O avanço da antiga aliança para a nova aliança também é parcialmente
negado por aqueles que têm grande respeito pelas leis civis de Israel. Chamadas
de “teonomistas”, essas pessoas são impressionadas pela equidade e sabedoria
das leis que governaram o Estado de Israel – e corretamente. Particularmente
quando comparadas com as leis impostas pelo Estado secular atual, a ordem civil
do Estado de Israel, sob a antiga aliança, amplia as glórias de um Deus santo.
No entanto, deve ser conhecido o valor limitado do Estado de Israel da
antiga aliança como um modelo tipológico do Reino de Deus. Seu domínio era
definido espacialmente pelas fronteiras, a terra devia ter uma divisão cívica
mediante a distribuição entre os descendentes físicos das doze tribos de
Israel.
Nunca houve a pretensão de estabelecer essa legislação no território da
Assíria ou do Egito (para pensar apenas nos vizinhos mais próximos de Israel).
Embora planejada para revelar a equidade de Deus na distribuição da terra, essa
legislação era temporal em sua aplicação, limitada ao tempo da presença de
Israel como uma nação organizada na Palestina, sob as provisões da antiga
aliança.
Na colonização inicial da América, foram feitos alguns esforços para
reinstituir os códigos civis de Israel. As leis da Nova Inglaterra, como
impressas em 1641, foram estabelecidas segundo os direitos territoriais tribais
do antigo Israel; desse modo, as propriedades normalmente tinham de ser
vendidas a outras pessoas que já habitavam uma cidade (mantendo, desse modo, a
terra designada dentro da “tribo”). As filhas que herdavam terra deviam se
casar dentro do distrito eleitoral da cidade ou pagar um imposto de aluguel
para o tesouro público da cidade. Porém, esses esforços de transferir uma
teocracia organizada de modo tribal para a moderna comunidade civil envolvem
uma grande quantidade de esforço imaginativo. Conquanto o princípio geral de equidade
possa ser transferido, as leis de natureza civil da antiga aliança não podem
ter o efeito obrigatório das dez palavras.
Particularmente em razão da coação da verdadeira religião mediante
autoridades cívicas segundo a lei mosaica, torna-se claro que a legislação da
antiga aliança prevê um governo teocrático, que não se ajusta às intenções de
Deus para a expansão do evangelho na presente era. De acordo com Deuteronômio
13.5, o profeta que promove uma falsa religião deve morrer. Segundo Deuteronômio
13.6-11, se qualquer pessoa, até mesmo em sua própria casa, propuser
secretamente a adoração de outro deus, ela deve morrer. Conforme Deuteronômio
13. 12-18, se toda comunidade propuser a adoração de um falso deus, toda
comunidade deve ser destruída.
Essas práticas devem ser úteis para descrever a eficácia do julgamento
final. Elas podem fornecer uma base para a excomunhão da igreja de Cristo. Porém,
pedir ao Estado secular atual – até mesmo um Estado cristianizado – para impor
essas leis somente conduziria a sociedade uma vez mais aos horrores das guerras
religiosas dos séculos passados.
Mediante a graça comum de Deus, os poderes civis atuais podem realizar
uma função limitada de restringir o mal entre a humanidade caída. Por essa razão,
eles merecem a honra que pertence apropriadamente à autoridade do Estado. Porém,
as glórias do modelo da antiga aliança não devem ser confundidas com as funções
limitadas do Estado na era atual. O Senhor da nova aliança reconheceu
pessoalmente o lugar do Estado atual como distinto do seu próprio reino, quando
declarou “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt
22.21).
Um dia a verdadeira religião será imposta pelo verdadeiro Estado. Porém,
esse dia virá apenas com o retorno de Cristo em glória, quando ele estabelecerá
o reino eterno de Deus. Enquanto isso, o cristão não deve se deixar cegar pelas
glórias da revelação da antiga aliança, falhando em ver a glória maior da graça
da nova aliança, no modo que ela é manifesta aos homens de todas as nações.
O reino da nova aliança é superior ao tipológico da época da antiga
aliança. Graça maior é mostrada a todas as nações. Concentração maior é
colocada na permanente duradoura lei moral de Deus. Glória maior é encontrada na
pessoa de Cristo, o Rei Ungido, que derramou o seu Espírito sobre toda carne.
____________
Extraído do livro Alianças (Ed. Cultura Cristã), pág 65-66.