Por Fred Lins
Tenho refletido detidamente e me debruçado sobre o Salmo 1. Claro que não apenas o ele, mas todo o livro de Salmos e o seu uso no culto judaico. Desta feita, quero me dedicar e dividir com cada um dos leitores as profundas lições obtidas deste texto. Não espere nada novo, nada que talvez nunca tenha percebido, nada que te chame atenção a ponto de saltar os olhos da nossa Teologia, no entanto a perspectiva pela qual se olha este texto e a lente obtusa da nossa própria existência nos faça ofuscar as verdades Espirituais contidas neste maravilhoso e profundo texto.
O Salmo 1 ao contrário do que muitos dizem não foi composto por Davi e nem há traços semânticos, nem presença textual que confirme tal autoria. Mas Talvez atribuímos ao mesmo, por apresentar características presentes nesse admirável personagem Bíblico. Há no “varão bem-aventurado” um alto nível de piedade, de satisfação, de dedicação, de firmeza, como há algum tempo não vejo no nosso atual contexto eclesial. Outra característica presente no livro de Salmos - e está presente no texto em apreço - é a presença de paralelismos, sejam eles: antitéticos, sinonímicos, emblemáticos... Por certo é algo que torna peculiar e de singular sentido neste maravilhoso livro.
Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
(Sl 1.1)
O caminho do varão infeliz (contrário de bem-aventurado) é trilhado por uma progressão de escolhas que inicia-se a partir do conselho. Obviamente, não é qualquer conselho, mas o conselho do impiedoso, do incircunciso, daqueles que nada tem haver com Deus. O conselheiro leva tal infeliz a imitar (termo usado pela versão NVI, substituindo detém) uma conduta e como já disse, progressivamente, o leva a compactuar com as ideias agora compartilhadas. Quem nunca vivenciou tal realidade, nunca percebeu irmãos na caminhada sendo seduzidos por conselhos e por práticas pecaminosas que nos levam de maneira progressiva a conviver com o pecado. Outra faceta desse mau conselho é reconhecer que apesar de estarmos dentro de uma comunidade cristã, somos por vezes surpreendidos com “crentes” que possuem um conselho impiedoso. Senhor, ajude-nos a enxergar em Ti e naqueles que te servem o conselho que necessitamos.
Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
(Sl 1.2)
Não há como negar que a progressão da prática pecaminosa desenvolve uma certa sensação de prazer (falsa). Não é a toa que o versículo 2 inicia exatamente com esta expressão: “sua satisfação” (seu prazer), justamente indicando que o prazer do bem-aventurado está no Senhor, nas Sua Palavra e na meditação diária da mesma. Alguns comentários afirmam que uso da expressão “meditação de dia e noite” possivelmente revela uma prática comum entre os judeus, o uso dos filactérios (tefilins). Os filactérios eram pequenas caixas que possuíam correias na sua extremidade e poderiam ser atadas na mão esquerda ou na testa. Nestas pequenas caixinhas haviam um conjunto de quatro textos que enfatizavam o cuidado na preservação da Lei do Senhor e de seus decretos (Ex. 13.1-10, Ex 13.11-16, Dt 6.4-9, Dt 11.13-21). Este cuidado deu origem a Shemá: no qual se diz שמע ישראל י-ה-ו-ה אלוהינו י-ה-ו-ה אחד (Shemá Yisrael Ado-nai Elohêinu Ado-nai Echad - Escuta ó Israel, Ado-nai nosso Deus é Um (Dt 6.4-9). O cuidado na manutenção da Lei do Senhor no coração e na mente dos judeus era o zelo do próprio Deus com o Seu povo. Que hoje também tenhamos jovens, homens e mulheres zelosos pela palavra de Deus e com ávido desejo de meditação diária.
Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.
(Sl 1.3-4)
Esses dois textos estão relacionados entre si. Obviamente que uma árvore plantada em um terreno regado por águas dará certamente seu fruto e as suas folhagens são conservadas (não murcham). Enquanto que os ímpios são como grãos soltos e sem sustento e fundamento. De um lado encontramos firmeza, força e certeza do futuro. Do outro encontramos incerteza, fraqueza e inexistência de futuro. Que a Graça de Deus nos ofereça segurança, certeza, firmeza, profundidade e certeza na Esperança futura.
Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.
(Sl 1.5-6)
Estes dois versículos tanto podem ter o significado de merecimento e recompensa tanto para o justo (bem-aventurado) quanto para o ímpio, como uma dimensão escatológica. Seremos por Deus julgados e por Deus absolvidos ou condenados. Por fim, o justo vive sobre uma condição de prosperidade (plenitude e completude em Deus). De fato somente em Deus é possível ter certeza de toda a recompensa que os justos, segundo Ele, podem receber. Que esta certeza esteja presente em nosso coração e nos encha a mente de toda a sua justiça.