Por Thiago Oliveira
O Ariovaldo Júnior é o tipo
de pessoa que adora polemizar. Recentemente ele publicou a seguinte frase em
seu Facebook: “Falam sobre casamento perfeito, mas não falam que casamento
perfeito não existe. A noiva de Cristo é uma vagabunda. E dá certo”. Pois bem, depois
que disse tal bobagem, muitos se manifestaram favoráveis e muitos outros, contra.
A discussão foi infindável. E como o Ariovaldo é um típico narcisista, ao invés
de botar panos quentes na polêmica, ele alimenta o fogo e solta mais uma: “Sou odiado por dizer a verdade, na luta por
desmistificar conceitos tão simples que os Doutores da Lei fazem questão de
manter bem longe do homem comum”.
Alguns
homens, tais como o Ariovaldo, tentaram “desmistificar conceitos tão simples” e
acabaram presos num emaranhado de pensamentos que desbocou em heresia. Ele que
já tem como ponto negativo a autoria da Bíblia Freestyle, continua usando a
rede social com o objetivo de “causar”. Ariovaldo, vai com calma aí homem!
Tratando da comparação da Igreja como uma prostituta (foi nesse sentido que ele
usou o termo vagabunda), uma análise de alguns textos bíblicos refutará essa
ideia equivocada do Sr. Polêmico.
Vamos começar
por Efésios
5:25-27 que diz:
“Vós, maridos, amai vossas
mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para
a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a
apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante, mas santa e irrepreensível.”
Os termos santificar (hagiazō / ἁγιάζω)
e santo (hagnos / αγιος) trazem em
seu bojo a pureza física, inocência moral e consagração religiosa. Isso se
assemelha a uma prostituta? Muito pelo contrário, né? A Igreja é santa porque
Cristo a santificou, e fez isso por meio de sua morte vicária. Ele desceu do
céu e pagou o dote para casar com a Igreja. O Senhor concomitantemente a declara
justa e a purifica. Aí temos um ato e um processo que não são apenas
escatológicos, isto é, futuros. A purificação é evidenciada pela “lavagem da água, pela palavra”. O
apóstolo se refere ao ritual do batismo. Mas o batismo santifica? Por si só,
não. Aqui o batismo está associado a palavra ministrada pelo Espírito Santo no
coração dos que creem. Os que receberam de bom grado a palavra de Deus foram
batizados. É assim que ocorre a purificação.
Um outro texto é 1 Coríntios
6:20 que fala o seguinte:
“Porque fostes comprados por
bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os
quais pertencem a Deus.”
O assunto em pauta aqui é
fornicação. Como Cristo comprou a sua Igreja, os vossos membros são os membros
do próprio Cristo. Este é o argumento que Paulo utiliza para mostrar que não é
lícito um cristão envolver-se com uma prostituta. Fazer isso seria o mesmo que
levar Jesus para deitar-se com uma meretriz (o que é absurdo!). Sendo a Igreja
o corpo de Cristo, chamá-la de vagabunda, como fez o Ariovaldo Júnior, é
insultar o Senhor da Igreja. Conseguem compreender a gravidade da situação? É
meus irmãos, “o tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus
pensamentos” (Pv 18:2). Postar coisas na rede social no intento de angariar
notoriedade é algo que pode ser muito prejudicial, ainda mais quando o texto
sagrado é escarnecido. Discernimento é preciso, e hoje em dia, é coisa rara.
Todavia, precisamos ser
honestos. A Igreja que conhecemos tem problemas? Sim, óbvio que tem e não
devemos tapar o sol com a peneira. Composta por indivíduos que ainda pecam
eventualmente, há respingos da pecaminosidade individual na vida da congregação.
Só que daí a taxá-la de vagabunda/prostituta é algo totalmente diferente. A
prostituta é alguém que deliberadamente vive em pecado. A sujeira moral é a sua
rotina. Uma pessoa que se prostitui está num estado de trevas, em rebelião com
Deus. Assim estão os crentes? A resposta é um sonoro “não!” Pecamos e não
podemos ser farisaicos ao ponto de negarmos isso, no entanto, o pecado na
caminhada cristã é um acidente de percurso eventual (não rotineiro) que gera,
após sermos confrontados pela palavra, arrependimento e abandono. Eis a
diferença abismal. O Cristianismo é mudança de vida, mudança de status quo, se antes nos prostituíamos, após o resgate de Cristo a nosso favor, não podemos mais sermos taxados dessa maneira. Estamos limpos para a glória de Deus.
O livro de Apocalipse
ressalta a diferença entre a Grande Prostituta e a Noiva do Cordeiro (capítulos
17 e 19). São figuras antagônicas e não podemos confundi-las. A primeira será
derrotada por Cristo (Ap 17:14), desolada e nua queimará no fogo (Ap 17.16). Já
a segunda, é bem-aventurada por participar das bodas do Cordeiro. Ela já está
pronta, vestida e adornada para o seu Senhor (Ap 19: 7-9). Agora como se desfaz
esse nó Ariovaldo? Apocalipse apresenta a “vagabunda”, só que esta não é a
Igreja. Cabe agora a “difícil decisão”: Ficar com a
afirmação bíblica ou com a afirmação feicibuquiana do Sr. Freestyle? Uma está
alicerçada na rocha e a outra na areia. A importância do fundamento é a de que
se ele estiver numa base sólida, o edifício está seguro, caso contrário, tudo
desabará sobre nossas cabeças.
Mas guardo para o final a
história de Oséias e Gômer. Muitos vão querer respaldar a frase do Ariovaldo
Júnior com o enredo deste livro, ou até mesmo, com a fala de outros profetas
que compararam Israel a uma prostituta (Is 1:21 e Jr 3:3). Então vamos lá:
1- Embora
Israel seja a congregação de Deus no contexto veterotestamentário, não podemos
aplicar estas palavras a Igreja neotestamentária. A primeira congregação não
havia sido comprada por Cristo, por isso mesmo o rejeitou. Ela teve o reino tirado de
suas mãos e dado a outra nação (celestial e composta de todas as etnias) que
mostra os frutos do Espírito (Mt 21:43).
2- Deus
abandonou propositadamente a Nação de Israel, Jesus disse que a casa dos
israelitas ficaria deserta (Mt 23:38). E Deus destruiu o templo e o sacerdócio,
deixando visível que o Israel do Antigo Testamento não era o povo exclusivo de
Deus, parte dele foi inserido na Igreja Universal, composta por gente de várias
partes do mundo (Ap 5.9). As ovelhas remanescentes do Israel étnico formam agora um único aprisco com as
outras ovelhas, ambas tendo o mesmo pastor, a saber: Cristo Jesus (Jo 10:16).
3- Mesmo no Antigo Testamento, sabemos que “nem todos os descendentes de Israel
são Israel” (Rm 9:6). Nunca que a totalidade (pessoa por pessoa) representou o verdadeiro povo
de Deus. Apenas uma parcela dos israelitas estava salva. Apenas os da linhagem
da promessa e que possuíam a fé messiânica de Abraão (Rm 9:8). Aos gálatas,
Paulo dirá: “se vós sois de Cristo, sois descendência de Abraão.” (Gl 3.29).
Diante do que foi exposto,
endosso que comparar a Igreja com uma prostituta, e querer citar o contexto do
Antigo Testamento para tentar comprovar esta profanação contra o Corpo de
Cristo é não entender, à luz das Escrituras, quem somos no Reino de Deus. Ao Ariovaldo Júnior e seus seguidores digo que ainda dá tempo de voltar atrás e assumir o
erro. E que lembremos todos de que quando falamos de ortodoxia, não é algo que compete a mim e a você, é algo que compete a Deus, pois Ele é o autor do texto sagrado.