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10 de set. de 2014

Devemos ensinar publicamente a Predestinação?


Por Thomas Magnum

É inegável que os reformados também conhecidos como calvinistas são conhecidos pela crença na predestinação incondicional. Muitos até acham que esse foi o tema mais abordado pelo reformador João Calvino, na verdade Calvino falou mais em oração e vida cristã do que na doutrina da predestinação e isso é facilmente observado nas institutas e em seus comentários, principalmente o dos Salmos.

Lembro a primeira vez que tive contato com a doutrina da eleição, foi lendo um sermão de Spurgeon sobre o assunto, fiquei estarrecido, assombrado e maravilhado com a grandeza e soberania de Deus. Os efeitos da doutrina da eleição em minha vida foram de sede, temor e adoração. Embora muitos defendam e creiam nessa verdade bíblica contida na Palavra de Deus, existe muita resistência quanto a ensina-la na igreja. Muitos ministros e líderes que professam sua crença confessional temem falar sobre isso nos cultos públicos, achando que é uma mensagem difícil ou dura demais para o povo ouvir.

Nos dias de Agostinho havia alguns franceses que deram início a essa questão, muitos se viam perturbados com a doutrina da eleição. O motivo não era que a doutrina fosse falsa em algum ponto, mas, achavam que a doutrina era perigosa e ofensiva, optando por suprimi-la e não coloca-la em evidência. Hoje também temos grupos os que preferem não falar sobre o assunto, ainda que sua confissão denominacional professe a predestinação, para evitar contendas e dissenções. Creem que isso é preferível para preservar a unidade da igreja e a tranquilidade da consciência. Com isso é comum observarmos que muitos chamam a doutrina da eleição de crença secundaria. A verdade de Deus não pode ser secundária e nem pode ser ofuscada por tolices humanas que se tornaram um clichê que em vez de edificar, macula e detém o crescimento dos santos. 
Ao analisarmos essa questão biblicamente veremos que ela não se sustenta perante o ensino das Escrituras Sagradas. Em sua despedida dos irmãos de Éfeso o apóstolo Paulo nos diz:

Vocês sabem que não deixei de pregar-lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa em casa. Atos 20.20 NVI

Podemos observar que todo o desígnio de Deus foi ensinado por Paulo como diz outra versão. Devemos nos submeter ao que a Escritura diz, toda a Palavra deve ser pregada (Tota Scriptura) e ensinada ao povo. Lemos ainda em 2Timoteo 3.16,17:

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.

O Texto já fala por si mesmo, a Palavra de Deus é divinamente inspirada e para que? Para tornar o homem perfeito e isso vem pelo ensino e exposição das Escrituras. Em outro lugar observamos o objetivo da predestinação:

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Romanos 8.29

O objetivo da eleição é para sermos conforme a imagem de Jesus. Logo se a doutrina da eleição nos leva a sermos semelhantes a Cristo, porque não ensina-la? Ainda tomando mais um texto bíblico observamos o Senhor dizendo:

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. João 17.17

Toda a Palavra de Deus é  verdade, não uma parte dela. E Paulo nos adverte que a Igreja de Deus é a coluna e firmeza da verdade (I Timóteo 3.15), se somos baluarte da verdade se somos coluna e firmeza da verdade, temos que pregar a verdade, como lemos em João 17, a Palavra de Deus é a verdade e ela fala da predestinação. Como Paulo disse em Éfeso temos que dizer também: “pregamos todo o desígnio de Deus”. Logo, se a Escritura é a verdade, e a verdade liberta o homem (João 8.36) e essa verdade ensina a predestinação, devemos pregar publicamente. O teólogo Fraçois Turretini diz:

Daí crermos que essa doutrina não deve ser totalmente suprimida com base numa modéstia irracional nem ser esquadrinhada curiosamente com presunção temerária. Antes, deve ser ensinada sóbria e prudentemente com base na Palavra de Deus, de modo que evitem os rochedos traiçoeiros: de um lado, o rochedo da “ignorância fingida”, que nada deseja ver propositadamente se cega para as coisas reveladas; do outro, o rochedo da “curiosidade injustificada”, que se ocupa em ver e entender tudo, até mesmo os mistérios. Destrói-se o primeiro, que (pecando por falta) crê que devemos abster-nos da proposição dessa doutrina, e o segundo, que (pecando por excesso) deseja fazer tudo com esse mistério escrupulosamente acurado (exonychizein) e acredita que nada dela deve ser deixado de lado sem ser posto a descoberto (anexereuneton). Contra ambos, declaramos (com os ortodoxos) que a predestinação pode ser ensinada com proveito, contanto que isso seja feito sobriamente, com base na Palavra de Deus. [1]

Jesus ensinou a doutrina da predestinação:

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Mateus 25.34

Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus. João 8.47

Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. João 15.16

Paulo ensinou:

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Romanos 8.29,30

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo. Efésios 1.4,5,9

Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos. II Timóteo 1.9

Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo. I Tessalonicenses 5.9

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade. II Tessalonicenses 2.13

Ver também Romanos 9 todo o capitulo.

Pedro ensinou:

Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar. Atos 2.39

Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas. I Pedro 1.2

Lucas ensinou:

E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam designados para a vida eterna. Atos 13.48

Thiago Ensinou:

Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas. Thiago 1.17,18

João Ensinou:

Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita. Amém. II Jo 13

A doutrina da predestinação é um santo ensinamento da Palavra de Deus, por isso o tema deve ser pregado e ensinado com santo zelo e prudência. Calvino é acusado por muitos desconhecedores da doutrina bíblica e da história da igreja de ter criado a doutrina da predestinação, acabamos de ver que isso não é verdade, a bíblia ensina o assunto abundantemente, vale notar que só nos atemos ao Novo Testamento, pelo foco do texto que é sobre a exposição da doutrina na igreja. Agostinho bem antes de Calvino abordou o tema de forma volumosa também. No entanto, vale citarmos o reformador:

Quando homens quiserem fazer pesquisa sobre a predestinação, é preciso que se lembrem de entrar no santuário da sabedoria divina. Nesta questão, se a pessoa estiver cheia de si e se intrometer com excessiva autoconfiança e ousadia, jamais irá satisfazer a sua curiosidade. [2]

O fundamento de nossa vocação é a eleição divina gratuita, pela qual fomos ordenados para a vida antes que fôssemos nascidos. Desse fato depende nossa vocação, nossa fé, a concretização de nossa salvação. [3]

Portanto, fica para nós o conselho de Paulo a seu filho na fé Timóteo:

Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.  II Timóteo 4 . 2

Sola Scriptura, Tota Scriptura.
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[1] Compêndio de Teologia Apologética, François Turretini. Ed. Cultura Cristã.
[2] Institutas da Religião Cristã, João Calvino. Ed. Unesp.
[3] Exposição de Gálatas, João Calvino. Ed. Fiel.