Por Martinho Lutero
Resposta: Até agora você ouviu dois
ensinamentos. Um diz que entre os cristãos não pode haver espada; por isso você
não pode usá-la sobre e entre cristãos, que não precisam dela. Portanto, você
tem que formular a sua pergunta em relação ao grupo dos não-cristãos se ali
você poderia usá-la de modo cristão. Este é o segundo ensinamento: é seu dever
servir à autoridade promovê-la de todas as formas, seja com a vida, bens, honra
e alma. Pois se trata de uma obra da qual você não precisa, mas que é muito
útil e necessária para todo mundo e para seu próximo. Você vê que há falta de
carrasco, agente policial, juiz, senhor ou príncipe e se julga apto. Deveria
então oferecer-se e candidatar-se, para que, de forma alguma, a autoridade tão
necessária seja desprezada, enfraquecida ou desapareça. Pois o mundo não pode e
não consegue renunciar a ela.
Motivo: Nesse caso, você
assumiria um serviço e uma função completamente estranha. Isso não seria
vantajoso para você nem para sua propriedade ou honra, mas somente para o
próximo e para os outros. Você não faria com a intenção de vingar-se ou de
pagar mal com o mal, mas para o bem de seu próximo e a preservação da segurança
e da paz para os outros. Pois você mesmo fica com o Evangelho e se fixa à
palavra de Cristo. Sofre de boa vontade a outra bofetada no rosto e entrega a capa
com a veste – desde que atinja você e sua própria causa. Assim as duas coisas
combinam maravilhosamente: você satisfaz o Reino de Deus e o reino do mundo,
externa e internamente, aguenta maldade e injustiça e castiga mal e injustiça, ao
mesmo tempo, simultaneamente não resiste à maldade e, contudo lhe resiste. Pois
com uma coisa você tem em vista você próprio e aquilo que é seu; com a outra,
seu próximo e aquilo que pertence a ele.
Onde se trata de você e do que é
seu, ali você agirá de acordo com o Evangelho e aguentará, como bom cristão, injustiças
contra sua pessoa. Onde se trata do outro e do que é dele, você agirá de acordo
com o amor e não permitirá injustiça contra o seu próximo. O Evangelho não
proíbe isso.
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* Este breve texto foi extraído do livro “Política, Fé e Resistência”
publicado conjuntamente pelas editoras Sinodal e Concórdia. Trata-se de uma
solicitação atendida por Lutero, que escreveu sobre política a pedido do pastor
Wolfgang Stein e do Duque João Frederico da Saxônia. A questão conflituosa que
Lutero tentará responder é: como ser cristão e ao mesmo tempo usar da violência
servindo ao Estado.