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13 de nov. de 2014

Soberania das Esferas?

Por Solano Portela

Algumas pessoas têm me perguntado: "Afinal, o que é Soberania das Esferas e onde posso aprender sobre isso"? O interesse redespertado pela teologia reformada tem trazido esse termo e conceitos à tona, junto com "cosmovisão", "neo-calvinismo" e vários outros. Soberania das Esferas é uma expressão encontrada na obra do filósofo holandês Herman Dooyeweerd (1894-1977). Seu tratado, extenso e muito técnico, não disponível em português, é chamado “Uma Nova Crítica do Pensamento Teórico” (A New Critique of Theoretical Thought, em 4 espessos volumes, tradução do original holandês publicada originalmente em inglês por H. J. Paris, em 1957).

O pensamento expresso por Dooyeweerd é complexo, mas, simplificadamente podemos dizer que ele os construiu sobre os conceitos já apresentados anteriormente por João Calvino (1509-1564) e, com bastante intensidade, na terminologia e e escritos de Abraão Kuyper (1837-1920). Em resumo, ele ensina que cada instituição criada por Deus (a família, a escola, o estado), possui uma área específica de autoridade e regência, ou seja, são esferas bem delimitadas e específicas.

Isso não significa que tais esferas sejam autônomas. Ainda que independentes, cada uma deve responder a Deus, o doador desta autoridade. A soberania de cada uma quer dizer que elas não devem usurpar ou interferir na autoridade da outra esfera. Cada uma dessas esferas, autoridades em si, são responsáveis por suas missões e ações, na providência divina, perante Deus.

Por exemplo, no caso de uma escola cristã, ela deve entender que não usurpa a autoridade da família, nem da igreja. Muito menos substitui essas outras esferas, mas deve trabalhar conjuntamente, em colaboração e respeito. A esfera da escola, e nisso ela tem autoridade, é ministrar conhecimento, sendo responsável, perante Deus, de transmitir esse conhecimento reconhecendo o Criador em todas as áreas do saber.

Outro exemplo, ao estado não cabe legislar moralidade, mas sim trabalhar com base em princípios universais (que procedem de Deus), reprimindo as atividades criminosas, protegendo os indivíduos de uma sociedade - essa é a sua esfera legítima. No momento em que se imiscui na esfera da família, ou da igreja (postulando o que é certo ou errado), ultrapassa a sua "soberania". O estado não tem poder ilimitado, mas deve se reger sob uma estrutura específica, que emana da Graça Comum derramada por Deus sobre todos os homens.

Essa ação abrangente da Graça Comum de Deus, além de possibilitar a sociedade, é que restringe, também, o pecado na humanidade e faz com que cultura de mérito e qualidade possa surgir nos mais diversos lugares e situações. Sobre isso, Dooyeweerd diz: “Deus, em Cristo mantém a estrutura de sua criação pela graça temporal preservadora”. Demonstrando um preciso entendimento bíblico, Dooyeweerd especifica que a Graça Comum de Deus é que “retém a completa demonização do mundo” e, como resultado, podemos observar em todas as partes “centelhas da glória de Deus, de sua bondade, verdade, justiça e beleza”, até nas “culturas idólatras” (Vernieuwing en Bezinning. Zutphen: J.B. Van Den Brink & Co., 1963, pgs. 36 e 39).

O trabalho de Dooyeweerd já foi abordado por várias obras. Uma das melhores é o resumo do seu pensamento escrito por J. M. Spier no livro, An Introduction to Christian Philosophy (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1954), 155. Em português temos o seu excelente livro, No Crepúsculo do Pensamento Ocidental (The Twilight of Western Thought), traduzido e publicado pela editora HAGNOS, em 2010, com 304 pgs. Ele também pode servir para uma introdução ao pensamento desse grande filósofo cristão, que nos demonstra como a doutrina cristã é para ser testemunhada, vivenciada e experimentada em todas as áreas de nossa vida - incluindo o intelecto.  
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Fonte: O Tempora, O Mores

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