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30 de mai. de 2016

10 coisas que eu aprendi na Igreja aos Domingos

Por Erik Raymond*
Domingos são muito comuns por natureza. Levanto-me no mesmo horário e sigo a mesma rotina. Minha esposa e meus filhos também têm suas rotinas. Fazemos as mesmas coisas todas as semanas. Então, vamos ao mesmo lugar e vemos as mesmas pessoas. Além disso, quando chegamos lá, normalmente fazemos as coisas que fizemos no Domingo passado.

Encaremos o fato: a igreja é muito comum. Porém, não percamos isto: o fato dela ser comum não significa que não tenha importância!
Conforme eu estava meditando no último Dia do Senhor eu fui apanhado por uma série de coisas que me encorajaram. Deus se encontrou conosco na igreja de maneira comum e nos mostrou sua fidelidade extraordinária, sua graça, beleza, e poder. Eu compilei dez breves observações sobre o que, particularmente me afetou nessa semana (Estou encurtando minha lista). Que tais observações possam te encorajar a apreciar aquilo que é comum na sua igreja local.
1. As pessoas se revelam. Este ponto parece especialmente comum, porém, é enganosamente profundo. Meu entendimento da depravação conta-me que não saímos da barriga de nossas mães cantando "Quão Grande És Tu", mas "Quão Grande Eu Sou". O fato de Deus ter pessoas louvando seu nome na adoração pública deveria nos maravilhar em Sua Graça.  Não é diferente do primeiro relato de pessoas reunidas, nos dias de Sete, "naquele tempo pessoas começaram a invocar o nome do Senhor" (Gen 4:26)
2. Orações Respondidas. Durante o culto notei uma mãe balançando sua nova garotinha. Fui lembrado de como nós, enquanto igreja, oramos por aquela família ter filhos quando parecia que eles não poderiam ter. Deus respondeu estas orações não somente com uma, mas com duas crianças.  Enquanto ela alegremente balança seu novo bebê, sua oração foi respondida. Ela me faz lembrar que Deus ouve e se deleita em responder nossas orações.

3. Chamado à adoração.  No inicio do serviço nós lemos Salmos 135:1-3 e voltamos nossas mentes e corações para a prioridade de adorar a Deus juntos, como igreja. Estávamos sendo chamados à adoração. Fui lembrado que o próprio Deus procura verdadeiros adoradores (Jo 4:23-24). Na medida em que estamos unidos no reino num prédio comum, em um tempo comum, estamos dizendo algo profundo: Declaramos que Deus é suficientemente glorioso e digno de nossa adoração.

4. Louvando.  Cantamos hinos que nos lembram que Deus é fiel ("Grande é a Sua Fidelidade"), que a cruz é suficiente ("Agora, por que temer?), e que isso é algo pessoal ("Meu Jesus, Eu te amo"). Cada uma dessas músicas me levam para fora das minhas circunstâncias e levam meus lábios até o horizonte do Céu, onde completo as belas promessas de Deus e seu caráter imutável. Outra nota sobre os cânticos, somos conduzidos pelos músicos de nossa família, a igreja. Estas são pessoas comuns a quem Deus criou e moldou com habilidade musical para nos ajudar a ver e experimentar a Cristo. Isto pode parecer não ter sentido, entretanto, como um pastor sem habilidades musicais eu louvo a Deus por estes homens e mulheres que semanalmente conduzem nossa igreja, Monte Sião (Mt. Zion).

5. Diversidade.  Conforme eu olhava em volta, via pessoas de uma enorme variedade de idades e experiências. Havia ali pessoas que têm sido cristãos por décadas e alguns que são totalmente novos na fé. Eu vi jovens e anciãos interagindo com a pregação da Palavra como se fosse a primeira vez que eles ouvissem um sermão. Eu conversei com as pessoas sobre o sermão e ouvi uma diversidade de maneiras nas quais Deus confrontou a Igreja com a verdade. Louve a Deus por esta prática comum de nos reunirmos.

6. Propósito. Neste sermão, no meio da cena horrível do assassinato de Abel por seu irmão, fui lembrado que a vitalidade das promessas de Deus são sempre melhores vistas em meio às cinzas da destruição. O sofrimento de Adão e Eva, sem dúvidas, foi terrível. Entretanto, Deus usa o sofrimento para seus propósitos. Podemos nos contentar que no meio das cinzas que Deus não para de trabalhar para a sua glória e nosso bem. Portanto, ficamos preocupados ou lembremos, descansemos, e nos regozijemos nas promessas de Deus.

7. Oração. Um dos nossos pastores orou para que o nome de Deus fosse honrado e sua vontade fosse feita. Ele orou, citando os nomes de muitos membros de nossa igreja que estavam sofrendo e se regozijou nas bênçãos evidentes de Deus em responder orações. Ele orou por outras igrejas, e pela pregação do Evangelho em nossa cidade. Eu fui lembrado que a beleza e intimidade da nossa comunhão local e também da nossa amizade com outras igrejas. O reino está se expandido aqui e em outros lugares.

8. Pecados foram confessados. Priorizando a Ceia do Senhor, confessamos nossos pecados como igreja. Isto me lembrou novamente da santidade de Deus e a necessidade que temos de vir até Ele, de maneira consistente com sua santidade.  Também fui lembrado que Deus vê todas as coisas o tempo todo, e, portanto, devemos confessar nossos pecados regularmente.

9. Perdão foi assegurado. Após a oração de confissão fomos conduzidos a Ceia do Senhor onde fomos lembrados, novamente, de uma verdade que normalmente esquecemos: Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1). Oh, quão facilmente nos esquecemos disso. E se eu não me esqueço, certamente minimizo ou obscureço. Eu preciso segurar o pão e o vinho. Eu preciso ser lembrado como eu estava lá sentado na última ceia, onde Cristo bebeu o cálice da Ira para que eu pudesse beber o cálice da benção.  Seu corpo foi quebrado para que o meu fosse curado. Além disso, eu olhei em volta e vi meus irmãos e irmãs juntos comigo. Somos uma igreja que tem por objetivo amar, servir, e sermos responsáveis uns pelos outros. Neste momento de renovação da aliança estamos dizendo, ao comer e beber: "Estamos com Cristo e esta igreja: Quão glorioso"!

10. Doxologia.  Cantamos a doxologia conforme concluíamos. Isto me lembrou da extensão do louvor de Deus por sua glória insuperável. Nos unimos aos anjos e a criação para dizer que Deus é a fonte de todo o bem. Devemos tudo que nós temos a Ele. Nosso louvor se une numa bendição de toda a benevolência dele para conosco.

Eu poderia escrever um artigo como este toda semana. Toda semana, servir é como uma pintura fresca sobre minha alma. Deus nos encontra no comum, rotineiro, e familiar. Ele faz isto para surpreender, encorajar, fortalecer, e nos abençoar. Somos abençoados por Deus quando nos reunimos. Ele fala conosco na Palavra e na Ceia.

Então, sim, a igreja é bem comum. Porém, lembremos que: "o fato dela ser comum não significa que não tenha importância!"
____
Erik Raymond* é pastor sênior da Igreja Bíblica de Emmaus, em Omaha. Ele e sua esposa Cristie tem seis filhos.

Tradução: César Augusto

8 de abr. de 2016

Uma Preciosa Exortação à Igreja (1 Jo 2.12-17)

Por Thiago Oliveira

12. Filhinhos, eu lhes escrevo porque os seus pecados foram perdoados, graças ao nome de Jesus.

13. Pais, eu lhes escrevo porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes escrevo porque venceram o Maligno.

14. Filhinhos, eu lhes escrevi porque vocês conhecem o Pai. Pais, eu lhes escrevi porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes escrevi, porque vocês são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece e vocês venceram o Maligno.

15. Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.

16. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo.

17. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.

Introdução

Após o apóstolo João falar do mandamento do amor e advertir os crentes de que a ausência do amor é a ausência de luz, ele passa a falar sobre o mundanismo. João vai se dirigir a toda a Igreja. Ele não segmenta a sua fala a um grupo, mas exorta toda a congregação dos santos. Uma das coisas que vale a pena ressaltar é o caráter multi-geracional do Corpo de Cristo. A Igreja é composta de crianças, jovens, adultos e idosos. Quando fala que escreveu aos seus filhos no versículo 12, João usa uma linguagem fraterna, que lhe é particular. Ele, por ser idoso, considerava as ovelhas de seu rebanho filhos, e por elas tinha um afeto paternal. Após o termo generalizado, no versículo 14 ele parece falar com os filhos dos pais mencionados no versículo anterior. Podemos deduzir que sua fala alcançava aos jovens, citados diretamente nos versículos 13 e 14, mas também crianças, que podem preencher o espaço existente entre os “pais e filhos” a quem o apóstolo se dirige.

Antes de exortar a Igreja para que ela não seja seduzida pelo sistema maligno que assola o mundo desde a Queda, João a encoraja e lhe faz lembrar as bênçãos que vem do Senhor Jesus para sua amada noiva. Ele enfatiza que escreveu, justamente porque a escrita é um registro de algo que é dito. Louvado seja Deus que inspirou tais homens santos e deixou registrada as suas Palavras, assim, nós hoje temos acesso a este banquete espiritual e podemos desfrutar deste maná.

Bênçãos em Cristo (12-14)

Ao dirigir-se ao Corpo de Cristo e falar alguns motivos de ter escrito a sua epístola, João fala das bênçãos que o Senhor Jesus concede a sua igreja. A primeira delas é o perdão dos pecados. Isto se dá por graça e graças ao nome de Jesus. Ao falar do “nome”, o apóstolo tenciona falar daquilo que ele representa, que é a pessoa e o ofício de Cristo como sendo o enviado de Deus para salvar a humanidade do pecado e da morte. Esta é a dádiva maior que herdamos de Cristo. Ser perdoado é não ter mais empecilho ao nos relacionarmos com Deus. Está escrito: “Mas as suas maldades separaram vocês do seu Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os ouvirá”. Isaías 59:2. Todavia, quando perdoados, nossos pecados são lançados fora e estamos livres e podemos atender ao convite feito pelo autor do livro de Hebreus: “Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura”. Hebreus 10:22. Maravilhoso é saber que antes erámos inimigos do SENHOR por causa de nossa rebeldia para com suas santas ordenanças, mas que purificados por Cristo somos íntimos do Deus triúno e podemos gozar de sua presença e infinita bondade.

A segunda benção é o conhecimento de Deus. Este se dá por meio da revelação. O Soberano se revelou aos homens e num sentido geral fez-se conhecido através da natureza (Rm 1.20). Mas aos seus filhos Deus se revela de uma forma especial. Pois, através do Espírito que habita em nós, temos discernimento daquilo que é espiritual e o que antes enxergávamos embaçado, agora vemos com nitidez. Obviamente que o nosso conhecimento de Deus não é exaustivo, pois muita coisa ainda é mistério para nós, todavia, conhecemos o suficiente para nos prestarmos em adoração diante do nosso Senhor, sabendo que Ele é o único e verdadeiro Deus, e fora dEle não há outro. Este conhecimento não é apenas teórico, ele é também relacional. Conhecemos a Cristo de andarmos com Ele. Ao dirigir-se aos pais, isto é, aos mais velhos, o apóstolo apela para que eles transmitam este conhecimento para os mais jovens. A fé precisa dos pais precisa ser transmitida aos filhos. Isto se dá em casa, no ambiente familiar. Temos um grande problema em nossa geração: os pais terceirizam a educação de suas crianças. E aqui inclui-se também a terceirização da instrução bíblica. Que os pais não esqueçam do provérbio que diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”. Provérbios 22:6.

A terceira benção, é a vitória sobre o maligno. O apóstolo endereça aos jovens esta fala, pois, na juventude as mais diversas tentações nos assolam. O mundo parece mais sedutor para aquele que está no auge de seu vigor físico. Os que estão na flor da idade têm muitos atrativos. E são nestes atrativos que muitos são fisgados e sucumbem aos desejos pecaminosos, entregando-se as paixões da mocidade. No entanto, João assevera que mesmo jovem, o crente tem a vitória decretada sobre as hostes do mal, e sua vitória não está na sua força física ou capacidade intelectual. O jovem que vence o maligno é aquele que tem a Palavra de Deus.

Muitas igrejas tem negligenciado a doutrinação de sua juventude. Para atrair os jovens apostam em entretenimento, e muitos estão dentro das igrejas sem ter um conhecimento substancial da Palavra. Não é o entretenimento que deve “prender” os jovens na igreja. Eles precisar ter consciência de que o mais importante na vida cristã é ouvir e assim aprender mais do Evangelho, para praticar em seu cotidiano. Não levar a sério a pregação da Palavra para os jovens é uma característica daquilo que João irá falar em seguida.

Cuidado com o mundanismo (15-17)

O mundo, no contexto da passagem, é o sistema de valores que opera entre pessoas pecadoras que tem Satanás como seu mentor. João novamente faz o uso de contraste e numa afirmação categórica diz que aquele que ama o mundo não tem o amor do Pai celestial. Não existe um meio termo: ou se deseja a Deus e as coisas que são do alto, ou se deseja as coisas terrenas, transformando-as em ídolos.

As coisas do mundo são resumidas em uma lista com termos abrangentes. A saber temos: i) a concupiscência da carne, ii) a concupiscência dos olhos e iii) a soberba da vida. Os desejos da carne são desejos perversos, uma cobiça que fere o décimo mandamento. Muitas vezes este desejo é ativado pelos olhos, que quando fitam determinada coisa, faz o interior desejar o objeto que está sendo olhado. Daí vem a ganância e a vontade de ter passando por cima de qualquer coisa. Esse “ter” resulta em orgulho. O homem olha para o que já fez e já acumulou para si nesta vida e se engrandece por isso. Precisamos ter muito cuidado com isso.

Infelizmente, alguns líderes evangélicos tem dado ênfase a um estilo de vida materialista e o consumismo tem invadido as igrejas com uma infinidade de produtos com o selo “gospel”, concebido e voltado para o público evangélico, que já tem sido explorado pelo mercado como um bom nicho para se investir. John Stott, como presidente do Grupo de Trabalho sobre Teologia e Educação da Comissão de Lausanne para Evangelização Mundial, foi um dos responsáveis por elaborar, em Outubro de 1980, o Compromisso Evangélico Com Um Estilo de Vida Simples. Em sua obra, Discípulo Radical, ele afirma que a simplicidade é uma característica essencial de um discípulo de Jesus. Esse estilo de vida simples está associado a uma postura de mordomia, que é o cuidado com os recursos que Deus colocou sobre a nossa responsabilidade. O cristão não precisa se isolar do mundo. Ele não tem que viver como um monge, longe de tudo e todos. O apóstolo João não adverte para que deixemos o mundo, sua advertência é dirigida ao amor ao mundo.

Sim, podemos ter posses. Não é errado possuir bens e até mesmo investir para que eles frutifiquem. O errado é colocar neles todo o sentido par a vida. Por que quando alguns homens de negócio quando perdem seu patrimônio cometem suicídio? Porque fizeram de suas posses um fim em si mesmo, quando na verdade, se temos algo, este algo deve servir para nosso desfrute e para a ajuda ao nosso semelhante. Compartilhar é uma benção! Quando alguém é cristão e é rico, este faz de sua riqueza seja usada para fins nobres. Há muitos que investiram e investem suas fortunas em missões e obras sociais. Não são os dias daqui que importam para nós, por isso que o conselho do apóstolo Paulo é o de que devemos pensar nas coisas que são de cima (Cl 3.2). Aqui tudo é corruptível e passageiro, portanto, focados na Eternidade, sejamos desapegados a este mundo. Esta é uma marca dos verdadeiros membros do Corpo de Cristo.

Aplicações

1. Devo estar ciente de que em Cristo Jesus, nas regiões celestiais, eu sou abençoado. As coisas mais preciosas já me foram dadas. Sendo assim, devo descansar no meu Senhor e com gratidão prestar um culto sincero e jubiloso durante todo o meu viver.

2. Não posso depositar a minha esperança nas coisas do mundo, pois, se eu fizer isto, serei um idólatra e não tenho o amor do Pai. É necessário desapegar do materialismo e adotar um estilo de vida simples.

3. Preciso ser um bom mordomo dos recursos que graciosamente recebi dos céus. Administrar bem os recursos desta terra é cultuar a Deus e prestar-Lhe serviço. 

4 de mar. de 2016

Da "Liquidez" da Membresia da Igreja

Por Alan Rennê Alexandrino

Já é bastante conhecido o conceito de “liquidez” utilizado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman. De acordo com ele, as relações humanas experimentaram uma drástica mudança durante a pós-modernidade, também chamada por ele de “modernidade líquida”. Bauman afirma que ideologias fortes ou “sólidas” características da modernidade deram lugar a ideologias “líquidas” marcadas pela fragilidade, pela incerteza e pela inevitabilidade de rompimento: “Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade [...] os fluídos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la”.[1]

A liquidez característica da pós-modernidade atinge todos os aspectos da existência do ser humano. A vida, em si mesma, é fortemente influenciada: “A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”.[2] Consequentemente, os relacionamentos do ser humano também passam a ser caracterizados por esta fluidez. Outrora as pessoas faziam questão de cultivar relacionamentos profundos e duradouros. Um relacionamento que, porventura, viesse a enfrentar dificuldades não seria descartado. Antes, tudo aquilo que pudesse ser feito para salvar o relacionamento certamente seria feito. As relações afetivas do ser humano eram sólidas, por assim dizer. No entanto, com o advento da pós-modernidade as coisas mudaram. Relacionamentos são iniciados já com a certeza de que nem se aprofundarão nem durarão muito tempo. E, uma vez que há uma indisposição em se cultivar relacionamentos profundos, as pessoas fazem a opção pelos chamados “relacionamentos virtuais”, pois, como pontua Bauman:

Diferentemente dos “relacionamentos reais”, é fácil entrar e sair dos “relacionamentos virtuais”. Em comparação com a “coisa autêntica”, pesada, lenta e confusa, eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear. Entrevistado a respeito da crescente popularidade do namoro pela Internet, em detrimento dos bares para solteiros e das seções especializadas dos jornais e revistas, um jovem de 28 anos da Universidade de Bath apontou uma vantagem decisiva da relação eletrônica: “Sempre se pode apertar a tecla de deletar”.[3]

Eu acredito firmemente que o que é afirmado aqui por Bauman pode ser aplicado à maneira como as pessoas se relacionam com suas igrejas locais em nossos dias. O relacionamento dessas pessoas com a igreja ou, em outras palavras, o seu compromisso como membros de uma igreja local também tem sido marcado pelo conceito de “liquidez”. Praticamente não há mais nenhum senso de pertencimento. Profissões de fé e batismos – que assinalam a entrada da pessoa na comunidade pactual – são feitos; promessas e votos a Deus e diante da igreja reunida são feitos; porém, em muitos casos, não há a menor intenção de se honrar tais promessas e votos. Não são raros os casos em que uma pessoa, pouco tempo depois dos votos assumidos por ocasião do seu batismo e profissão de fé, simplesmente deixa de ir à igreja e passa a frequentar outra. E é aterrorizante como praticamente ninguém vê problema neste tipo de prática.

Entretanto, numa época quando as pessoas não honram nem mesmo os seus votos matrimoniais, não é de admirar que elas se vejam indispostas a honrarem os votos que, como membros da igreja, um dia fizeram. Uma vez que casam imbuídos daquela mentalidade que diz que, “se não der certo, então, é só separar”, elas também assumem compromissos e fazem votos de membresia dispostos a quebrarem esses votos tão logo a igreja deixe de lhes satisfazer. Sobre isso, é interessante a maneira como Timothy Keller, escrevendo sobre o matrimônio, trabalha o conceito de relação de consumo. De acordo com ele, as relações de consumo “duram apenas o tempo necessário para que um fornecedor supra suas necessidades por um preço que você considere aceitável. Se outro fornecedor oferecer serviços melhores ou os mesmos serviços a um custo reduzido, você não tem obrigação nenhuma de manter a relação com o primeiro fornecedor”.[4] Nesse tipo de relação de consumo o que é importante é a satisfação das necessidades do consumidor, não o relacionamento em si. É exatamente dessa forma que outros relacionamentos além do casamento, como o compromisso da membresia têm sido tratados:

Os sociólogos argumentam que, na sociedade ocidental contemporânea, o mercado se tornou tão dominante que o modelo de consumo caracteriza cada vez mais relacionamentos que, historicamente, eram alianças, inclusive o casamento. Hoje em dia, mantemos os vínculos com as pessoas enquanto elas suprem nossas necessidades por um custo aceitável. Quando deixamos de lucrar com a relação – ou seja, quando o relacionamento parece exigir de nós mais apoio e amor do que estamos recebendo – saímos dele para “minimizar o prejuízo”.[5]

Afirmações como: “Não fui acolhido!”, “Não fui amado!” ou “Nunca se importaram comigo!” são amostras dessa mentalidade apontada por Keller. É claro que existem razões que justificam que uma pessoa deixe uma determinada igreja, da mesma forma como existem razões apontadas pelas Sagradas Escrituras, que permitem que uma pessoa se divorcie do seu cônjuge (Mateus 19.9; 1Coríntios 7.15). John H. Gerstner aponta que todos nós temos o solene dever de pertencermos a uma igreja visível. No entanto, resta a pergunta: “Quando devemos deixar uma igreja?” Gerstner responde: “A hora óbvia de se deixar uma igreja visível é quando a mesma deixa de ser uma igreja”.[6] E quando é que uma igreja visível deixa de ser uma igreja? Quando ela nega o evangelho de Jesus Cristo. Uma igreja deixa de ser igreja quando ela passa a abraçar outro evangelho que não aquele pregado pelos apóstolos: “Mas, ainda que nós mesmos ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gálatas 1.8-9). Uma igreja local – ou uma denominação – deixa de ser igreja quando, por exemplo, abraça o demoníaco liberalismo teológico e todas as suas implicações, como a ordenação de homossexuais. Sendo este o caso, é imperativo que deixemos a comunhão dessa igreja. Porém, quando este não é o caso, não temos permissão para quebrarmos o voto de membresia: “Certamente, jamais devemos deixar uma igreja antes que o próprio Cristo o exija. Se ele não nos separar, não nos atrevamos a separar; se ele nos separar, não nos atrevamos a ficar. Mas ele é muito mais relutante em nos separar do que nós somos”.[7]

Outra razão que justifica a quebra dos votos de membresia, de acordo com Gerstner, é “quando uma igreja exige que neguemos o que acreditamos ou acreditemos no que negamos”[8], isto é, quando uma igreja exige que neguemos uma doutrina não essencial que é crida por nós ou que abracemos uma que não é crida.

Mas o que se vê, hoje, no meio da igreja evangélica é de causar vergonha. As pessoas se separam de uma igreja local pelos motivos mais fúteis que se possa imaginar:

- Um casal de namorados põe fim no relacionamento. Então, um dos dois decide sair da igreja, para não encontrar mais o ex.

- Um membro da igreja é disciplinado por causa de um pecado cometido. Então, decide deixar a igreja e procurar uma que o receba “da maneira como ele está”.

- Termina o mandato de um determinado pastor naquela igreja local e ele assume o pastorado de outra igreja. Vários membros da antiga igreja resolvem deixá-la, a fim de seguirem o seu pastor aonde quer que ele vá.

- A pregação do novo pastor, conquanto fiel, não agrada a algumas pessoas. Então, elas rompem a membresia da igreja e procuram uma igreja onde a pregação do pastor lhes seja agradável.

- Uma família resolve deixar a igreja depois de muitos anos, afirmando não ter sido acolhida, amada, assistida pela igreja local.

- Um membro da igreja é contrariado por uma decisão do Conselho da igreja local. Insatisfeito, ele abandona a igreja e procura outra.

- Um membro da igreja fica aborrecido por uma correção pastoral. O que se segue é o rompimento dos vínculos com a igreja.

Enfim, existe uma infinidade de razões tolas, fúteis e até pecaminosas pelas quais os votos de membresia são rompidos nos nossos dias. Piora quando pastores de outras igrejas locais, destituídos de qualquer senso ético, contribuem com esse tipo de coisa ao estimularem tal comportamento. Não há mais a menor disposição de se permanecer numa igreja local, ainda que a sua pregação e exercício da disciplina sejam fiéis e a administração dos sacramentos correta. Ouço inúmeras histórias de uma época quando as pessoas e famílias estavam dispostas a permanecerem em suas igrejas locais, independentemente de qualquer coisa. Quando algum membro da família era disciplinado, a última coisa que passava pela mente da família era romper os votos assumidos no dia da profissão de fé. Alegra-me o coração ouvir de alguns dos meus paroquianos que são membros da igreja e discípulos de Cristo, não dos pastores que um dia passaram pela igreja. Não obstante, para a grande maioria das pessoas hoje é diferente. O que importa é se a igreja atende às expectativas do indivíduo. O que interessa para a pessoa é se a igreja local a serve. A pessoa está ali para ser servida, agradada e, jamais, pode ter suas expectativas frustradas e seus anseios negados. Ir contra as suas expectativas pode significar “perdê-la”. Eu fico me perguntando até onde esta postura reflete a mentalidade consumista da nossa época. Se uma determinada prestadora de serviço não está te satisfazendo, então, procure outra. Se determinada marca de macarrão caiu de qualidade e/ou aumentou o preço, então, basta procurar outras marcas. Há uma ampla variedade de marcas disponíveis. Tudo visando a satisfação do cliente e consumidor.

Aquilo que Bauman chama de “liquidez” e que eu apliquei aqui à maneira como muitas pessoas tratam os seus votos e juramentos quanto à membresia na igreja local, pode ser identificado com alguns conceitos presentes nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, em seu famoso sermão escatológico o Senhor Jesus Cristo afirmou: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mateus 24.12). Acredito não ser uma violação da hermenêutica bíblica entender que essas palavras podem ser aplicadas ao assunto aqui abordado. O amor pela igreja local tem esfriado. O senso de pertencimento tem arrefecido. Hoje a iniquidade fez com que os padrões estejam completamente invertidos. Antigamente, a principal razão de alguém amar uma igreja local era porque ali a verdade estava presente: “O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade, por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre” (2 João 1-2). As pessoas amavam a igreja por entenderem que ela foi amada por Deus também. Nossos pais na fé reformada amavam uma igreja onde a Palavra de Deus era pregada fielmente, os sacramentos eram administrados corretamente e a disciplina era exercitada. Eles amavam uma igreja assim, mesmo que ela ficasse localizada em lugares inóspitos. Porém, em nossos dias isso mudou drasticamente. A verdade já não é mais o motivo pelo qual as pessoas amam uma igreja e se doam a ela. Hoje, o critério que determina o “amor” é se determinada igreja ou determinado lugar faz com que as pessoas se sintam bem.

Da mesma forma, o apóstolo Paulo afirmou a Timóteo que nos últimos dias os homens seriam egoístas e desafeiçoados (2Timóteo 3.2-3). Além disso, falando a respeito de muitos cristãos professos, Paulo afirmou que muitos não suportariam a sã doutrina e se cercariam de mestres que atendessem exatamente aos seus desejos mais egoístas (4.3).

Este tipo de mentalidade danosa precisa ser extirpada do meio do povo de Deus. O pastor batista Mark Dever afirma que uma das marcas de uma igreja verdadeiramente saudável é um entendimento bíblico acerca da membresia da igreja.[9] Semelhantemente, Thabiti Anyabwile afirma que um membro de igreja saudável é aquele que é um membro comprometido com a sua igreja local, o que inclui a permanência e o senso de pertencimento.[10] E é a minha convicção de que a atual prática prevalecente e frouxa dos nossos dias só poderá ser mudada a partir do ensino e de uma maior seriedade no momento do exame de algum candidato à membresia da igreja.

Em Cristo,



[1] Zygmunt Bauman. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 8.
[2] Zygmunt Bauman. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 8.
[3] Zygmunt Bauman. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 13.
[4] Timothy Keller e Kathy Keller. O Significado do Casamento. São Paulo: Vida Nova, 2012. p. 99.
[5] Ibid. p. 100.
[6] John H. Gerstner. “Guia-me, Ó Grande Yahweh!”. In: Don Kistler (Ed.). Avante, Soldados de Cristo: Uma Reafirmação Bíblica da Igreja. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 177.
[7] Ibid. p. 178.
[8] Ibid. p. 183.
[9] Mark Dever. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. São José dos Campos: Fiel, 2007. pp. 159-180.
[10] Thabiti Anyabwile. O que É um Membro de Igreja Saudável? São José dos Campos: Fiel, 2010. pp. 65-74.

13 de nov. de 2015

Fatores que evidenciam uma Crise Pastoral

Por Thiago Azevedo

Em dias de crise econômica e escassez ética, nada melhor que refletir sobre as motivações que possam gerar uma situação igual a que estamos vivendo no contexto político de nossa pátria. Refletir sobre o tema específico é proveitoso. É justamente isso que iremos fazer neste conteúdo. Porém, não direcionaremos nossa reflexão à crise político-econômica de nossos dias. Pois, ao abordar este tema, necessariamente, outros temas viriam à baila. E se fizermos uma busca pelo ponto cerne de tudo, sem sombras de dúvidas, chegaríamos ao pecado como causa. Mas, a crise a ser abordada aqui, bem como suas causas, é na realidade outra, e que tem se instaurado em outro ambiente, a saber, no ministério pastoral. Há anos que temos introduzido no cenário religioso tupiniquim uma verdadeira “Crise Pastoral”. Em primeiro lugar, precisamos definir termos: Poimen, este que é o termo utilizado para pastor em grego e que significa supervisionar o rebanho – cuidado contínuo, zelo, preocupação com bem-estar e saúde das ovelhas. Observando o significado do termo em si, logo nos vem algumas dúvidas, a saber: Por que tantas pessoas que se aventuram no ministério pastoral não possuem essas características? Por que tantos que se aventuram neste ofício realizam a lógica contrária, a saber, obter vantagens próprias por meio das “ovelhas” ao invés de ampará-las? Na realidade, vivemos uma grande “Crise Pastoral” sem precedentes. Neste texto, tentarei destacar alguns dos principais motivos de tal crise.

29 de jul. de 2015

Há Pastores dados por Deus...Outros são Fabricados!

Por Thiago Azevedo

É preciso entender que toda e qualquer expressão que haja nas Escrituras Sagradas é permeada de sentidos e significados. Estudar estes sentidos e estes significados seria uma das principais atividades do estudante da Bíblia. Quando Jesus se auto intitula como sendo o pão da vida e que desce do céu (Mateus 6:33-35), ele na realidade conhece o contexto daquele povo ao qual fala, contexto de privação de comida. Jesus se utiliza de um recurso metafórico para creditar o que está falando. Ora, as pessoas tinham necessidade e ao mesmo tempo escassez de alimento, alguém dizendo que é pão, no mínimo, teria a atenção de quem tem fome. Não foi muito diferente a isso o encontro de Cristo com a mulher samaritana. Nesta ocasião, Jesus fala de uma água viva com qualidade de saciar a sede de forma perene. Imagine agora uma pessoa que busca água todos os dias, percorre quilômetros para isso, esforça-se tanto em retirar a proteção do poço para ter acesso à água como em coletar água no fundo do poço, carrega peso, manuseia animais para este fim, etc. Jesus usa a expressão água viva em paralelo à sua pessoa (João 4:10-15). O espanto daquela mulher pode ser visto sem demora no versículo 15 onde ela pede desta água, para não ter mais sede e para não precisar mais ir até o poço retirá-la. Em um cenário de escassez de água, quem não queria tê-la de forma perene?

25 de jun. de 2015

Pastores Leigos (Série: Os Sete pecados da Igreja contemporânea)

Por Daniel Clós Cesar

Recentemente li uma pesquisa feita pela sociedade bíblica estadunidense, e apontava que mais de 50% dos pastores daquele país nunca leram toda a Bíblia, e estamos falando de uma pesquisa que se baseia unicamente na resposta dada pelo entrevistado, isto é, este número, pode e deve ser muito maior. Uma outra pesquisa aponta que pelo menos 85% dos pastores em serviço hoje no Brasil não possuem formação teológica alguma... Ok, são pesquisas feitas em duas nações diferentes, mas acredito ser possível traçar algum paralelo.

7 de mai. de 2015

7 razões para não chamar músicos de levitas

Por Josaías Jr.

Sei que esse assunto já foi batido e rebatido várias vezes, por isso é possível que esse texto não apresente nenhuma novidade para alguns irmãos. Entretanto, gostaria de compilar aqui algumas das melhores razões para não usarmos a expressão levita para designar as pessoas que tocam e cantam no “período de louvor”. E mesmo que você não use o termo, proponho que leia pelo prazer de ver a história da salvação se desenrolando na figura do sacerdote.

28 de abr. de 2015

9 marcas de uma igreja doente

Por Kevin DeYoung

Graças a Mark Dever, muitos de nós estão acostumados com as 9 Marcas de uma Igreja Saudável. Por mais que a intenção nunca tenha sido a de dar a palavra final sobre tudo que uma igreja deve ser ou fazer, essas nove marcas tem sido de grande ajuda ao lembrar os cristãos (e os pastores em especial) do conteúdo necessário que muitas vezes nos esquecemos por viver em uma época guiada pela estética.

De certa forma, as nove marcas de uma igreja doente poderiam simplesmente ser o oposto de tudo aquilo que torna uma igreja saudável. Assim, igrejas doentes ignoram membresia, disciplina, pregação expositiva e todo o resto. Mas os sinais dos males da igreja nem sempre são tão óbvios. É possível que sua igreja ensine e entenda todas as coisas certas e mesmo assim esteja em um estado terrivelmente doentio. Sem dúvidas, há dezenas de indicadores de que uma igreja se tornou disfuncional e doentia. Mas vamos nos limitar a nove.

23 de abr. de 2015

Sobre o mesmo Espírito: Experimentando comunhão pelos meios de Graça

Por Thiago Oliveira

“Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”.

1Coríntios 12.1-5

A carta que o apóstolo Paulo escreve aos irmãos que congregavam em Corinto é um texto exortativo para uma congregação recheada de sectarismo. Lemos no capítulo 3 que havia entre aqueles irmãos, inveja, contenda e disseções (v.3). Havia partidarismo e uns alegavam ser discípulos do próprio Paulo e outros alegavam ser discípulos de Apolo (v.4).  No capítulo 11 vemos que havia sectarismo até na hora da ceia (vv. 17-21). Os mais ricos comiam de maneira apressada, como glutões, e o exagero chegava ao ponto de se embriagarem com o vinho. Os mais pobres ficavam com fome. Uma coisa horrível. 

17 de abr. de 2015

Diminuição dos efeitos do Pecado (Série: Os Sete pecados da Igreja contemporânea)

Por Daniel Clós Cesar

Talvez você olhe para o movimento gospel e veja uma série de eventos e campanhas que parecem contradizer o que digo. Você vê Congressos de Batalha Espiritual, Cultos de Quebra de Maldições Hereditárias, atos proféticos contra o deus da Babilônia, etc. Mas isso mostra como a igreja enfrenta de forma pragmática e simplória o Pecado dentro da própria igreja.

Primeiro: Como o Pecado é visto na igreja? Suas definições beiram a estupidez mental, não fosse a clara minimização proposta por líderes do alto de seus púlpitos que na verdade desejam apenas dar a plateia o que ela deseja. O Pecado é definido como engano, como obra de Satanás, como erro de percurso, como vacilo... o famoso “sem-querer-querendo”. Menos como fruto da cobiça do homem que dando lugar a tentação permite o nascimento do Pecado que gera a morte (Tiago 1.15).

15 de abr. de 2015

O Ego como um obstáculo para a comunhão

Por Thiago Oliveira

“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”.

Lucas 9.23

O Ego é o nosso “eu”, a nossa essência. Levando em conta os efeitos do pecado de Adão em toda a espécie humana, podemos afirmar que o ego foi afetado e tornou-se corrompido, desfigurando a imagem de Deus que havia no homem original. Sendo assim, o ego naturalmente nos transmite uma ideia ensimesmada de nós mesmos. Ele encontra-se inchado e esse inchaço faz com que ele seja oco e delicado.

Por isso, a porta de entrada para salvação começa com a mortificação do ego (ler Gl 2.20, Rm 6.6). Quando Cristo nos diz que para segui-lo temos que carregar uma cruz - e isso diariamente - devemos lembrar que todo o homem que carregava o madeiro estava indo para a morte. Estar disposto a morrer todos os dias é justamente renunciar os caprichos do nosso ego. A renúncia da autossatisfação é necessária para todo aquele que recebeu a salvação mediante a graça e foi incluído no Corpo de Cristo, isto é, a Igreja. Se vivemos segundo os ditames do Evangelho e o nosso ego continua inflado, os resultados não serão nada bons para a vida em comunidade.

10 de abr. de 2015

Conheci as doutrinas da graça, mas, estou numa igreja herética: o que devo fazer?

Por Thomas Magnum

Para um cristão nascido de novo, é salutar estar numa igreja local, é bíblico que os crentes congreguem e tenham comunhão com outros irmãos. A igreja foi criada por Deus e sua existência não é algo restrito ao Novo Testamento, mas, no Antigo Testamento já vemos a igreja presente com o povo de Israel. No entanto o que estamos nos propondo a refletir nesse texto é se basta estar simplesmente numa igreja, isto é, qualquer igreja.

Há “ditos populares antigos” que defendem um ecumenismo evangelical que dizem, “temos o mesmo Deus”, “o que importa é que cremos em Deus”, “nossas diferenças são insignificantes”, “Deus é o Deus de todos”, “a letra mata”, “o mais importante é o amor”, “no céu não terá teologia”. Claro que tais afirmações têm algum fundo de verdade, mas, não podemos dizer hoje ao evangelizarmos alguém, que este procure uma igreja perto da sua casa. A igreja próxima da casa dessa pessoa pode provavelmente ser uma igreja herética ou uma seita, então, estaremos contribuindo negativamente para vida dessa pessoa. Até mesmo ao dizermos procure uma igreja que ensine a Bíblia, muitas igrejas heréticas ensinam a Bíblia, de forma distorcida, mas, ensinam. O que nos resta nesses dias é uma delimitação do que é igreja: o que é uma igreja saudável? O que é uma igreja Bíblica? O que é uma igreja verdadeira?

8 de abr. de 2015

Abandono do Ensino das Escrituras (Série: Os Sete pecados da Igreja contemporânea)

Por Daniel Clós Cesar

“Ensina a criança no caminho em que deve andar; e até quandoenvelhecer não se desviará dele.” 

Provérbios 22.6

A maioria vê este provérbio apenas como um ensino para pais que educam naturalmente seus filhos. Mas você já parou para pensar que ele também deveria ser posto em prática pelos pastores e por todos aqueles que servem na Casa de Deus em prol daqueles que se achegam ao Trono da Graça?

O autor de Hebreus (Cap. 5) faz uma comparação dos novos convertidos com crianças, e aperta os hebreus ao afirmar que eles ainda se comportam como crianças e ainda precisam de leite ao invés de comida sólida. Aos efésios (Efésios 4.14), Paulo diz que meninos é que são levados por todo vento de doutrina, pois são inconstantes. Agora tracemos uma linha entre esses textos citados até agora.

7 de abr. de 2015

É possível amar Jesus e não querer compromisso com a sua Igreja?

Por Wallace Jaguaribe

Esta dúvida, certamente, não é o que podemos chamar de uma novidade, mas ainda passa na cabeça de muita gente. As pessoas confundem igreja/instituição com igreja/povo de Deus. Outros valorizam a igreja/povo de Deus e menosprezam a igreja/local. E há os que criaram uma aversão tão grande as instituições que organizaram um grupo sem nome, e terminaram por criar o que não queriam: a igreja sem nome.

O fato é que a igreja é a comunidade dos que foram escolhidos antes da fundação do mundo, regenerados pelo Espírito Santo para serem santos e irrepreensíveis perante Deus. Estes, externamente, confessam Jesus como seu Senhor e salvador. Esta igreja tem um aspecto interno, invisível aos olhos humanos, mas visível por Deus, que é a sinceridade do seu coração, a veracidade de sua conversão. Este aspecto só é plenamente conhecido por Deus, pois “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. (1 Samuel 16:7).

13 de mar. de 2015

Sete Marcas de uma Igreja Saudável

Por Carl Trueman

Enquanto a igreja no Ocidente enfrenta uma marginalização social que ela não conheceu por mais de 1500 anos, a questão das marcas da igreja, aquelas características identificadoras que ela possui, provavelmente se tornará mais urgente. Abordagens reformadas tradicionais tendem a oferecer três marcas: A Palavra fielmente pregada, os sacramentos devidamente administrados e a disciplina da igreja corretamente aplicada. Sempre houve alguma flexibilidade entre a tradição reformada com respeito a esses pontos. Calvino defendeu somente duas marcas explícitas, Palavra e sacramentos, enquanto a Assembleia de Westminster colocou a adoração no lugar da disciplina. Lutero, contudo, ofereceu sete: 1. A Palavra, 2. Batismo, 3. Eucaristia, 4. As chaves exercidas publicamente, 5. Ministério ordenado, 6. Oração, louvor público e ações de graças a Deus, 7. A posse da sagrada cruz.

10 de mar. de 2015

Desviados: De quem é a falha?

Por Daniel Clós Cesar

O primeiro passo neste texto é definir o que é um desviado. Popularmente, dentro de uma teologia que crê que o homem pode “perder” a Salvação, crê-se que desviado é aquele que converte-se a Cristo, tem seus pecados anulados na Cruz, torna-se salvo, nasce de novo, recebe o Espírito Santo de Deus, Cristo começa até a construir uma casa para ele no paraíso, mas que por fim ele abandona a Fé (dando inclusive um baita gasto pro Reino de Deus que terá que dispensar os anjos-pedreiros*).

Dentro da Teologia Reformada, obviamente, não existe espaço para essa figura do cristão desviado. Não cremos que aquele que conheceu a Cristo e foi liberto da escravidão do pecado e ressuscitado da morte por Ele perca-se, pois em Cristo reside toda nossa Esperança e Segurança: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou.” (Romanos 8.29-30 NVI). Mas existe sim a figura daquele que a Palavra descreve em Hebreus 6.4. Que não consideramos “desviado”, mas como o apóstolo João explicou em sua primeira carta (1 João 2.19): “saíram porque não eram dos nossos”. Isso deixa claro que para “reformados”, “uma vez salvo, salvo para sempre”. No entanto, isso não significa que todos que vão à igreja são salvos apenas porque disseram sim a um apelo ao final do sermão. Nossa definição de “Salvo” é completamente diferente.

6 de mar. de 2015

Não existe "artista" na Igreja de Deus

Por Fabio Campos


 “Pois em Deus não há parcialidade”. 
 Romanos 2.11 

Certa vez, um pastor, contou um relato (verídico) onde um missionário estava na missão na África do Sul. Devido ao “apartheid” o preconceito racial era muito grande, e desprezar os negros era um comportamento absolutamente comum para aqueles racistas. Este missionário recebeu em sua casa as principais autoridades daquele país.

Ao receber esta “notável” visita (a vista dos homens), constrangido de que estas autoridades o atrelassem aos zulus, o missionário, então, fechou a janela, pois ela dava exatamente para o lugar onde os zulus estavam reunidos. Na medida em que ele fechava a janela, para que as autoridades não percebessem a sua comunhão com os zulus, o Espírito de Deus segredou no coração dele: “Feche a janela e Eu Fico do lado de fora”.

Lamentavelmente vemos que há em algumas igrejas certa distinção no tratamento para com o pobre para com o rico. Repare como os artistas e políticos são saudados por esses “pastores”. Geralmente estes líderes são pastores de multidão. Amam a massa, mas não se achega ao individuo. Faça uma pesquisa na igreja e você vai comprovar que 80% dos membros nunca tomaram um café num tempo de quinze minutos com estes “bispos” e “apóstolos”. Alguns nunca o cumprimentaram pessoalmente.


O favoritismo pelos “homens que são”, ao contrário de Deus que escolheu os “que não são”, por estas igrejas é grande. O cara mal chega dizendo que é evangélico, e por ter certa influência na sociedade logo já é posto por líder ou pastor. Que desgraça! O resultado disto é desastroso. Gente ímpia governando a igreja de Deus. Nestas igrejas você pode até ser vocacionado, mas se não tiver um bom emprego - uma conta bancária considerável ou não for “esteticamente” bonito aos olhos do mundo, sem chance para você no que concerne às aparições públicas. Esquecem que o pobre íntegro é melhor do que o rico perverso (Pr. 19.1). Isso é pecado e saiba que tal líder tem por “deus” a mamon (Mt 6.24).

O texto de Tiago [2.1-9] é bem claro e denuncia este “favoritismo”. Imagine você - dois homens chegando para prestar o culto a Deus. Tiago diz que os dois são crentes de verdade. Todavia, um é bem pobre, ao ponto de Tiago chama-lo de “pobre andrajoso” (mendigo para nós); já o outro é um homem muito rico que se destaca pelas suas lindas vestes e pelo o seu anel de ouro. O pobre chegou primeiro no culto; o rico chegou depois. O que estava acontecendo, é que o pobre (por ser mendigo) deveria ceder lugar para o rico.

Entretanto, o pobre só tinha aquela roupa. Ele trabalha e dormia com ela, e por estar gasta e cheia de manchas, o pobre, devia ceder o seu lugar para o rico (hoje seria o púlpito [para contar o seu testemunho] e os primeiros lugares) e tinha que ficar lá traz da igreja e em pé.

Não é isto o que vemos hoje? Parcialidade dentro das igrejas? Dentro da igreja do Senhor Jesus não existe rico nem pobre – famoso ou gente comum. Todos são igualmente pecadores perdoados por Deus. Tratar alguém com favoritismo – seja por ser rico ou famoso – em detrimento do pobre e daquele que tem a vida “comum” – é pecado, pois tal coisa não está certa diante de Deus.

Muitos usam o argumentam que, por ser “famosa” ou “rica”, tal pessoa, trará um numero maior de pessoas ao Evangelho. Será? Deus precisa do homem para converter o coração de alguém? Não seria Ele poderoso para das pedras “suscitar” filhos de Abraão (Mt 3.9)? Não é mais o Espírito Santo quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8)? Você acha mesmo que Deus está desesperado em busca da multidão sendo que para Ele uma “alma vale mais que o mundo todo”? Sinceramente, tal argumento é posto para trazer um conforto na consciência culpada destes líderes devido o pecado da “parcialidade”.

Nada dentro da igreja deve ser feito com favoritismo (1 Tm 5.21). Deus não olha como o homem olha, pois Ele não vê a conta bancária, mas o coração (1 Sm 16.7). Paulo detestava este tipo de comportamento e jamais agiria desta forma, como ele mesmo disse: “Quanto aos que pareciam influentes — o que eram então não faz diferença para mim; Deus não julga pela aparência — tais homens influentes não me acrescentaram nada” (Gl 2.6) NVI.

Você pode até ficar empolgado e ostentar que tal artista é da sua igreja, todavia, Deus não considera assim e odeia tal comportamento, como está escrito: “Não é verdade que ele não mostra parcialidade a favor dos príncipes, e não favorece o rico em detrimento do pobre, uma vez que todos são obra de suas mãos” (Jó 34.19 NVI). “Coitado” do irmão pobre que serve a igreja com tantas dificuldades. Sente-se zombado e menosprezado; mas Deus toma a dor dele e sente o que ele sente. Deus se volta contra aqueles que exaltam o “artista” em detrimento do popular (Pr 17.5).

Que Deus nos livre desta praga que se instalou no seio de algumas igrejas, ou seja, o favoritismo que tem por crivo a “posição social”. Tal coisa não tem nada haver com o Evangelho e longe está da postura do Soberano Senhor - Criador dos Céus e da Terra, dono do ouro e da prata - mas que preferiu vir a terra como servo. Tinha toda a Glória, mas esvaziou a si mesmo e se fez pobre (Fp. 2. 5-11); por isso foi desprezado, pois a sua aparência não tinha beleza (Is 53.8). Muitos por analisar somente a aparência estão rejeitando o próprio Senhor Jesus.

No entanto, O “manso e humilde” de coração é Rei dos reis e Senhor dos senhores. A maioria dos seus escolhidos não é sábio segundo o mundo - e nem poderosos de nobre nascimento. Ele escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; as coisas humildes e as desprezadas (aqueles que mal são visto) para reduzir aqueles que são bem visto (1 Co 2.26-28).

Tudo porque “não há justo se quer (Rm 3.10)”; todos voltarão ao pó (Gn 3.19); por isso ninguém (seja o gari ou o presidente da república) poderá se gloriar diante de Deus (1 Co 2.29). Fuja disto e não seja conivente com o comportamento destes líderes; pois a Escritura exorta a agirmos diferentes de tudo isto que temos visto dentro destas igrejas que preferem os artistas. Fique do lado que o Senhor está, pois assim Ele diz:

“Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam DISPOSTOS a associar-se a PESSOAS de POSIÇÃO INFERIOR”. – Romanos 12.16 (NVI)

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!
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Fonte: Blog pessoal do Fabio Campos