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8 de set. de 2014

Resistindo à secularização (1/2)


Por Bruno Silva

Recentemente ouvi uma pessoa, no mesmo coletivo que eu estava, falando a respeito de uma disputa de cargos de ministérios na sua igreja, e como a liderança desta estava se comportando diante deste processo todo. Confesso que fiquei escandalizado com tamanha atrocidade que ouvi. Expressões como: disputa, confusão e inveja, faziam parte de seu discurso. Pensei naquela hora que a grande dificuldade das igrejas evangélicas é - possivelmente - essa falta de entendimento da nossa nova vida em Cristo.

Naquele momento o texto da carta de Tiago, no capítulo 4, para ser mais preciso, me veio à memória. Lembrei-me da exortação daquele pastor às igrejas que estavam na “dispersão” (ARA).

A carta de Tiago é muito prática e livre de embaraços teológicos desde o começo. Essa não foi sua ênfase. Mas podemos observar que mesmo sem se deter aos temas mais robustos da teologia, o apóstolo consegue ensinar a Verdade da Palavra de Deus àqueles irmãos. Seus escritos em muito se parecem com os ensinamentos da “literatura de sabedoria” do Antigo Testamento, conforme encontramos nos livros de Jó, Provérbios, Eclesiastes e em alguns dos Salmos. O autor tinha em mente os crentes fiéis que são um exemplo à religião pura, que passam pela provação. A estes ele encoraja. Mas também, Tiago tem em vista indivíduos mais carnais e egoístas, cuja conduta tem falhado diante do teste da ‘religião pura’. Ele os repreende veementemente.

No texto em que cito acima, o apóstolo faz uma pergunta contra as práticas reprováveis dos cristãos que estão vivendo este secularismo. “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?” Essa é uma pergunta extremamente desconcertante. Se levarmos em consideração que não é uma pergunta feita a não-cristãos (pessoas que não tem conhecimento da graça salvadora, que não tem conhecimento e envolvimento com a Palavra Viva). Definitivamente NÃO! Essa pergunta é feita para pessoas que fazem parte de um mesmo corpo. De uma mesma igreja local. “Ele está escrevendo para igreja de Deus”.[1]

Tiago usa duas expressões que são muito fortes, e que estão acontecendo na comunidade. “Guerras” (polemos: brigas, conflitos, discórdias) nos dá a ideia de como eram as rixas travadas pelos interesses pessoais. A outra palavra utilizada no texto é “Contendas” (machai), Aqui significa batalhas e inimizades que separam pessoas. Mas “de onde vem?” É a grande pergunta a ser feita. Sua resposta, o apóstolo dá sem nenhuma hesitação: “dos prazeres.” (hedon, que no português é hedonismo). Dos prazeres procurados com intenso desejo. Por isso que os homens entram em guerra uns contra os outros. Por que seus desejos desenfreados entram em conflito com os desejos de outros homens que buscam sua própria satisfação sem controle. Todos querem levar vantagem. Algum prazer que prejudique, que lese o outro. Mas esses prazeres que Tiago fala, não existem por causa de uma influência externa, mas é parte da nossa natureza pecaminosa, da nossa natureza adâmica, caída que precisa constantemente da graça do Senhor. Com isso surge uma segunda pergunta: “De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?” É obvio que essa pergunta, nesse contexto, se torna retórica. Tiago sabia que o mal do coração do homem está em sua natureza. Nos lembramos do que o apóstolo Paulo escreve aos romanos no capítulo 7:23 dizendo: “mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”.  Consideremos ainda o que diz a palavra de Deus em Tito 3:3 “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”. Isso é nada mais nada menos que o homem disposto a lutar pelos seus “direitos”.      

Mas como essas coisas elas são na prática? Como essas coisas podem acontecer na vida de cada indivíduo que deve resistir a essa secularização? Tiago norteia o nosso entendimento com pelo menos 4 apontamentos que são feitos nos versos seguintes. 1-Cobiça, 2-inveja, 3-lutas e guerras e 4-um pedido soberbo, com o propósito de se vangloriar. Essas quatro são, no mínimo, características de secularização que ele combate dentro daquelas comunidades. Jesus diz que “onde está o nosso tesouro, ali também está o nosso coração”. Quando passamos a viver nossa vida sem ter o Senhor como nosso deleite, nosso prazer, nossa vida estará fadada a perder o foco. Nossa lente ficará desajustada. Existem muitas coisas que o mundo faz para seduzir nossa alma, todavia, nosso coração é um poço de desejo e se Cristo não for o árbitro em nossos corações, certamente viveremos na luta uns contra os outros para obter aquilo que não é nosso e aquilo que Deus nunca nos dará. Apenas por saber o que é melhor para as nossas vidas.

Em algumas igrejas, ditas cristãs, o deus Mamom é invocado constantemente. “Correntes”, “semanas da vitória”, “chave da benção”, tudo isso tem substituído a adoração bíblica tendo Cristo como centro. Uma patifaria, onde os cultos estão ‘cheios’ de corações vazios. Tiago chama isso de Adultério, Infidelidade. A igreja tem apenas um Marido, um Senhor, um dono. Tiago usa a mesma linguagem dos profetas do Antigo Testamento como: Isaías, Jeremias[2], uma linguagem metafórica para descrever a apostasia espiritual, especialmente a idolatria. No caso da igreja esse adultério é a “amizade” com o mundo. O mundo que fornece todo tipo de prazer para o cristão. O Apóstolo João na sua primeira carta no capítulo 2 versos de 15 à 17 diz: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como sua concupiscência; aquele, porém que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. O apóstolo João é claro com aqueles que fazem alianças com o mundo, “o amor do pai não está nele”.

É possível experimentarmos esses problemas dentro das nossas igrejas? Sim! Apesar de a Igreja ser uma comunidade dos santos, precisamos lembrar que estamos em um processo de santificação, de mudanças de valores, mudanças da velha vida para a nova vida. É o que Tiago, inspirado pelo Espírito Santo, está fazendo aqui. Essas guerras e contendas, esses desejos insaciáveis da alma humana não pertencem mais a nós que fomos salvos em Cristo. Dizer que somos falhos e usar isso como desculpa para permanecermos como estamos é algo que a Palavra de Deus não nos instrui, pelo contrário, é necessário que seja confrontado em amor com a Verdade! Temos que abandonar o pecado que busca satisfazer nossos “prazeres”


[1] SHEDD, Russell; uma exposição de Tiago – a sabedoria de Deus. Pág. 120
[2] Cf. 54:1-6 e 2:2; 3:20