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7 de nov. de 2016

Qual a Origem do Termo Reformado?

por Alan Rennê Alexandrino

Segunda passada foi o dia da Reforma Protestante. E com ele veio uma enxurrada de postagens sobre a importância da data. No entanto, muitas versavam sobre a questão de ser "reformado". Alguns diziam que é implicância e estupidez quando afirmam que o termo deve ser aplicado a um grupo específico, não a todos. Subjaz a este entendimento que todos os adeptos do movimento iniciado por Lutero são "reformados", afinal de contas, todos comemoram o dia da Reforma e creem em certas doutrinas.

Pois bem, transcrevo abaixo alguns testemunhos de historiadores sobre a questão do termo. Esclareço, de início, que, de modo algum, tenho a intenção de desmerecer quem quer que seja, ou de insinuar que A é melhor que B, ou que há alguns grupos não têm direito de comemorar a Reforma, ou ainda, que apenas presbiterianos são reformados. Longe disso! Meu objetivo é tão somente oferecer um esclarecimento a partir da historiografia protestante. Vamos começar com um presbiteriano, certamente o mais tendencioso na mente de muitos:

Pouco depois que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu uma segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro ex-sacerdote, Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O entendimento de que a reforma suíça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e em seu retorno às Escrituras, fez com que recebesse o nome de MOVIMENTO REFORMADO e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como 'reformados'. Inicialmente, o movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Zuínglio. Porém, com a morte prematura deste, o movimento veio a associar-se com seu maior teólogo e articulador, o francês João Calvino (1509-1564). A propósito, os 'protestantes', fossem eles luteranos ou reformados, só passaram a ter essa designação a partir da Dieta de Spira, em 1529. Portanto, o movimento reformado é o ramo do protestantismo que surgiu na Suíça, no século 16, tendo como líderes originais Ulrico Zuínglio, em Zurique, e João Calvino [...] Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como Igrejas Reformadas (da Suíça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países) (NASCIMENTO, Adão Carlos; MATOS, Alderi Souza de. O que Todo Presbiteriano Inteligente Deve Saber. Santa Bárbara d'Oeste, 2007. pp. 10-11).

O tipo de Protestantismo de Calvino era conhecido como "reformado". Diferia do sistema luterano no sentido de que a Igreja era uma instituição paralela ao Estado e não subordinada a ele. A Igreja era uma organização independente que mantinha sua vida própria e usava sua posição para corrigir o Estado quando necessário (CLOUSE, Robert G. et alli. Dois Reinos: A Igreja e a Cultura Interagindo ao Longo dos Séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 244).

Os milhões que aceitam a fé reformada e sua fundamentação doutrinária testemunham a importância do sistema teológico formulado por João Calvino (1509-1564), designado geralmente pelo termo 'calvinismo'. O termo 'fé reformada' APLICA-SE ao sistema de teologia desenvolvido a partir do sistema de Calvino (CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 251).

Um pouco antes, Cairns afirmou sobre Zwínglio: “Foram estas as ideias do homem que colocou os fundamentos da fé reformada na Suíça alemã. Embora Calvino tenha se tornado o herói da fé reformada, a igreja não pode esquecer o papel de Zwínglio, erudito, democrático e sincero, na libertação da Suíça das garras do papa” (p. 246).

O prestigiado estudioso Alister E. McGrath divide o protestantismo em três grandes ramos: Luterano (Reforma Luterana), Reformado (Reforma Calvinista) e Anabatista (Reforma Radical):

As origens da Reforma calvinista responsável pela constituição das Igrejas Reformadas (como a igreja presbiteriana), se encontram em acontecimentos ocorridos dentro da Confederação Suíça. Enquanto a Reforma luterana teve suas origens num contexto acadêmico, a IGREJA REFORMADA deve suas origens a uma série de tentativas de reformar a moral e o culto eclesiástico (mas não necessariamente sua doutrina) de acordo com um padrão mais bíblico. É preciso enfatizar que apesar de Calvino ter dado a esse estilo de Reforma a sua configuração definitiva, suas origens remontam a reformadores mais antigos como Zwínglio e Heinrich Bullinger, sediados em Zurique, a principal cidade da Suíça" (MCGRATH, Alister E. Teologia Histórica: Uma Introdução à História do Pensamento Cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 180).

David G. Peters, um teólogo luterano, discutindo as controvérsias em torno da presença real de Cristo no sacramento da Ceia, afirmou que os luteranos "acusaram os reformados de separar as naturezas de Cristo do mesmo modo como Nestório havia feito" (PETERS, David G. The “Extra Calvinisticum” and Calvin’s Eucharistic Theology. p. 6. Disponível em: <http://www.wlsessays.net/…/handle/12…/3632/PetersCalvin.pdf…>).

Na mesma página Peters afirma que "o debate eucarístico entre luteranos e reformados era simultaneamente um debate sobre cristologia" (p. 6).

Francis Pieper, dogmático luterano, faz referência aos calvinistas utilizando o termo reformado: “Cada palavra que os reformados falam contra a participação da natureza humana na divina onipresença, falam também contra sua doutrina da participação da natureza humana na Pessoa do Filho de Deus" (PIEPER, Francis. Christian Dogmatics. Vol. 2. Saint Louis, MS: Concordia Publishing House, 1951. p. 167).

Por fim, o grande historiador da Igreja, Kenneth Scott Latourette, afirma:

Paralelo ao luteranismo, outra espécie de protestantismo emergia e se desenvolvia. Esse protestantismo usualmente é conhecido como REFORMADO. Nele há variantes, inclusive o presbiterianismo em suas diversas manifestações. Todavia, de modo semelhante ao luteranismo, ele constituiu uma família de igrejas que, nos séculos 19 e 20, seriam atraídas conjuntamente em uma associação mundial (LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Vol. 2. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 1009).

Reafirmo que a intenção não é apontar o dedo para quem quer que seja, afirmando que o tal não tem direito de comemorar a Reforma Protestante. A ideia é tão somente esclarecer que o termo "reformado", em sua gênese, foi aplicado a um grupo distinto dos luteranos e anabatistas. Assim, meu desejo é que protestantes luteranos, protestantes reformados e protestantes anabatistas - ou descendentes destes grupos - juntos se alegrem em Deus pela Reforma, que no próximo ano completa 500 anos.

31 de out. de 2016

Índios protestantes no Brasil holandês

Por Frans Leonard Schalkwijk

Três vezes a igreja protestante foi implantada no Brasil Colônia, três vezes foi expulsa pelos portugueses católicos. Primeira vez: a igreja reformada dos franceses no Rio de Janeiro (1557-1558); segunda, a dos holandeses na Bahia (1624-1625); terceira, a dos holandeses, alemães, ibéricos, ingleses, franceses e índios no Nordeste, quase 30 anos depois.

A história da igreja protestante indígena durante a ocupação holandesa do Nordeste (1630-1654) está registrada em vários arquivos, especialmente em Amsterdã e Haia, na Holanda.

No século XVII, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco constituíam os três principais centros urbanos do Brasil Colônia. A riqueza produzida pelo açúcar brasileiro ajudava a Espanha a consolidar o seu domínio, enquanto procurava estrangular a jovem República dos Países Baixos - ou seja, a Holanda.

OS CONFLITOS DA COROA DE CASTELA

Embora o Brasil tivesse nascido como colônia portuguesa, a partir de 1580 Portugal havia passado a fazer parte da União Ibérica, comandada pela Espanha. O Brasil, em conseqüência, foi envolvido nos conflitos internacionais da coroa de Castela.

Na Holanda, pouco depois de 1500 a casa de Habsburgo chegou ao poder e reuniu as possessões alemãs, espanholas e holandesas nas mãos de Carlos V. Foi quando eclodiu, na Europa, a Reforma Protestante (1517).

O sucessor de Carlos V, Filipe II, rei da Espanha, decidiu eliminar os protestantes de suas terras, o que levou à Guerra dos 80 Anos (1568-1648).

Com a derrota da armada espanhola, em 1588, o poder da Espanha entrou em declínio, enquanto a Holanda ganhou impulso, especialmente porque recebeu milhares de refugiados franceses, belgas, espanhóis, alemães, poloneses. Tinha início a Idade de Ouro dos Países Baixos.

O trono espanhol, em represália, fechou seus portos para os holandeses, que foram obrigados a singrar os oceanos, considerados até então considerados mares territoriais ibéricos.

A Igreja Cristã Reformada (Protestante) também crescia com o afluxo de refugiados perseguidos por sua fé religiosa. Nessa Primeira Guerra Mundial, o vigoroso comércio ultramarino holandês organizou duas grandes companhias - a das Índias Orientais e a das Índias Ocidentais - para fortalecer a cooperação entre as empresas e se proteger dos espanhóis.

O Atlântico era a área da Companhia das Índias Ocidentais, cuja diretoria era composta de 19 membros, os chamados Senhores XIX, representantes das cidades cooperadoras, das quais Amsterdão era a principal.

Cientes de que as maiores riquezas da inimiga Espanha provinham das Américas, estes senhores começaram a pensar na conquista de parte das colônias americanas como forma de estancar a fonte de sustentação econômica das forças espanholas.

Nesse contexto, a Bahia parecia presa fácil, e a cidade de Salvador foi tomada. Conquista, entretanto, perdida um ano depois (1624-1625). Os holandeses, porém, decidiram prosseguir com a empreitada, agora voltada para Pernambuco. O sucesso do projeto deu início ao Brasil Holandês (1630-1654).

Durante esse período, tem lugar um capítulo pouco conhecido da história eclesiástica brasileira, a da Igreja Cristão Reformada, nome da Igreja Protestante na Holanda. Era uma igreja do Estado, situação das igrejas no Ocidente, seja nos países católicos, seja nos protestantes. A Igreja Cristã Reformada veio para o Brasil sob a bandeira holandesa, e foi expulsa com ela.

Na medida que os holandeses ampliavam o território conquistado, eram implantadas congregações reformadas. Durante algum tempo, existiram 22 igrejas protestantes no Nordeste, sendo que a do Recife era a maior, contando, inclusive, com uma congregação inglesa e uma francesa. Esta se reunia no templo gálico, que tinha no conde Maurício de Nassau seu membro mais ilustre e o pastorado era exercido pelo espanhol Vicentius Soler.

Na leitura dos documentos da época, surge uma igreja cercada de pessoas dispostas a expulsá-la de sua terra como a religião dos invasores.

Entretanto, para os índios, os holandeses não eram invasores, mas sim libertadores, o que levou a missão reformada no Nordeste a fazer uma opção preferencial pelos indígenas. Para os holandeses, as tribos aculturadas constituíam os brasilianos e as não-subjugadas os tapuias.

Filipe Camarão: O líder dos Potiguares recebeu honrarias do Rei Português por sua lealdade aos interesses lusos.

O primeiro contato entre os brasilianos e a Companhia das Índias Ocidentais ocorreu em Salvador. Com a perda da cidade, em 1625, o almirante da frota holandesa seguiu para o norte e aportou na baía da Traição, cerca de nove quilômetros ao norte da Paraíba.

Os índios locais, da tribo potiguar, viram nos holandeses os seus libertadores do jugo português e muitos quiseram embarcar quando a frota partiu. Apenas seis jovens índios conseguiram seguir para a Holanda, enquanto a tribo procurava refúgio na mata para fugir da vingança dos portugueses.


Os seis índios potiguares - entre eles o índio Pedro Poti - permaneceram durante cinco anos nos Países Baixos, onde foram alfabetizados e instruídos na religião reformada. Pouco depois da invasão de Pernambuco, alguns desses índios foram enviados de volta ao Brasil para servirem de línguas (tradutores) no contato com seus compatriotas nas aldeias nordestinas.

O sistema de aldeamento dos índios foi iniciado pelos padres católicos e continuou com os holandeses. Por volta de 1639, o Rio Grande abrigava cinco aldeias de brasilianos, a Paraíba sete, Itamaracá cinco e Pernambuco quatro. O trabalho da igreja reformada teve início em cima do trabalho realizado pelos padres católicos.

Os índios tinham aprendido algumas orações, a confissão apostólica, conheciam os nomes de Jesus e de Nossa Senhora, e tinham sido batizados; quanto ao mais, mantinham suas crenças animistas. Cedo a Igreja Reformada começou a evangelizar os indígenas, com apoio do governo, que precisava dos guerreiros na luta contra os portugueses.

Mas, apesar dos esforços, os holandeses não conseguiram estabelecer um método ideal de evangelização. Entretanto, os documentos registram anotações sobre batismos. No Presbitério de 1637, por exemplo, surge a questão do batismo de filhos de brasilianos e de africanos de pais já batizados pelos padres católicos. A Igreja Cristão Reformada reconheceu o batismo da Igreja Católica Romana, e decidiu que os filhos de pais batizados poderiam receber o sinal da aliança desde que seus pais confessassem a Jesus Cristo.

Em 1638, índios da Paraíba pediram ao Presbitério um predicante próprio. Nestas alturas, o Presbitério decidiu atender ao pedido dos indígenas e deslocar um pastor para as aldeias para pregar a palavra de Deus, administrar os sacramentos e exercer a disciplina eclesiástica, lembrando as três marcas da verdadeira igreja, conforme o artigo 29 da Confissão Belga. Esse plano recebeu o apoio do governo, sob a liderança de Nassau.

APESAR DOS ESFORÇOS, OS HOLANDESES NÃO CONSEGUIRAM ESTABELECER UM MÉTODO EFICIENTE DE EVANGELIZAÇÃO

Convidado, o pastor David à Doreslaer mudou-se da capital da Paraíba para a aldeia de Maurícia. O trabalho do pastor Doreslaer teve sucesso, pois foi elogiado pelos representantes do Presbitério do Brasil em carta aos Senhores XIX, enquanto Nassau comunicava que os próprios índios expulsaram os padres das aldeias.

Doreslaer e o pastor inglês Johannes Eduardus ampliaram o trabalho missionário e deram início ao ministério da educação. O primeiro professor protestante entre os índios foi o espanhol Dionísio Biscareto, casado com uma holandesa. Biscareto foi nomeado professor em Itapecerica, a maior aldeia da região de Goiana. Para as aldeias paraibanas, foi indicado o professor inglês Thomas Kemp.

Em 1640 começou o trabalho de brasilianização, movimento idealizado pelo pastor Soler, da Igreja Francesa no Recife. Ele conheceu um brasiliano razoavelmente experimentado nos princípios da religião, e no ler e escrever, capaz de instruir os índios. O pastor Eduardus, por sua vez, lembrou a existência de índios em idênticas condições em Goiana.

Assim, solicitaram ao governo que esses índios fossem nomeados professores nas aldeias, com um salário mensal de 12 florins, soldo de um cabo do exército. Esses dois índios foram os primeiros professores indígenas da Igreja Protestante na América do Sul.

Em livro publicado em 1651, Pierre Moreau cita um jovem ministro britânico que traduzira as Santas Escrituras para a língua brasiliana. Tudo indica que o hábil lingüista era o pastor Eduardus. Mas o que foi traduzido? Provavelmente apenas trechos bíblicos, mas, até hoje, não foram encontrados registros sobre o assunto nos arquivos. O que fica evidente é o interesse da Igreja Cristã Reformada em entregar aos índios a mensagem bíblica em sua própria língua.

Com a necessidade de um catecismo em língua tupi, o pastor Doreslaer organizou um livro de instrução que foi impresso na Holanda com o título Uma instrução simples e breve da Palavra de Deus nas línguas brasiliana, holandesa e portuguesa, confeccionada e editada por ordem e em nome da Convenção Eclesial Presbiterial no Brasil com formulários para batismo e santa ceia acrescentados. Embora o livro tenha sido criticado pelo Presbitério de Amsterdã, a Companhia das Índias Ocidentais mandou imprimi-lo em 1641 e, no ano seguinte, distribuiu-o no Brasil.

No terreno da assistência social, a Igreja Reformada enfrentava a caótica situação matrimonial existente na colônia, inclusive entre os índios. Muitos brasilianos casados viviam separados de suas esposas e não podiam casar-se novamente, embora muitos desejassem fazê-lo.

O Presbitério, em 1638, foi de opinião que a parte desertora do casal deveria ser citada por edital público do juiz civil. Depois de determinado período, a parte abandonada deveria ser considerada livre da parte desertora, o que deveria ser aprovado pelo magistrado. Esta determinação, reconhecendo a fraqueza da natureza humana, representa o primeiro projeto de reconciliação ou divórcio legal na América do Sul.

Os resultados práticos, entretanto, foram limitados, em razão das hesitações do magistrado, temeroso de conseqüências mais amplas. Na outra ponta, o problema da escravidão dos índios exigia solução urgente.

Desde o início da chegada dos holandeses ficou claro que os indígenas, aculturados e não-aculturados, deveriam ser livres. A liberdade dos brasilianos seria um dos capítulos fundamentais da Constituição do Brasil Holandês e tratada nos Regulamentos de 1629, 1636 e 1645.

Os holandeses não só precisavam dos índios na guerra contra os ibéricos, como sentiam profunda empatia pelos indígenas, pois, como eles, também estavam sendo oprimidos pela União Ibérica, a superpotência mundial da época.

LIBERTAÇÃO DOS INDÍGENAS

Os Senhores XIX insistiram para que fossem postos em liberdade os brasilianos escravizados pelos portugueses em 1625, depois da partida da esquadra holandesa. Esta libertação demorou, e começou a se tornar concreta com o início do trabalho missionário.

Em 1638, descobriu-se que os moradores portugueses de Recife ainda mantinham indígenas como escravos domésticos. Boa parte desses índios havia sido aprisionada pelas expedições punitivas levadas a efeito ao redor da baia da Traição, em 1625. O governo ordenou que todos os escravos fossem libertados imediatamente.

O governo holandês também combateu duramente a semi-escravidão, lembrando aos proprietários rurais, em Alagoas, que índios somente poderiam trabalhar nas lavouras por livre vontade e recebendo a devida remuneração. O sub-pagamento foi outra forma de exploração firmemente reprimida no Nordeste holandês. O governo determinou que os capitães que abusassem de sua autoridade fossem exemplarmente castigados.

Os índios, por sua vez, desejavam se transferir para as aldeias que possuíam missionários e, após intervenção do Presbitério, as autoridades promoveram as transferências para colaborar com o crescimento da igreja de Deus.

Na história da luta da Igreja Reformada no Brasil em favor da libertação dos índios é necessário lembrar a lei do ventre livre de 1645, originária de consulta do pastor Kemp sobre a situação de brasilianos casados com escravas africanas e escravos negros casados com indígenas.

Em resposta, as autoridades decidiram que a parte escrava do casal não se libertava pelo matrimônio, mas podia ser alforriada, e que os filhos resultantes desse tipo de casamento seriam considerados livres, reiterando que brasilianos, sem exceção, eram livres.

EM RELAÇÃO À ESCRAVIDÃO DOS NEGROS AFICANOS, AS CONSCIÊNCIAS CRISTÃS ERAM PRIMITIVAS, CONSIDERAVAM-NA UM ESCRÚPULO DESNECESSÁRIO

Infelizmente, quanto à escravidão africana, na época as consciências cristãs era subdesenvolvidas. Quando o pastor Jacobus Dapper questionou se era lícito ao cristão negociar ou possuir escravos africanos, até o conde de Nassau afirmou que se tratava de escrúpulos desnecessários.

Nassau se conformava ao espírito de seu tempo, mas contrariava o pensamento do pai espiritual da Companhia, o belga Willem Usselinex, e do patriarca da Igreja Reformada, o francês João Calvino.

O derradeiro período da missão da Igreja Cristã Reformada começou com a realização de duas importantes assembléias, uma eclesiástica, outra política. A mesa da Assembléia Geral das Igrejas recebeu pedidos de tribos que queriam receber seus próprios obreiros.

O professor Dionísio Biscareto foi ordenado pastor e dois brasilianos nomeados professores. Poucos meses antes da chamada insurreição pernambucana, em 1645, realizou-se a primeira grande assembléia indígena, com 120 representantes, em Itapecerica, na capitania de Itamaracá.

Foram organizadas três câmaras,: a câmara de Itamaracá, dirigida pelo índio Carapeba; a de Paraíba, pelo índio Pedro Poti; e a do Rio Grande, pelo índio Antônio Paraupaba.

O teste final e violento da missão reformada veio com a eclosão da guerra de restauração portuguesa. Os documentos atestam a impressionante fidelidade dos brasilianos refugiados ao redor das fortalezas litorâneas.

O mais famoso desses registros são as chamadas cartas tupis, trocadas entre dois primos colocados em campos opostos, o capitão-mór Filipe Camarão e Pedro Poti. Camarão era defensor do lado luso-católico na guerra; Poti, defensor do lado flamengo-reformado. Essa correspondência deixa claro a estreita vinculação entre fé e nação, igreja e Estado. Filipe Camarão escreveu: não quero reconhecer a Antônio Paraupaba, nem a Pedro Poti, que se tornaram hereges [...].

Em resposta datada de 31 de outubro de 1645, dia da Reforma Protestante, Poti garante que seus índios viviam em maior liberdade do que os outros, ressaltando que os portugueses queriam apenas escravizá-los.

Poti lembra a Camarão as matanças ocorridas na baia da Traição e em Sirinhaém, havia poucas semanas, quando os portugueses, após a rendição da frota holandesa, mataram perversamente 23 índios prisioneiros de guerra, quebrando as condições previamente acordadas.

Confessou também ser cristão, crendo somente em Cristo, não desejando contaminar-se com a idolatria, e convidou seus parentes e amigos a passar para o lado dos piedosos, que nos reconhecem no nosso país e nos tratam bem.

Ambos os primos não veriam o final dessa luta sangrenta: Camarão faleceu em 1648, depois da primeira batalha de Guararapes, e Poti no ano seguinte foi preso no cabo Santo Agostinho pelos portugueses. Segundo testemunho de Paraupaba, Poti foi lançado num poço, onde permaneceu durante seis meses.

Retirado de vez em quando, padres se atiravam sobre ele, tentando obrigá-lo a abjurar a religião protestante. Poti, entretanto, resistiu bravamente na fé protestante, e foi embarcado para Portugal, para as câmaras de tortura do Santo Ofício, mas a viagem não acabou, atalhada pela morte.

A guerra de restauração aproximou ainda mais os índios dos holandeses e apenas o pacto com os brasilianos garantiu a resistência flamenga durante nove anos.

Quando não houve mais condições de manter Recife, com as tropas luso-brasileiras às portas das fortificações e a armada portuguesa á entrada do porto, o Nordeste foi devolvido a Portugal. Terminava, também, a missão cristã reformada, impossível sem a proteção de um país protestante.

***

Fonte Original aqui

Imagem Ilustrativa do Conde Maurício de Nassau, governante do Brasil Holandês. 

27 de out. de 2016

Wiclif e Huss: A Reforma Pela Palavra

Por Leandro Lima

Introdução

Quando se pensa na Reforma Protestante, dois nomes logo vêm a mente: Lutero e Calvino. Em geral, as pessoas acham que somente esses dois homens foram responsáveis por todo o movimento que deu origem à Reforma. Sem querer diminuir a grande importância deles, precisa ser dito que outros, alguns contemporâneos a Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564), como Zwinglio, Melanchton, Bucer, Ecolampadio, Knox, também podem ser chamados reformadores, e que muito contribuíram para o retorno à fé evangélica. E, mesmo antes de todos esses, houve movimentos reformistas dentro da igreja que, por certo, contribuíram para a Reforma. Vimos em lição anterior, por exemplo, o movimento dos valdenses. Mas, há dois homens, em especial, que podem ser considerados precursores da Reforma Protestante. São eles John Wyclif[1] (1330-1384) e Jan Hus[2] (1374-1415).

I. Os precursores da Reforma

Hus pode ser considerado um discípulo de Wyclif, pelo menos no sentido teológico. Wyclif trabalhou na Inglaterra, foi teólogo de Oxford, reconhecido por sua erudição, bem visto pelo povo e apoiado pelos nobres.
Wyclif começou a entrar em atrito com a igreja quando passou a pregar:
– A “pobreza apostólica”
– A Escritura como única lei da igreja
– Os eleitos são a igreja, não o Papa e os cardeais
– Cristo como o cabeça da igreja, não o Papa
Embora não tenha rejeitado de todo o papado, entendia que um Papa que aspira poder humano e tem ânsias por impostos nem sequer poderia ser um eleito. Essa idéia de eleição, Wyclif a extraiu principalmente dos ensinos de Agostinho. Mas, com certeza a maior contribuição de Wyclif para a Reforma foi ter colocado a Bíblia na língua do povo. Convicto de que ela era a única lei da igreja, direcionou todos os seus esforços para traduzi-la do latim. Com a ajuda de Nicolau de Hereford, que traduziu o Antigo Testamento, a Bíblia foi traduzida para o inglês. A obra durou de 1382 a 1384. Wyclif e seus seguidores, os “lolardos” foram muito perseguidos pela igreja, que considerou heréticos os seus ensinos. Se Wyclif não foi martirizado, isso se deve, humanamente falando, à proteção que possuía dos nobres da Inglaterra. Mas muitos de seus seguidores foram mortos. A igreja esforçou-se para sufocar as idéias de Wyclif e tentou destruir as traduções da Bíblia, mas pelo menos 150 manuscritos sobreviveram. Curiosamente, a maior influência de Wyclif se fez sentir na Boêmia, onde alguns estudantes de Oxford difundiram suas idéias na Universidade de Praga.
Nessa escola estudou e dela mais tarde veio a ser reitor, um filho de camponeses, de Husinecz (donde veio o nome Hus), chamado Jan Hus. As mesmas doutrinas que Wyclif defendeu, foram também defendidas por Hus. Para ele o cabeça da igreja é Cristo, os membros são os predestinados e a lei é a Escritura. Tanto Wyclif quanto Hus tinham suas idéias fundamentadas na Bíblia, o que os tornava ainda mais ardentes na defesa do Cristianismo verdadeiro.
Como Wyclif, Hus também foi perseguido, mas embora fosse um verdadeiro herói nacional da Boêmia, foi traído pelo Imperador Sigismundo que lhe deu um salvo-conduto para se apresentar diante do Concílio de Constança, mas o revogou assim que ele chegou lá.[3] Indefeso diante do Concílio, heroicamente defendeu suas idéias e se recusou a voltar atrás em suas posições, salvo se fosse convencido de erro. Consciente de que suas conclusões eram bíblicas e, portanto, verdadeiras, enfrentou corajosamente a morte, sendo queimado em 6 de julho de 1415. Cem anos depois, Lutero retomaria o caminho de Hus e Wyclif em defesa da Palavra de Deus e da igreja verdadeira.[4]

II. A Descoberta da Palavra de Deus (2Rs 22.3-10)
A Reforma do século 16 foi uma volta à Bíblia. O mesmo pode ser dito também dos períodos de genuíno avivamento. Foi assim com Lutero que, ao estudar a carta de Paulo aos Romanos, descobriu que a salvação é pela graça mediante a fé. Calvino também reconduziu o retorno à Bíblia com as suas Institutas e seus comentários de quase todos os livros da Bíblia, enquanto aplicava a reforma da religião cristã na cidade de Genebra. O movimento de Wyclif e Hus também foi uma descoberta da Bíblia. Graças à tradução de Wyclif, que colocou a Bíblia na língua do povo, e ao zelo ardente de Hus pela Palavra de Deus, aquele obscuro período da história da igreja não ficou sem um testemunho fiel.

Em 2 Reis lemos sobre uma ocasião de reforma na vida do povo de Israel que começou com a descoberta da Palavra de Deus. Josias começou a reinar com 8 anos de idade e agradou ao Senhor, andando nos caminhos de Davi (2Rs 22.1,2). Mas ele recebeu um reino deteriorado. Seu pai Amom e seu avô Manassés haviam maus e idólatras. Manassés levantou altares a Baal, fez um poste-ídolo e se prostrou diante dele. Chegou mesmo a colocar ídolos dentro da área do templo do Senhor. Se não bastasse, ainda queimou um de seus filhos como sacrifício aos deuses pagãos (2Rs 21.1-7). Amom, filho de Manassés, andou nos mesmos caminhos de seu pai, serviu aos ídolos e os adorou (2Rs 21.21,22). Dá para imaginar a caótica situação em que se encontrava Judá depois desses dois reis, com a idolatria dominante e o templo abandonado, semidestruído. Josias assumiu o trono e queria mudanças, mas como fazê-las? No décimo oitavo ano de seu reinado ele decidiu reformar o templo. Foi então que, pela misericórdia de Deus, encontrou no próprio templo o livro da lei, provavelmente Deuteronômio. O livro foi achado pelo sacerdote Hilquias que o entregou a Safã, escrivão, que o leu diante de Josias (2Rs 22.8-10). Aquele achado mudou completamente a história da nação. Uma poderosa reforma se estabeleceu a partir daquela descoberta.
III. Quebrantamento pessoal (2Rs 22.11,19)
Muitas pessoas ouvem a Palavra de Deus, mas parece que nada acontece em sua vida. Nenhuma diferença, nenhuma transformação, nenhum quebrantamento. Esse não foi o caso de Josias. O texto diz que, quando o escrivão Safã leu o livro perante ele, “tendo o rei ouvido as palavras do livro da lei, rasgou as suas vestes” (2Rs 22.11). Mais tarde o próprio Senhor disse de Josias: “porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seriam para assolação e para maldição, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te ouvi, diz o Senhor” (2Rs 22.19). Foi grande o quebrantamento pessoal de Josias ao ouvir a Palavra de Deus. Ele entendeu naquela hora toda a situação em que se encontrava a nação e o castigo iminente de Deus. Ele sabia que suas próprias mãos, por mais que se esforçasse, não eram de todo limpas. Ele entendeu sua pecaminosidade e também a do povo, e entendeu que uma enorme reforma era necessária, não só no templo, mas na vida de toda a nação. É isso o que a Palavra de Deus produz na vida dos verdadeiros crentes. Foi isso que ela produziu na vida de Lutero, Calvino, Hus e Wyclif. O quebrantamento pessoal é o primeiro passo para uma reforma. Sem reconhecimento de culpa não há como o ser humano se aproximar de Deus. Deus não abençoa o soberbo, pois duas vezes a Escritura diz que Deus “resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça” (Tg 4.6; 1Pe 5.5). E a Escritura ainda afirma: “… assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
IV. Renovação da Aliança (2Rs 23.1-3)
O próximo passo de Josias foi renovar a aliança da nação com Deus. Ele convocou todo o povo, subiu até a casa do Senhor, e leu diante do povo todas as palavras do livro da aliança (2Rs 23.1,2). Em seguida, “o rei fez aliança ante o Senhor, para o seguirem, guardarem os seus mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos, de todo coração e de toda a alma” (2Rs 23.3). Todo o povo concordou com aquela aliança.
Esse ato do rei de fazer aliança com Deus decorreu do entendimento que veio da Escritura de que, desde os dias de Manassés, o povo havia quebrado o pacto com o Senhor. O encontro com a Palavra produz essa reafirmação de compromisso que é a segunda etapa de uma reforma autêntica.
Renovar a aliança é necessário para que voltemos a experimentar as expressões divinas de misericórdia e graça e não as de juízo. Deus não se relaciona senão por meio de sua aliança. O povo experimentava as conseqüências de haver transgredido o pacto. Todas as maldições decorrentes dessa quebra já estavam começando a vir e outras bem piores aguardavam no futuro. Mas, quando a aliança é renovada, os pecados são perdoados e a bênção retorna. Foi o que Josias aprendeu no livro redescoberto (Dt 29.1 – 30.20).
V. Reforma no culto (2Rs 23.4-23)           
Depois de renovar a aliança, Josias se lançou a uma difícil, mas importante tarefa. Reformar o culto da nação. Já vimos um pouco sobre os atos de Amom e Manassés. De fato, era caótica a situação religiosa do povo. A primeira atitude de Josias foi tirar do templo de Deus todos os utensílios profanos e os queimar fora de Jerusalém (2Rs 23.4). Esses utensílios eram impróprios para o templo. Não deviam estar ali.
Uma reforma verdadeira purifica o templo das coisas que não são lícitas. Wyclif e Hus lutaram contra o misticismo e o sacramentalismo de sua época. Para esses homens e seus discípulos, somente o que a Bíblia autorizava podia ser usado no culto a Deus. O que a Bíblia proíbe não pode ser mantido na adoração do povo de Deus.
A próxima atitude de Josias foi destituir os sacerdotes que haviam sido instituídos para queimarem incenso aos deuses (2Rs 23.5). Também tirou o abominável poste-ídolo que estava dentro da casa do Senhor e o queimou no vale do Cedron (2Rs 23.6). Uma reforma tira todos os ídolos da casa de Deus e destitui do serviço sagrado aqueles que não são dignos de estarem aí. Em seguida, Josias derrubou as casas de prostituição-cultual, que haviam sido colocadas dentro da casa do Senhor. Essas prostitutas eram tidas como sagradas e moravam dentro do templo, mantendo relações sexuais com todos os que quisessem, sendo que isso era considerado não só uma diversão, mas um ato de culto aos deuses ou deusas da fertilidade. Depois Josias começou a reformar a nação fora do templo. Profanou altos, destruiu altares, arruinou homenagens que eram dadas aos deuses e não poupou qualquer tipo de idolatria ou perversão.
A reforma do culto realizada por Josias não consistiu apenas de retirar coisas impróprias. Ele também incluiu o que era certo e que havia sido abandonado. Josias havia lido no livro da lei sobre a importância de celebrar a Páscoa ao Senhor. Então convocou todo o povo para essa celebração. Foi a maior Páscoa celebrada em Jerusalém desde que a nação havia sido estabelecida (2Rs 23.21,22). Isso significa que o culto voltou a ser bíblico e fervoroso, de acordo com a vontade do Senhor.
Uma reforma produz esse tipo de mudança. Tudo o que não é próprio é retirado. É hora de ser radical. Mesmo que muitos gostem. Aliás, o objetivo máximo do culto não é agradar o povo, mas o Senhor. Mas, não basta retirar o que está errado. É preciso também acrescentar os elementos bíblicos ausentes. Uma das principais lutas de Jan Hus foi com relação à Ceia do Senhor. Hus e seus seguidores insistiam em administrar o cálice de vinho ao povo e não somente aos sacerdotes, como já era prática na igreja romana.
VI. Reforma na vida (2Rs 23.24,25)
Josias preocupou-se também em mudar a vida do povo. Tirou os ídolos do templo e também das casas (2Rs 23.24). Isso é fundamental numa reforma religiosa. Não adianta mudar apenas a instituição religiosa se a prática cotidiana permanece corrompida. Sabiamente, Josias aboliu os feiticeiros, os médiuns, e todos os ídolos que se viam na terra de Judá.
Mas, certamente o maior exemplo de mudança foi ele próprio, de quem se diz que “antes dele não houve rei que lhe fosse semelhante, que se convertesse ao Senhor de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a lei de Moisés; e depois dele nunca se levantou outro igual” (2Rs 23.25). Todos os aspectos da vida foram afetados pela conversão e pela Palavra. Não foi um crente só de aparência. Verdadeiramente viveu a Palavra, mudou externa e internamente. Wyclif, Hus e Josias são exemplos do que o encontro com a Palavra de Deus produz. Hus teve coragem de até morrer por sua fé, pois sabia que não estava defendendo preceitos ou tradições dos homens, mas a pura e verdadeira Palavra de Deus. 
Conclusão
Toda Reforma verdadeira começa com a descoberta da Palavra de Deus e prossegue de acordo com a fidelidade a essa Palavra. Isso ficou bem claro no caso de Josias, e pode ser visto também na Reforma Protestaste, e como vimos, antes mesmo, nos chamados pré-reformadores John Wyclif e John Hus. O respeito desses homens à Escritura, bem como o desejo de que ela fosse acessível a todos os homens é uma das mais importantes marcas da obra deles. Precisamos de reforma hoje também, mas ela precisa começar pela Palavra de Deus, pois somente assim, teremos a garantia de que será bem sucedida.
Aplicação
Que efeitos a Palavra de Deus tem produzido na sua vida? Será que, o ouvir, domingo após domingo a Palavra tem feito de você um crente mais fiel? O que você pode fazer para que uma reforma também aconteça na sua vida e na vida da sua igreja?

***

[3] Nos dias de Hus ocorreu uma crise de autoridade na Igreja Católica. Em 1305, sob pressão do rei da França, a sede do papado foi transferida de Roma para Avignon, na França, onde permaneceu por 70 anos (Esse período é chamado de Cativeiro Babilônico do papado.). Em 1376 o papa retornou para Roma. Mas logo depois ele morreu e os cardeais, franceses na maioria, estavam dispostos a eleger um papa francês. O povo de Roma se opôs, temendo que um papa francês reconduzisse a sede do papado para a França. Os cardeais, então, elegeram um papa italiano, mas os delegados da França reuniram-se em outro lugar e elegeram um papa francês, alegando que a primeira eleição fora inválida. Assim passou a haver dois (depois três) papas. O Concílio de Constança foi convocado para resolver o impasse. Um dos papas reconheceu os poderes do Concílio e abdicou. O Concílio proclamou que sempre tinha havido um só papa verdadeiro, depôs os outros dois e elegeu um novo para, encerrando assim o que passou à História como “O Grande Cisma”. Como Hus ensinava que o papado não provinha de Deus, sua posição não podia ser nem de longe tolerada. Acusado de heresia, foi queimado em julho de 1415.

[4] Os seguidores de Hus tornaram-se conhecidos como Irmandade Tchecae mais tarde como Os Moravianos. A Igreja Morávia sobrevive até hoje. No século 16 exerceu considerável influência sobre o movimento luterano. Após Lutero haver afixado as suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, cartoons e graffti passaram a sugerir que ele era herdeiro espiritual de Hus.

Fonte: Ultimato

21 de out. de 2016

Cronologia de Martinho Lutero

Por Alderi Souza de Matos


1483 – Nasce em Eisleben, na Alemanha oriental.

1484 – Seus pais, Hans e Margaretha Luder, mudam-se para Mansfeld, onde Hans trabalha em minas de cobre.

1492 – Lutero estuda em Mansfeld.

1497 – Estuda em Magdeburgo e no ano seguinte em Eisenach.

1501 – Ingressa na Universidade de Erfurt e no ano seguinte recebe o grau de bacharel.

1505 – Conclui o mestrado em Erfurt e começa a estudar direito. Em 02-07, durante uma tempestade, jura tornar-se monge; ingressa na Ordem dos Eremitas Agostinianos, em Erfurt.

1507 – É ordenado e celebra a primeira missa. No ano seguinte, leciona filosofia moral em Wittenberg.

1510 – Visita Roma e no ano seguinte é transferido para a casa agostiniana de Wittenberg.

1512 – Torna-se doutor em teologia e no ano seguinte começa a lecionar sobre os Salmos na Universidade de Wittenberg.

1515 –
Leciona sobre Romanos e é nomeado vigário distrital sobre dez mosteiros; no ano seguinte, começa a lecionar sobre Gálatas.

1517 – Começa a lecionar sobre Hebreus; em 31 de outubro, afixa as Noventa e Cinco Teses sobre as indulgências. Contexto: eleição do sacro imperador e venda de indulgências.

1518 – Defende a sua teologia em uma reunião dos agostinianos em Heidelberg. Em outubro, comparece diante do cardeal Cajetano em Augsburgo, mas recusa retratar-se; em dezembro, Frederico, o Sábio, impede que Lutero seja levado a Roma.

1519 – Entende a “justiça de Deus” como uma “justiça passiva com a qual Deus nos justifica pela fé.” Em julho, tem um debate com o professor dominicano João Eck em Leipzig; defende João Hus e nega a autoridade suprema de papas e concílios. Carlos V é eleito sacro imperador.

1520 – A bula papal Exsurge Domine dá-lhe 60 dias para retratar-se ou ser excomungado. Queima a bula papal e um exemplar da lei canônica. Escreve três documentos fundamentais: À Nobreza Cristã da Nação Alemã, O Cativeiro Babilônico da Igreja e A Liberdade do Cristão. A Reforma alastra-se na Alemanha e na Europa.

1521 –
É excomungado pela bula Decet Romanum Pontificem, de Leão X. Em abril, naDieta de Worms, recusa renegar os seus escritos e no mês seguinte um edito o condena como herético e proscrito. É seqüestrado e ocultado no Castelo de Wartburg, onde começa a traduzir o Novo Testamento. Protegido pelo príncipe eleito.

1522 – Em março, deixa o seu esconderijo e retorna a Wittenberg. No ano seguinte, escreve Sobre a Autoridade Temporal. É publicado o Novo Testamento em alemão.

1524 – Tem um debate com Andreas Bodenstein Karlstadt sobre a Ceia do Senhor. Explode a Revolta dos Camponeses.

1525 – Escreve Contra os Profetas Celestiais; escreve Contra as Hordas, criticando a Revolta dos Camponeses. Casa-se com Catarina von Bora. Escreve O Cativeiro da Vontade, contra Erasmo. Morte de Frederico, o Sábio.

1526 – Escreve a Missa Alemã; nasce o seu filho Hans. Na Dieta de Spira, os príncipes recusam-se a aplicar o Edito de Worms. No ano seguinte, luta contra enfermidades e intensa depressão; escreve “Castelo Forte”. Nasce a sua filha Elizabete. Escreve contra as idéias de Zuínglio acerca da Ceia do Senhor.

1528 – Escreve a Grande Confissão Acerca da Ceia de Cristo; chora a morte de Elizabete; visita igrejas.

1529 – Dieta de Spira: intolerância contra os luteranos. Surge o nome “protestantes.” Lutero comparece com Zuínglio ao Colóquio de Marburg, mas não alcançam acordo sobre a Ceia do Senhor. Publica o Grande Catecismo e o Pequeno Catecismo. Nasce sua filha Madalena.

1530 – Morre seu pai. Lutero, sendo um proscrito, não pode comparecer à Dieta de Augsburgo, realizada na tentativa de pôr fim à divisão religiosa do império. Filipe Melanchton apresenta a Confissão de Augsburgo, uma declaração das convicções luteranas.

1531 – Começa a lecionar sobre Gálatas. Nasce o seu filho Martin e morre a sua mãe, Margaretha.

1532 – Escreve Sobre os Pregadores Infiltradores e Clandestinos. Recebe o mosteiro agostiniano de Wittenberg como sua residência.

1533 – Nasce o seu filho Paulo. No ano seguinte, publica a Bíblia Alemã completa e nasce sua filha Margarete.

1536 – Aceita a Concórdia de Wittenberg sobre a Ceia do Senhor, na tentativa de sanar as diferenças com outros reformadores, mas os zuinglianos a rejeitam.

1537 – Redige os Artigos de Schmalkald como seu “testamento teológico.” No ano seguinte, escreve contra os judeus em Contra os Sabatarianos.

1539 – Escreve Sobre os Concílios e a Igreja. Em 1541, escreve Exortação à Oração contra os Turcos.

1542 – Redige o seu testamento; morre sua filha Madalena. No ano seguinte, escreveSobre os Judeus e suas Mentiras.

1544 – Escreve contra a interpretação de Caspar Schwenckfeld sobre a Santa Ceia.

1545 – Escreve Contra o Papado de Roma, uma Instituição do Diabo. Morre o arcebispo Alberto de Mogúncia e tem início o Concílio de Trento.

1546 – Lutero morre no dia 18 de fevereiro em Eisleben. Sua esposa morre em 1552.

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10 de ago. de 2016

A Importância do Credo Niceno

Por Thiago Oliveira

Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem, e sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente deve vir para julgar os vivos e os mortos; e no Espírito Santo. E a quantos dizem: “Ele era quando não era”, e “Antes de nascer, Ele não era”, ou que “foi feito do não existente”, bem como a quantos alegam ser o Filho de Deus “de outra substância ou essência”, ou “feito”, ou “mutável”, ou “alterável” a todos estes a igreja católica e apostólica anematiza. [1]

Quando finda a perseguição ao cristianismo e este passa a ter a simpatia do Império, surge uma controvérsia que abala a ortodoxia: o Arianismo. Esta doutrina herética, formulada por Ário, presbítero em Alexandria, negava que Cristo fosse eterno e dizia ainda que Deus e Jesus não tinham a mesma substância, ou seja, para Ário, Cristo não era divino. Em uma de suas cartas ao Bispo Eusébio da Nicomédia, Ário defende sua doutrina:

“Nós pensamos e afirmamos que o Filho não é ingênito, nem participa absolutamente do ingênito, nem derivou d’alguma substância, mas que por sua própria vontade e decisão existiu antes dos tempos e eras, inteiramente Deus, unigênito e imutável. Mas antes de ter sido gerado ou criado ou nomeado, ele não existia, pois ele não era ingênito”.

Nessa época, o imperador Constantino queria consolidar o seu império tendo o cristianismo, e não o paganismo, por base. Assim sendo, convocou os bispos do Império, aproximadamente 300, e os reuniu num concílio realizado na cidade de Nicéia, na Ásia Menor (325 d.C.). A controvérsia não tardou em ser resolvida, pois, os bispos do Ocidente, aceitavam a sentença de Tertuliano “Uma substância, três naturezas”, emitida um século antes.

O Arianismo foi condenado, e conforme escrito na declaração de fé, considerado anátema (i.e. maldito). É nítido que a consubstancialidade entre Deus e Jesus Cristo são asseguradas no credo niceno. Tanto Ário como Eusébio da Nicomédia, foram expulsos de suas cidades e excomungados por heresia. Mas a doutrina havia sido muito difundida entre os povos germânicos. Nas chamadas “Invasões Bárbaras”, Ostrogodos e Visigodos, por exemplo, já chegaram cristianizados a Roma, todavia, eram adeptos do arianismo.

O texto do Credo foi depois reformulado em dois concílios, Calcedônia (451 d.C.) e Espanha (589 d.C.). Assim ficou o seu texto:

Creio em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só substância com o Pai; pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e foi feito homem; e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos. Ele padeceu e foi sepultado; e no terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras; e subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. Creio na Igreja una, universal e apostólica, reconheço um só batismo para remissão dos pecados; e aguardo a ressurreição dos mortos e da vida do mundo vindouro.

Mesmo após a sua modificação, vemos que a crença na triunidade Divina permanece intacta, ressaltando que Cristo é não-criado, mas é verdadeiro Deus, criador de todas as demais coisas. Atualmente, algumas seitas que se denominam cristãs, negam que Jesus Cristo seja igual a Deus Pai. Tais seitas são chamadas de unitaristas, por negarem o conceito da Trindade. As Testemunhas de Jeová são as mais conhecidas. Outras, como o kardecismo dizem que Cristo é um ser evoluído e o mormonismo afirma que Cristo não é Deus, é uma criatura dele, irmão de Lúcifer e dos homens. Estas são formulações heréticas, e quem as professa não pode ser considerado cristão, pois, a Trindade é dogma central da fé cristã.

A Igreja Evangélica Voz da Verdade, fundada em Santo André - SP, ganhou fama em todo o Brasil, por causa do seu conjunto musical, bastante influente nas rádios evangélicas, isso nos anos de 1990. Logo, suas músicas começaram a ser cantadas em várias igrejas, até que suas ideias unicistas foram descobertas e denunciadas por diversos pastores e teólogos ortodoxos. Tal episódio nos serve de alerta. As heresias não morrem, elas se reinventam. Vestem uma roupa nova para atrair novos adeptos. A importância de conhecermos o Credo de Nicéia, a história da igreja em si, sobretudo a era patrística, é que nos auxiliará em defesa da sã doutrina contra os falsos ensinos.
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[1] Primeira formulação do Credo Niceno, citado em GONZALES, Justo. Uma História Ilustrada do Cristianismo, vol. 2, A era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 97.

29 de jan. de 2016

Seria a CFW um documento continuísta? - Uma Avaliação Crítica de “Sob os Céus da Escócia” (1/2)

Por Alan Rennê Alexandrino 

INTRODUÇÃO

No ano de 2006 o autor Brian D. McLaren publicou uma das suas obras mais conhecidas, intitulada The Secret Message of Jesus. A tese de McLaren neste livro é a de que ao longo de quase dois mil anos de história os cristãos ou compreenderam de maneira equivocada a mensagem de Jesus Cristo, ou então flagrante e intencionalmente a distorceram. Ao longo de milênios a cristandade estaria vivendo no engano por não ter atentado para a verdadeira mensagem propalada pelo Filho de Deus. Talvez o trecho mais inquietante da obra apareça quando McLaren sugere, ao fazer uma citação do filósofo Sören Kierkegaard, que a erudição cristã deliberadamente distorceu a mensagem do evangelho:

A Bíblia é muito simples de se entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de caloteiros intrigantes. Fingimos ser capazes de compreendê-la porque sabemos muito bem que, no instante que a compreendermos, estaremos obrigados a agir de acordo com ela [...] Eis, portanto, o verdadeiro propósito da erudição cristã. A erudição cristã é a invenção mais prodigiosa para se defender da Bíblia, a fim de garantir que podemos continuar sendo bons cristãos sem que a Bíblia se aproxime demais de nós.[1]

Assim, tudo o que a igreja cristã viveu e praticou ao longo desses dois milênios nada mais foi do que uma fraude, um engodo promovido pela erudição cristã.

Por que iniciar a análise da obra Sob os Céus da Escócia, de autoria de Renato Cunha, ministro da Igreja Episcopal Carismática, com uma menção a Brian McLaren e uma de suas obras mais controversas? A resposta está em que, assim como McLaren, Renato Cunha não apenas sugere, mas defende explicitamente, que homens como João Calvino, George Gillespie, Samuel Rutherford, Jonathan Edwards e muitos outros nunca foram verdadeiramente compreendidos quanto ao que esses homens defenderam a respeito da obra do Espírito Santo na concessão dos dons miraculosos à Igreja de Cristo. Esses homens e muitos outros, como o pregador inglês Charles H. Spurgeon[2], são evocados como bastiões do cessacionismo. Porém, de acordo com Renato Cunha, ou tais homens nunca foram compreendidos ou, na realidade, o cessacionismo se utiliza de subterfúgios e até mesmo de fraude para poder alinhá-los ao seu pensamento. E ao longo da leitura da obra a impressão é a de que, na mente do autor, a última alternativa é a verdadeira.

Nem mesmo a Confissão de Fé de Westminster, nos dizeres de Cunha, ensina aquilo que é afirmado pelos cessacionistas. Quando a CFW afirma, logo no seu capítulo e parágrafo de abertura, que cessaram “aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo” (1.1), ela não está ensinando que o dom de profecia nos moldes neotestamentários cessou. Esta afirmação cessacionista está equivocada e é fruto de, no mínimo, dificuldades em interpretar devidamente textos escritos.

O presente artigo é a primeira parte de uma avaliação crítica da obra de Renato Cunha. Inicialmente, eu tinha a intenção de escrever apenas uma resenha a respeito do livro. Contudo, ao longo da leitura do mesmo, tantos absurdos foram notados e anotados, que me proponho agora a escrever uma pequena série de críticas à obra. Para tal, me proponho, em primeiro lugar, a discorrer brevemente a respeito do método utilizado na escrita do livro, a saber, o uso de fontes marginais. Em segundo lugar, é minha intenção abordar um dos pontos centrais da obra: a negação do cessacionismo na Confissão de Fé de Westminster, investigando o contexto histórico da Assembleia de Westminster, bem como as proposições da própria Confissão. Em terceiro lugar, tratarei das alegações no sentido de que homens como Calvino, Gillespie, Rutherford e outros eram defensores da perpetuidade dos dons revelacionais, notadamente o dom neotestamentário de profecia.

1.    O Revisionismo de “Sob os Céus da Escócia”

Cunha inicia a sua obra com a afirmação de que utilizará como método de pesquisa o ramo da historiografia conhecido como “História das Mentalidades”, nascido no século passado. O autor afirma que a história das mentalidades “busca perscrutar e compreender as importantes alterações nas formas de pensar e agir do homem ao longo dos tempos” (p. 13). Isto o conduz a questionar por qual razão o elemento místico, que sempre esteve presente na cristandade, foi desconsiderado e completamente ignorado pelo cessacionismo moderno. Assim, a proposta da obra é apresentar não apenas uma resposta a este questionamento, mas também trazer a lume evidências históricas de que tal elemento místico sempre se fez presente, inclusive no meio reformado e supostamente cessacionista.

A proposta de Cunha, na realidade, é proceder com um completo revisionismo da história do protestantismo reformado, a fim de consubstanciar a tese de que o cessacionismo nada mais é do que uma inovação que teve origem com a publicação de Counterfeit Miracles, de Benjamin Beckenridge Warfield, em 1918. Para levar adiante seu projeto Cunha faz uso daquilo que é conhecido como fontes marginais, que nada mais são do que fontes secundárias que apresentam pontos de vista que divergem significativamente do entendimento comum e aceito em determinado campo do conhecimento.

Um exemplo disso pode ser percebido no fato de que, ao tratar do alegado continuísmo do escocês George Gillespie nenhuma fonte primária é apresentada, com exceção da menção a dois tratados sobre o dom de profecia no Novo Testamento (p. 65, nota de rodapé nº 15). Não há nenhuma declaração do próprio Gillespie. Há apenas testemunhos oriundos de biografias. Na verdade, as únicas palavras de Gillespie documentadas (p. 64) são tomadas a partir de uma fonte secundária difícil de identificar, dada a maneira equivocada como as notas de rodapé estão organizadas do ponto de vista da metodologia da pesquisa científica.[3]

Muitos outros exemplos poderiam ser apresentados aqui. Não obstante, este fato prejudica o trabalho de qualquer pesquisador, uma vez que, conquanto seja ponto pacífico que a utilização de fontes secundárias seja perfeitamente aceitável em qualquer pesquisa bibliográfica, é imprescindível que grande parte, senão a maior, do labor do pesquisador seja tomada a partir de fontes primárias. No caso da obra de Cunha e considerando a sua proposta, era imprescindível que as evidências textuais primárias abundassem, o que não ocorre. O que pode ser percebido mesmo quando se avalia as fontes secundárias utilizadas é que, na verdade, a pesquisa foi dirigida a partir de uma seletividade intencional de fontes que melhor se adequam a uma crença pessoal. Esta seletividade ficará evidente nas seções subsequentes desta crítica, quando apresentarei um contraponto às teses de Cunha a respeito da Confissão de Fé de Westminster e dos supostos teólogos reformados continuístas.

Outro detalhe que necessita ser destacado logo de início, é que ao longo da obra o cessacionismo é constantemente acusado de manipular, distorcer e omitir fatos que têm acompanhado a história humana desde os primórdios. Cunha faz tal acusação de maneira indireta, afirmando que “é certo que muitos têm o interesse de omitir eventos aos quais julgam impertinentes e desconfortantes na defesa de determinado sistema filosófico” (p. 90). Cunha também deixa no ar uma indagação a respeito da existência de fraude nos postulados de quem defende a estrutura filosófica do cessacionismo (p. 181).

O autor também se utiliza do argumento falacioso da associação, ao colocar lado a lado o cessacionismo, o ateísmo (p. 179) e o antissobrenaturalismo de Rudolf Bultmann (p.183). De forma estranha, no escopo da obra não há nenhuma preocupação de oferecer ao leitor uma definição acerca do que é o cessacionismo. Seria de bom tom que os termos tivessem sido devidamente definidos antes de oferecer críticas tão contundentes. Percebe-se que Cunha também fez uso da falácia do espantalho todas as vezes que mencionou o cessacionismo. Apesar de levantar tais observações aqui, deixarei para abordá-las mais detidamente na segunda parte da crítica do livro.

Por ora, irei me concentrar na abordagem de Cunha à Confissão de Fé de Westminster.

2.    O Cessacionismo da Confissão de Fé de Westminster

De acordo com Cunha, “o tema revelação sobrenatural extrabíblica teve significativa importância no debate” travado na Assembleia de Westminster (1643-1649). Apesar disso, a missão que os delegados tinham diante de si era “unificar o protestantismo europeu na redação de um documento que representasse de maneira adequada as igrejas reformadas” (p. 32). Visando, então, o cumprimento dessa missão, foi que os delegados buscaram acomodar uma diversidade de opiniões na elaboração da Confissão, de modo que quanto à questão da cessação da revelação, a ideia era chegar a uma proposição que permitisse uma diversidade de convicções. Sobre isso, Cunha afirma (p. 33):

O fato de afirmarem a singularidade da Escritura como registro especial de Deus não encerrava o assunto no sentido de estabelecer um marco final em termos de Deus se revelar, mesmo com o cânon devidamente encerrado. A singularidade da revelação, portanto, não significa modo exclusivo de manifestação. Apenas a Escritura é singular, visto que contém o depósito completo das doutrinas sobre Deus e salvação humana.

Ele tem em mente o parágrafo de abertura da Confissão, transcrito in extenso abaixo:

I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia, não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo.[4]

Cunha afirma que a afirmação confessional tem como propósito se opor à tradição da Igreja Católica Romana, que afirma possuir autoridade delegada pelo próprio Cristo para estabelecer novas doutrinas. De acordo com ele, o parágrafo da Confissão em questão não trata da cessação dos dons revelacionais, mas tão somente confrontar “a tradição romanista de ser a palavra final em termos de doutrina do conhecimento de Deus e da salvação do homem” (p. 36). Isto não quer dizer, todavia, que a Sagrada Escritura seja o único modo de Deus falar ao seu povo. É o meio mais seguro, mas não o único (p. 37).

O ponto a ser destacado é que Cunha pressupõe que a preocupação da Confissão é apenas com aquilo que diz respeito à salvação do homem. Novamente, eis suas palavras (p. 37):

Em segundo lugar, ao sentenciarem que ‘isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo’, sobretudo no tocante a haver cessado os antigos modos de Deus revelar a sua vontade, não significa necessariamente que aqueles deputados tinham em mente que Deus só se revelaria através das Escrituras, muito menos que encerrara total e completamente suas revelações. Eles se limitam a afirmar apenas que não resta mais doutrina a ser assentada, sobretudo no tocante ao ensino quanto à salvação do ser humano, ou seja, acreditam na impossibilidade de a Escritura continuar a ser escrita.

Garnet Howard Milne[5], cuja obra foi utilizada por Cunha em sua pesquisa, questiona se os presbiterianos carismáticos dos nossos dias estão corretos ao afirmarem que “o conceito de salvação na CFW 1.1 meramente se refere a ‘revelação histórico-redentiva’, ou esta distinção entre revelação histórico-redentiva e revelação para orientação pessoal é uma falsa dicotomia?”[6] Milne argumenta convincentemente que interpretar o termo “salvação” como empregado na Confissão não é tarefa fácil,

parcialmente porque um propósito maior de uma confissão de fé é a sua capacidade de sumarizar o caminho de salvação em vez de descrever a natureza da salvação em si; parcialmente porque a CFW não apresenta nenhuma definição explícita; e parcialmente porque a terminologia “salvação” na teologia puritana era frequentemente caracterizada pela própria fluidez de significado da Bíblia e ausência de precisão no uso dessa linguagem.[7]

Milne observa ainda que uma pesquisa nos Padrões de Westminster “revela que o substantivo, as formas verbais e o conceito de ‘salvação’ aparecem muitas vezes ao longo desses documentos, mas a definição do conceito não é uniforme”.[8] Como evidência dessa afirmação creio que alguns exemplos possam ser apresentados. No Capítulo 2.1, sobre Deus e a Santíssima Trindade, salvação é entendida como perdão dos pecados e libertação da justa retribuição da ira de Deus que não inocenta o culpado. Em 3.5, sobre o Eterno Decreto de Deus, salvação é conceituada como eleição em Cristo Jesus para a glória eterna. Já no parágrafo 6 desse mesmo capítulo os elementos dessa salvação são apresentados, a saber: “santificação, justificação, obediência, santidade, adoção como filhos e boas obras”.[9] No caso, salvação compreende toda a Ordo Salutis. Milne conclui a sua investigação sobre o sentido de “salvação” na CFW afirmando: “Dentro dos capítulos da CFW nós encontramos evidência interna para uma ampla definição de salvação que transcende redenção pessoal ou salvação escatológica e que oferece ao crente benefícios que incluem bênçãos temporais”.[10]

Observemos, por exemplo, o que diz o capítulo 14, sobre a Fé Salvífica, em seu segundo parágrafo:

II. Por esta fé, o cristão, segundo a autoridade do mesmo Deus que fala em sua palavra, crê ser verdade tudo quanto nela é revelado, e age de conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular, prestando obediência aos mandamentos, tremendo às ameaças e abraçando as promessas de Deus para esta vida e para a futura; porém, os principais atos de fé salvadora são: aceitar e receber a Cristo e descansar só nele para a justificação, santificação e vida eterna, isso em virtude do pacto da graça.[11]

Neste trecho a CFW afirma que a fé salvadora leva uma pessoa a abraçar as promessas de Deus que são cumpridas nesta vida. Por esta razão, é que mesmo que o principal e maior objetivo da salvação seja a libertação espiritual do pecado e da ira de Deus, a fé salvadora abraça promessas de assistência temporal: “Portanto, ela conjuga bênçãos ou privilégios terrenos ao conceito puritano de salvação, e assim liga libertação temporal às promessas da Escritura”.[12]

Após investigar o conceito de “salvação” na própria Confissão, Milne procede com uma exposição de como os teólogos de Westminster fizeram uso do termo em seus escritos. Ele apresenta inúmeros trechos de obras de Sydrach Simpson (1600-1655), Obadiah Sedgwick (1600-1658), William Lyford (1598-1653), William Bridge (1600-1670), Thomas Goodwin (1600-1680) e Edward Reynolds (1599-1676), apenas para citar alguns.[13] Após toda investigação feita, Milne conclui o seguinte:

“Salvação”, para o puritano, era um conceito que incluía a libertação e reforma temporal pessoal, nacional e internacional, e não estava, portanto, confinado à redenção pessoal do pecado e da ira de Deus. Foi esse conceito, tão amplamente explorado nos sermões dos divines de Westminster, que fez o seu caminho para dentro da CFW.[14]

A implicação deste pensamento é óbvia. Ora, se o conceito de “salvação” na Confissão não diz respeito unicamente à libertação do pecado e da ira de Deus, mas, em vez disso, envolve até mesmo questões relacionadas a esta vida ou ao cotidiano, então, a Confissão não ensina que cessou apenas a revelação necessária para aquele conceito de salvação.

Prova adicional de que a Confissão não ensina uma cessação parcial relacionada unicamente ao assentamento de nova doutrina essencial à salvação é o que ela ensina em outro parágrafo do capítulo 1º. Ela afirma de maneira explícita que as Sagradas Escrituras são a revelação de Deus não apenas para a salvação do homem em seu sentido redentivo pessoal, mas também para a fé e a vida do homem:

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas.[15]

A afirmação confessional é suficientemente clara. Não é expressamente declarado nem pode ser lógica ou claramente deduzido da Escritura todo o Conselho de Deus necessário apenas para a salvação pessoal do homem. De acordo com a Confissão, tudo aquilo que é necessário para a salvação, sim, mas também para a fé e a vida do homem está nas Sagradas Escrituras. É temerário desconectar o parágrafo 1.1 do 1.6. Aquilo que no primeiro parágrafo é afirmado de maneira generalizada é aqui afirmado em detalhes. A igreja não possui a vontade de Deus revelada apenas sobre assuntos concernentes à salvação, como afirma Cunha (p. 37). Ela possui todo o desígnio de Deus acerca de tudo aquilo que concerne à salvação, fé e vida. Tanto é assim, que logo após esta declaração, os teólogos acrescentam: “À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens”. De acordo com a CFW, nada pode ser acrescentado à Escritura que já traz em seu escopo toda a vontade de Deus para a salvação, a fé e a vida do homem.

Chad Van Dixhoorn, erudito responsável pela edição da obra Minutes and Papers of the Westminster Assembly, em seu excelente comentário da Confissão, afirma o seguinte sobre o parágrafo 1.6:

A suficiência da Escritura se aplica a todas as questões relacionadas à nossa salvação. Não precisamos ir a nenhum outro lugar – nós não podemos ir a qualquer outro lugar – para encontrarmos o caminho da salvação. Isso também se aplica a todas as questões de fé – toda doutrina cristã deve ser derivada apenas da Bíblia. E as Escrituras também são suficientes para a vida, o que significa que, de acordo com a Assembleia de Westminster, somente a Bíblia contém a lei de Deus, bem como todos os princípios gerais aos quais temos de aderir para vivermos diante da face de Deus. A suficiência da Escritura para a vida não nega que necessitamos de constante e extensiva informação e suprimentos do mundo criado, a fim de vivermos. É claro que precisamos. A Escritura é suficiente no sentido de que nenhuma revelação especial posterior de Deus é necessária para nos guiar através da vida, além da revelação graciosamente disponível a nós na Bíblia.[16]

Também extremamente pertinente ao assunto é o comentário de Dixhoorn a respeito da cláusula “tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo”:

A Bíblia também é necessária porque Deus não mais revela a si mesmo por meio de sonhos, visões e profetas. Aqueles veículos de revelação não são mais necessários e não mais funcionam. William Gouge, um patriarca puritano na Assembleia de Westminster, argumentou que “pretensão de nova luz e inspiração imediata nestes dias é uma mera pretensão”. Francis Cheynell queixou-se de pessoas, em seus dias, que muito rapidamente davam lugar na tribuna para qualquer um que havia se convencido de ter alguma interpretação espiritual da Palavra por “inspiração, sugestão ou assistência do Santo Espirito”. E George Walker, ainda outro membro da Assembleia que escreveu sobre o assunto, tinha palavras duras para homens fracos que diziam às damas para se casarem com eles por causa de alguma “pretensão de inspiração e revelação divina”. Seja por preguiça ou desespero, os homens não devem tentar empurrar uma mulher para um pouco mais perto do casamento porque “Deus disse” que eles foram feitos um para o outro.[17]

Contraste as palavras acima com a afirmação de Cunha, no sentido de que as Sagradas Escrituras, aquelas que, de acordo com a CFW contém todo o desígnio de Deus referente à salvação, fé e vida do homem, “não alcançam todas as particularidades sobre as quais um crente genuíno certamente necessitará de orientação providencial de Deus, eg.[sic] com quem se deve casar, se deve comprar determinado imóvel, ou vendê-lo, et al” (p. 149). Verifica-se, portanto, que Cunha está em descompasso com a Confissão, bem como com aquilo que os seus autores escreveram em obras próprias.

Ainda sobre este tópico algo precisa ser dito sobre a ideia de que, em razão da presença de “continuístas” entre os teólogos[18], buscou-se uma proposição que conciliasse a diversidade de opiniões a respeito da cessação ou não da revelação. Uma das principais alegações de Cunha é que os dois pastores escoceses enviados à Assembleia, Samuel Rutherford e George Gillespie, eram continuístas, homens conhecidos na Escócia como possuidores do dom de profecia. Assim, uma vez que eles estiveram presentes e exerceram grande influência na Assembleia, o ideal era buscar a acomodação das opiniões divergentes sobre o assunto.

Robert Letham, outro erudito pesquisador da Assembleia de Westminster contesta com veemência esta opinião. De acordo com ele, a questão da revelação especial não foi alvo de discórdia que demandasse uma acomodação de opiniões divergentes. De acordo com ele, houve “acordo generalizado sobre o seu conteúdo. As atas não apresentam nenhum indício de discórdia significativa. Os debates sobre o capítulo duraram um bom tempo, de S463 M 7.7.45 a S472 F 18.7.45, mas foram feitas apenas duas pequenas alterações para o relatório da comissão”.[19] Letham vai adiante e afirma que, especificamente sobre a cláusula cessacionista, “não há nenhum traço de debate sobre esta questão nas atas. Se tivesse existido qualquer um, certamente teria inflamado o interesse, visto que qualquer sugestão de continuação da revelação teria enfraquecido a polêmica protestante e reformada contra Roma e os Quakers”.[20]

E aqui nós encontramos uma informação de extrema importância para chegarmos ao entendimento correto sobre a afirmação confessional. Letham contextualiza as discussões da Assembleia como direcionadas à Igreja Romana e também aos Quakers. A fim de consubstanciar a sua tese, Cunha situa a polêmica de Westminster como direcionada única e exclusivamente à Igreja de Roma (p. 36):

No primeiro plano, vemos a preocupação dos delegados em afirmar uma espécie de contraponto à estrutura de revelação geral. É certo que a escrita bíblica visa preencher duas lacunas importantes e a primeira delas é oferecer algo de revelação especial para melhor transmitir o conhecimento detalhado de Deus e de sua vontade necessário à salvação, ou seja, que a Bíblia se opõe a qualquer teologia que não se alicerce na garantia de que a salvação do homem se dá unicamente no altar da Justiça de Cristo. Os teólogos de Westminster estavam se opondo claramente à tradição romanista das indulgências, por exemplo. Neste sentido, ninguém poderia se apresentar como portador de nova revelação divina referente à salvação humana, tendo em vista o assentamento definitivo de doutrina a respeito. Por mais que a Igreja romana alegasse autoridade, autoridade judiciosa ostenta as Escrituras que continha toda revelação no tocante à salvação humana, diziam os de Westminster. Não podemos esquecer que este capítulo confronta claramente a tradição romanista de ser a palavra final em termos de doutrina do conhecimento de Deus e da salvação do homem. A nosso ver, não trata sobre cessação dos dons de revelação, como a erudição cessacionista tem sugerido.

Não há uma única palavra a respeito dos Quakers. Isto é compreensível, uma vez que para sustentar a tese da oposição de Westminster ao assentamento de novas doutrinas para a salvação é necessário omitir qualquer referência ao misticismo quakerista. Se o problema era apenas Roma, então o a afirmação confessional tem apenas Roma em mente. Todavia, como Letham e outros estudiosos deixam claro, a preocupação dos teólogos de Westminster também era com o misticismo de grupos radicais, como os Familistas[21], os Seekers[22], os Schwenkfeldianos[23] e os Quakers. John V. Fesko, professor de Teologia Histórica e Teologia Sistemática no Westminster Seminary California, em Escondido, afirma que “é um erro pensar que a única ameaça teológica contra a fé reformada percebida na Inglaterra era a Igreja Católica Romana”.[24] De acordo com ele, a Inglaterra do século 17 era caracterizada por um pluralismo religioso que incluía “Arminianos, Anabatistas, Antinomianos, Entusiastas, Erastianos, Familistas, Brownistas, Papistas, Quakers, Socianianos e semelhantes”.[25] Garnet Milne também pontua que o ideal puritano de uma ortodoxia unificada tinha em mente todos esses grupos, que “frequentemente comprometiam o princípio protestante do Sola Scriptura, por apelarem a revelações imediatas do Espírito Santo”.[26] Falando especificamente a respeito dos Quakers, Milne assevera que eles se tornaram os mais ferrenhos oponentes do cessacionismo de Westminster, pois “acreditavam que a ortodoxia reformada cometeu um erro fundamental ao confinar a Palavra de Deus à Escritura”.[27] Milne adiciona algumas informações interessantíssimas a respeito da polêmica entre a teologia de Westminster e os Quakers:

Entretanto, posteriormente os Quakers provaram ser um desafio maior à hegemonia espiritual da ortodoxia reformada na Inglaterra, Escócia e Nova Inglaterra. Os Quakers questionaram a doutrina protestante central da unidade da Palavra e do Espírito quando argumentaram que a CFW negou, de maneira imprópria, a possibilidade de “revelações imediatas”. O próprio George Fox denunciou as reivindicações da Declaração de Savoy e da CFW de que a revelação havia cessado, o que ele havia compreendido como significando que toda revelação imediata extra bíblica fora concluída. Alguns Quakers consideravam que a CFW era apenas inconsistente a este respeito, mas quando se engajaram em debate com presbiterianos confessionais e independentes, eles passaram a crer que este era um erro fundamental. A maneira como a ortodoxia protestante respondeu sugere que os Quakers entenderam corretamente a CFW.[28]

Derek Thomas, numa avaliação semelhante do contexto religioso da Assembleia de Westminster, afirma que ao ler o primeiro parágrafo da Confissão é preciso lembrar que duas questões estão por detrás: “primeiro, a posição de Roma em reclamar a autoridade da Igreja em matéria de fé e vida; segundo, a tendência dos anabatistas de citar novas revelações do Espírito como algo normativo da fé e comportamento cristãos”.[29] A respeito dos anabatistas, Scott Thomas Murphy, em sua tese de PhD, escrita em 1985, afirma que os anabatistas podiam ser divididos em vários grupos: 1. Aqueles que enfatizavam indevidamente o Antigo Testamento; 2. Aqueles que enfatizavam indevidamente o Novo Testamento; 3. Os racionalistas, como Fausto Socino; 4. Os espiritualistas, como Thomas Münzer; e 5. Os evangelicais, representados por Menno Simons. De acordo com Murphy, “foram os espiritualistas, que separavam a Palavra e o Espírito, que mais preocupavam os teólogos de Westminster”.[30] Um dos argumentos repetidos ad nauseam por Cunha ao longo do seu livro é que não há problema em se afirmar a perpetuidade do dom de profecia e o princípio do Sola Scriptura. De acordo com ele, o verdadeiro problema é se apegar a novas revelações em detrimento da Escritura. No entanto, nem mesmo os anabatistas faziam isso de forma absoluta. Sobre isso, Murphy adiciona uma qualificação a esta afirmação sobre separação entre Palavra e Espírito:

Em vez de confiar na autoridade das Escrituras, Thomas Münzer se baseou na palavra interior. Essa palavra interior é a comunicação direta do Espírito com o crente, à parte da Escritura. Münzer usava as Escrituras apenas como uma confirmação de que as suas experiências eram as mesmas dos santos nos tempos bíblicos.[31]

É interessante que a parte destacada expressa o mesmo princípio defendido por Cunha, a saber, que as Escrituras atestam que as alegadas experiências de teólogos representativos da teologia reformada são as mesmas do período bíblico. Vê-se, portanto, que Cunha labora em erro sério quando limita o contexto da cláusula cessacionista à polêmica contra o catolicismo romano. Trata-se de um erro crasso, pois o mesmo norteia toda a sua pesquisa.

Entender o contexto religioso das discussões sobre a revelação especial que tiveram lugar na Assembleia nos permite entender não apenas o significado de “salvação” na CFW, mas também o quê exatamente cessou. A partir de diversos escritos dos delegados presentes na Assembleia é possível chegar à conclusão inequívoca de que a Confissão afirma um cessacionismo de tipo abrangente. O. Palmer Robertson, por exemplo, num artigo a respeito do Espírito Santo na Confissão de Fé de Westminster, parte do documento elaborado pela Assembleia a respeito da forma de governo da igreja de Cristo[32], e afirma que neste documento é afirmada explicitamente a cessação dos ofícios de apóstolo, evangelista e profeta. Sua conclusão é digna de nota: “Parece claro a partir dessa distinção que a Assembleia de Westminster determinou, em seus estágios mais primevos, registrar sua opinião de que os ofícios fundacionais pelos quais a revelação foi trazida à igreja, não mais funcionavam na vida da igreja”.[33] E dada a ligação entre ofícios e dons, Robertson argumenta que a ausência de um tratamento extensivo dos dons do Espírito Santo na Confissão de Westminster é um claro indicativo de que
a Assembleia sentiu ter tratado suficientemente desse assunto em seu Diretório para o Culto Público de Deus e na Forma Presbiteriana de Governo de Igreja, bem como na afirmação do capítulo de abertura da Confissão de Westminster a respeito da cessação dos dons revelacionais.[34]

O cessacionismo da Confissão de Westminster pode ser claramente percebido na maneira como quatro passagens-chave foram abordadas nos escritos dos membros que participaram da Assembleia: Efésios 1.17-18, Hebreus 1.1-2, Atos 2.17-18 e Joel 2.28. É preciso destacar, inclusive, que as duas primeiras passagens aparecem como dicta probantia da cláusula cessacionista. Milne afirma que, “todos os símbolos de Westminster usam as três citações separadas, Ef 1.17, ou 1.18 e a passagem completa de Ef 1.17-19, seis vezes como textos-prova, sempre num contexto que assume que a Palavra e o Espírito funcionam juntos no processo de ‘revelação’”.[35] É imprescindível que se destaque que os puritanos autores da Confissão utilizavam a passagem de Efésios para estabelecer uma distinção entre revelação “imediata” e “mediata”. Murphy define “revelação imediata” como “um ato ocorrendo diretamente sem a intervenção de um agente e à parte de todos os meios ou cooperação humanos”.[36] Baseando-se em escritos de puritanos como Samuel Rutherford, George Gillespie[37], Edward Reynolds, Edmund Calamy, Joseph Caryl e até mesmo William Bridge, Murphy afirma ainda que os divines usaram a palavra “imediata” para se referir a coisas tais como: “A criação do mundo a partir do nada, o efeito da graça na alma, e vozes vindas do céu”.[38] Já a revelação “mediata”, por seu turno, diz respeito à “iluminação através de alguns meios, entendida pela ortodoxia reformada como envolvendo ao menos a agência humana e as Escrituras”.[39] Para a ortodoxia de Westminster, conquanto revelação mediata fosse algo ainda existente, a revelação imediata não mais acontecia.

O puritano Anthony Burgess, por exemplo, um dos delegados presentes na Assembleia, escreveu uma série de sermões a respeito da oração sacerdotal de Jesus Cristo, em João 17. Ao longo desses sermões Burgess aborda a doutrina da Escritura negando qualquer possibilidade de profecia ou revelação imediata. Milne sumaria a exposição de Burgess em seus sermões como segue:

Não obstante outras razões para limitar a fonte da voz de Deus, ele conclui que a voz de Deus é ouvida agora apenas nas Escrituras porque Deus cessou de converter, santificar e transmitir profecia por “revelação imediata”. “Deus, que poderia converter imediatamente, Burgess insiste, “e fazer uma casa para nossos corações, como ele fez aos profetas por uma revelação imediata, levou isso embora”. A vontade de Deus deve ser buscada na Bíblia, visto que “nesta última era ele guia [a igreja] apenas pelas Escrituras”.[40]

O presbiteriano escocês David Dickson (1583-1663), contemporâneo da Assembleia de Westminster e, por isso mesmo, familiarizado com seu contexto religioso bem como com as suas discussões, em seu comentário da Confissão intitulado Praelectiones in Confessionem Fidei, posteriormente vertido para Truth’s Victory Over Error, tratou do parágrafo de abertura do seguinte modo:

Questão 3

Aqueles modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo cessaram?
Sim.
Deste modo, então, não estariam os Entusiastas e os Quakers errados, ao afirmarem que o Senhor não cessou de revelar a sua vontade, como ele o fez na antiguidade?
Sim.
Por quais razões eles devem ser rejeitados?
Porque Deus, que muitas vezes e de muitas maneiras, falou em tempos passados aos pais, por meio dos profetas, nestes últimos nos falou por meio de seu Filho (Hb 1:1-2). O apóstolo chama o tempo do Novo Testamento de últimos dias, porque sob o mesmo período nenhuma alteração deveria ser esperada, senão que todas as coisas estavam completas e deveriam permanecer sem adição ou mudança, como ensinadas e ordenadas por Cristo, até o último dia (veja também Jl 2:28; At 2:27). Os modos e maneiras da antiguidade eram: primeiro, pela inspiração (2 Cr 15:1; Is 59:21; 2 Pe 1:21); segundo, por visões (Nm 12:6); terceiro, por sonhos (Jó 33:14-16; Gn 40:8); quarto, pelo Urim e Tumim (Nm 27:21; 1 Sm 30:7-8); quinto, por sinais (Gn 32:24-32; Êx 12:21); sexto, por voz audível (Êx 20:1; Gn 22:15). Todos findaram com a escrita (Êx 17:14), que é o mais seguro e infalível modo do Senhor revelar a sua vontade ao seu povo.[41]

Conclusão

Há muito ainda a ser dito a respeito da obra Sob os Céus da Escócia. Até aqui foi avaliado apenas o tratamento dispensado à Assembleia de Westminster e sua Confissão. No entanto, há muitas informações que precisam receber a sua devida atenção, a fim de se evidenciar os seus muitos problemas. Acredito, porém, que as maiores dificuldades da obra estejam em associações falaciosas existentes ao longo da obra, cujo propósito nítido é, não apresentar uma proposta de diálogo entre cessacionismo e continuísmo, mas tão somente atacar aquele. Tanto é assim, que Cunha nunca se preocupou em apresentar uma definição do que é o cessacionismo. Ele apenas o menciona e o ataca, comparando-o ao ateísmo e à teologia liberal de Rudolf Bultmann.

Após este pequeno arrazoado, creio que é possível chegarmos à conclusão que, não, a Confissão de Fé de Westminster não é um documento continuísta como propõe Renato Cunha. Fica patente que tal tese aventada na obra Sob os Céus da Escócia é viciada dada a omissão – digamos que não intencional – dos conflitos entre os puritanos e grupos como os Anabatistas e os Quakers. O parágrafo de abertura da Confissão não afirma a cessação apenas de doutrinas concernentes à salvação, em oposição às reivindicações do Catolicismo Romano. A declaração confessional assevera a cessação de toda e qualquer revelação referente à salvação, fé e vida do homem. Afirmar o contrário, como faz Cunha, é laborar em erro. A conclusão de Garnet Milne é extremamente relevante para a conclusão da presente análise. Por isso a transcrevo abaixo:

Uma análise dos escritos dos teólogos de Westminster revela seu universal compromisso com um cessacionismo de um tipo bastante abrangente. Em sua exposição de textos-chave como Efésios 1.17-18, Hebreus 1.1-2 e Joel 2.28-32/Atos 2.17, uma enorme proporção dos teólogos afirma que a possibilidade de revelação posterior cessou, tanto para os propósitos de insights doutrinários como para orientação ética. Repetidamente ele contrasta o papel da Escritura com fenômenos como sonhos e visões como meios de comunicação divina, e argumentam que essas modalidades estão firmemente confinadas ao passado.[42]

A conclusão desta análise não assevera que havia unanimidade entre os teólogos. Já foi mencionado o caso de William Bridge. Também existiam exceções entre aqueles que não participaram da Assembleia, como é o caso do conhecido, amado e controverso Richard Baxter, mais conhecido pelo seu neonomismo. Na segunda parte serão consideradas as alegações de Cunha, no sentido de que Calvino, Knox, Edwards, Gillespie e Rutherford eram continuístas ou, no mínimo, tiveram uma mínima experiência com o dom de profecia.


[1] Brian D. McLaren. A Mensagem Secreta de Jesus: Desvendando a Verdade que Poderia Mudar Tudo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2006. p. 294.

[2] Deve-se salientar que Charles Spurgeon não é elencado na obra em tela. No entanto, é certo que o autor o insere dentro da linha continuísta, o que pode ser aferido em várias das suas postagens do Facebook. <https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=781465661976465&id=744828272306871>.

[3] No caso específico, a nota de rodapé correspondente (nº 13) traz apenas a seguinte informação: “op. cit. p. 30”, sem nenhuma indicação de autoria. O que torna a identificação complicada é o fato de que as duas notas anteriores são, respectivamente: “12 Anote-se que é o mesmo comentário feito por Calvino” e “11 RIBEIRO, Boanerges. O Culto em Corinto e o Nosso Culto. São Paulo: O Semeador, 1992. p. 17-18”. O mais provável é que se trate da obra de William Berends, citada na nota de rodapé nº 10.

[4] A Confissão de Fé de Westminster. I.1. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 15. Ênfase acrescentada.

[5] A obra de Garnet Milne receberá grande atenção nesta crítica, uma vez que, como afirma o próprio Cunha, trata-se de “um brilhante trabalho de levantamento histórico-contextual” (p. 31). Além dele, Kevin DeYoung reputa a obra de Milne como “indubitavelmente, o melhor livro sobre cessacionismo no primeiro século da tradição reformada”. Cf. Kevin DeYoung. “The Puritans, Strange Fire, Cessationism, and the Westminster Confession”. <http://blogs.thegospelcoalition.org/kevindeyoung/2013/10/18/the-puritans-strange-fire-cessationism-and-the-westminster-confession/>. Acessado em 10/12/2015.

[6] Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. Eugene, OR: Wipf & Stock Publishers, 2007. p. 77.

[7] Ibid. pp. 77-78.

[8] Ibid. p. 78.

[9] Ibid. p. 79.

[10] Ibid. p. 80.

[11] A Confissão de Fé de Westminster. XIV.2. p. 115.

[12] Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. p. 81.

[13] Ibid. pp. 82-98.

[14] Ibid. p. 98.

[15] A Confissão de Fé de Westminster. I.6. p. 21. Ênfase acrescentada.

[16] Chad Van Dixhoorn. Confessing the Faith: A Reader’s Guide to the Westminster Confession of Faith. Edinburgh, UK: The Banner of Truth Trust, 2014. p. 17.

[17] Ibid. pp. 6-7.

[18] De acordo com Joel R. Beeke, William Bridge era uma “surpreendente exceção” entre os cessacionistas da Assembleia. Cf. o prefácio de: Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. p. xiii.

[19] Robert Letham. The Westminster Assembly: Reading its Theology in Historical Context. Phillipisburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing, 2009. p. 120.

[20] Ibid. p. 127.

[21] Grupo também conhecido como “Família do Amor”, estabelecido na Europa em cerca de 1540. Este grupo seguia os ensinamentos do espiritualista holandês Henry Nicholas, que tinha como ideal o estabelecimento do perfeito amor sobre a terra.

[22] Designação de vários pequenos grupos surgidos no início do século 17 e que, posteriormente, dariam origem aos Quakers. Os Seekers procuravam por uma nova igreja, crendo que todas as igrejas da época haviam se corrompido. As reuniões dos Seekers eram conduzidas, com frequência, em silêncio, falando apenas quando se sentiam inspirados pelo Espírito Santo.

[23] Seguidores de Kaspar Schwenkfeld von Ossig (1490-1561), um teólogo alemão que abandonou os ideais da Reforma. Schwenkfeld, antecipando uma ênfase dos Quakers, fez uma distinção entre a palavra exterior das Sagradas Escrituras e a palavra espiritual interior falada pelo Espírito Santo.

[24] J. V. Fesko. The Theology of the Westminster Standards. Wheaton, IL: Crossway 2014. p. 54.

[25] Ibid. p. 55.

[26] Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. p. 40.

[27] Ibid. p. 165.

[28] Ibid. p. 167. Ênfase acrescentada.

[29] Derek W. Thomas. A Visão Puritana das Escrituras: Uma Análise do Capítulo de Abertura da Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Os Puritanos, 1998. p. 20.

[30] Scott Thomas Murphy. The Doctrine of Scripture in the Westminster Assembly. Tese de Doutorado (PhD). Madison, NJ: Drew University, 1985. p. 20.

[31] Ibid.

[32] Trata-se do The Form of Presbyterial Church-Government and of the Ordination of Ministers, concluído em 1645, quatro anos antes da conclusão da Confissão.

[33] O. Palmer Robertson. “The Holy Spirit in the Westminster Confession”. In: Ligon Duncan (Ed.). The Westminster Confession into the 21st Century. Vol. 1. Christian Focus Publications, 2003. p. 96.
[34] Ibid. p. 94.

[35] Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. p. 113.

[36] Scott Thomas Murphy. The Doctrine of Scripture in the Westminster Assembly. p. 47.

[37] Tanto os casos de Samuel Rutherford como George Gillespie serão abordados na segunda parte desta crítica. Para o momento, é suficiente dizer que Cunha tem manifestado uma opinião dogmática em relação a uma discussão que está longe de ser resolvida, haja vista que os dois escoceses mencionados fizeram diversas afirmações de caráter ambíguo.
[38] Ibid. pp. 42-47.

[39] Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. p. 114.

[40] Ibid.

[41] David Dickson. Truth’s Victory Over Error: A Commentary on the Westminster Confession of Faith. Edinburgh, UK: The Banner of Truth Trust, 2007. pp. 3-4.

[42] Garnet Howard Milne. The Westminster Confession of Faith and the Cessation of Special Revelation: The Majority Puritan Viewpoint on Whether Extra-Biblical Prophecy is Still Possible. p. 145.