Por Bruno Silva
Recentemente ouvi uma
pessoa, no mesmo coletivo que eu estava, falando a respeito de uma disputa de
cargos de ministérios na sua igreja, e como a liderança desta estava se
comportando diante deste processo todo. Confesso que fiquei escandalizado com
tamanha atrocidade que ouvi. Expressões como: disputa, confusão e inveja,
faziam parte de seu discurso. Pensei naquela hora que a grande dificuldade das igrejas
evangélicas é - possivelmente - essa falta de entendimento da nossa nova vida
em Cristo.
Naquele momento o texto da carta de Tiago, no
capítulo 4, para ser mais preciso, me veio à memória. Lembrei-me da exortação
daquele pastor às igrejas que estavam na “dispersão” (ARA).
A carta de Tiago é muito
prática e livre de embaraços teológicos desde o começo. Essa não foi sua
ênfase. Mas podemos observar que mesmo sem se deter aos temas mais robustos da
teologia, o apóstolo consegue ensinar a Verdade da Palavra de Deus àqueles
irmãos. Seus escritos em muito se parecem com os ensinamentos da “literatura
de sabedoria” do Antigo Testamento, conforme encontramos nos livros de Jó,
Provérbios, Eclesiastes e em alguns dos Salmos. O autor tinha em mente os
crentes fiéis que são um exemplo à religião pura, que passam pela
provação. A estes ele encoraja. Mas também, Tiago tem em vista indivíduos mais
carnais e egoístas, cuja conduta tem falhado diante do teste da ‘religião
pura’. Ele os repreende veementemente.
No texto em que cito acima,
o apóstolo faz uma pergunta contra as práticas reprováveis dos cristãos que
estão vivendo este secularismo. “De onde procedem guerras e contendas que há
entre vós?” Essa é uma pergunta extremamente desconcertante. Se levarmos em
consideração que não é uma pergunta
feita a não-cristãos (pessoas que não tem conhecimento da graça salvadora, que
não tem conhecimento e envolvimento com a Palavra Viva). Definitivamente NÃO!
Essa pergunta é feita para pessoas que fazem parte de um mesmo corpo. De
uma mesma igreja local. “Ele está escrevendo para igreja de Deus”.[1]
Tiago usa duas expressões
que são muito fortes, e que estão acontecendo na comunidade. “Guerras” (polemos:
brigas, conflitos, discórdias) nos dá a ideia de como eram as rixas
travadas pelos interesses pessoais. A outra palavra utilizada no texto é “Contendas”
(machai), Aqui significa batalhas e inimizades que separam pessoas. Mas “de
onde vem?” É a grande pergunta a ser feita. Sua resposta, o apóstolo dá sem
nenhuma hesitação: “dos prazeres.” (hedon, que no português é
hedonismo). Dos prazeres procurados com intenso desejo. Por isso que
os homens entram em guerra uns contra os outros. Por que seus desejos
desenfreados entram em conflito com os desejos de outros homens que buscam sua
própria satisfação sem controle. Todos querem levar vantagem. Algum prazer que
prejudique, que lese o outro. Mas esses prazeres que Tiago fala, não existem
por causa de uma influência externa, mas é parte da nossa natureza pecaminosa,
da nossa natureza adâmica, caída que precisa constantemente da graça do Senhor.
Com isso surge uma segunda pergunta: “De onde, senão dos prazeres que
militam na vossa carne?” É obvio que essa pergunta, nesse contexto, se
torna retórica. Tiago sabia que o mal do coração do homem está em sua natureza.
Nos lembramos do que o apóstolo Paulo escreve aos romanos no capítulo 7:23
dizendo: “mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei
da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”.
Consideremos ainda o que diz a
palavra de Deus em Tito 3:3 “Pois nós também, outrora, éramos néscios,
desobedientes, desgarrados escravos de toda sorte de paixões e prazeres,
vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”. Isso é
nada mais nada menos que o homem disposto a lutar pelos seus “direitos”.
Mas como essas coisas elas são na prática? Como essas coisas
podem acontecer na vida de cada indivíduo que deve resistir a essa
secularização? Tiago norteia o nosso entendimento com pelo menos 4 apontamentos
que são feitos nos versos seguintes. 1-Cobiça, 2-inveja, 3-lutas e guerras e 4-um
pedido soberbo, com o propósito de se vangloriar. Essas quatro são, no mínimo,
características de secularização que ele combate dentro daquelas comunidades.
Jesus diz que “onde está o nosso tesouro, ali também está o nosso coração”. Quando
passamos a viver nossa vida sem ter o Senhor como nosso deleite, nosso prazer,
nossa vida estará fadada a perder o foco. Nossa lente ficará desajustada.
Existem muitas coisas que o mundo faz para seduzir nossa alma, todavia, nosso
coração é um poço de desejo e se Cristo não for o árbitro em nossos corações,
certamente viveremos na luta uns contra os outros para obter aquilo que não é
nosso e aquilo que Deus nunca nos dará. Apenas por saber o que é melhor para as
nossas vidas.
Em algumas igrejas, ditas
cristãs, o deus Mamom é invocado constantemente. “Correntes”, “semanas da
vitória”, “chave da benção”, tudo isso tem substituído a adoração bíblica tendo
Cristo como centro. Uma patifaria, onde os cultos estão ‘cheios’ de
corações vazios. Tiago chama isso de Adultério, Infidelidade. A igreja
tem apenas um Marido, um Senhor, um dono. Tiago usa a mesma linguagem dos
profetas do Antigo Testamento como: Isaías, Jeremias[2],
uma linguagem metafórica para descrever a apostasia espiritual, especialmente a
idolatria. No caso da igreja esse adultério é a “amizade” com o mundo. O
mundo que fornece todo tipo de prazer para o cristão. O Apóstolo João na sua
primeira carta no capítulo 2 versos de 15 à 17 diz: “Não ameis o mundo nem
as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele;
porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, concupiscência dos
olhos e a soberba da vida não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o
mundo passa, bem como sua concupiscência; aquele, porém que faz a vontade de
Deus permanece eternamente”. O apóstolo João é claro com aqueles que fazem
alianças com o mundo, “o amor do pai não está nele”.
É possível experimentarmos
esses problemas dentro das nossas igrejas? Sim! Apesar de a Igreja ser uma
comunidade dos santos, precisamos lembrar que estamos em um processo de
santificação, de mudanças de valores, mudanças da velha vida para a nova vida.
É o que Tiago, inspirado pelo Espírito Santo, está fazendo aqui. Essas guerras
e contendas, esses desejos insaciáveis da alma humana não pertencem mais a nós
que fomos salvos em Cristo. Dizer que somos falhos e usar isso como desculpa
para permanecermos como estamos é algo que a Palavra de Deus não nos instrui,
pelo contrário, é necessário que seja confrontado em amor com a Verdade! Temos
que abandonar o pecado que busca satisfazer nossos “prazeres”.