Por Thiago Oliveira
“E eu vos tomarei por
meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus.”
Êxodo 6:7
O
conceito de Aliança da Lei parece impróprio. As leis são sempre entendidas como
instrumento para coagir, enquanto que uma aliança é um relacionamento. Sendo
assim, Deus quer se relacionar com os seus através da coerção? Para responder a
esta pergunta, é preciso entender o propósito da Lei.
A Lei
faz parte do plano divino da redenção e está atrelado aos outros pactos. Os hebreus
receberam a lei no Sinai quando foram libertos da servidão no Egito, portanto,
o recebimento da Lei está atrelado a sua libertação. Lemos em Ex 2.23-25 que
Deus ouviu os gemidos dos filhos de Israel e lembrou-se da aliança que fez com
Abraão, com Isaque e com Jacó. Portanto, não podemos tratar, como sugerem
alguns, a Aliança da Lei como se estivesse à parte da Aliança da Promessa. A
Lei é consequência da promessa da benção feita ao patriarca israelita de que
através de sua semente, seriam benditas todas as famílias da terra (Gn 12.3).
REVELAÇÃO ESPECIAL
Quando
Deus faz uma aliança no Sinai com os descendentes de Abraão e a eles se revela
através de preceitos que foram por Ele criados e estabelecidos, esta revelação
deve ser considerada especial, pois até então, não havia ficado tão claro quem
era o SENHOR e qual o comportamento Ele esperava do povo que estava formando
para si.
No Sinai,
o povo observou raios e trovões, terremoto, fogo e fumaça. Era o próprio Deus
no topo daquele monte entregando a Lei a Moisés. Os preceitos que continham os
Dez Mandamentos e leis específicas foram dados por Deus, e por Ele impostos ao
povo. A resposta que os hebreus dão é a seguinte: “Tudo que falou o Senhor, faremos” (Ex 24.3). O caráter de aliança
fica claro após o ritual feito pelo povo, sob a mediação de Moisés:
“Moisés escreveu todas as palavras do Senhor,
e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte, e
doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel; E enviou alguns jovens dos
filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos e sacrificaram ao Senhor
sacrifícios pacíficos de bezerros. E Moisés tomou a metade do sangue, e a pôs
em bacias; e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar. E tomou o livro
da aliança e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que o Senhor
tem falado faremos, e obedeceremos. Então tomou Moisés aquele sangue, e
espargiu-o sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor tem
feito convosco sobre todas estas palavras”. Êxodo 24:4-8.
A LEI É BOA
Devemos
ter em mente que a Lei deve ser celebrada como algo bom que 1) permitiu que
aquele povo se torna-se uma nação, 2) permitiu que o conhecimento sobre Deus
fosse o mais claro possível e, por, último, 3) permitiu o autoconhecimento.
Alguns
eruditos defendem o ponto de vista de que esta aliança difere da abrâmica por
ter a obediência como condição. Todavia, a obediência fora requerida por Deus
muito antes. O próprio Abraão devia ser obediente, ele e sua descendência, ou
seja, os hebreus (Gn 17.9).
Mas podemos
enxergar graça na Lei, sim, pois mesmo sob a condição de obediência, Deus
estabeleceu um sistema de remissão de pecados através do sacerdócio e dos
sacrifícios. Ali no tabernáculo, o Sumo-Sacerdote entrava uma vez por ano no
lugar Santíssimo e através do sacrifício de um cordeiro sem mácula, realizava o
ritual expiatório, para que a nação de Israel fosse perdoada. O que quer dizer
este sistema?
APONTANDO PARA CRISTO
Os
sacrifícios, as festas, o santuário e tudo mais que preceituava o código
mosaico apontava diretamente para aquele que fora prometido em Gênesis 3.15.
Tudo na lei tinha um apontamento messiânico. Na teologia usa-se o termo
“arquétipo”, ou seja, um modelo. Quem melhor irá trabalhar este conceito é o
escritor da Epístola aos Hebreus. O conteúdo desta carta é mostrar a
superioridade de Cristo, mediador de uma nova aliança, sob a aliança sinática
(feita no Sinai).
O
apóstolo Paulo, em Gálatas 3.24-25 nos fala que a Lei foi a tutora que nos
conduziu até Cristo. A Lei é incapaz de nos salvar, pois sempre tropeçamos nela
devido a nossa natureza pecaminosa. Mas ela não foi empecilho para o Salvador,
que a cumpriu por inteiro, e por nós. Concernentemente, foi a Sua retidão, e
não a nossa, que nos tornou santos e nos deu acesso direto ao pai, coisa que
nada e nem ninguém seria capaz de fazer. Isso deve nos fazer entender de uma
vez por todas que até na Lei a graça de Deus é manifesta.
APLICAÇÕES
Podemos
aplicar este estudo da seguinte maneira:
- Olhe
para si mesmo: A Lei, como sendo uma revelação vinda diretamente do próprio
Deus, indica que o que está nela é o padrão que o SENHOR requer para o seu povo.
Todavia, devido ao nosso pecado, estamos muito longe de cumprir o que nela está
prescrito. Devemos então observar o retrato de nossa miséria e recorrer ao
único que pode nos salvar. Aqueles que tentam se achegar a Deus pelo caminho da
moralidade, esforçam-se em vão, pois a Lei é uma unidade e quem quebra uma
parte dela, quebrou-a em sua totalidade (Tg 2.10).
- Apele para a cruz: Se nós falhamos em
cumprir o que Deus ordena, sabemos que houve um que lhe foi obediente até a
morte, e morte de cruz. Devemos confiar a nossa vida a Jesus Cristo. Por meio
d’Ele teremos a vitória sobre o pecado e não mais andaremos sob o julgo da lei.
Atentemos que não está debaixo do julgo da lei não significa que devemos violar
seus preceitos morais, como roubar, matar, cobiçar, etc.
- Reflita a imagem de Deus: Uma outra faceta da
Lei foi revelar a nós o caráter divino. Pela lei sabemos que Deus é santo e que
não há como servi-lo se não for pelo caminho da santidade. Devemos saber que
Cristo não apenas morreu por nós, como vive em nós. Assim sendo, podemos sempre
rogar para que Cristo nos transforme e nos amolde e que culminará quando
estivermos na Glória. Precisamos compreender que não estamos sozinhos e nem na
nossa própria força. É o próprio Deus quem nos santifica (1Ts 5.23).
Louvado seja Deus!