
pela justiça de Cristo que nos é imputada. Mas hoje em dia, desenvolveram essa
equação de que fé é igual a pensamento positivo. Na realidade, essa última
frase que mencionei foi uma citação de Peter Wagner.
Deus como objeto de
consumo
Muito bem! Esses conceitos
funcionam numa sociedade materialista, que está satisfeita e centralizada no
ego; pode funcionar muito bem na América do final do século XX, pode ser até
que funcione em São Paulo também, e pode funcionar em Londres. Mas imagine o
seguinte quadro: Você vai a um cristão do século I e diz a ele que a razão
principal pela qual ele está indo para a boca dos leões é porque o Cristianismo
funcionou melhor do que as outras religiões!
Os testemunhos que temos
no Novo Testamento são muito diferentes dos testemunhos que nós vemos hoje em
dia. No Novo Testamento temos a palavra de testemunhas oculares, que é muito
mais importante que o nosso próprio testemunho. O que é que Paulo disse em I
Cor. 15? Ele disse: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e é vã
a vossa fé... Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida,
somos os mais infelizes de todos os homens”. Ele não diz “pelo menos vocês têm
uma vida feliz e saudável!”. E ele também não está dizendo “Bem! o que é que
você pode perder?” Por que Paulo não fez isso? porque ele não era um
pragmático. Paulo fundamentava todas as reivindicações da fé cristã no
Evangelho verdadeiro.
Temos que nos perguntar:
“Será que não estamos usando a Deus? Será que, finalmente, não embarcamos nesse
consumismo da nossa sociedade? Será que não estamos tratando a Deus como
tratamos um produto?” São perguntas muito importantes que devem ser feitas a
nós mesmos. “Será que Deus está nos usando ou nós estamos usando a Deus?”
Reavivamento e Reforma não
virão à Igreja até que a mentalidade dos crentes seja desviada desse egoísmo
humano, da centralização no homem que Paulo descreve, para o verdadeiro
Evangelho e para Deus.
Nos Estados Unidos, temos
um adesivo que diz: “Jesus é a resposta”. Os incrédulos fizeram um outro
adesivo para retrucar a esse: “Qual é a pergunta?” Considere, agora, o que diz
o pragmatismo: “Eu não sei qual é o seu problema, mas qualquer que seja, Deus
pode resolver. O seu carro está enguiçado? A sua vida familiar não está
progredindo como devia? Deus pode consertar em um piscar de olhos!”. Assim,
passamos a consumir a Deus. Nós usamos a Deus, ao invés de amá-Lo, servi-Lo e
honrá-Lo.Muito bem! Então qual é o propósito do nosso ministério?
Vejamos o que diz Paulo:
Tu, porém, tens seguido de
perto o meu ensino, procedimento, propósito, fé longanimidade, amor,
perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me
aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, - que variadas perseguições tenho
suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora todos quantos querem
viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Mas os homens perversos e
impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém,
permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o
aprendeste. E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te
sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção para a educação
na justiça. a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra. Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há
de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, que não, corrige, repreende, exorta com
toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas,
suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu
ministério (II Tim. 3:10-4:5).
O modelo apostólico
Em primeiro lugar, o
propósito do nosso ministério é seguir o modelo apostólico. Paulo menciona aqui
o seu ensino, a sua maneira de viver, o seu propósito, a sua fé, a sua
paciência, o seu amor, e a sua perseverança diante das tribulações.
Perseguições? Sim! É o que ele diz no verso 12. Todos quantos querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Será que é isso o que estamos
ouvindo hoje? Ou será que estamos ouvindo outra mensagem? Algumas vezes você
vai pensar que não está dando certo, que as coisas não estão funcionando como
deveriam, como lemos em Romanos, capítulo 7. Nós sofreremos como cristãos, e
ainda vamos sofrer com os nossos pecados.
A proclamação da Lei e do
Evangelho
Além de seguir o seu
exemplo, Paulo quer que Timóteo também se firme naquelas verdades que aprendeu
quando era jovem. Veja que Paulo, ao invés de nos levar à questão do
pragmatismo: “Será que funciona?”, ele nos conduz para as Escrituras. Ele diz:
“prega a Palavra”, com muita paciência instruindo as pessoas. Porque haverá
tempo em que não suportarão a sã doutrina. Ao contrário, cercar-se-ão de
mestres, segundo as suas próprias cobiças, como quem sente coceira nos ouvidos
(4:3).
Vejam! sempre temos
coceira nos ouvidos. Pragmatismo não é uma coisa nova. Na realidade já foi
praticado desde o jardim do Éden. Quando Eva viu que a árvore era agradável
para se ver, para descobrir o conhecimento e desejável para trazer
entendimento; então ela tomou do fruto e comeu. O que significa para nós
“pregar a Palavra”? O que Paulo quer dizer no verso 5 “Tu, porém, sê sóbrio em
todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista”?. O que
ele quer dizer com isso, “pregar a Palavra”? Vez após vez, Paulo e os demais
escritores bíblicos nos dizem que isso é a proclamação da lei. Na verdade, é
pela proclamação da lei santa de Deus que nós somos tocados e feridos. A lei de
Deus vem até nós e ela não vem dizendo assim: “Eu vou transformar a tua vida
numa vida feliz!”, ela não vem dizendo: “Vou te dar prosperidade!”. Na realidade,
a lei vem para nos dizer exatamente aquilo que Deus tem dito que requer de nós.
A lei nos confronta com a glória de Deus e a nossa pecaminosidade torna isso
aterrorizante!
Finalmente, o Evangelho
vem e causa também impressão em nós. Há uma Igreja no Estado do Arizona, cujo
pastor, numa entrevista que foi publicada na revista Newsweek, disse: “As
pessoas hoje em dia não estão preocupadas com doutrinas como justificação,
salvação ou expiação. Nos dias de hoje, ninguém entende esses termos. O que nós
precisamos fazer é atender as necessidades das pessoas!”
Imaginem um professor!
Vocês não acham que seria muito estranho se o professor chegasse dizendo assim:
“Não posso ensinar o alfabeto para esta criança porque ela ainda não sabe
português”. Esse é o tipo de argumento que esse pastor estava apresentando.
Tanto que o que hoje se passa com o nome de pregação, na realidade, não é
pregação da Palavra. Porque não apresenta nem a Lei nem o Evangelho. Esses
pastores começam decidindo o que é que as pessoas de sua igreja desejam ouvir.
Quais são os pontos que estão em moda hoje? Quais são as necessidades das
pessoas dos dias de hoje? E aí, então, eles vão às Escrituras e procuram e
acham passagens que podem ser usadas para apoiar essa necessidade, ao invés de,
indo ao texto, perguntarem primeiro como a santidade de Deus nos convence do
nosso pecado e como o Evangelho de Cristo pode ser tão claro que até pecadores
como nós podem se arrepender e crer.
Mas vocês, irmãos e irmãs,
ouçam o que Paulo diz, sejam sóbrios em todas essas coisas, preguem a palavra,
suportem as aflições, façam o trabalho de evangelista, e cumpram cabalmente o
ministério.
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Palestra proferida por
ocasião do V Simpósio “Os Puritanos”, realizado em Águas de Lindóia, SP, de 10
a 14 de junho de 1996. Michael Horton é professor no Seminário Reformado em
Orlando, Flórida (USA), fundador e presidente do movimento “Cristãos Unidos
pela Reforma”, na Califórnia, e autor de diversos livros.