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29 de jun. de 2016

O Espírito Santo e as Missões

Por Ronaldo Lidório

Neste artigo pensaremos juntos sobre a relação do Espírito Santo com a obra missionária, a clara ligação entre Sua manifestação em Atos 2 e Atos 13 e a promoção da evangelização aos de perto e aos de longe.

Se olharmos o panorama mundial da Igreja evangélica perceberemos que o crescimento evangélico foi 1.5 % maior que o Islã na ultima década. O Evangelho já alcançou 22.000 povos nestes últimos 2 milênios. Temos a Bíblia traduzida hoje em 2.212 idiomas. As grandes nações que resistiam o Evangelho estão sendo fortemente atingidas pela Palavra, como é o caso da Índia e China, que em breve deverão hospedar a maior Igreja nacional sobre a terra. Um movimento missionário apoiado pela Dawn Ministry plantou mais de 10.000 igrejas-lares no Norte da Índia na última década, em uma das áreas tradicionalmente mais fechadas para a evangelização. No Brasil menos evangelizado como o sertão nordestino, o norte ribeirinho e indígena, e o sul católico e espírita, vemos grandes mudanças na última década, com nascimento de novas igrejas, crescimento da liderança local e um contínuo despertar pela evangelização. No Brasil urbano a Igreja cresceu 267% nos últimos 10 anos. Apesar dos diversos problemas relativos ao crescimento e algumas questões de sincretismo que são preocupantes no panorama geral, vemos que o Evangelho tem entrado nos condomínios de luxo de São Paulo e nos vilarejos mais distantes do sertão, colocando a Palavra frente a frente com aquele que jamais a ouvira antes. Há um forte e crescente processo de evangelização no Brasil.

Duas perguntas poderiam surgir perante este quadro: qual a relação entre a expansão do Evangelho e a pessoa do Espírito Santo? E quais os critérios para uma Igreja, cheia do Espírito, envolver-se com a expansão do Evangelho do Reino?

Em uma macro-visão creio que esta relação poderia ser observada em três áreas distintas, porém, inter-relacionadas: a essência da pessoa do Espírito e Sua função na Igreja de Cristo; a essência da pessoa do Espírito e Sua função na conversão dos perdidos; e por fim a clara ligação entre os avivamentos históricos e o avanço missionário.

A essência da pessoa do Espírito e sua função na Igreja de Cristo

Em Lucas 24 Jesus promete enviar-nos um consolador, que é o Espírito Santo, e que viria sobre a Igreja em Atos 2 de forma mais permanente. Ali a Igreja seria revestida de poder. O termo grego utilizado para 'consolador' é 'parakletos' e literalmente significa 'estar ao lado'. É um termo composto por duas partículas: a preposição 'para' - ao lado de - e 'kletos' do verbo 'kaleo' que significa chamar. Portanto vemos aqui a pessoa do Espírito, cumprimento da promessa, habitando a Igreja, estando ao seu lado para o propósito de Deus.

Segundo John Knox a essência da função do Espírito Santo é estar ao lado da Igreja de Cristo, fazê-la possuir a Face de Cristo e espalhar o Nome de Cristo. Nesta percepção, O Espírito Santo trabalha para fazer a Igreja mais parecida com seu Senhor e fazer o nome do Senhor da Igreja conhecido na terra.

A essência da pessoa do Espírito e sua função na conversão dos perdidos

Cremos que é o Espírito Santo quem convence o homem do seu pecado.

O homem natural sabe que é pecador porém apenas com a intervenção do Espírito ele passa a se sentir perdido. Há uma clara, e funcional, diferença entre sentir-se pecador e sentir-se perdido. Nem todo homem convicto de seu pecado possui consciência de que está perdido, portanto, necessitado de redenção. Se o Espírito Santo não convencer o homem do pecado e do juízo, nossa exposição da verdade de Cristo não passará de mera apologia humana.

A Igreja plantada mais rapidamente em todo o Novo Testamento foi plantada por Paulo em Tessalônica. Ali o apóstolo pregava a Palavra aos sábados nas sinagogas e durante a semana na praça e o fez durante 3 semanas, nascendo ali uma Igreja. Em 1º Tess. 1:5 Paulo nos diz que o nosso evangelho não chegou até vos tão somente em palavra (logia, palavra humana) mas sobretudo em poder (dinamis, poder de Deus), no Espírito Santo e em plena convicção (pleroforia, convicção de que lidamos com a verdade).

O Espírito Santo é destacado aqui como um dos três elementos que propiciou o plantio da igreja em Tessalônica. Sua função na conversão dos perdidos, em conduzir o homem à convicção de que é pecador e está perdido, sem Deus, em despertar neste homem a sede pelo Evangelho e atraí-lo a Jesus é clara. Sem a ação do Espírito Santo a evangelização não passaria de apologia humana, de explicações espirituais, de palavras lançadas ao vento, sem público, sem conversões, sem transformação.

Os avivamentos históricos e os movimentos missionários

Se observarmos os ciclos de avivamentos perceberemos que a proclamação da Palavra torna-se uma consequência natural desta ação do Espírito. Vejamos.

Fruto de um avivamento, a partir de 1730 John Wesley durante 50 anos pregou cerca de 3 sermões por dia, a maior parte ao ar livre, tendo percorrido 175.000 km a cavalo pregando 40.000 sermões ao longo de sua vida.

Fruto de um avivamento, em 1727 a Igreja moraviana passa a enviar missionários para todo o mundo conhecido da época, chegando ao longo de 100 anos enviar mais de 3.600 missionários para diversos países.

Fruto de um avivamento, em 1784, após ler a biografia do missionário David Brainard, o estudante Wiliam Carey foi chamado por Deus para alcançar os Indianos. Após uma vida de trabalho conseguiu traduzir a Palavra de Deus para mais de 20 línguas locais e sua influência permanece ainda hoje.

Fruto de um avivamento, em 1806, Adoniram Judson tem uma forte experiência com Deus e se propõe a servir a Cristo, indo depois para a Birmânia, onde é encarcerado e perseguido durante décadas, mas deixa aquele país com 300 igrejas plantadas e mais de 70 pastores. Hoje, Myamar, a antiga Birmânia, possui mais de 2 milhões de cristãos.

Fruto de um avivamento, em 1882 Moody pregou na Universidade de Cambridge e 7 homens se dispuseram ao Senhor para a obra missionária e impactaram o mundo da época. Foram chamados "os 7 de Cambridge", que incluía Charles Studd (sua biografia publicada no Brasil chama-se "O homem que obedecia"). Foi para a África, percorreu 17 países e pregou a mais de meio milhão de pessoas. Fundou A Missão de Evangelização Mundial (WEC International) que conta hoje com mais de 2.000 missionários no mundo.

Fruto de um avivamento, em 1855 Deus falou ao coração de um jovem franzino e não muito saudável para se dispor ao trabalho transcultural em um país idólatra e selvagem. Vários irmãos de sua igreja tentavam dissuadi-lo dizendo: "para que ir tão longe se aqui na América do Norte há tanto o que fazer?" Ele preferiu ouvir a Deus e foi. Seu nome é Simonton (1833-1867) que veio ao nosso país e fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil.

Fruto de um avivamento, em 1950, no Wheaton College cerca de 500 jovens foram chamados para a obra missionária ao redor do mundo. E obedeceram. Dentre eles estava Jim Elliot que foi morto tentando alcançar a tribo Auca na Amazônia em 1956. A partir de seu martírio houve um grande avanço missionário em todo o mundo indígena, sobretudo no Equador. Outro que ali também se dispôes para a obra missionária foi o Dr Russel Shedd que é tremendamente usado por Deus em nosso país até o dia de hoje.

Tendo em mente, nesta macroestrutura, os três níveis de relação entre o Espírito Santo e as Missões, podemos observar alguns valores bíblicos sobre este tema, revelados em Atos 2, durante o Pentecoste.

O Pentecoste e as Missões

O Espírito Santo é a pessoa central no capítulo 2 de Atos e Lucas é justamente o autor sinóptico que mais fala sobre Ele utilizando expressões como "ungido" pelo Espírito, ou "poder" do Espírito ou ainda "dirigido" pelo Espírito (Lc 3:21; 4:1, 14, 18) demonstrado que na teologia Lucana o Espírito Santo era realmente o 'Parakletos' que viria.

O Pentecoste, dentre todas as festas judaicas, era, segundo Julius, o evento mais frequentado e acontecia sob clima de reencontros já que judeus que moravam em terras distantes empreendiam nesta época do ano longas jornadas para ali estar no quinquagésimo dia após a páscoa.

Chegamos ao momento do Pentecoste. Fenômenos estranhos aos de fora e incomuns à Igreja aconteceram neste momento e a Palavra os resume falando sobre um som como "vento impetuoso" (no grego 'echos', usado para o estrondo do mar); "línguas como de fogo" que pousavam sobre cada um, "ficaram cheios do Espírito Santo" e começaram a falar "em outras línguas". Lucas fecha a descrição do cenário com a expressão no verso 4: "segundo o Espírito lhes concedia".

Outras línguas. O texto no versículo 4 utiliza o termos eterais glossais para afirmar que eles falaram em outras glosse, línguas, expressão usada para línguas humanas, idiomas. Mas, a fim de não deixar dúvidas, no versículo 8, o texto nos diz que cada um ouviu em sua "própria língua" usando aqui o termo dialekto que se refere aos dialetos ali presentes. As línguas faladas, e ouvidas, portanto eram línguas humanas e não línguas angelicais, neste texto em particular, no Pentecoste. Mas onde ocorreu o milagre? Naquele que falou ou nos ouvidos dos que ouviram? É possivel que tenha sido nos ouvidos dos que ouviram pois a mensagem, pregada, foi compreendida idia dialekto - no próprio dialeto de cada um. O certo, porém, é que Deus atuou sobrenaturalmente a fim de que a mensagem do Cristo vivo fosse compreendida, clara e nitidamente, por todos os ouvintes.

Em meio a este momento atordoante (vento, fogo, som, línguas) o improvável acontece. Aquilo que seria apenas uma festa espiritual interna para 120 pessoas chega até as ruas. O caráter missiológico do evangelho é exposto. O Senhor com certeza já queria demonstrar desde os primeiros minutos da chegada definitiva do Espírito sobre a Igreja que este poder ? dinamis de Deus - não havia sido derramado apenas para um culto cristão restrito, a alegria íntima dos salvos ou confirmação da fé dos mártires.

O plano de Deus incluía o mundo de perto e de longe em todas as gerações vindouras e nada melhor do que aquele momento do Pentecoste quando 14 nações, ali presentes e, no meio desta balbúrdia da manifestação de Deus, cada uma - miraculosamente - passou a ouvir o Evangelho em sua própria língua.

Era o Espírito Santo mostrando já na sua chegada para o que viria: conduzir a Igreja a fazer Cristo conhecido na terra. Em um só momento Deus fez cumprir não apenas o "recebereis poder" mas também o "sereis minhas testemunhas". A Igreja revestida nasceu com uma missão: testemunhar de Jesus.

Daí muitos se convertem e a Igreja passa de 120 crentes para 3.000, e depois 5.000. Não sabemos o resultado daqueles representantes de 14 povos voltando para suas terras com o Evangelho vivo e claro, em sua própria língua, mas podemos imaginar o quanto o Evangelho se espalhou pelo mundo a partir deste episódio. Certamente o primeiro grande movimento de impacto transcultural da Igreja revestida.

No verso 37 lemos que, após o sermão de Pedro, em que anuncia Cristo, "ouvindo eles estas coisas, compugiu-se-lhes o coração" e o termo usado aqui para compungir vem de katanusso, usado para uma "forte ferroada" ou ainda uma dor profunda que faz a alma chorar". A Palavra afirma que "naquele dia foram acrescentadas quase três mil almas". O Espírito Santo usando o cenário do Pentecoste para alcançar homens de perto e de longe.

Podemos retirar daqui algumas conclusões bem claras. Uma delas é que a presença do Espírito Santo leva a mensagem para as ruas, para fora do salão e alcança apenas pelos quais o sangue de Cristo foi derramado. Desta forma é questionável a maturidade espiritual de qualquer comunidade cristã que se contente tão somente em contemplar a presença do Senhor. A presença do Espírito, de forma genuína, incomoda a Igreja a sair de seus templos e bancos. A Não se contentar tão somente com uma experiência cúltica aos domingos. A procurar, com testemunho Santo e uso da Palavra de Deus, fazer Cristo conhecido aos que estão ao seu redor.

Havia naquele lugar, ouvindo a Palavra de Deus através de uma Igreja revestida de Poder pelo Espírito Santo, homens de várias nações distantes, judaizantes, além de judeus de perto, que moravam do outro lado da rua. De terras distantes, o texto, Atos 2: 9 a 11, registra que havia "nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes-ouvímo-los em nossas línguas, falar das grandezas de Deus". Uma Igreja revestida do Espírito deve abrir seus olhos também para os que estão longe, além-barreiras, além-fronteiras, nos lugares improváveis, onde Cristo gostaria que fôssemos.

Que efeitos objetivos na construção do caráter da Igreja produziu a presença marcante e transformadora do Espírito?

A ação do Espirito Santo não produz uma Igreja enclausurada

Esta Igreja cheia do Espírito Santo passa a crescer onde está e em Atos 8 o Senhor a dispersa por todos os cantos da terra. E diz a Palavra que, "os que eram dispersos iam por toda parte pregando a Palavra". Vicedon nos ensina que uma Igreja cheia do Espírito é uma igreja missionária, proclamadora do Evangelho, conduzida para as ruas.

A ação do Espírito Santo não produz uma Igreja segmentada

Após a ação do Espírito sobre os 120, depois 3.000, depois 5.000, não houve segmentação, divisão, grupinhos na comunidade. Certamente eles eram diferentes. Alguns preferiam adorar a Deus no templo, outros de casa em casa. Alguns mais formais, judeus e judaizantes, outros bem informais, gentios. Alguns haviam caminhado com Jesus. Outros não o conheceram tão de perto. Mas esta Igreja possuía um só coração e alma, como resultado direto do Espírito Santo. Competições, segmentações, grupinhos, portanto, são uma clara demonstração de carnalidade e necessidade de busca de quebrantamento e entrega a ação do Espírito na vida da Igreja.

A ação do Espírito Santo não produz uma Igreja autocentrada

Certamente uma Igreja que havia experimentado o poder de Deus, de forma tão próxima e visível, seria impactada pelo sobrenatural. Porém, quando a ação sobrenatural é conduzida pelo Espírito Santo a única pessoa que se destaca é Jesus, a única pessoa exaltada é Jesus, a única que aparece com louvores é Jesus. Esta Igreja que experimentou o Espírito no Pentecoste passa, de forma paradoxal, a falar menos de sua própria experiência e mais da pessoa de Cristo. O egocentrismo eclesiástico não é compatível com as marcas do Espírito.

Creio, assim, que nossa herança provinda do Pentecoste precisa nos levar a sermos uma Igreja nas ruas (não enclausurada), uma Igreja Cristocêntrica com amor e tolerância entre os irmãos (não segmentada ou partidária), uma Igreja cuja bandeira é Cristo, não ela mesma (não egocêntrica), e por fim uma Igreja proclamadora, que fala de Cristo perto e longe. Que as marcas do Pentecostes continuem a se manifestar entre nós.

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Fonte: guiame.com.br

23 de abr. de 2015

Missões: uma tarefa inacabada

Por Thomas Magnum

Texto Bíblico: Lucas 15.1-7

Introdução

A graça de Deus é um assunto central nas Escrituras, o amor do Deus eterno pelo seu povo é profundamente impactante e transformador, sua eterna alegria na salvação dos seus eleitos é demonstrada de forma belíssima nessa passagem do Evangelho de Lucas. Examinaremos a estrutura das parábolas e veremos como Deus manifesta sua graça a pecadores e os princípios missionais contido no texto a respeito da Missio Dei. 

Deus é a fonte e a finalidade da obra missionária, o Evangelho de Deus veio a nós por sua maravilhosa graça por manifestação de sua vontade redentora. O Deus triúno salva pecadores e toda obra salvífica realizada através do Filho de Deus é satisfatória, suficiente e eternamente soberana no triunfo da cruz do Redentor.

18 de dez. de 2014

Compartilhando o evangelho de forma simples

Por Leon Brown

Com quantos não cristãos você conversa face a face regularmente, fora do horário de expediente? Com quantos deles você compartilha o evangelho? Pela minha experiência, parece que muitos dos círculos presbiterianos e reformados não possuem conhecidos fora da igreja. Infelizmente, isso afeta negativamente a forma com que as pessoas compartilham o evangelho. Antes que eu me aprofunde, entretanto, você deve estar pensando como eu devo saber que tantos cristãos em nossos círculos não possuem um grande número de conhecidos e/ou amigos descrentes com quem eles conversem e com quem eles gastem tempo regularmente.  Não digo que com todo mundo seja assim, mas perguntei para muitas pessoas como e com quem elas gastam tempo. Na grande maioria das vezes, fora das atividades do dia a dia (por exemplo, trabalho e tempo familiar), os cristãos com quem conversei ou estão nas atividades da igreja ou estão passando o tempo com outros cristãos. Em outras palavras, eles não passam muito tempo com descrentes.

Eu, por exemplo, sou extremamente agradecido por irmãos e irmãs em Cristo passarem o tempo juntos. Eu repetidamente enfatizo aos santos de nossa igreja que eles precisam abrir seus lares uns para os outros para ficarem juntos. Isso traz várias oportunidades para nos conhecermos melhor, partirmos o pão e falarmos sobre o Deus triúno. Se, no entanto, as únicas pessoas com quem você gasta seu tempo e com quem você fala sobre Deus são cristãos, isso pode afetar negativamente sua habilidade de partilhar o evangelho de forma simples.

Há alguns anos, eu levei alguns estudantes do Westminster Seminary California (onde estudei) à universidade local. A intenção era compartilhar o evangelho, convidar estudantes universitários à igreja e/ou às nossas casas, e os conhecermos. Em diversas ocasiões, os seminaristas ficaram chocados com o quão dispostos os estudantes universitários estavam para conversar sobre Cristianismo. Isso era uma boa notícia. A má notícia é que alguns seminaristas não sabiam como falar de Jesus sem usar as palavras justificação, imputação da justiça, consumação, reino de Deus ou outros clichês cristãos como “cobertos pelo sangue”. Na verdade, alguns estudantes admitiram que não conseguiam compartilhar o evangelho de forma simples porque eles tinham se imergido no linguajar seminarista/bíblico/teológico.

Estou certo de que palavras como justificação e consumação são palavras que aparentam ser fáceis de serem evitadas, mas o que dizer sobre outras palavras de nosso vocabulário que nós usamos facilmente, mas que, talvez, precisem ser explicadas? Palavras como Deus, julgamento, pecado, evangelho e justiça também pedem explicação. O que é pecado? Quem determinou sua definição? Pecado contra quem? Deus? Que Deus? Talvez houve um tempo em que essas palavras não precisassem de definição ou de ilustração mas, hoje, precisam. Ir até alguém, portanto, no campus da universidade ou em qualquer outro lugar (por exemplo, durante uma conversa com um vizinho) e dizer “você já ouviu sobre o evangelho?” ou algo derivado disso não é a forma mais efetiva de se começar uma conversa sobre o Senhor. O que é o evangelho? Muitos, talvez a maioria, dos descrentes não usam essa linguagem e, a não ser que eles tenham tido uma educação religiosa, a palavra “evangelho” pode não significar nada para eles.

Se você já fala do evangelho com descrentes por algum tempo, provavelmente você já se achou nessa situação de ter de explicar tudo que esteja relacionado com o evangelho. Nossa cultura, ao menos em minha experiência, exige isso. Se você não está ao menos parcialmente imerso na cultura, particularmente no que diz respeito a ter amigos não crentes, você usará, sem a explicar, a linguagem da Bíblia para falar do evangelho e, assim, errará o alvo.

A linguagem bíblica e teológica que nós utilizamos com nossos amigos cristãos é boa mas, por favor, considere mudar sua linguagem e explicar o que você quer dizer quando fala do evangelho com descrentes. Se não o fizer, provavelmente estará falando em línguas estranhas com eles (1 Cor. 14.20-23).
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Fonte: Reforma 21

25 de out. de 2014

A Reforma e a Missão

Por Ronaldo Lidório

Após participar de um encontro de igrejas no nordeste da França tive a oportunidade de dar uma palavra também aos adolescentes de uma escola cristã. Na entrada da escola a réplica de um mapa de 1573 chamou a minha atenção. Era o mapa do império francês do fim do século 16 com centenas e centenas de marcas, em forma de uma cruz, espalhadas por toda a sua extensão. O diretor da escola se aproximou explicando que as marcas indicavam a localização de cada escola cristã na França da época, cerca de duas mil! Com voz melancólica completou que “hoje não passam de vinte”. A forte presença de escolas cristãs era um resultado direto da Reforma Protestante sob a influência de Lutero, Calvino, Zwínglio, Farel e Knox que defendiam a pregação da Palavra, uma escola cristã em cada igreja cristã e um culto centrado em Cristo e não na Igreja.

A Reforma Protestante - desencadeada com as 95 teses de Lutero divulgadas em 31 de outubro de 1517 – foi, sobretudo, eclesiástica em um momento que todos os olhares se voltavam para a reestruturação daquilo que a Igreja cria e vivia. Renasceram assim os dogmas evangélicos.

A Sola Scriptura defendia uma Igreja centrada nas Escrituras, Palavra de Deus; a Sola Gratia reconhecia a salvação e vida cristã fundamentadas na Graça do Senhor e não nas obras humanas; a Sola Fide evocava a fé e o compromisso de fidelidade com o Senhor Jesus; a Solus Christus anunciava que o próprio Cristo estava construindo Sua Igreja na terra sendo seu único Senhor e a Soli Deo Gloria enfatizava que a finalidade maior da Igreja era glorificar a Deus.

A missão da Igreja, sua Vox Clamantis, não fez parte dos temas defendidos e pregados na Reforma Protestante de forma direta. Isso por um motivo óbvio: os reformadores possuíam em suas mãos o grande desafio de reconduzir a Igreja à Palavra de Deus e, assim, todos os escritos e esforços foram revestidos por uma forte convicção eclesiológica e sem preocupação imediata com a missiologia. Isso não dilui, entretanto, a profunda ligação entre a reforma e a missão como veremos a seguir.

A Reforma e as Escrituras na língua do povo

A Reforma levou a Igreja a crer que o curso de sua vida e razão de existir deveriam ser conduzidos pela Palavra de Deus, submetendo o próprio sacerdócio a esse crivo bíblico. Foi justamente essa ênfase escriturística que despertou Lutero para a tradução da Palavra na língua do povo e inspirou posteriormente centenas de traduções populares em diversos idiomas, fomentando movimentos como a WycliffeBibleTranslators com a visão da tradução das Escrituras para todas as línguas entre todos os povos da terra.

Hoje contamos com a Palavra do Senhor traduzida para mais de duas mil línguas vivas. João Calvino enfatizava que “... onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada e ouvida em toda a sua pureza... não há dúvida de que existe uma igreja de Deus”. O grande esforço missionário para a tradução bíblica resulta diretamente deste conceito resgatado na Reforma Protestante.

A Reforma e o culto participativo

A Reforma reavivou o culto em que todos os salvos, e não apenas o sacerdote, podem louvar e buscar a Deus. E Lutero, como uma de suas primeiras atitudes, colocou em linguagem comum os hinos entoados nos cultos. Esta convicção de que é possível ao homem comum louvar a Deus incorporou na Igreja pós-reforma o pensamento multiétnico através do qual “o desejo de levar o culto a todos os homens”, como disse Zuínglio, não demorou a ressoar na Igreja, culminando com o envio de missionários para o Ceilão pela igreja Reformada holandesa no século 17. Isso, então, disparou um progressivo envio missionário e expansão da fé Cristã nos séculos que viriam.

Um culto vivo ao Deus vivo foi um dos pressupostos reformados que induziu a obra missionária a levar esse culto a todos os homens transpondo barreiras linguísticas, culturais e geográficas.

A Reforma e a expansão da fé cristã

A Reforma destacou a Glória de Deus como motivo de existência da Igreja e isso definiu o curso de todo o movimento missionário pós-reforma no qual o estandarte de Cristo, e não da Igreja, era levado com a Palavra proclamada entre outros povos. Os morávios já testificavam sobre isto, no século 18, quando o conde Zinzendorf, ao ser questionado sobre seu real motivo para tão expressivo e sacrificial movimento missionário, respondeu: “estamos indo buscar para o Cordeiro o galardão do Seu sacrifício”. John Knox, na segunda metade do século 16, escreveu que, como resultado da Reforma, o Evangelho era exposto em toda parte, perto e longe. O centro das atenções, portanto, era Cristo e nascia ali um modelo cristocêntrico de pregação do Evangelho que marcaria o curso da história missionária nos séculos posteriores.

A Reforma Protestante passou a Igreja pelo crivo da Palavra e isto revelou a nossa identidade bíblica segundo o coração de Deus. Seguindo o esboço da eclesiologia reformada, poderemos concluir que somos uma comunidade chamada e salva pelo Senhor e com uma finalidade na terra. Zwínglio, logo após manifestar sua intenção de passar a pregar apenas sermões expositivos, em janeiro de 1519 afirmou em sua primeira prédica que “a salvação põe sobre nós a responsabilidade de obediência”. Não era suficiente apenas ouvir e compreender. Era preciso obedecer e seguir.

A Reforma e a motivação para o serviço e a missão

A Reforma também destacou o assunto do nosso propósito de vida e elucidou que a finalidade maior da nossa existência não é servir à Igreja ou a nós mesmos. A exposição de Calvino da carta aos Romanos, com especial destaque no último capítulo, deixa bem clara a evidência bíblica e convicção reformada de que vivemos e trabalhamos para a glória de Deus. A obra missionária, assim, passou a ser realizada não para expandir uma instituição, uma ideia ou um clero, mas para glorificar ao Supremo Criador e esta foi uma das grandes contribuições da Reforma para a missiologia protestante e para as ações missionárias.

Em Romanos16, versos 25 a 27, lemos: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu Evangelho” (fala de Deus), “conforme a revelação do mistério” (o “mistério” é o Messias prometido a todos os povos), "e foi dado a conhecer por meio das Escrituras Proféticas" (aponta para o meio de revelação), "segundo o mandamento do Deus eterno" (aponta para o desejo fomentador da nossa salvação), "para a obediência por fé"(aponta para o meio de salvação), "entre todas as nações” (esta é a extensão do plano salvífico de Deus).

Que lindo texto! Nele, Paulo resume a teologia da missão e expõe o propósito de Deus em resgatar pessoas de perto e de longe, em Cristo Jesus.

Mas qual o motivo maior para esse plano divino que visa a redenção de todos os povos? Ele completa no verso 27: “Ao Deus único e sábio seja dada glória ...”. É a glória de Deus! E esse é também o maior e mais importante motivo para nos envolvermos com o propósito de fazer Jesus conhecido até a última fronteira do país mais distante, ou da família na casa vizinha.

Martinho Lutero, em um sermão expositivo em 1513, baseado no Salmo 91, afirmou que “a glória de Deus precede a glória da igreja”. É momento de renovar nosso compromisso com as Escrituras, reconhecer que existimos como Igreja pela graça de Deus, orar ardentemente por fidelidade de vidas e entender que o próprio Jesus está construindo a Sua igreja na terra.

A Reforma e a busca por um coração pronto e sincero

O símbolo de Calvino passou a ser um coração seguro por uma mão e apresentado bem alto. Ao redor, escrito em latim, se lia Cor Meum Tibi Offero Domine Prompte et Sincere – “meu coração a ti ofereço Senhor, pronto e sincero”. Calvino, usado por Deus em sua geração e tantas outras entendia que, além de todo o conhecimento teológico e humano, havia a grave necessidade de um coração quebrantado e pronto.

John Knox, na busca por um coração aquecido e avivado no Senhor Jesus proclamava que a ponte entre o conhecimento e a transformação era o quebrantamento. Dizia em outras palavras que, sem um coração quebrantado, nenhum conhecimento teológico ou humano produziria uma vida transformada.

Concluo citando uma vez mais as palavras do reformador Lutero no livro GlorytoGlory em que ele nos ensina a dar passos e nos mostra que nossa vida em Cristo, como também a nossa missão na terra, são uma caminhada.

“Esta vida, portanto, não é justiça, mas crescimento em justiça. Não é saúde, mas cura. Não é ser, mas se tornar. Não é descansar, mas exercitar. Ainda não somos o que seremos, mas estamos crescendo nesta direção. O processo ainda não está terminado, mas vai prosseguindo. Não é o final, mas é a estrada. Todas as coisas ainda não brilham em glória, mas todas as coisas vão sendo purificadas”.

Que o Senhor nos quebrante, converta, abençoe e use para a Sua glória.
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Fonte: Revista Ultimato 

19 de set. de 2014

A Igreja e a evangelização no ciberespaço


Por Thomas Magnum


O Ciberespaço principalmente no que se refere as redes sociais, e com ênfase no facebook, tem sido uma poderosa plataforma para a difusão da informação. Nenhuma empresa que se prese hoje, pode tratar de assuntos relacionados a marketing digital se não estiver em sua pauta a gestão de sua página no facebook e das mídias sociais.

Desde a explosão das redes e devemos considerar como ponto de situação geográfica o Orkut, podemos notoriamente visualizar um considerável crescimento de conteúdo evangélico. A questão é de grande importância sob um ponto de vista científico social. A integração e participação na opinião pública por parte dos evangélicos aumentou consideravelmente. Sob esse prisma a presença evangélica na rede vem traçando novos caminhos e projeções para a chamada mídia cristã e socialização das opiniões dos evangélicos no Brasil. 

Com a explosão das páginas, perfis, canais, vlogs, blogs, sites, dentre tantos recursos virtuais para a propagação de informação e conteúdo, podemos contabilizar ainda alguns fatores interessantes. Num contexto de vinte anos, pentecostais eram incentivados por seus líderes a não possuírem aparelhos de Televisão, mais a frente, não possuírem nem aparelho celular. Há pouco tempo atrás um pregador pentecostal clássico utilizar um tablet para pregar num domingo a noite seria considerado pecado de vaidade e amor ao mundo, hoje a realidade é outra. Está se tornando cada dia mais comum os cristãos nem andarem mais com Bíblias convencionais, mas Bíblias digitais. Nos cultos das mais variadas denominações evangélicas a utilização de recursos digitais é quase que obrigatório, em vez dos antigos hinários impressos, agora tudo é projetado numa tela, inclusive os textos bíblicos para leitura.

Diante desse contexto que estamos inseridos, meu objetivo não é traçar críticas aos meios usuais que as igrejas tem feito da tecnologia, mas o que precisamos refletir é a eficácia de tais ferramentas. Por exemplo, é muito comum e saudável igrejas terem seu portal na internet, com isso além do trabalho com a comunidade local a igreja pode prestar outros serviços que não caberiam no culto público. Através de uma página podemos fazer um considerável trabalho de evangelização. A publicação de artigos escritos pelos pastores das igrejas, convite para conferências, cultos especiais, trabalhos sociais, campanhas missionárias. A rede social nos trás um alcance muito maior do que nossos antigos boletins denominacionais, jornais, revistas e informativos. O alcance de uma página é muito amplo e poderoso do que mídias impressas. Um jovem de quinze anos dificilmente leria o jornal de uma denominação histórica, mas, leria e compartilharia artigos do site da igreja que foram publicados no facebook. As igrejas que tem sites ou blogs, ou até mesmo no próprio facebook podem alcançar muitas pessoas com esclarecimentos bíblicos de muitos assuntos que comumente não são tratados nas igrejas, seja por falta de tempo, espaço ou contexto.

No entanto, devemos ponderar alguns fatores dessa explosão evangélica nas redes sociais. Grande parte de páginas na rede não tem uma sólida caracterização cristã, do ponto de vista doutrinário, ético, social e circunstancial. Ao acompanhar algumas páginas que possuem muitos seguidores pude perceber como existem artigos implacáveis, insensíveis à dor do próximo. Existem páginas evangélicas que trabalham como concorrentes midiáticos, e querem aparecer mais do que as outras. Muitos “escritores” que vivem catando fatos inusitados no meio cristão para bombardear alguém. Com essa fala não estou recuando na apologética, mas tecendo uma crítica aos que julgam pelo prazer de julgar e não pelo zelo evangelístico.

A igreja pode e deve, fazer uso das mais diversas plataformas midiáticas para a pregação do evangelho, isso é bom, é saudável. Esse trabalho deve ser feito com amor, graça e com um profundo desejo de glorificar a Deus. Outro fator importante de mencionarmos é a excelência do trabalho na internet, tudo que fazemos deve ser para glorificar a Deus, e isso não isenta o trabalho no ciberespaço. A maioria das páginas evangélicas seja de igrejas ou organizações paraeclesiásticas são medíocres na sua apresentação estética no que se referem a seus sites, blogs, páginas. As igrejas devem procurar pessoas habilitadas para a construção de suas ferramentas de trabalho online. A Bíblia nos diz que trabalhadores do rei de Tiro, Hirão (IRs 9.11) vieram para a construção do templo de Salomão, em Israel não existiam homens com aquela habilidade, mas o trabalho tinha que ser feito com excelência e assim aconteceu.

Outro fator que devemos repensar é na qualidade de informação que se tem difundido nas redes. O ciberespaço é sem dúvida uma grande ferramenta, mas uma faca pode servir para tratar um peixe e também assassinar alguém. Devemos realizar nosso trabalho com decência e ordem como nos diz a Palavra de Deus. De fato o que devemos ter cuidado é para não sermos engolidos pela cibercultura. Como servos de Cristo não podemos estar sob julgo, inclusive da tecnologia. Existem várias pesquisas que apontam pessoas viciadas em redes sociais e aparelhos tecnológicos, isso é pecado. Nada pode nos aprisionar, somos cativos somente a Cristo. Tais vícios, sabemos, causam reais dependências psicológicas, muitas pessoas que perdem o celular por exemplo se sentem perdidas e desamparadas se não estiverem conectadas, isso é muito ruim e sem sombra de dúvida é pecado de idolatria. A temperança é um dos gomos do fruto do Espírito, devemos exercer autocontrole. Esse tipo de vício pelo ciber deve ser tratado e a igreja não deve ser refém disso, devemos usar as redes para a divulgação sadia do evangelho e crescimento de relacionamentos sadios com o próximo.

Muitas igrejas têm transmitido seus cultos online, isso tem sido um grande avanço. Pessoas que estão em lugares que não tem uma igreja, mas tem internet podem assistir os cultos. No entanto a igreja também deve orientar seus membros a não substituir o culto presencial pelo online.


Portanto, devemos utilizar sim os recursos tecnológicos, mas, tudo seja feito para glória de Deus. Sejamos prudentes e sóbrios em nossos passos e no trabalho das nossas mãos.

12 de set. de 2014

Plantando Novas Igrejas



Por Fred Lins 

Quando se pensa em plantação de novas Igrejas é inquestionável não se pensar na figura de alguém que contribuiu profundamente de forma indiscutível não somente na implantação, mas com a própria consolidação e convicção dessas novas Igrejas. Nos seus quase dez anos de trabalho, implantando congregações, Paulo focou na cultura do seu tempo e na disponibilização de uma teologia que desembocasse em prática. O ministério do apóstolo Paulo poderia de resumido como sendo o de edificar, construir, plantar, regar e fazer crescer a Igreja de Jesus.

Paulo sabia como ninguém contextualizar-se sem perder a visão de que a plantação de novas Igrejas estava embasada na pregação das Boas Novas. Este item na sua Teologia era inegociável. A verdadeira alegria do apóstolo Paulo estava na consolidação de tais comunidades da fé e que essas novas comunidades estivessem fundamentadas no verdadeiro Evangelho.

A urgência pela pregação do Evangelho e a convicção que marcava a Igreja primitiva eram também a realidade da teologia Paulina para implantar novas congregações. Todas as coisas contribuíam para a realização do plano escatológico que Paulo tinha muito bem traçado na sua doutrina. O semear de Igrejas por onde passava ditava o ritmo dessa urgência e isto ficou bem claro em todos os seus escritos.

As Igrejas plantadas pelo apóstolo não somente cresciam no conhecimento do Senhor, mas cresciam também institucionalmente. A Igreja crescia com a ajuda de cooperadores e com a supervisão do mesmo. As comunidades por ele plantadas tinham tudo para serem pulverizadas com o passar do tempo, mas devido a sua sustentação Teológica e firmeza no propósito que se tornou uma prática do ministério Paulino essas comunidades se mantiveram firmes por longos anos e serviram para disseminar o evangelho.

9 de set. de 2014

Chamado Desagradável


Por Morgana Mendonça dos Santos

"E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor" Jonas 1.1-3.

"Eu concordo, mas não quero ir. Eu entendo que devo pregar o evangelho, fazer discípulos, no entanto,Você pode ser um daqueles que ama missões (da boca para fora!?), porém, não se dispõe a obedecer a ordem do Senhor. Me impressiona como um livro que está aproximadamente datado no oitavo século antes de Cristo pode ser tão atual na sua aplicabilidade. O livro de Jonas não é o livro do profeta Jonas, filho de Amitai (Jn 1.1), na verdade pouco sabemos a respeito da sua vida. Esse livro é a respeito do Senhor, único Deus, o Deus de Israel.

Deus é o autor do livro, Ele ordenou a Jonas, a primeira frase do livro começa com: "E veio a palavra do Senhor", Ele enviou a tempestade (Jn 1.4), Ele ordenou o grande peixe engolir Jonas (Jn 1.17), Ele ordenou o grande peixe por Jonas para fora (Jn 2.10), Ele ordenou Jonas mais uma vez (Jn 3.1-2), poupou Nínive (Jn 3.10), Ele que fez nascer sombra sobre Jonas (Jn 4.6), Ele que ensina a Jonas uma grande lição, e o livro termina com uma pergunta do próprio Deus: "E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem discernir entre a sua mão direita e a esquerda, e também muito gado?" Jn 4.11.

Deus em sua excelência e soberania torna-se o personagem principal desse livro. Jonas reflete apenas o Israel. Ele, um profeta galileu no tempo do reinado de Jeroboão II, profetiza a expansão do seu reinado, é contemporâneo de Amós e Oséias. No Antigo Testamento só é mencionado em 2Reis 14.25, no Novo Testamento é citado por Cristo (Mt 12.40; Lucas 11.30). Jonas foi um homem que nos chama muita atenção, recebeu um chamado desagradável e ficou indignado por ver sua missão obtendo frutos, ou seja, um homem que desejou a morte por vê seu ministério próspero e tendo bom êxito. O sucesso da missão deixou o profeta irado, incrível não? O desafio de Jonas era pregar na nação inimiga, Assíria, onde Nínive era a capital - os assírios conhecidos pela sua maldade, inimigos de Israel – e pregar contra o seu pecado, que havia subido até ao Senhor. (Jn 1.2).

Com apenas cinco palavras no hebraico, no português sete palavras, Jonas prega para aquela cidade, como enviado do Senhor:

"E começou Jonas a entrar pela cidade, fazendo a jornada dum dia, e clamava, dizendo: 'Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida'". Jonas 3.4.

O que Jonas não esperava era essa reação: "E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior deles até o menor. A notícia chegou também ao rei de Nínive; e ele se levantou do seu trono e, despindo-se do seu manto e cobrindo-se de saco, sentou-se sobre cinzas. E fez uma proclamação, e a publicou em Nínive, por decreto do rei e dos seus nobres, dizendo: Não provem coisa alguma nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas; não comam, nem bebam água; mas sejam cobertos de saco, tanto os homens como os animais, e clamem fortemente a Deus; e convertam-se, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos." Jonas 3.5-8.

O profeta aborrecido, pela misericórdia e benevolência de Deus, deseja morrer do que viver para ver o Senhor ter misericórdia para com os ninivitas. Uma história e tanto não? Deus através desses quatro capítulos nos traz grandes lições, aqui observamos a misericórdia e compaixão do Senhor, percebemos a ponte que nos leva a Cristo, isto é, a cristologia do livro, como também identificamos de forma singular no Antigo Testamento Deus enviando alguém para as nações. O propósito de Israel era ser luzeiro para as nações vizinhas, o povo de Israel precisava entender que Deus estava interessado por outras nações, atrair o povo para o Senhor era a missão de Israel (Dt.4.5-8). A história de Jonas vem lembrar ao povo de algo que havia sido esquecido.

Um dos nossos problemas pode ser algo chamado "indiferença espiritual", ou então, algo parecido como "paixão denominacional", que difere muito do que significa ter paixão pelos perdidos. É simples observar que a tendência para o crescimento da igreja local é bem maior do que o objetivo do crescimento da igreja universal. O livro de Jonas nos faz refletir que fazer a obra do Senhor em sua localidade é justo, agradável e tranquilo, todavia, levantar-se do banco e obedecer a grande comissão seria desagradável. Há igrejas que pregam muito mais por paixão denominacional do que por amor ao evangelho, com o objetivo pragmático de encher a igreja, ocupando os lugares vazios, formando assim uma membresia longe daquilo que a deveria ter sido conquistada - o verdadeiro evangelho. Jonas tão obstinado a fugir da presença do Senhor não percebe que o Único Deus é onisciente, onipresente e onipotente. Como fugir da Sua presença? Os decretos de Deus são imutáveis, Ele chamou. E mesmo que seja desagradável para você, Ele irá chama-lo!

O que nos resta, por conta de toda nossa indiferença espiritual, fuga do chamado ou qualquer outra motivação contraria, é orar como Jonas no ventre do grande peixe:

"Quando dentro de mim desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e entrou a ti a minha oração, no teu santo templo. Os que se apegam aos vãos ídolos afastam de si a misericórdia. Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz de ação de graças; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação." Jonas 2.7-9.

Lembrando de uma frase do Rev. Augustus Nicodemos, encerro o texto:

"As nossas ações são reações das nossas fundamentações teológicas"

Será que nossas ações (motivações) são tão nobres? O chamado tem um custo e isso pode ser desagradável!


A Deus toda glória, Rm 11.36.