Por Thiago Oliveira
Ei, psiu, você pode ser um John Piper! Você
conhece o John Piper, não é? Bem, se você é cristão, no mínimo já ouviu falar
sobre este pastor e escritor de vários livros aclamados, muitos deles, publicados
em nosso idioma. Piper é pastor da Bethlehem
Baptist Church, desde 1980 e também fundou o ministério Desiring
God. Como pastor, ele é hoje, indiscutivelmente, um dos mais
respeitados líderes cristãos dos Estados Unidos. Seus sermões e vídeos no You
Tube recebem milhões e milhões de acessos, e ele tem o privilégio de ser lido e
ouvido por um elevado número de cristãos espalhados ao redor do mundo.
Uau! Ouvido e lido no mundo inteiro?
Sim. Não é incrível? Pois é isso... O John Piper é um líder que tem prestígio ministerial
e influencia bastante gente. Recentemente, publicamos aqui no Electus uma lista
de indicação com nomes de teólogos reformados. Um dos nossos articulistas, Fred
Lins, que também é pastor na igreja que congrego, falou que ao ler um de seus
livros (Supremacia de Deus na Pregação) ficou boquiaberto com o que havia ali
descoberto e isto, de certa forma, moldou a sua maneira de pregar, edificando a
si mesmo e aos demais membros de sua igreja.
Um outro amigo, desses que conheci
através da grande rede de computadores, Pedro Pamplona, teve contato com os
sermões de John Piper aos 16 anos e isso fez com que ele se tornasse um jovem
cristão mais dedicado a Palavra, levando-o a estudar Teologia alguns anos
depois. Hoje, ele e sua noiva (também impactada por Piper, onde o conheceu
através do Facebook) mantém o blog Vida de
Graça, e lá, ensinam o Evangelho no ciberespaço, edificando muita gente.
Daí você reflete: Ok então, eu entendi
que John Piper é “o cara”. Mas o que eu tenho a ver com isso? Eu não tenho suas
habilidades, não sou portador de uma excelente oratória e não me dou bem quando
tento falar em público. Piper e eu não temos nada a ver um com o outro.
Será mesmo? Lendo um livro intitulado “O
Pastor como Mestre e o Mestre como Pastor”, onde Piper divide a autoria com seu
amigo e respeitado teólogo D.A. Carson, deparei-me com as seguintes declarações
autobiográficas:
“(...)
logo soube que não seria um pregador, porque em minha pré-adolescência não
conseguia falar diante de qualquer grupo. Eu ficava paralisado de ansiedade
enquanto a isso, tremia tão intensamente e ficava tão completamente embaraçado,
que era fisicamente impossível eu ler ou falar diante de um grupo de qualquer
tamanho. Não imagine uma pessoa normal cheia de apreensão e nervosismo. Imagine
impossibilidade física. Portanto, pregação e o pastorado foram totalmente
excluídos de meus sonhos”[1]
“Até
hoje, não posso ler mais rápido do que posso falar. Alguma coisa obstrui minha
capacidade de perceber com exatidão o que está na página, quando tento ir mais
rápido – talvez alguma forma de dislexia. Essas duas incapacidades – paralisia diante
das pessoas e leitura terrivelmente lenta –, eu sabia, me deixariam fora de
qualquer profissão que exigisse grande quantidade de leitura e qualquer fala
pública”.[2]
Ora, ora. Quantos de nós não pensamos
do mesmo jeito? Diante de algumas dificuldades, jogamos a toalha e pensamos: “tal serviço não dá para mim. Vou tentar algo
mais simples”. Como um adolescente extremamente introvertido, John Piper
nunca imaginaria que Deus o conduziria por um caminho inverso aos seus
pensamentos. O jovem de leitura vagarosa, tornou-se erudito, com direito a
doutorado na Alemanha e uma carreira de professor universitário (somente
isso!). O rapazinho que tremia feito vara verde (nunca entendi bem este
provérbio), tornou-se um dos pastores mais ouvidos de sua geração. Rompendo até
as fronteiras do seu país. Agora me responda: Há algo impossível para Deus?
Vemos na Bíblia, homens que também
pensavam assim. Moisés é um claro exemplo. Ele não queria ser o interlocutor de Deus no Egito.
Ele disse ao Senhor que por ter uma dificuldade na fala, não estaria apto para
cumprir com o seu chamado. Eis a resposta de Deus para Moisés:
“E
disse-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo,
ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor? Vai, pois, agora, e eu serei com
a tua boca e te ensinarei o que hás de falar.” Êxodo 4:11-12.
Obviamente que eu não escrevi esse
texto para que você, após a leitura, começasse a imitar o “jeitão Piper de ser”.
Usei-o apenas como uma boa referência. Note que o título do texto traz um
artigo indefinido. Você deve ser você, e não “o” John Piper. Pode até ser como “um”,
no sentido de ser semelhante, mas sem se parecer com um clone. Ele, Paul
Washer, Kevin DeYoung, Tim Keller e outros tantos são homens comuns, porém, usados
por Deus apesar de suas limitações. Deus, ao chamar quem quer chamar, não o
chama antes de viabilizar as ferramentas necessárias para capacitação daquele
que será seu enviado. Você pode ser tímido, gago, dislexíco, ou o que quer que
seja. Se o Senhor te chamar, Ele irá pôr as palavras na sua boca e te ensinará
o que falar e como se portar. Deus, através do Santo Espírito que habita em
nós, opera tanto o querer quanto o realizar (Fl 2.13).
Gostaria de encerrar esse pequeno texto
com a seguinte oração:
“Querido
Deus, reconheço a minha incapacidade diante de uma série de fatores. Sei que
sozinho não posso fazer nada bom. Quero ser um cooperador do teu Reino e servir
ao Senhor com devoção e gratidão. Não quero fazer nada por vanglória; que eu
diminua e Cristo cresça. Confio na tua providência e sei que o Espírito que
está em mim é maior do que o que está no mundo. Em ti sou capaz de realizar a
obra que o Senhor tem preparado para que eu realize. Confio plenamente em teus
desígnios. Assim eu oro, em nome de Jesus. Amém.”
[1]
Página 28.
[2]
Página 32.