É inegável que os
reformados também conhecidos como calvinistas são conhecidos pela crença na
predestinação incondicional. Muitos até acham que esse foi o tema mais abordado
pelo reformador João Calvino, na verdade Calvino falou mais em oração e vida
cristã do que na doutrina da predestinação e isso é facilmente observado nas
institutas e em seus comentários, principalmente o dos Salmos.
Lembro a primeira vez
que tive contato com a doutrina da eleição, foi lendo um sermão de Spurgeon
sobre o assunto, fiquei estarrecido, assombrado e maravilhado com a grandeza e
soberania de Deus. Os efeitos da doutrina da eleição em minha vida foram de
sede, temor e adoração. Embora muitos defendam e creiam nessa verdade bíblica
contida na Palavra de Deus, existe muita resistência quanto a ensina-la na
igreja. Muitos ministros e líderes que professam sua crença confessional temem
falar sobre isso nos cultos públicos, achando que é uma mensagem difícil ou
dura demais para o povo ouvir.
Nos dias de Agostinho
havia alguns franceses que deram início a essa questão, muitos se viam
perturbados com a doutrina da eleição. O motivo não era que a doutrina fosse
falsa em algum ponto, mas, achavam que a doutrina era perigosa e ofensiva,
optando por suprimi-la e não coloca-la em evidência. Hoje também temos grupos os
que preferem não falar sobre o assunto, ainda que sua confissão denominacional
professe a predestinação, para evitar contendas e dissenções. Creem que isso é
preferível para preservar a unidade da igreja e a tranquilidade da consciência.
Com isso é comum observarmos que muitos chamam a doutrina da eleição de crença
secundaria. A verdade de Deus não pode ser secundária e nem pode ser ofuscada
por tolices humanas que se tornaram um clichê que em vez de edificar, macula e
detém o crescimento dos santos.
Ao analisarmos essa
questão biblicamente veremos que ela não se sustenta perante o ensino das
Escrituras Sagradas. Em sua despedida dos irmãos de Éfeso o apóstolo Paulo nos
diz:
Vocês
sabem que não deixei de pregar-lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes
tudo publicamente e de casa em casa.
Atos 20.20 NVI
Podemos observar que todo
o desígnio de Deus foi ensinado por Paulo como diz outra versão. Devemos nos
submeter ao que a Escritura diz, toda a Palavra deve ser pregada (Tota Scriptura) e ensinada ao povo.
Lemos ainda em 2Timoteo 3.16,17:
Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,
para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e
perfeitamente instruído para toda a boa obra.
O Texto já fala por si
mesmo, a Palavra de Deus é divinamente inspirada e para que? Para tornar o
homem perfeito e isso vem pelo ensino e exposição das Escrituras. Em outro
lugar observamos o objetivo da predestinação:
Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. Romanos 8.29
O
objetivo da eleição é para sermos conforme a imagem de Jesus. Logo se a doutrina
da eleição nos leva a sermos semelhantes a Cristo, porque não ensina-la? Ainda
tomando mais um texto bíblico observamos o Senhor dizendo:
Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a
verdade. João 17.17
Toda a Palavra
de Deus é verdade, não uma parte dela. E
Paulo nos adverte que a Igreja de Deus é
a coluna e firmeza da verdade (I Timóteo 3.15), se somos baluarte da verdade se somos coluna e firmeza da
verdade, temos que pregar a verdade, como lemos em João 17, a Palavra de Deus é
a verdade e ela fala da predestinação. Como Paulo disse em Éfeso temos que
dizer também: “pregamos todo o desígnio de Deus”. Logo, se a Escritura é a
verdade, e a verdade liberta o homem (João 8.36) e essa verdade ensina a
predestinação, devemos pregar publicamente. O teólogo Fraçois Turretini diz:
Daí crermos que essa doutrina
não deve ser totalmente suprimida com base numa modéstia irracional nem ser
esquadrinhada curiosamente com presunção temerária. Antes, deve ser ensinada
sóbria e prudentemente com base na Palavra de Deus, de modo que evitem os
rochedos traiçoeiros: de um lado, o rochedo da “ignorância fingida”, que nada
deseja ver propositadamente se cega para as coisas reveladas; do outro, o
rochedo da “curiosidade injustificada”, que se ocupa em ver e entender tudo,
até mesmo os mistérios. Destrói-se o primeiro, que (pecando por falta) crê que
devemos abster-nos da proposição dessa doutrina, e o segundo, que (pecando por
excesso) deseja fazer tudo com esse mistério escrupulosamente acurado (exonychizein) e acredita que nada dela
deve ser deixado de lado sem ser posto a descoberto (anexereuneton). Contra ambos, declaramos (com os ortodoxos) que a
predestinação pode ser ensinada com proveito, contanto que isso seja feito
sobriamente, com base na Palavra de Deus. [1]
Jesus
ensinou a doutrina da predestinação:
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado
desde a fundação do mundo. Mateus 25.34
Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso
vós não as escutais, porque não sois de Deus. João 8.47
Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a
vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a
fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. João 15.16
Paulo
ensinou:
Porque os que dantes
conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a
fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos
que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também
glorificou. Romanos
8.29,30
Como também nos elegeu nele antes da
fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em
amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade, Descobrindo-nos o mistério da sua
vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo. Efésios
1.4,5,9
Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não
segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos
foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos. II Timóteo 1.9
Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a
aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo. I Tessalonicenses 5.9
Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do
SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em
santificação do Espírito, e fé da verdade. II Tessalonicenses
2.13
Ver também Romanos 9
todo o capitulo.
Pedro ensinou:
Porque
a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão
longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar. Atos 2.39
Eleitos segundo a presciência de Deus
Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de
Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas. I
Pedro 1.2
Lucas ensinou:
E os gentios, ouvindo
isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos
estavam designados para a vida eterna. Atos 13.48
Thiago Ensinou:
Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito
vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de
variação. Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para
que fôssemos como primícias das suas criaturas.
Thiago 1.17,18
João
Ensinou:
Saúdam-te
os filhos de tua irmã, a eleita. Amém. II Jo 13
A doutrina da
predestinação é um santo ensinamento da Palavra de Deus, por isso o tema deve
ser pregado e ensinado com santo zelo e prudência. Calvino é acusado por muitos
desconhecedores da doutrina bíblica e da história da igreja de ter criado a
doutrina da predestinação, acabamos de ver que isso não é verdade, a bíblia
ensina o assunto abundantemente, vale notar que só nos atemos ao Novo
Testamento, pelo foco do texto que é sobre a exposição da doutrina na igreja.
Agostinho bem antes de Calvino abordou o tema de forma volumosa também. No
entanto, vale citarmos o reformador:
Quando homens quiserem fazer
pesquisa sobre a predestinação, é preciso que se lembrem de entrar no santuário
da sabedoria divina. Nesta questão, se a pessoa estiver cheia de si e se intrometer
com excessiva autoconfiança e ousadia, jamais irá satisfazer a sua curiosidade. [2]
O fundamento de nossa vocação é
a eleição divina gratuita, pela qual fomos ordenados para a vida antes que
fôssemos nascidos. Desse fato depende nossa vocação, nossa fé, a concretização
de nossa salvação. [3]
Portanto, fica
para nós o conselho de Paulo a seu filho na fé Timóteo:
Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de
tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. II Timóteo 4 . 2
Sola Scriptura, Tota Scriptura.
__________________________________
[1] Compêndio de
Teologia Apologética, François Turretini. Ed. Cultura Cristã.
[2] Institutas
da Religião Cristã, João Calvino. Ed. Unesp.
[3] Exposição de
Gálatas, João Calvino. Ed. Fiel.