Por
Thiago Oliveira
“E andarei no meio de
vós, e eu vos serei por Deus,
e vós me sereis por povo.”
e vós me sereis por povo.”
Levítico 26:12
O
QUE É UMA ALIANÇA?
Deus-Criador fez do homem
a coroa da sua criação e para se relacionar com ele, aprouve ao SENHOR
estabelecer alianças. Antes de mais nada, faz-se necessário definirmos o
significado do termo aliança, também chamado por muitos de “pacto” ou
“concerto”.
Quando se fala em uma
aliança como um acordo, logo subtende-se que duas partes iguais concordam sobre
determinado termo, e ao fazerem isso se comprometem com o acordo assinando um
contrato (caso atual). Mas, não é este o significado do que abordaremos aqui. Aliança,
pegando uma bela definição de David Murray é: “um relacionamento iniciado e
imposto por Deus com consequências de vida e morte.”[1]
Grudem[2] é outro que nos brinda com
uma excelente definição: “Uma aliança é um acordo imutável e divinamente
imposto entre Deus e o homem, que estipula as condições de relacionamento entre
as partes.”
Palmer também nos lembra
que Deus, por estar acima do homem, administra o pacto (i.é. a aliança) de
maneira soberana. Deus é quem estabelece os termos[3]. Este relacionamento
ocorre quando e como Ele ordena.
A
ALIANÇA DE OBRAS
Por ter criado todas as
coisas, toda criatura está sujeita a autoridade divina. Mas Deus quis se
relacionar com o homem de uma maneira diferente. Deus demonstra afeto e amizade
por Adão. Dá ao homem a Sua Imagem e já no Éden estabelece uma aliança,
convencionalmente chamada “Aliança de Obras” ou, como dizem alguns, “Aliança Adâmica”.
Nesse tipo de aliança,
Adão deveria fazer o que foi estabelecido por Deus e assim receberia o
pagamento (salário) mediante a sua obra. Mas o que deveria fazer Adão? Ele não
deveria comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17). Mas o que aconteceria se ele
comesse? Certamente ele morreria.
Precisamos salientar o
quanto há de Graça nisso. Só pelo fato de ter sido criado, Adão já era um
eterno devedor para com Deus. O mínimo que deveria fazer era obedecer ao seu
Senhor e Criador. Porém, Deus faz uma aliança contendo uma promessa. Qual
promessa? Bem, Deus ao testar Adão, que naquele momento era íntegro, mas tinha
uma natureza mutável, deu a ele uma tarefa, como representante de toda a
humanidade, de alcançar a vida por meio da obediência.
Isso não está explícito
no texto, está implícito. Ora, se ao comer do fruto, Adão cairia em desgraça -
como ocorreu, morrendo espiritualmente, perdendo a Imagem de Deus e não mais
desfrutando das benesses do paraíso -
subentende-se que se ele não comesse, ele obteria vida. Não há vida
natural que ele já possuía. Mas uma superior, uma condição que não podia ser
perdida. Como diz Paulo em Rm 7.10, Rm 10.5 e Gl 3.12, o mandamento é para
vida, ou seja, gera vida.
INDICATIVOS
FAVORÁVEIS À ALIANÇA DE OBRAS
A árvore da vida,
plantada no meio do Jardim, é um sinal indicativo de que bastaria Adão obedecer
a ordem expressa do SENHOR que ele iria poder desfrutar de uma condição melhor.
Uma vez que ele falhou, Deus tirou-lhe o direito de comer da árvore desse fruto
(Gn 3.22). Diante disso, não podemos objetar a ideia de aliança presente do
Éden. Mesmo que não aja o termo presente no texto em questão.
Oséias 6.7 nos fala que
Adão estava sim debaixo do concerto de Deus. E ressalta que ele transgrediu o
pacto de obras. Alguns exegetas, interpretam “em Adão”, dando a entender que
teria sido um pecado cometido num local chamado Adão. Mas a preposição, no
original, não permite esta interpretação. Traduzir a expressão no original para
“como Adão” é sensato e tem respaldo em outra passagem paralela (Jó 31.33).
Todavia, a maior evidência para se crer num pacto de obras é a relação que
Paulo faz entre Adão e Cristo.
Em Romanos 5 o apóstolo
argumenta sobre a justificação que temos por meio de Cristo. Paulo coloca Adão
como nosso representante, e afirma que a partir dele, o pecado e a morte
entraram no mundo (v.12) Mas, ele também nos diz que Cristo, como um segundo
Adão, ou seja, também nosso representante, nos concedeu o perdão e a vida
(v.15). Sendo assim, Jesus Cristo é o mediador de uma nova aliança, a saber, a
aliança da Graça.
Quando Adão caiu em
pecado, ele morreu instantaneamente em sentido espiritual. Em um sentido
físico, Deus retardou a morte por meio do envelhecimento e deixou que o
primeiro casal pudesse procriar. Temos aqui uma dose valiosa de Graça, pois,
Deus soberanamente iria prover a redenção e a restauração da humanidade através
da semente da mulher (Gn 3.15). Jesus entrou na história e simplesmente
executou aquilo que Adão foi incapaz de fazer. Adão desobedeceu e os homens se tornaram
culpados. Cristo obedeceu e os homens são feitos justos (Rm 5.19). Tanto a
culpa de outrora como a justificação de agora recebemos por imputação de cada
um dos cabeças da Aliança.
Algumas pessoas negam a
imputação do pecado de Adão para os seus descendentes e muitas vezes se
perguntam: “Adão pecou e eu que pago o pato?” Coube a Deus fazê-lo nosso
representante federal. Estava sob ele o futuro de toda a espécie humana. Deus
estabeleceu que seria assim. Todavia, os que permanecem negando a culpa herdada
de Adão, também não tem direito a herança da salvação que Cristo deixou para os
seus. Então, se alguém não aceita ter caído em Adão, tal pessoa não pode ser
salva por Cristo. Em outras palavras, se alguém diz: “não é justo que eu herde
o pecado de Adão”, também é lícito não desejar a justiça generosa do Filho
dizendo “eu quero esta grande dádiva”.
Aplicações
De todo este ensinamento,
podemos fazer as seguintes aplicações:
-
Deus é bom. Ele não tinha por necessidade fazer uma
aliança com o pó. Quando se compromete de maneira pactual com o homem, Deus,
ali, revela seus santos atributos. Há graça deliberada na Aliança, mesmo tendo ela exigido a obediência de Adão.
-
Somos incapazes. Se Adão, ainda em seu estado de
integridade não conseguiu se manter nele, imagine então os seus descendentes,
por natureza depravados. Impossível é obter a salvação pelo caminho das obras.
-
Segurança em Cristo. Se pela nossa própria força nós caímos
sempre, em Cristo Jesus estamos firmes. A justiça proveniente dele nos foi
presenteada. Da mesma forma que o homem por si mesmo não se salva, também é
verdadeiro afirmar que o que está guardado em Cristo não perde a sua salvação.
Podemos com nosso Salvador nos regalarmos com a árvore da vida (Ap 2.7).
Soli
Deo Gloria
[1] A
Aliança das Obras, Ed. Os Puritanos, página 6.
[2]
Teologia Sistemática, Ed. Cultura Cristã, página 425.
[3] Alianças,
Ed. Cultura Cristã, página 13.