1509725595914942

14 de mar. de 2016

Luz ou Trevas: O Amor é quem Indica Onde Estamos (1 João 2. 7-11)

Por Thiago Oliveira

Texto base

1 João 2:7-11

7. Amados, não lhes escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que vocês têm desde o princípio: a mensagem que ouviram.

8. No entanto, eu lhes escrevo um mandamento novo, o qual é verdadeiro nele e em vocês, pois as trevas estão se dissipando e já brilha a verdadeira luz.

9. Quem afirma estar na luz mas odeia seu irmão, continua nas trevas.

10. Quem ama seu irmão permanece na luz, e nele não há causa de tropeço.

11. Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas; não sabe para onde vai, porque as trevas o cegaram.

Introdução

Na exposição anterior ficou claro que Cristo opera em nós a santificação. Ser santificado é ter a imagem moldada à imagem do nosso Senhor e Salvador. É um processo que evolui de degrau em degrau até que na Glória possamos desfrutar de uma vida integralmente santa, ao ponto de não mais haver uma possibilidade de pecarmos.

Uma pessoa santa é aquela que tem uma busca incansável por agradar a Deus, servindo-O diligentemente. Daí a importância de guardar os preceitos divinos. Quem é santificado ama a Lei do Senhor, anela e suspira ao ouvir a Palavra de Deus. Quem é santificado não busca cumprir os mandamentos para obter a salvação, esta já foi alcançada. Cumprir os mandamentos, para o santo, é uma doxologia. Louvamos a Cristo quando cumprimos com a Palavra de sua graça. A partir de agora, veremos que o apóstolo João irá tratar sobre aquilo que chamamos de o resumo da lei, os dois mandamentos mais importantes.

O Velho e o Novo (7-8)

João ao dirigir-se a igreja enfatiza que suas palavras não constituem em um novo mandamento, pois, o que fala já está registrado na Escritura. Um mandamento que era transmitido também via tradição oral.  Todavia, um pouco mais adiante, ele fala que sim, o mandamento é novo. O porquê disso?

Aqui é interessante frisarmos que a Bíblia é um livro que apresenta unidade de conteúdo entre o velho e o novo testamento. Muitas vezes é dito que o novo fez do velho algo sem valor doutrinário ou prático para a igreja. Isto é um equívoco. João começa a tratar do resumo da Lei, que é o mandamento do amor. Em Levítico 19.18, ou seja, na lei mosaica, já temos este mandamento. Logo, desde o princípio da igreja (entendamos que Israel era a congregação do SENHOR no Antigo Testamento), amar ao próximo estava entre os deveres do povo de Deus como sendo um povo santo.

Então porque em seguida João trata este mandamento como novo? O apóstolo faz isso por entender que embora exista uma continuidade entre os testamentos que não podemos desprezar, pois, o novo é gerado pelo que o precede, existe um alargamento do mandamento na administração da nova aliança. No contexto do Antigo Testamento, havia a lei escrita externamente. Na nova aliança o Senhor faz o seguinte, conforme Jeremias 31.33: Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Este é um texto que fala sobre o novo pacto que Deus faria com Israel. Sabemos que tal pacto se aplica a igreja e que Cristo é o seu mediador, selando a aliança com seu próprio sangue (Lucas 22.20). Assim, o mandamento, conforme o apóstolo João nos fala é verdadeiro em nós, “pois as trevas estão se dissipando”. Ele enfatiza que aqueles irmãos estavam cumprindo tal mandamento ao ponto de evidenciar que andavam como Jesus andou. Isto era um indício de que eles estavam saindo das trevas, ou seja, um indício da sua salvação e santificação.

Para finalizar esta parte, vale lembrar que o próprio Cristo fez com que o amor tivesse um novo significado. O mandamento diz que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. Na última ceia com os doze, Jesus diz o seguinte: "Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” João 13:34. Aqui vemos que devemos amar tendo como referência o amor de Cristo e não o amor-próprio. Eis um grande desafio para igreja, amar de maneira sacrificial e incondicional. Todavia, sabemos que não estamos sozinhos, o nosso consolador nos auxilia e gera em nosso íntimo tal amor. E precisamos dele, pois, “todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” João 13:35. Obviamente, queremos ser reconhecidos como discípulos fieis de nosso amado Mestre e Senhor.

As Trevas do Desamor (9-11)

Nos versos que se seguem, novamente encontramos uma linguagem de contrastes. Luz e trevas são lados antagônicos onde não existe neutralidade. Ou estamos numa, ou estamos noutra. Iluminados ou obscurecidos. Para saber onde nos enquadramos, devemos analisar se estamos amando ou não o nosso próximo. O desamor é descrito aqui como ódio. Esta palavra parece ser muito forte, mas João a usa para demonstrar que a falta de amor é o mesmo que odiar alguém. Por isso, se alguém, mesmo no seio da igreja, não ama o próximo, está mergulhado em trevas, mesmo quando afirma que anda na luz.

Para permanecer na luz, o amor é condição sine qua non.  Quem permanece na luz está firme e não serve de escândalo, ou melhor, tropeço. Tropeça e cai quem está nas trevas do desamor, pois, sua visão não pode livrá-lo dos perigos a sua frente, afinal, nada consegue enxergar.

Amar é o âmago da vida cristã. Quando falta amor, falta o essencial para termos uma identificação com o Deus de amor a quem servimos. Infelizmente, no seio da igreja, existem irmãos que não se toleram. A questão é: são servos de Cristo? Nasceram de novo? Pois, todo aquele que é nascido de novo deve amar e perdoar qualquer ofensa. Amar custa um preço, às vezes, nos deixa no prejuízo, mas devemos amar, isso independe de ter razão ou não ter. O samaritano da parábola de Jesus amou o seu próximo (um inimigo étnico) e pagou uma estalagem até que aquele judeu ferido fosse sarado e pudesse voltar para a sua família.

Uma igreja que não ama não pode nem ser chamada de igreja. Um cristão que não ama também não pode se apropriar do formoso nome de Jesus. Quem odeia seu irmão está cego e não sabe para onde vai, assim diz a Palavra no verso 11. Diferente destes, o crente teve as escamas dos seus olhos removidas e sabe muito bem qual é o seu destino final.

Aplicações

1. Será que tenho amado o meu próximo como Cristo demonstra o seu amor por mim? Não devo esquecer que o Seu amor é o padrão que devo imitar.

2. Tenho consciência de que amar é manifestar o caráter de Cristo? Será que tenho exalado o bom perfume do Senhor entre aqueles que me cercam?

3. Preciso estar alerta que não é o tempo de igreja que faz de mim um cristão. Posso ter anos de congregado e até batizado, mas se não tenho amado o meu irmão, a Palavra é categórica em afirmar que estou em trevas. Logo, se existe ódio ou rancor no meu coração, preciso pedir a Deus que arranque-o para fora de mim e me ensine a amar como Ele ama.

11 de mar. de 2016

Política sob perspectiva reformacional: O Motivo Básico Cristão

Por Thomas Magnum


O que conhecemos como motivo básico cristão é a linha histórico/redentiva de: Criação/Queda/Redenção. A importância dessa questão se expande por toda teologia reformada como uma importante questão para uma hermenêutica redentiva. O importante livro: A Missão de Deus de Christopher J. H. Wright, nos mostra que há uma linha hermenêutica missional nas Escrituras, sua abordagem é uma excelente defesa do método histórico/redentivo para uma perspectiva missional. Podemos dizer que o lastro é bem maior que não se aplica somente a o pensamento missiológico ou a teologia da missão, mas, o motivo básico cristão se aplica as mais variadas áreas da teologia e da cosmovisão cristã e a todas as atividades exercidas pela igreja.

 

Muito se tem debatido no Brasil sobre questões políticas devido aos freqüentes escândalos envolvendo importantes nomes do governo nacional. O crescimento da inflação causa interesse no povo pela informação econômica, o fato é que quando temos alterações em nosso bolsos é quando nos interessamos mais em entender de economia, na verdade na maioria das vezes perdemos o tempo, a banda passou enquanto  o país estava numa doce ilusão semelhante a Alice nos País das Maravilhas. Enquanto era dito que os cofres públicos estavam muito bem, obrigado, e muito da riqueza do país estava indo para vários lugares menos para o crescimento do país, enquanto não afetava diretamente os bolsos do povo, as multidões nesse Brasil varonil não se preocupavam com política, nem com o que se estava fazendo com verbas e mais verbas em apoio a conchavos políticos na América Latina com interesses escusos que são uma realidade quase sendo esfregada no rosto de cada brasileiro. Enfim, perdoe-me a divagação, mas, o crescente interesse político por um dos lados é porque estamos sendo extremamente prejudicados diretamente. Mas por outro lado existe um crescente interesse de cristãos principalmente jovens, por política. O que preocupa é que tais interesses não são regados por um olhar teológico e consequentemente acarretará erros na formação de um pensamento político.

Podemos exemplificar isso de forma muito simples, a teologia reformada tem trabalhado questões relacionadas à cosmovisão cristã de forma muito importante, isso é resultado da ênfase dada pelos reformadores na vocacionalidade dos crentes ou ao que conhecemos como sacerdócio universal de todos os crentes. Essa vocação se estende a todas as áreas de atuação da vida e conhecimento humano. Francis Schaeffer dizia que o Marxismo é uma heresia cristã porque tem um fim soteriológico que é empregado no proletariado que atua como um messias que trará a igualdade através da revolução. Temos aqui uma substituição do Cristo como libertador, resgatador, redentor dos eleitos. Temos uma distorção da redenção.

Ao termos o motivo básico cristão: criação - queda - redenção, podemos avaliar toda e qualquer ideologia ofensiva ao homem pelo homem. Quando o ideal criacional é subjulgado por ideologias que acabam tendo também um motivo básico que confrontam com o motivo cristão o sistema entra em colapso com a realidade última do telos humano. Ao termos uma substituição do conceito de queda, se corrompe o conceito de justiça na sociedade e quebra o sentido de juízo do crime e da maldade seja pelo poder despótico seja no âmbito civil/jurídico. E ao substituirmos o conceito redentivo teremos um messianismo ideológico que tomará assento soberano com ideologias totalitárias detonando os conceitos de liberdade seja na religião, educação, economia, arte, etc. Quando o conceito da redenção é substituído por uma ideologia automaticamente temos um ato idolátrico.

Toda cosmovisão está fundamentada em um motivo básico, por isso toda ideologia tem reais intenções redentivas, alterando o sentido de pecado e provavelmente o transferindo para um outro ponto que representará a culpa que não seja o próprio homem, mas, a fatores externos e que não estão sob seu controle, a solução para esse ideário será uma alternativa redentiva como no caso do marxismo que totalitariza o Estado ou no caso do Liberalismo que põe o homem entronizado. Temos como segue um exemplo disso.



Veja que a visão Totalitária tem o Estado como cabeça, na análise das demais visões vemos que o motivo básico é evidentemente corrompido também. Ao corromper a perspectiva criacional também se corrompe o conceito de queda e de redenção e se sobrepõe esses conceitos, com alternativas que tomam o lugar deles, mas, exercendo a mesma função na cosmovisão. Como nos diz o professor David T. Koysis:

A maior parte dos movimentos políticos tenta recrutar entusiastas com lemas concisos e populares que ficam bem na faixa e soam bem nos lábios de que marcha pelas ruas. “Liberté, égalité, fraternité!” “Vida, liberdade e busca da felicidade!” “Trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos” “Todo poder para o povo!” Estas bandeiras têm a vantagem de ser facilmente compreendidas, de simplificar o que é complexo em vista de uma finalidade política. Contudo, elas também enganam seus potenciais seguidores, levando-os a crer que a salvação é um assunto simples – mera questão de, por exemplo, proclamar a emancipação, garantir os direitos do povo, decretar a prosperidade universal ou legislar para acabar com a pobreza, a opressão, os sem-teto e assim por diante. Junto com tudo isso, vem também a tendência a pressupor  que fazer justiça significa apenas remover os obstáculos que se interpõe no caminho dela; depois disso, a “sociedade justa” surgirá sem nenhum esforço, como que por encanto.  Talvez o exemplo mais famoso dessa filosofia seja o postulado marxiano de que um breve episódio revolucionário pelo qual o proletariado exproprie os bens da burguesia poderá produzir imediatamente a sociedade sem classes[i].

Não se poderá ter uma correta percepção se não identificarmos como cristãos o motivo básico que rege a vida humana e todas as esferas que a cercam. Fica claro que quando temos uma falsa concepção do homem e do que ele é e em seu estado alocado num contexto social e psicológico apontado pela realidade descrita nas verdades da revelação de Deus, que é a única forma que o mostrará quem realmente ele é ontologicamente, pelo fato de que ao se retirar da conjuntura social o conceito bíblico de Queda temos uma erupção de desordem e um alargamento da maldade descontrolada, temos uma barbárie.

Diferenças na visão da natureza humana refletem-se em diferenças na visão dos processos sociais. Isso não significa apenas que os processos sociais são vistos como atenuadores das fraquezas da natureza humana em uma visão e como agravadores em outra. A própria forma de funcionar e de não funcionar dos processos sociais é vista de modo diferente [...] Os processos sociais englobam uma enorme gama de elementos, do idioma à guerra, do amor aos sistemas econômicos[ii].

Ainda podemos nos aperceber disso de forma mais clarificada no que nos diz o filósofo holandês Herman Dooyeweerd que

O Motivo básico da religião cristão – criação, queda e redenção por meio de Cristo Jesus – opera por meio do Espírito de Deus como força motriz na raiz religiosa da vida temporal. Assim que toma conta de nós por completo, promove uma conversão radical da nossa posição diante da vida e de toda a concepção da vida temporal. A profundidade dessa conversão só pode ser negada por aqueles que não conseguem fazer justiça à integralidade e do caráter radical do motivo básico cristão. Aqueles que atenuam a antítese absoluta, buscando inutilmente ligar esse motivo básico cristão aos das religiões apóstatas, acabam de fato tomando parte nessa negação.

Mas aqueles que, pela graça, chegam ao verdadeiro conhecimento de Deus e deles próprios, inevitavelmente vivenciam a libertação espiritual do jugo e do fardo do pecado sobre a concepção que têm da realidade, mesmo sabendo que o pecado não deixará de existir em suas vidas. Eles percebem que nada na realidade criada fornece alicerces nem uma base sólida para a existência. Compreendem como a realidade temporal e seus aspectos e suas estruturas multifacetadas e cheias de nuances estão concentrados como um todo na comunidade  básica religiosa  da dimensão espiritual da humanidade. Veem que a realidade temporal procura incansavelmente sua origem divina no coração humano, e compreendem que a criação não pode descansar até que ela descanse em Deus[iii].

A compreensão e a defesa que a teologia reformada faz do motivo básico e de uma cosmovisão que tem suas raízes na teologia do pacto são a melhor alternativa teológica para uma leitura de mundo genuinamente cristã, o calvinismo tem refletido numa base teológica solidificada pelas Escrituras e que Deus é soberano sobre a criação e sobre todas as esferas que existem nela que Ele mesmo criou e designou o homem para cumprimento dos mandatos da criação. Portanto observando toda e qualquer ideologia político/social notamos uma deformação dos mandatos criacionais – Espiritual, Social e Cultural. Kuyper nos elucida sobre as teses calvinistas de governo:

1 – Somente Deus – e nunca qualquer outra criatura – possui direitos soberanos sobre o destino das nações, porque somente Deus as criou, as sustenta por seu grande poder, e as governa p0r suas ordenanças.

2 – O pecado tem, no campo da política, demolido o governo direto de Deus, e por isso o exercício da autoridade com o propósito de governo tem sido subsequentemente conferido aos homens como um remédio mecânico.

3 – E, em qualquer forma que esta autoridade possa revelar-se, o homem nunca possui poder sobre seu semelhante em qualquer outro modo senão por uma autoridade que desce sobre ele da majestade de Deus[iv].

A Soberania das Esferas é a forma ideal de compreendermos o motivo básico cristão de Criação – Queda – Redenção. Mas vejamos então o que é Soberania das Esferas, nos diz Solano Portela que

Em resumo, ele ensina que cada instituição criada por Deus (a família, a escola, o estado), possui uma área específica de autoridade e regência, ou seja, são esferas bem delimitadas e específicas.

Isso não significa que tais esferas sejam autônomas. Ainda que independentes, cada uma deve responder a Deus, o doador desta autoridade. A soberania de cada uma quer dizer que elas não devem usurpar ou interferir na autoridade da outra esfera. Cada uma dessas esferas, autoridades em si, é responsável por sua missão e pelas suas ações, na providência divina, perante Deus.


Por exemplo, no caso de uma escola cristã, ela deve entender que não usurpa a autoridade da família, nem da igreja. Muito menos substitui essas outras esferas, mas deve trabalhar conjuntamente, em colaboração e respeito. A esfera da escola, e nisso ela tem autoridade, é ministrar conhecimento, sendo responsável, perante Deus, de transmitir esse conhecimento reconhecendo o Criador em todas as áreas do saber[v].

Com esse esclarecimento podemos ilustrar a importância do motivo básico cristão da seguinte forma



Nos diz o falecido teólogo bíblico do Antigo Testamento Gerard Van Gronigen que

Era para o homem e a mulher exercitarem suas prerrogativas reais governando sobre o cosmos, desenvolvendo-o e simultaneamente mantendo-o. Todas as formas de vida na terra foram, de forma específica, colocadas sob a supervisão dos vice-gerentes humanos. Com esta responsabilidade, veio o privilégio de usar plantas, seus frutos e sua semente para manter a vida e a energia para realizar as tarefas reais. A humanidade poderia responder obedientemente ao mandato cultural para a glória de Deus por causa da sua criação à imagem e semelhança de Deus. Deus, por meio da sua exposição deste mandato, colocou a humanidade em um relacionamento de governador sobre o domínio cósmico. Mas este governo envolvia trabalho. O trabalho é, consequentemente, tanto um privilégio real como também uma responsabilidade[vi]

Essa é a importância de compreendermos a política a luz das Escrituras, há um mandato cultural que envolve nossa atividade nas esferas criadas por Deus, essa responsabilidade cultural não se esvaiu com o pecado, certo é que após a queda o pecado afeta totalmente a percepção de mundo e sobre a vontade de Deus que Adão e Eva tinham e o que sua semente teve e o que temos hoje, toda maldade, depravação moral, aversão a religião e a verdade é decorrente do pecado. Ao identificarmos que Deus é criador e soberano e que em todas as esferas deve ser Ele glorificado, precisamos entender um pouco mais sobre a Soberania das Esferas e sua relação com o Estado.

Num sentido calvinista nós entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante, todas as esferas sociais que não devem sua existência ao Estado, e que não derivam a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem uma alta autoridade dentro de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela graça de Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado.

Isso envolve a antítese entre o Estado e a Sociedade, mas com a condição de não concebermos esta sociedade como um conglomerado, porém como analisada em suas partes orgânicas, para honrar, em cada uma destas partes, o caráter independente que pertence a elas.

Neste caráter independente está necessariamente envolvida uma autoridade superior especial, a que intencionalmente chamamos de soberania nas esferas sociais individuais, a fim de que possa estar  claro e decididamente  expresso que estes diferentes desenvolvimentos da vida  social nada tem acima deles exceto Deus, e que o Estado não pode intrometer-se aqui e nada tem a ordenar em seu campo. Como vocês imediatamente percebem, esta é a questão profundamente interessante de nossas liberdades civis[vii].

As Esferas de Soberania nos mostram e garantem a liberdade das instituições civis e também sua dever para com Deus que é o soberano sobre todas as esferas sociais. Gostaria de destacar aqui alguns pontos importantes no pensamento de Kuyper sobre uma teoria política reformada calvinista.

- A Liberdade: O calvinismo levou a lei pública a novos caminhos, primeiro na Europa Ocidental, depois nos dois Continentes, e hoje mais e mais entre todas as nações civilizadas, é admitido por todos os estudantes científicos, se não ainda plenamente pela opinião pública.

- A Visão Abrangente da Soberania de Deus – Este princípio dominante não era, soteriologicamente, a justificação pela fé, mas, no sentido cosmologicamente mais amplo, a Soberania do Deus Trino sobre todo cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis. Essa é uma soberania primordial que se irradia na humanidade numa tríplice supremacia, a saber:

-A Soberania do Estado
-A Soberania da Sociedade
-A Soberania da Igreja

Portanto teremos alguns princípios do mandato cultural relacionado à política.

1-Deus é o grande Soberano e todo governo pertence a Ele;

2-Todo governo humano deve estar submisso a Deus, pois seu poder foi delegado pelo próprio Deus;

3-Todo governo deve atentar para os mandamentos de Deus, tais mandamentos são a expressão da vontade de Deus, seja por expressa aplicação ou aplicação por principio;

4-A humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus, por isso deve ser governada com dignidade, liberdade e integralidade.
Conclusão

O crescente interesse pela política no Brasil, também por parte de cristãos tem se dado ao estado caótico da moral parlamentar e do desmoronamento econômico no país com grandes escândalos recorrentes como mensalão, petrolão e tudo que tem decorrido das mazelas da ideologia socialista que tem herdado o Brasil. O calvinismo tem uma teoria política que pode atender a uma demanda para esse país, precisamos de crentes versados nas ciências sociais e teologicamente orientados para lerem suas áreas de conhecimento com lentes bíblicas e centralizadas em Cristo e na redenção. O motivo básico cristão é a melhor forma de contribuirmos para um crescimento no país. A Igreja deve estar envolvida nisso e sair do gueto teológico e aplicar sua teologia a realidade do mundo, devemos debater, estudar, mas, devemos empregar isso e não nos perdermos em discussões que não saem da internet, da academia e dos seminários. A Igreja pode fazer algo, atentemos para a Escritura.


[i] Visões e Ilusões Políticas, ed. Vida Nova, 2014, p.319.

[ii] Thomas Sowell, Conflitos de Visões – Origens Ideológicas das Lutas Políticas, p. 83 – Ed. É Realizações

[iii] Herman Dooyeweerd, Raízes da Cultura Ocidental, Ed. Cultura Cristã, 2015, p.55.

[iv] Abraham Kuyper, Calvinismo, Ed. Cultura Cristã, 1ª edição 2002, p.92

[v] Solano Portela, Artigo publicado no blog – O Tempora, O Mores.

[vi] Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, vol.1. Ed. Cultura Cristã, p.90.

[vii] Calvinismo, p.98.

9 de mar. de 2016

Não se iluda: Satanás também tem seus profetas!

Por Thiago Azevedo

Talvez o título deste pequeno texto soe muito forte. Mas não tem como expressar de forma diferente a situação atual que vive o evangelho no Brasil. Sabe aquela velha história de que o que legitima a atuação de determinado personagem é justamente a plateia que o aplaude? Pronto, é justamente isso que está ocorrendo no seio do cristianismo moderno. Cada vez mais apóstolos, apóstolas, bispos, bispas, paipóstolos, mãepóstolas, e profetas diversos surgem no cenário evangélico tupiniquim, e isso ocorre por existir uma plateia numerosa que aplaude e legitima toda esta prática mercantil. Em cabeças megalomaníacas, o simples título de pastor provoca comichão. Daqui a uns dias teremos até demiurgos em círculos “evangélicos”. Infelizmente a lama desta represa tem se espalhado há anos e é mais tóxica que qualquer outra lama com rejeitos de minério.

Nas escrituras sagradas vemos logo no Êxodo os magos, sábios e feiticeiros do antigo Egito reproduzindo alguns dos milagres que o próprio Deus realizava por meio de Moisés e Arão. Mas já ali era possível perceber uma superioridade daquilo que Deus faz em comparação com as hostes malignas. Ou seja, em determinado momento, a vara que Arão jogou ao chão se transforma numa cobra e esta engole as cobras que os magos, sábios e feiticeiros do Egito fizeram aparecer por meio de suas ciências ocultas (ver Êxodo 7:8-12). A audácia maligna não para por ai. Os dois primeiros milagres que trouxeram as duas primeiras pragas no Egito, realizados por Deus e por intermédio de Moisés e Arão no confronto com faraó, também foram reproduzidos de forma idêntica pelos magos, sábios e feiticeiros do Egito. Mas era possível também enxergar a superioridade do Deus dos hebreus sobre as hostes das ciências ocultas. Vejamos:

Moisés e Arão fizeram como o Senhor tinha ordenado. Arão levantou a vara e feriu as águas do Nilo na presença do faraó e dos seus conselheiros; e toda a água do rio transformou-se em sangue. Os peixes morreram e o rio cheirava tão mal que os egípcios não conseguiam beber das suas águas. Havia sangue por toda a terra do Egito. Mas os magos do Egito fizeram a mesma coisa por meio de suas ciências ocultas. O coração do faraó se endureceu, e ele não deu ouvido a Moisés e a Arão, como o Senhor tinha dito (Êxodo 7:20-22).
É bem verdade que não podemos desprezar o fato de Deus estar no controle de toda a história, nada foge desta regra. Podemos perceber isso quando o próprio Deus mune seus profetas, antecipadamente, sobre a postura futura nada amistosa do faraó em relação ao pleito que iria ser solicitado, a autorização para saída do povo israelita do Egito (veja Êxodo 7:1-5). O texto supracitado nos diz que os magos do Egito reproduziram o milagre por meio de suas ciências ocultas, e não por meio de Deus. Sabe-se que o esoterismo permeava este período. A Bíblia ainda relata mais uma ação “milagrosa” da parte dos magos do Egito que mais uma vez provem das ciências ocultas, e não do próprio Deus:

Depois o Senhor disse a Moisés: "Diga a Arão que estenda a mão com a vara sobre os rios, sobre os canais e sobre os açudes, e faça subir deles rãs sobre a terra do Egito". Assim Arão estendeu a mão sobre as águas do Egito, e as rãs subiram e cobriram a terra do Egito. Mas os magos fizeram a mesma coisa por meio das suas ciências ocultas: fizeram subir rãs sobre a terra do Egito (Êxodo 8:5-7.)
A alegação feita anteriormente, que se pode perceber a superioridade do milagre de Deus em relação ao milagre produzido pelas hostes das ciências ocultas, fica mais clara ainda em Êxodo 8:8, onde faraó suplica aos profetas de Deus para que orassem e as rãs fossem expulsas do território egípcio. Ora, a grande questão que nos vem à mente é a seguinte: por que faraó não ordena aos magos, sábios e feiticeiros do Egito que eles expulsem as rãs por meio de suas ciências ocultas? Porque nem eles, nem suas respectivas ciências ocultas, têm poder para tal feito. Posteriormente os próprios magos, sábios e feiticeiros passaram a sofrer com as pragas de Deus sobre aquela terra e não conseguiam mais reproduzir o que Deus fazia por meio de Moisés e Arão (veja Êxodo 8:16-19), e no verso 19, os magos reconheceram que tudo aquilo se tratava do “Dedo de Deus”. A partir deste momento não tentaram mais reproduzir os milagres que Deus fazia, pois chegaram à conclusão que não teriam como competir com Deus.

Assim como a fé judaico-cristã se deparou com muitos profetas de Baal na sua gênese (Elias é outro bom exemplo disso), e estes falsos profetas, sempre munidos com poderes das trevas, tentaram por muito trazer engano. Outro bom exemplo, Já em tempos cristãos, fica por conta do apóstolo Paulo quando se deparou com o mesmo problema em Coríntios, chegando à conclusão de que satanás tem seus ministros:

Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós. Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras (2 Coríntios 11:12-15).
Os ministros “de justiça” de satanás estão espalhados e eles profetizam, fazem o bem, se travestem de cristãos, e poucos os percebem. O disfarce é quase perfeito.

Precisamos entender que nem sempre que alguém profetiza algo que se concretiza, ou que supostos milagres ocorrem, mesmo que seja em nome de Deus, não quer dizer que proveio da parte de Deus (como vimos os magos, feiticeiros e sábios do antigo Egito reproduzindo o milagre divino por meio de ciências ocultas. E como o próprio Paulo proferiu que satanás tem seus ministros de justiça, e eles estão em plena atividade). Alguém certa vez me disse o seguinte: “sempre que alguém prediz algo e que de fato se realiza, veio da parte de Deus”. Então vejamos; um bom exemplo que demonstra que esta alegação não tem procedência (que nem sempre a concretização de uma profecia vem da parte de Deus) fica por conta da jovem “Regina Zouki Pimenta”. Paulistana que após as eleições presidenciais de 2014 profetizou uma gama de pragas contra os nordestinos. Veja a infeliz publicação da jovem abaixo:
Não pretendemos adentrar nas nuances das discussões que envolvem o cenário político no Brasil. Até mesmo porque, desviaríamos do tema principal. Podemos apenas dizer, mais uma vez, que a lama que escoa desta represa também tem afetado toda uma nação tanto quanto a lama de rejeitos de minério que destruiu Mariana e o equilíbrio ambiental por aquelas bandas. A imagem do país, na atualidade, se encontra chafurdada e conspurcada num charco enlameado. Pedimos desculpas pelo palavrão em sigla na postagem, mas não queria ser acusado de alterar a fonte da informação. Assim, podemos perceber que muito do que a Jovem “profetizou” está acontecendo. Ou seja, temos crianças nascendo sem cérebro no Nordeste, temos crianças nascendo com microcefalia – doença que intriga a comunidade médica –, dengue, zika vírus, pragas diversas. Temos doenças que nem os médicos cubanos, e muito menos os brasileiros, podem curar. Temos desnutrição em diversas comunidades carentes do Nordeste, etc. O fato é que boa parte da “profecia” da moça está acontecendo. E agora? Quem está por de trás destas profecias? Elas provem de Deus ou das hostes malignas e dos ministros de satanás? Qual é a fontes desta profecia? Temos que ter cuidado, pois nem tudo que se prediz e se concretiza, provém de Deus. Precisamos entender que satanás tem seus arautos, sua função é enganar os escolhidos. Estes ministros também profetizam, e suas profecias, às vezes, se concretizam. Cabe aos cristãos genuínos identificar e distinguir quem são os profetas de Deus e os profetas de satanás. Estes últimos se afastam cada vez mais das Escrituras Sagradas e desenvolvem em torno de si uma nova teologia pautada sempre na experiência e no místico. A estratégia é afastar cada vez mais as pessoas da Verdade Revelada. Os profetas de Deus realizam o percurso contrário, estão sempre mais apegados às Escrituras Sagradas, entendem que seu conteúdo é a fonte mais pura e genuína que reverbera a voz de Deus, e a principal função do profeta é repassar tão somente a voz de Deus. Ou seja, a pregação e a exposição da Sagrada Escritura é a mais pura e genuína profecia que temos atualmente. Como já se disse, quer ouvir a voz de Deus? Leia a Bíblia. Os cristãos genuínos Vivem por meio dela.

A jovem “profeta” citada acima é uma prova cabal de que nem tudo que parece é, que nem tudo que se prediz e se concretiza tem sua fonte na pessoa Deus. Poderíamos citar também outras pessoas que ganham a vida predizendo o futuro, e às vezes, acertam – cartomantes, feiticeiros, apostadores diversos etc., estes são os magos do Egito da modernidade. Logo, qual é a fonte destas adivinhações? É Deus?  Vivemos uma época de muitas “profecias” e de muitos “profetas”, mas sem conteúdo. Poucos são os que repassam a genuína voz de Deus contida nas Escrituras Sagradas. E de quem é a culpa? Dos próprios cristãos que se perdem por falta de conhecimento e por desprezar a instrução (Oseas 4:6). Acabam caindo naquilo que denomino de “Síndrome de Saul”. Ou seja, na ânsia de querer ouvir Deus falar acabam que emprestando os ouvidos a satanás e a seus ministros de justiça (ver I Crônicas 10:13). Com isso se perdem no caminho, não conseguem mais distinguir o que é e o que não é voz de Deus (João 10:4), se iludem com as propostas daqueles que são estranhos à fé e que não entram pela porta do curral (João 10:1-2), acabam seguindo o estranho e se iludindo com o mesmo sem fazer distinções (João 10:5). Só nos resta concluir como iniciamos: Não se iluda, satanás também tem seus profetas! E eles estão em plena atividade.

7 de mar. de 2016

Facebook: a vitrine das paixões

Por Morgana Mendonça

Quantas vezes já pensei em apertar aquele botão "excluir conta". Quantas noites flagrei-me questionando meu uso excessivo dessa ferramenta interativa contaminada por excessos de vaidade. Posso confessar que estou mais perto do que nunca, para definitivamente apertar o botão que trará o fim da minha vida em redes sociais. Porém, algumas são as justificativas que me desencorajam a tal atitude, como por exemplo: bons contatos que de fato enriquecem a minha vida devocional e intelectual. Mas, será mesmo tão boa a justificativa assim, se pesarmos alguns prejuízos? Essa questão, deve ser bem analisada. E quero partir do ponto que cada um sabe onde o "calo aperta". 

Como está escrito: "Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade." Eclesiastes 1. 2. E o ego não reclama vaidade? O alvo dos prejuízos dessa "vitrine das paixões" muitas vezes tem sido a própria família, filhos e cônjuges. Quando seu cônjuge já se prepara para dormir e você ainda está no início daquele debate que não terminará antes do dia amanhecer. Na convivência com os amigos, nos corredores da igreja, nas comemorações da família, estamos sempre dividindo esses momentos com likes e comentários nas redes sociais. Tempo precioso muitas vezes perdido no ócio da interatividade. Nosso tempo ministerial que poderia ser gasto com aconselhamentos redentivos, preparando bem um sermão expositivo ou até discipulando um novo convertido. Ou ainda assim, escrevendo um texto, olhando a necessidade ao redor ou quem sabe fazendo um exercício físico. Tempo esse que poderia ser moderado com pequenas doses virtuais, porém com cautela. Preservando assim, as coisas mais importantes. 

No entanto, a intenção desse texto não é convencer ninguém do uso ou não desta rede social. Nem muito menos fazer uma apologia contra a internet, sabemos que podemos sim glorificar a Deus com um bom uso das redes socias. A questão tem a ver com o ego. O ego exposto como uma vitrine das nossas paixões. Contudo, me refiro apenas aos cristãos, que infelizmente tem feito das redes sociais um antro de egolatria, na maioria dos casos. Se falamos do que está cheio o nosso coração, poderíamos dizer que teclamos do que está cheio o nosso coração. Nossas atitudes dizem muito o que somos, do mesmo jeito que nossas postagens também. Há paixões por tudo: livros, carros, filmes, música, selfies, futebol, videos, seriados... Não há nenhum problema com postagens daquilo que você gosta ou curte. Então, onde existem os problemas? 

Há problemas quando o que fazemos no Facebook não redunda para a glória de Deus. É claro que são questões de foro íntimo. Julgar cada postagem para afirmar ser ela ou não para a glória de Deus seria complicado, e até pretensioso demais. Entretanto, tem questões que afirmam evidentemente isso. Me arriscarei para pontuar no mínimo três, todavia, o leitor poderá ficar a vontade para refletir sobre outras. Antes disso, mencionarei um verso que deverá ser o fundamento da nossa breve análise. Paulo diz: 

“Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus. Não se tornem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus.” 

1 Coríntios 10.31-32.

Cristãos no Facebook na hora do culto

Fotos sendo postadas no Dia do Senhor, com irmãos de joelhos orando; outros chorando; outros louvando a Deus; e até mesmo no momento da ceia do Senhor. Uma busca excessiva por likes e comentários que aprovem essa atitude, no mínimo imatura. O que dizer de um ser que se diz cristão, que na hora dos louvores, ceia do Senhor, oração e exposição da palavra está tirando suas próprias selfies? Não me refiro ao uso de dispositivos eletrônicos no culto, mesmo com algumas implicações em mente. Refiro-me a exatamente fotos de si mesmo em momentos de celebração ao Deus triúno. No culto solene, no ápice da sua semana, muitos estão gastando tempo consigo mesmo e suas paixões. (Deveras entendêssemos o que diz Hebreus 12.29). No comer, no beber e no Facebook, tudo dever ser feito para a glória de Deus. E não tornem-se tropeço para ninguém, nem para igreja de Deus. Que o dia da feira da alma, todas as atenções sejam voltados ao Senhor em louvor e adoração. 

Cristãos postando selfie's sensuais com versículos bíblicos

Não é necessário gastar muito tempo com essa questão inapropriada. A obviedade da falta de maturidade é exposta a vergonha. Cristãos que postam suas fotos sensuais com versículos tipo: "O Senhor é meu pastor e nada me faltará (Sl 23.1)", devem pensar e repensar em suas motivações. Me questiono a motivação dessa conduta, uma questão de ego que deseja chamar atenção e acaba provocando vergonha ao evangelho. A falta de temor e sabedoria com o uso da Escritura subtrai e reduz o valor do testemunho cristão. Um descuido com uma genuína interpretação do contexto bíblico. Muitos cristãos usam textos providos por uma interpretação falível para substituir palavras para as suas respectivas postagens contraditórias. Egos motivados com um fim em si mesmo, promovendo glória para si próprio. 

Cristãos debatendo a Bíblia de forma infrutífera

Trazendo prejuízos e reduzindo o valor da comunhão no corpo de Cristo. A explosão de teólogos reformados no Facebook é algo inquestionável. Não significa que eles são maduros, genuínos, sóbrios ou sinceros. Debates e discussões no Facebook são inúmeros. Façamos um apanhado geral e não conseguimos encher os dedos das mãos, de uma conversa entre pessoas de pensamentos opostos de forma madura, gentil e moderada. Debates que produzem massagem nos egos famintos por elogios, carentes de identidades definidas. Debates que resultam em bloqueios e amizades desfeitas entre irmãos. Discórdia promovida por questões secundárias, falta de tolerância com a opinião alheia ou uma crítica que atinge o ego inflado. Uma verdadeira guerra de egos. Sem comentar na falta de respeito, ataques e acusações que muitos fazem de homens que merecem respeito e consideração. 

Tim Keller, no seu livro "Ego Transformado", menciona a interessante situação do ego humano. Ele menciona os três tipos de egos: vazio, dolorido e inflado (recomendo essa leitura!). Com suas implicações e nuances, ele conclui o livro encorajando o leitor a ter um ego transformado, esquecido. Um ego que foi moldado pelo Evangelho. Acredito que deve ser esse um desafio diário na vida cristã. Um ego que saiba conviver com as críticas, um ego que considere o outro superior a si mesmo (Fp 2.3). Um ego que saiba perder, pedir perdão e se submeter a uma autoridade. "Não jogue fora as críticas", disse Ronaldo Lidório em seu livro Liderança e Integridade. Antes de jogá-la fora, análise se existe fundamento e após uma análise que leva muitas vezes ao arrependimento, não durma com ela. Busque redimir diante do Senhor a(s) sua(s) conduta falha e imatura. 

Concluo, "colocando-me no pacote" do uso das redes sociais de forma muitas vezes inapropriada. Deixemos o nosso ego ao tratamento do Criador, para que até no Facebook as nossas paixões sejam apenas apontadas para a glória de Deus. Que sejamos encorajados a lutar contra a cultura do ego. E sim, se fizermos qualquer coisa, que façamos para a glória de Deus. Tenhamos portanto um ego auto esquecido.

“A pessoa verdadeiramente humilde não é aquela que se odeia ou se ama, e sim a que tem a humildade do Evangelho. É uma pessoa que se esquece de si mesma e cujo ego é igual aos dedos dos pés. Eles simplesmente exercem sua função. Não imploram por atenção” 

Timothy Keller

4 de mar. de 2016

Da "Liquidez" da Membresia da Igreja

Por Alan Rennê Alexandrino

Já é bastante conhecido o conceito de “liquidez” utilizado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman. De acordo com ele, as relações humanas experimentaram uma drástica mudança durante a pós-modernidade, também chamada por ele de “modernidade líquida”. Bauman afirma que ideologias fortes ou “sólidas” características da modernidade deram lugar a ideologias “líquidas” marcadas pela fragilidade, pela incerteza e pela inevitabilidade de rompimento: “Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade [...] os fluídos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la”.[1]

A liquidez característica da pós-modernidade atinge todos os aspectos da existência do ser humano. A vida, em si mesma, é fortemente influenciada: “A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”.[2] Consequentemente, os relacionamentos do ser humano também passam a ser caracterizados por esta fluidez. Outrora as pessoas faziam questão de cultivar relacionamentos profundos e duradouros. Um relacionamento que, porventura, viesse a enfrentar dificuldades não seria descartado. Antes, tudo aquilo que pudesse ser feito para salvar o relacionamento certamente seria feito. As relações afetivas do ser humano eram sólidas, por assim dizer. No entanto, com o advento da pós-modernidade as coisas mudaram. Relacionamentos são iniciados já com a certeza de que nem se aprofundarão nem durarão muito tempo. E, uma vez que há uma indisposição em se cultivar relacionamentos profundos, as pessoas fazem a opção pelos chamados “relacionamentos virtuais”, pois, como pontua Bauman:

Diferentemente dos “relacionamentos reais”, é fácil entrar e sair dos “relacionamentos virtuais”. Em comparação com a “coisa autêntica”, pesada, lenta e confusa, eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear. Entrevistado a respeito da crescente popularidade do namoro pela Internet, em detrimento dos bares para solteiros e das seções especializadas dos jornais e revistas, um jovem de 28 anos da Universidade de Bath apontou uma vantagem decisiva da relação eletrônica: “Sempre se pode apertar a tecla de deletar”.[3]

Eu acredito firmemente que o que é afirmado aqui por Bauman pode ser aplicado à maneira como as pessoas se relacionam com suas igrejas locais em nossos dias. O relacionamento dessas pessoas com a igreja ou, em outras palavras, o seu compromisso como membros de uma igreja local também tem sido marcado pelo conceito de “liquidez”. Praticamente não há mais nenhum senso de pertencimento. Profissões de fé e batismos – que assinalam a entrada da pessoa na comunidade pactual – são feitos; promessas e votos a Deus e diante da igreja reunida são feitos; porém, em muitos casos, não há a menor intenção de se honrar tais promessas e votos. Não são raros os casos em que uma pessoa, pouco tempo depois dos votos assumidos por ocasião do seu batismo e profissão de fé, simplesmente deixa de ir à igreja e passa a frequentar outra. E é aterrorizante como praticamente ninguém vê problema neste tipo de prática.

Entretanto, numa época quando as pessoas não honram nem mesmo os seus votos matrimoniais, não é de admirar que elas se vejam indispostas a honrarem os votos que, como membros da igreja, um dia fizeram. Uma vez que casam imbuídos daquela mentalidade que diz que, “se não der certo, então, é só separar”, elas também assumem compromissos e fazem votos de membresia dispostos a quebrarem esses votos tão logo a igreja deixe de lhes satisfazer. Sobre isso, é interessante a maneira como Timothy Keller, escrevendo sobre o matrimônio, trabalha o conceito de relação de consumo. De acordo com ele, as relações de consumo “duram apenas o tempo necessário para que um fornecedor supra suas necessidades por um preço que você considere aceitável. Se outro fornecedor oferecer serviços melhores ou os mesmos serviços a um custo reduzido, você não tem obrigação nenhuma de manter a relação com o primeiro fornecedor”.[4] Nesse tipo de relação de consumo o que é importante é a satisfação das necessidades do consumidor, não o relacionamento em si. É exatamente dessa forma que outros relacionamentos além do casamento, como o compromisso da membresia têm sido tratados:

Os sociólogos argumentam que, na sociedade ocidental contemporânea, o mercado se tornou tão dominante que o modelo de consumo caracteriza cada vez mais relacionamentos que, historicamente, eram alianças, inclusive o casamento. Hoje em dia, mantemos os vínculos com as pessoas enquanto elas suprem nossas necessidades por um custo aceitável. Quando deixamos de lucrar com a relação – ou seja, quando o relacionamento parece exigir de nós mais apoio e amor do que estamos recebendo – saímos dele para “minimizar o prejuízo”.[5]

Afirmações como: “Não fui acolhido!”, “Não fui amado!” ou “Nunca se importaram comigo!” são amostras dessa mentalidade apontada por Keller. É claro que existem razões que justificam que uma pessoa deixe uma determinada igreja, da mesma forma como existem razões apontadas pelas Sagradas Escrituras, que permitem que uma pessoa se divorcie do seu cônjuge (Mateus 19.9; 1Coríntios 7.15). John H. Gerstner aponta que todos nós temos o solene dever de pertencermos a uma igreja visível. No entanto, resta a pergunta: “Quando devemos deixar uma igreja?” Gerstner responde: “A hora óbvia de se deixar uma igreja visível é quando a mesma deixa de ser uma igreja”.[6] E quando é que uma igreja visível deixa de ser uma igreja? Quando ela nega o evangelho de Jesus Cristo. Uma igreja deixa de ser igreja quando ela passa a abraçar outro evangelho que não aquele pregado pelos apóstolos: “Mas, ainda que nós mesmos ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gálatas 1.8-9). Uma igreja local – ou uma denominação – deixa de ser igreja quando, por exemplo, abraça o demoníaco liberalismo teológico e todas as suas implicações, como a ordenação de homossexuais. Sendo este o caso, é imperativo que deixemos a comunhão dessa igreja. Porém, quando este não é o caso, não temos permissão para quebrarmos o voto de membresia: “Certamente, jamais devemos deixar uma igreja antes que o próprio Cristo o exija. Se ele não nos separar, não nos atrevamos a separar; se ele nos separar, não nos atrevamos a ficar. Mas ele é muito mais relutante em nos separar do que nós somos”.[7]

Outra razão que justifica a quebra dos votos de membresia, de acordo com Gerstner, é “quando uma igreja exige que neguemos o que acreditamos ou acreditemos no que negamos”[8], isto é, quando uma igreja exige que neguemos uma doutrina não essencial que é crida por nós ou que abracemos uma que não é crida.

Mas o que se vê, hoje, no meio da igreja evangélica é de causar vergonha. As pessoas se separam de uma igreja local pelos motivos mais fúteis que se possa imaginar:

- Um casal de namorados põe fim no relacionamento. Então, um dos dois decide sair da igreja, para não encontrar mais o ex.

- Um membro da igreja é disciplinado por causa de um pecado cometido. Então, decide deixar a igreja e procurar uma que o receba “da maneira como ele está”.

- Termina o mandato de um determinado pastor naquela igreja local e ele assume o pastorado de outra igreja. Vários membros da antiga igreja resolvem deixá-la, a fim de seguirem o seu pastor aonde quer que ele vá.

- A pregação do novo pastor, conquanto fiel, não agrada a algumas pessoas. Então, elas rompem a membresia da igreja e procuram uma igreja onde a pregação do pastor lhes seja agradável.

- Uma família resolve deixar a igreja depois de muitos anos, afirmando não ter sido acolhida, amada, assistida pela igreja local.

- Um membro da igreja é contrariado por uma decisão do Conselho da igreja local. Insatisfeito, ele abandona a igreja e procura outra.

- Um membro da igreja fica aborrecido por uma correção pastoral. O que se segue é o rompimento dos vínculos com a igreja.

Enfim, existe uma infinidade de razões tolas, fúteis e até pecaminosas pelas quais os votos de membresia são rompidos nos nossos dias. Piora quando pastores de outras igrejas locais, destituídos de qualquer senso ético, contribuem com esse tipo de coisa ao estimularem tal comportamento. Não há mais a menor disposição de se permanecer numa igreja local, ainda que a sua pregação e exercício da disciplina sejam fiéis e a administração dos sacramentos correta. Ouço inúmeras histórias de uma época quando as pessoas e famílias estavam dispostas a permanecerem em suas igrejas locais, independentemente de qualquer coisa. Quando algum membro da família era disciplinado, a última coisa que passava pela mente da família era romper os votos assumidos no dia da profissão de fé. Alegra-me o coração ouvir de alguns dos meus paroquianos que são membros da igreja e discípulos de Cristo, não dos pastores que um dia passaram pela igreja. Não obstante, para a grande maioria das pessoas hoje é diferente. O que importa é se a igreja atende às expectativas do indivíduo. O que interessa para a pessoa é se a igreja local a serve. A pessoa está ali para ser servida, agradada e, jamais, pode ter suas expectativas frustradas e seus anseios negados. Ir contra as suas expectativas pode significar “perdê-la”. Eu fico me perguntando até onde esta postura reflete a mentalidade consumista da nossa época. Se uma determinada prestadora de serviço não está te satisfazendo, então, procure outra. Se determinada marca de macarrão caiu de qualidade e/ou aumentou o preço, então, basta procurar outras marcas. Há uma ampla variedade de marcas disponíveis. Tudo visando a satisfação do cliente e consumidor.

Aquilo que Bauman chama de “liquidez” e que eu apliquei aqui à maneira como muitas pessoas tratam os seus votos e juramentos quanto à membresia na igreja local, pode ser identificado com alguns conceitos presentes nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, em seu famoso sermão escatológico o Senhor Jesus Cristo afirmou: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mateus 24.12). Acredito não ser uma violação da hermenêutica bíblica entender que essas palavras podem ser aplicadas ao assunto aqui abordado. O amor pela igreja local tem esfriado. O senso de pertencimento tem arrefecido. Hoje a iniquidade fez com que os padrões estejam completamente invertidos. Antigamente, a principal razão de alguém amar uma igreja local era porque ali a verdade estava presente: “O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade, por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre” (2 João 1-2). As pessoas amavam a igreja por entenderem que ela foi amada por Deus também. Nossos pais na fé reformada amavam uma igreja onde a Palavra de Deus era pregada fielmente, os sacramentos eram administrados corretamente e a disciplina era exercitada. Eles amavam uma igreja assim, mesmo que ela ficasse localizada em lugares inóspitos. Porém, em nossos dias isso mudou drasticamente. A verdade já não é mais o motivo pelo qual as pessoas amam uma igreja e se doam a ela. Hoje, o critério que determina o “amor” é se determinada igreja ou determinado lugar faz com que as pessoas se sintam bem.

Da mesma forma, o apóstolo Paulo afirmou a Timóteo que nos últimos dias os homens seriam egoístas e desafeiçoados (2Timóteo 3.2-3). Além disso, falando a respeito de muitos cristãos professos, Paulo afirmou que muitos não suportariam a sã doutrina e se cercariam de mestres que atendessem exatamente aos seus desejos mais egoístas (4.3).

Este tipo de mentalidade danosa precisa ser extirpada do meio do povo de Deus. O pastor batista Mark Dever afirma que uma das marcas de uma igreja verdadeiramente saudável é um entendimento bíblico acerca da membresia da igreja.[9] Semelhantemente, Thabiti Anyabwile afirma que um membro de igreja saudável é aquele que é um membro comprometido com a sua igreja local, o que inclui a permanência e o senso de pertencimento.[10] E é a minha convicção de que a atual prática prevalecente e frouxa dos nossos dias só poderá ser mudada a partir do ensino e de uma maior seriedade no momento do exame de algum candidato à membresia da igreja.

Em Cristo,



[1] Zygmunt Bauman. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 8.
[2] Zygmunt Bauman. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 8.
[3] Zygmunt Bauman. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 13.
[4] Timothy Keller e Kathy Keller. O Significado do Casamento. São Paulo: Vida Nova, 2012. p. 99.
[5] Ibid. p. 100.
[6] John H. Gerstner. “Guia-me, Ó Grande Yahweh!”. In: Don Kistler (Ed.). Avante, Soldados de Cristo: Uma Reafirmação Bíblica da Igreja. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 177.
[7] Ibid. p. 178.
[8] Ibid. p. 183.
[9] Mark Dever. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. São José dos Campos: Fiel, 2007. pp. 159-180.
[10] Thabiti Anyabwile. O que É um Membro de Igreja Saudável? São José dos Campos: Fiel, 2010. pp. 65-74.