Por Thomas Magnum
Em
minha adolescência não me lembro de termos nenhum dos jovens de nossa igreja
local na universidade, tínhamos um contingente de jovens cristãos muito
inferior ao que temos hoje no ensino superior. Hoje temos uma grande quantidade
de jovens que tem se preparado academicamente e a presença de cristãos
protestantes dentro da academia tem aumentado consideravelmente. A ABUB
(Aliança Bíblica Universitária do Brasil) tem trabalhado na evangelização de
jovens dentro dos centros universitários desde a década de setenta.
O
interesse dos protestantes pela academia não é novo, um exemplo bem conhecido
dos reformados é a academia de Genebra criada por Calvino e tantos outros
centros acadêmicos criados por cristãos como Oxford, Yale e Princeton. No
Brasil temos a universidade Presbiteriana Makenzie que tem sido uma escola de
destaque em solo brasileiro, na verdade desde a chegada dos protestantes no
Brasil há interesse pela educação seja ela básica ou superior.
Nesse
processo de volta dos protestantes a academia, algo que sempre foi difícil no
Brasil por conta da condição financeira e na defasagem da educação da maioria
dos evangélicos, podemos destacar pontos positivos e negativos.
De
forma positiva enxergo que o fato de a condição econômica ter melhorado nos últimos
anos por conta inicialmente da estabilização da moeda e de programas
educacionais que foram implantados tivemos a oportunidade de educar jovens
cristãos no ensino superior. No entanto, temos o outro lado da questão. É inegável
que muitos jovens cristãos quando chegam na universidade perdem a fé, ficam
desmotivados por conta dos confrontos das ideias cientificas que querem destruir a religião. Com isso
temos alguns efeitos interessantes, primeiro temos aqueles que vivem uma
dicotomia, a figura do professor universitário é uma autoridade em sala de aula
e ali a ciência está em primeiro plano, ali não é lugar para a fé (essa é uma
observação que ouvi muito de professores na graduação),mas, lugar de
investigação cientifica, portanto o método cientifico supera as questões
religiosas. Com isso muitos jovens tem uma cosmovisão bifurcada, na academia e
na igreja. Muitos jovens não sabem explicar porque creem na Bíblia, não sabem explicar
sobre a pessoa de Cristo ou sobre pecado e salvação. Dentro desse primeiro
ponto temos algumas questões a tratar, na maioria das vezes as igrejas não dado
suporte a esses adolescentes e jovens que tem ido à universidade, por isso é
necessário que a igreja se preocupe com isso, não impedindo que o jovem cristão
vá a universidade, mas o preparando para estar lá.
Questões
como teoria da evolução, criacionismo, a existência de Deus, a questão do mal,
a inerência da Bíblia e muitas outras questões que se levanta na universidade
devem ser trabalhadas em classes de jovens nas igrejas. E eles devem ser instruídos
desde a adolescência. Ao que vemos hoje, posso dizer pela experiência que há um
interesse maior dos jovens por questões relacionadas a apologética cristã por
conta do confronto que sofrem não só nas universidades e faculdades, mas também
em escolas de ensino fundamental e médio. O fato de ainda não termos atentado
no Brasil para uma educação cristã dificulta muito a formação de nossas
crianças. De certa forma a uma negligencia ao mandato cultural e social, na
maioria das vezes defendemos que só a evangelização é a missão da igreja e não
a transformação da cultura. Quando fazemos nosso papel na sociedade existe uma
alteração cultural, existe uma evangelização integral. E ao tratarmos dessa
integralidade não me refiro somente a uma questão de justiça social no que se
refere a um recorte e cuidado com os pobres, mas na educação do nosso povo e
daqueles que não são cristãos também.
Depois,
temos aqueles que abandonam a fé por não terem “provas” consubstanciais da fé,
de fato não defendo uma apologética evidencialista, a questão trabalhada de forma
pressuposicionalista é com certeza mais bíblica e confiável numa apologética
que deseja responder a incredulidade do coração¹, mas devemos ensinar os jovens
cristãos a terem uma cosmovisão bíblica e cristocêntrica. É necessário que se
prepare os jovens a entrada na universidade, seja através de palestras na
igreja, ensino confessional, trabalhando pontos específicos relacionados ao
contexto que eles irão integrar.
Um
livro recomendado a todos os jovens cristãos que tem seguido no campus
universitário é sem duvida “De todo o teu entendimento” do teólogo luterano
Gene Edward Veith. Esse livro irá mostrar de forma clara e de fácil compreensão
como um cristão deve se portar no ambiente acadêmico tomando como base Daniel e
seus amigos na corte de Nabucodonosor. Aqueles jovens estavam em Babilônia,
exilados, e foram escolhidos para estudarem, note que eles já eram jovens de
grande evidencia por seu intelecto e dedicação (Cap. 1 de Daniel).
Veith nos diz algo precioso:
Em muitos aspectos, a experiência de
Daniel é notavelmente parecida com a dos cristãos de hoje. Os estudantes
cristãos numa universidade secular, ou os cristãos que confrontam a cultura contemporânea
e o mundo intelectual atual se sentirão frequentemente como exilados numa terra
estranha e hostil, assim como Daniel se sentiu. No entanto, o primeiro capitulo
de Daniel sugere que é possível que alguém que crê no Deus verdadeiro se
beneficie da instrução vigente. Ele mostra as provações, tentações e pressões
com as quais ele pode deparar, mas também sugere como lidar com elas. Daniel
conseguiu aprender a ciência Babilônica sem fazer a mínima concessão quanto a
qualquer ponto doutrinal ou moral. Na verdade, Daniel, Sadraque, Mesaque, e
Abede-Nego conseguiram prosperar na Universidade da Babiônia, mas a fé que eles
tinham permitiu-lhes verdadeiramente superar seus contrapartes pagãos em seus
próprios termos.
É bom notarmos também que eles não comeram dos
manjares do rei, porque eram oferecidos aos ídolos, exemplo precioso ais jovens
crentes, lembre-se que você está em uma Babilônia e que muitas coisas
oferecidas ali, até certos conteúdos curriculares não ídolos.
Um
terceiro fator que não podemos deixar de abordar é o deslumbre de muitos
cristãos ao chegarem ao ambiente acadêmico. Muitos acabam tornando tudo aquilo
a fonte de conhecimento absoluto e desprezam a Palavra de Deus, se não
formalmente, mas ideologicamente. Qual o
fim disso? O fim se dará que no final da vida se notará que o conhecimento sem
Deus é fútil como Salomão dizia:
Falei eu com o meu
coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos
os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou
abundantemente a sabedoria e o conhecimento. E
apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as
loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que
aumenta em conhecimento, aumenta em dor. Eclesiastes 1:16-18
Eu apliquei o meu
coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e
para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura. Eclesiastes 7:25
De fato devemos encorajar os nossos jovens a estrarem em
ambiente acadêmico, na reforma protestante uma das questões trabalhadas na
teologia dos reformadores foi a questão vocacional, isso deve ser enfatizado
aqui, Deus chama homens e mulheres para serem médicos, engenheiros, advogados,
políticos, economistas, artistas, cientistas. Quando esse chamado tem consciência
de sua vocação e de que forma ou por que lente deve ser tratada determinada ciência
chegaremos a um conceito chave falado de forma mais profundo no neocalvinismo holandês,
a cosmovisão cristã.
Para concluirmos, não poderíamos deixar de citar esse trecho
das Escrituras que encorajador a jovens estudantes cristãos:
Quanto a estes quatro
jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e
sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos. E ao
fim dos dias, em que o rei tinha falado que os trouxessem, o chefe dos eunucos
os trouxe diante de Nabucodonosor. E
o rei falou com eles; entre todos eles não foram achados outros tais como
Daniel, Hananias, Misael e Azarias; portanto ficaram assistindo diante do rei.
E em toda a matéria de sabedoria e de
discernimento, sobre o que o rei lhes perguntou, os achou dez vezes mais doutos
do que todos os magos astrólogos que havia em todo o seu reino. Daniel 1:17-21
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Nota
1 - Apologética Para a Glória de Deus, John Frame.
Leitura Recomendada a Cristãos Universitários:
A
Morte da Razão – Francis Schaeffer, Ed. Ultimato.
O
Deus que se revela - Francis Schaeffer, Ed. Cultura Cristã.
O
Deus que intervém - Francis Schaeffer, Ed. Cultura Cristã.
Discípulo
Radical – John Stott, Ed. Ultimato.
De
Todo o teu entendimento – Gene Edward Veith Jr. Ed, Cultura Cristã.
Tempos
Pós- Modernos - Gene Edward Veith Jr. Ed, Cultura Cristã.
No
Crepúsculo do Pensamento – Herman Doeeyweerd, Ed. Hagnos.
Os
cristãos e os Desafios contemporâneos – John Stott, Ed. Ultimato.
Pense
Biblicamente – John MacArthur, Ed. Hagnos.