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17 de nov. de 2014

A Glória do Senhor Jesus

Por John Owen

A glória do nosso Senhor Jesus Cristo é por demais grande para que as nossas pequenas mentes a possam entender. Desta forma, nunca pode- remos dar a Ele o louvor que Lhe é devido. No entanto, através da fé podemos ter algum conhecimento de Cristo e Sua glória, e esse conhecimento é melhor que qualquer outra forma de sabedoria ou entendimento. O apóstolo Paulo disse: "E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor" (Filipenses 3:8). Se a nossa felicidade futura significa estar onde Cristo está e ver a Sua glória, não há melhor preparação para isso que encher os nossos pensamentos com ela desde agora. Assim, estaremos gradualmente sendo transformados naquela glória.

É apenas de Cristo que podemos nos ufanar e nos gloriar, pelas seguintes razões:

1. A nossa natureza humana foi no princípio feita em Adão e Eva à imagem de Deus, cheia de beleza e glória. Todavia, o pecado derrubou essa glória no pó e a natureza humana tornou-se completamente diferente de Deus, cuja imagem ela havia perdido. Satanás assumiu o controle e, se as coisas fossem deixadas dessa forma, a humanidade teria pereci- do eternamente. Mas, o Senhor Jesus, o Filho de Deus, curvou-Se em grande perdão e amor para assumir a natureza humana. Assim, a nossa natureza humana, após ter mergulhado nas maiores profundezas da miséria, agora foi erguida acima de toda a criação de Deus, pois Deus exaltou a Cristo “... pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro" (Efésios 1:20-21). Aqueles que receberam fé e graça para entenderem corretamente o propósito da natureza humana, devem se regozijar porque ela foi elevada das profundezas do pecado para a glória que agora recebeu mediante a honra concedida a Cristo.

2. Em Cristo, o relacionamento da nossa natureza com Deus é sempre o mesmo. Contudo, a nossa amizade original com Deus, na criação, foi rompida pela queda do homem. Os seres humanos se tornaram inimigos de Deus. Mas a sabedoria e a graça de Deus planejaram restabelecer novamente a nossa natureza à semelhança da Sua, e fazê-lo de tal forma que tornasse qualquer separação entre nós e Ele impossível. Não podemos deixar de nos admirar que a nossa natureza possa participar da vida gloriosa de Deus. A sabedoria onipotente, poder e bondade tornaram isso possível através de Cristo. Esta obra de Deus é parte do mistério da piedade que os anjos desejam perscrutar. (I Pedro 1:12). Quão pecaminosos e tolos seremos nós se pensarmos muito em outras coisas e não O suficiente nisso. O grande amor de Deus para com a humanidade é demonstrado pelo fato de o Filho de Deus não ter vindo à terra como um anjo, e sim como homem — o homem Cristo Jesus — tendo natureza humana como a nossa.

3. Cristo mostrou que é possível para a nossa natureza humana morar no céu. As nossas mentes não podem entender o número e as distâncias das estrelas no céu. Como, então, supomos que os seres humanos podem morar num céu mais glorioso que o firmamento? Todavia, a nossa natureza, no homem Cristo Jesus foi para o céu eterno de luz e glória e Ele prometeu que onde estivesse ali estaríamos com Ele para sempre.

Tentações, provações, tristezas, temores, medos e doenças são parte desta vida presente. Todas as nossas ocupações têm problemas e tristezas nelas. Se considerarmos porém, a glória de Cristo que iremos compartilhar, podemos obter alívio de todos esses males e ganhar a vitória sobre eles. "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos mas não destruídos. Por isso não desfalecemos: mas ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia, porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem mas nas que não se vêem; porque as que se vêem são temporárias, e as que não se vêem são eternas" (11 Coríntios 4:8-9,16-18). O que são todas as coisas desta vida, quer sejam boas ou más, comparadas com o benefício a nós da excelente glória de Cristo?

A condição em que as nossas mentes se encontram é o que geralmente nos causa os maiores problemas. O salmista perguntava a si mesmo: "Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença" (Salmo 42:5,11).

A centralização de nossos pensamentos, pela fé na glória de Cristo, trará paz e calma à mente perturbada e desordenada. É através de Cristo que “... temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus... porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5:2-5).

Podemos até pensar com alegria na morte quando fixamos nossos pensamentos na glória de Cristo. Muitos vivem com receio da morte todos os seus dias. Como podemos vencer estes temores?

1. Devemos deliberadamente entregar as nossas almas, ao partirmos deste mundo, nas mãos dAquele que pode recebê-las e guardá-las. A alma, sozinha e por si mesma, tem que ir para a eternidade. Ela deixa para trás, para sempre, tudo o que conheceu anteriormente pelas suas faculdades próprias e naturais.

Deve haver, portanto, um ato de fé ao entregar a alma à disposição de Deus, como Paulo foi capaz de fazer. “... eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia" (11 Timóteo 1:12).

O Senhor Jesus Cristo é o nosso grande exemplo. Quando Ele despediu o Seu espírito, Ele entregou a Sua alma nas mãos de Deus o Pai, em total confiança que ela não sofreria nenhum mal. "Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória: também a minha carne re- pousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção" (Salmo 16:9-10). O último e vitorioso ato de fé acontece .na morte. A alma poderá, então, dizer para si mesma: "Você está agora deixando o tempo e entrando naquelas coisas eternas que o olho natural não viu, nem o ouvido ouviu, nem o coração do homem tem sido capaz de imaginar. Desta forma, em silêncio e confiança entregue-se à soberana graça, verdade e fidelidade de Deus, c encontrarás descanso e paz". Jesus Cristo imediatamente recebe a alma daqueles que crêem nEle, como no caso de Estevão.

Quando morria, ele disse: "Senhor Jesus, receba o meu espírito" (Atos 7:59). O que poderia ser de maior encorajamento para entregar as nossas almas nas mãos de Cristo, na hora da morte, do que conhecer em cada dia de nossas vidas alguma coisa de Sua glória, do Seu poder e da Sua graça?

2. Como seres humanos, não somos semelhantes aos anjos que são apenas espírito e não podem morrer. Nem somos semelhantes aos animais que não possuem alma eterna. Mas Deus designou para nós uma ressurreição gloriosa do corpo que não mais terá uma natureza física; seremos mais semelhantes aos anjos. Nesta vida há uma relação tão íntima entre alma e corpo que nós tentamos tirar da cabeça qualquer pensamento sobre a sua separação. Como é possível, então, ter tal disposição de morrer, a exemplo do apóstolo Paulo quando disse: "mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, por que isto é ainda muito melhor" (Filipenses 1:23)? Essa disposição só pode ser encontrada se olharmos pela fé para Cristo e Sua glória, tendo a certeza que estar com Ele é melhor do que tudo quanto esta vida possa oferecer.

Se quisermos morrer alegremente, devemos pensar em como Deus nos chamará do túmulo na ressurreição. Então, pelo Seu grandioso poder, Ele não apenas nos restaurará à glória de Adão e Eva na criação, como também nos acrescentará ricas bênçãos além da nossa imaginação. Devemos, também, nos lembrar que apesar do corpo e da alma do nosso glorioso Salvador terem sido separados na morte (à semelhança que os nossos também o serão), Ele agora possui grande glória. O Seu exemplo pode nos dar esperança.

3. Deve haver uma disposição nossa em aceitar o tempo de Deus para morrermos. Podemos, à semelhança de Moisés, desejar ver mais da gloriosa obra de Deus em favor do Seu povo na terra. Ou, à semelhança de Paulo, podemos sentir que seja necessário, para o benefício de outros, que vivamos um pouco mais. Pode ser que desejemos ver as nossas famílias e as nossas coisas numa condição melhor e mais estabelecidas.

Mas não podemos ter paz neste mundo, a não ser que estejamos dis- postos a nos submeter à vontade de Deus com respeito à morte. Os nossos dias estão em Suas mãos, à Sua soberana disposição. Devemos aceitar isso como sendo o melhor.

4. Alguns podem não temer a morte, porém podem temer a maneira como morrerão. Uma longa doença, grandes dores, ou alguma forma de violência poderiam ser uma maneira de trazer a nossa vida terrena a um fim. Devemos ser sábios, como se estivéssemos sempre prontos para passar por qualquer experiência que Deus nos permita passar. Não seria correto que Ele fizesse o que deseja com o que Lhe pertence? Acaso a vontade dEle não é infinitamente santa, sábia, justa e boa em todas as coisas? Ele não sabe o que é melhor para nós e o que trará maior glória para Si mesmo? Muitas pessoas descobriram que são capazes de suportar as coisas que mais temiam porque receberam maior força e paz do que podiam imaginar que lhes fosse dado.

No entanto, nenhuma dessas quatro coisas podemos fazer, a não ser que acreditemos na excelente glória de Cristo e desfrutemos dela.

Muitas outras vantagens de se meditar na glória de Cristo ainda poderiam ser ditas, porém a minha fraqueza e a proximidade da morte me impedem que eu escreva aqui com maiores detalhes.
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