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1 de fev. de 2016

"Fé" versus Fé

Por Francis Schaeffer*

É preciso analisar a palavra , admitindo que ela pode significar duas coisas completamente opostas.

Imaginemo-nos subindo aos Alpes, e que, ao atingir o topo escarpado da rocha, subitamente, um nevoeiro baixasse sobre nossas cabeças, o guia se virasse para nós, dizendo que o gelo está se formando e que não há esperança; antes de amanhecer, congelaríamos até a morte lá mesmo na encosta da montanha. Simplesmente para manter-nos aquecidos, o guia nos mantêm andando no nevoeiro denso cada vez mais além da encosta, até que nenhum de nós tenha qualquer ideia de onde estamos. Depois de uma hora aproximadamente, alguém diz ao guia: “Suponha que eu tropeçasse e caísse em uma saliência, alguns metros abaixo do nevoeiro, o que aconteceria?” O guia responderia que ele poderia sobreviver até a manhã seguinte e, assim, escaparia com vida. Assim, sem absolutamente nenhum conhecimento ou qualquer razão para sustentar sua ação, um dos membros do grupo acabaria pulando e cai no nevoeiro. Esta seria uma espécie de fé, de salto de fé.

Suponha, porém, que depois de termos explorado a encosta, no meio do nevoeiro, com o gelo acumulando-se na rocha, tivéssemos passado e ouvido uma voz dizendo: “Vocês não podem ver-me, mas eu sei exatamente onde vocês estão pelas suas vozes. Estou no outro pico. Tenho vivido nestas montanhas homem e menino, há mais de 60 anos, e conheço cada metro quadrado delas. Garanto que há uma saliência dez metros abaixo de onde vocês estão. Se vocês pularem, poderão passar a noite ali, e eu os apanharei pela manhã”.

Eu não saltaria de imediato, mas faria perguntas a fim de tentar certificar-me de que o homem soubesse do que estava falando e de que ele não fosse nenhum inimigo. Nos Alpes, por exemplo, eu poderia perguntar pelo seu nome. Se o nome alegado fosse de uma família da região das montanhas, isso seria um dado importante para mim. Nos Alpes Suíços há certos nomes de família que caracterizam as famílias montanhesas da região. Na minha situação desesperada, mesmo que o tempo estivesse se esgotando, eu lhe faria todas as possíveis perguntas importantes e suficientes, até ficar convencido de suas respostas, só então eu saltaria.

Isto é fé, mas obviamente este conceito não tem nada a ver com aquele outro uso da palavra. O fato é que, se chamamos de fé a algumas destas coisas, já não poderíamos chamar a outra pelo mesmo nome. A fé do Cristianismo histórico não é sinônima de salto de fé no sentido pós-kierkgaardiano, pelo simples fato de que ele não está em silêncio, e eu sou convidado a fazer perguntas adequadas e suficientes, não apenas relativas a detalhes, mas também quanto à existência do universo e a sua complexidade e quanto a existência do homem. Sou convidado a fazer perguntas adequadas e suficientes e depois acreditar nele e curvar-me metafisicamente diante dele, ao ter a certeza de que eu existo, porque ele fez o homem, e curvar-me moralmente diante dele, como alguém que precisa desesperadamente da sua providência, através da morte substitutiva, propiciatória de Cristo. 

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*Apêndice do livro "O Deus que se Revela". 

16 de set. de 2015

Tudo o Que Não Provém de Fé é Pecado

Por John Piper
Pessoas do tempo de John Chrysostom (347–407) tentaram limitar o significado das palavras de Paulo em Romanos 14:23: "Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado." Chrysostom adverte: "Agora, todas essas coisas foram ditas por Paulo sobre o assunto em questão, não sobre tudo".
Leon Morris segue essa delimitação e diz:

25 de jul. de 2015

O que é Salvação pela Fé Somente?

Por Augustus Nicodemus

Procurei resumir abaixo o que entendo ser o ensino bíblico acerca deste assunto, que é o mais importante e urgente para nossas vidas, e sobre o qual existe tanta confusão até mesmo entre os evangélicos.

1. Todas as pessoas são carentes de salvação, pois todas elas, sem qualquer exceção, são pecadoras. Isto significa que elas, em maior ou menor grau, quebraram a lei de Deus e se tornaram culpadas diante dele. Esta lei está gravada na consciência de todos, disposta nas coisas criadas e reveladas claramente nas Escrituras - a Bíblia. Ninguém consegue viver consistentemente nem com seu próprio conceito de moralidade, quanto mais diante dos padrões de Deus. Como Criador, Deus tem o direito de legislar e determinar o que é certo e errado e de julgar a cada um de acordo com isto.

8 de jul. de 2015

Seis Benefícios da Evangelização para o Discipulado

Por Brian Parks

“A evangelização mudou a minha vida”. John, meu taxista, disse-me isso enquanto dirigíamos pela autoestrada de Orlando até a conferência da qual eu estava participando. A nossa conversa mudou para o assunto da fé assim que ele descobriu que eu não estava em Orlando para ir à Disney World, como a maioria dos seus passageiros.

11 de jun. de 2015

Não estou ofendido

Por Augustus Nicodemus*
Quando vi as imagens da transexual "crucificada"na parada gay não me senti ofendido, como cristão. É óbvio que discordei da estratégia de marketing dos organizadores e sem dúvida percebi que o alvo era mesmo a provocação aos cristãos. Embora o episódio tenha sido justificado como sendo uma forma de expor a humilhação sofrida pelos gays, a impressão que dá é outra.

28 de fev. de 2015

A Fé como um dom

Por Sinclair Ferguson

Isso é ainda mais enfatizado no Novo Testamento pelo fato de a fé ser um fruto do ministério do Espírito e ser vista no Novo Testamento como um dom de Deus. Aqui, também, há uma evidente tensão entre a atividade do Espírito e a resposta humana. Paulo provê para nós uma importante perspectiva neste aspecto, delineando uma analogia ulterior entre crer e sofrer: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele” (Fp 1.29). O sofrimento, como a fé, é um dom da graça na experiência cristã. Mas o dom do sofrimento não nos é dado convenientemente como um fait accompli. Quem sofre somos nós, não Deus. Não obstante, esse sofrimento é um dom procedente dele. De uma forma paralela, a fé não é um pacote posto em nossas mãos. É a atividade do homem como um todo, direcionada pelo Espírito para Cristo. Deus não crê por nós, nem em nós; nós é que cremos. Todavia, é somente pela graça de Deus que cremos. Seu dom é simultaneamente ato nosso.

O texto clássico em relação a isso é Efésios 2.8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”. Há aqui um problema exegético bem notório: qual é o antecedente de “isto”, e, portanto, o que exatamente constitui o dom?

Para o leitor casual, “fé” se lê como o antecedente natural (é o antecedente imediato). Mas “isto” (touto) é neutro, enquanto ambos os antecedentes prévios são femininos (charis, “graça”, e pistis, “fé”); assim também “salvação” (soteria), que pode ser entendida como o antecedente não escrito: “e isto (ou seja, a salvação) não vem...”.

É um princípio há muito reconhecido que em linguagens onde o gênero gramatical de um pronome não pode concordar com o gênero do próprio antecedente, também não pode concordar com o gênero da palavra que o denota.[1] Neste contexto específico, visto que tanto pistis como charis não são gênero neutro, tampouco podem servir de antecedentes.

Três considerações sugerem que o antecedente (ou seja, a coisa que é o dom de Deus) é a fé (pistis).

(1) Ela é o antecedente imediato e, portanto, o mais natural.
(2) Seria uma tautologia não usual (porém admissivelmente não impossível, como Rm 2.24 e 5.15 indicam) falar da graça como um dom de Deus, já que, por definição, a graça é um dom de Deus.
(3) Ela fornece uma redação coerente do pensamento padrão de Paulo, o qual pode ser parafraseado assim:

Deus nos vivificou – pela graça sois salvos (2.5).
Deus nos ressuscitou – para mostrar sua graça (2.6-7).
E é deveras pela graça que tendes sido salvos (2.8)!
Esta graça, porém, não só não nos envolve como também ignora nossa ação
(a salvação é pela fé, ou seja, envolve nossa resposta ativa).
Não obstante, esta  ativa, de nossa parte, não prejudica a graça.
Pois até mesmo a capacidade de crer não é nossa independentemente.
A fé (também) é o dom de Deus.
Portanto: a salvação que é pela graça é também pela fé.
Mas, como agora se torna claro, esta salvação,
embora recebida por nossa ação (fé),
não é desse modo “pelas obras”.
Ela envolve nossa atividade,
mas não deixa espaço para nossa vanglória (2.9).
Daí:
a salvação não é obra nossa;
ao contrário, somos feitura de Deus (2.10).

Mesmo que adotemos o ponto de vista de que “ser salvo através da fé” é que forma o antecedente (ponto de vista favorecido por Calvino e outros), haveria ainda um indício de que a fé é um dom da graça. Que a fé, em qualquer caso, é vista por Paulo como um dom, é confirmado em Efésios 6.23, quando ele ora pela “fé, da parte de Deus o Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Haveria pouca importância orar pelo que procede do Pai e do Filho, a menos que a fé seja, em algum sentido, conferida por eles. Semelhantemente, Pedro se refere aos crentes como quem “obtiveram fé igualmente preciosa na justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.1), o que parece ser uma referência ao conteúdo da fé (fides quae creditur), não do ato (fides qua creditur). Além do mais, no Novo Testamento, o arrependimento (do qual a fé é inseparável) é visto como um dom (At 5.31; 11.18; 2Tm 2.25); não surpreende, pois, se a fé é também vista como um dom da graça. Aqui, pois, se dá prioridade à soberania divina (ela é o sine qua non da fé) sem minimizar a realidade e a significação da atividade dos crentes.

Além do mais, o exercício ativo da fé (quem crê somos nós, não Deus) não compromete a graça da obra do Espírito na implicação da salvação. É da natureza da fé que por meio dela recebamos ativamente a Cristo e a justificação nele, sem contribuir para isso. Acima de tudo, fé é confiança em outro. É a antítese de toda autocontribuição e autoconfiança.

Paulo faz alusão a isso quando diz que a promessa da salvação é pela fé para que a mesma pudesse ser pela graça e ser garantida aos crentes (Rm 4.16). Fé envolve graça sem transformar a salvação em mérito humano.

Warfield expressa isso de um modo pitoresco, quando diz:

O poder salvífico da fé reside, portanto, não nela mesma, mas no Onipotente Salvador em quem ela repousa. Nunca, na Escritura, por causa de sua natureza formal como um ato psíquico, se concebe a fé como sendo salvífica – como se essa disposição mental ou a atitude do coração fosse em si mesma uma virtude que reivindicasse de Deus sua recompensa ... Não é a fé que salva, mas a fé em Jesus Cristo... Estritamente falando, não é nem mesmo a fé em Cristo que salva, mas é Cristo quem salva pela instrumentalidade da fé. [2]

Somos salvos por Cristo através da fé. O poder salvífico da fé não reside nela mesma, mas no objeto de sua confiança. Como G. C. Berkouwer escreve em outra conexão: “A fé não possui um único momento construtivo e criativo; ela repousa única e exclusivamente na realidade da promessa”.[3] Há um envolvimento total do crente; ao mesmo tempo, porém, a graça não é comprometida. O caráter da salvação pela graça é que ela envolve o homem sem prejudicar a gratuidade da salvação recebida. Otto Weber o expressa bem: “A fé, segundo a compreensão bíblica, consiste não em ser o homem excluído, mas em ser o homem envolvido ao máximo”.[4]
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Transcrito do livro O Espírito Santo, pp 171-175; Editora Os Puritanos
[1] Cf. Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, tr. H. De Vries (Nova Iorque: Funk & Wagnalls, 1900), p. 412; Robert E. Countess, “Thank God for the Genitive”, Bulletin of the Evangelical Theological Society 12 (1969), pp. 117-122.
[2] Warfield, op. cit., p. 504.
[3] G. C. Berkouwer, The Sacraments (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1969), p. 147.
[4] Otto Weber, Foundations of Dogmatics, tr. Guder (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1983), vol. 2, p. 147.

5 de jan. de 2015

Carta a um cristão ansioso

Por Kyle Borg

Caro Sr. Ansioso,

Olá amigo! Eu queria te agradecer por sua carta. Tenho que admitir, entretanto, que lamento saber de suas muitas e penosas ansiedades. Elas são uma carga que você não deveria carregar. Você não está sozinho. O mundo está cheio de gente ansiosa. Eu não me refiro às pessoas que estão ansiosas pelas coisas de Deus – pecado e tentação ou o estado de suas almas. Ah, se tivéssemos mais desse tipo de ansiedade e menos das preocupações mundanas! Não, nós nos preocupamos com todo tipo de coisas – dinheiro e saúde, casamento e filhos, escola e trabalho, reputação e aparência, hoje e amanhã; nos preocupamos com o que vamos comer, beber e vestir – e essa lista poderia continuar pra sempre. Em meu caso, preciso admitir, de vez em quando a ansiedade cobre a minha cabeça como uma sombra negra que parece quase impossível de escapar.

Ainda assim, Sr. Ansioso, creio fortemente que um cristão tem tanto direito de se preocupar quanto tem de roubar, mentir ou matar. Isso é, ele não tem esse direito – é ilegal! Ansiedade é descrença, é ser dominado pelas circunstâncias, é uma desconfiança das promessas de Deus. Nos preocupamos, e preocupação é pecado. A ordem é clara, “Não andeis ansiosos” (Mateus 6.25), e “Não andeis ansiosos de coisa alguma” (Filipenses 4.6). Entretanto, alguns cristãos parecem, ao menos pra mim, que são as pessoas mais ansiosas que eu já conheci. Não era pra ser assim! Não é a ansiedade quem paga as contas, nem é ela quem coloca comida na mesa. Preocupar-se não melhora sua saúde nem prolonga seus dias. Nem um pouquinho. Como o salmista disse, “Nas tuas mãos, estão os meus dias” (Salmo 31.15).

Voltando à sua situação, deixe-me oferecer alguns conselhos. A forma de derrotar a ansiedade não é simplesmente esperar até as coisas melhorarem, mas exercitar uma fé presente no Deus da promessa. Então, se me permite, aqui estão minhas recomendações:

Primeiro, lembre-se da grandeza de Deus. Num primeiro momento, isso pode não parecer uma resposta. Afinal, muito de nossa ansiedade vem de uma sensação de que Deus tem coisas melhores pra fazer do que se preocupar com os detalhes de minha vida. No entanto, a verdade é o oposto disso. O profeta uma vez perguntou “Por que, pois, dizes, ó Jacó, e falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao SENHOR, e o meu direito passa despercebido ao meu Deus?” E como Isaías responde? Ele diz “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento”. Veja só, Deus se preocupa com os detalhes da sua vida justamente porque ele é um grande Deus. E assim o salmista canta “Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá” (Salmo 55.22).

Segundo, lembre-se do cuidado de Deus. A natureza, como você sabe, nos ensina muitas coisas sobre Deus, “Os céus proclamam a glória de Deus” (Salmo 19.1). E como Jesus ensinou, a natureza nos mostra o cuidado de Deus. Ele cuida das aves dos céus, dos lírios e da erva do campo. “Porventura, não valeis vós”, Jesus perguntou “muito mais do que as aves?”. É quase uma pergunta absurda, e certamente só pode ter uma resposta: sim! Qual pai se preocupa mais em aparar a grama do quintal do que com seus filhos? Dessa forma o apóstolo Pedro escreveu “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pedro 5.6-7).

Terceiro, lembre-se do espírito da oração. Oração verdadeira, por sua própria natureza, é uma renúncia de si para Deus, “Seja feita a tua vontade na terra como é nos céus” (Mateus 6.10). E quando alguém consegue, pela fé, renunciar a si mesmo para Deus, simplesmente não há espaço para preocupação e ansiedade. Por essa razão o apóstolo Paulo disse “Perto está o Senhor. Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Filipenses 4.5-7).

Sr. Ansioso, eu gostaria que você sempre se lembrasse desta grande verdade central – tudo o que diz respeito a um crente está nas mãos de Deus. Você não recebeu toda bênção espiritual em Cristo para então se preocupar e ter medo, ficando ansioso. Esta é uma carga que você não deveria carregar. Eu sei que o mundo vai rir disso. “Fé cega”, eles gritam! “Irracional”, dizem outros. Deixe-me lembrá-lo que a fé é um escudo, e nenhum soldado é zombado por trazer um escudo para a batalha. Que Deus lhe dê o que o mundo não pode dar.

Seu Bom Amigo,

Sr. Paz
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Fonte:Reforma 21

3 de jan. de 2015

O Cristão pode jogar na Mega Sena?

Por Thiago Azevedo

Desde que me entendo por persona cristã que identifico uma dúvida presente na vida de alguns cristãos. Diversas pessoas sempre questionam seus respectivos líderes eclesiásticos com as seguintes indagações: É pecado jogar na Mega Sena? A Bíblia condena? A Bíblia não condena? E se jogar apenas no final do ano? E se alguém ganhar e me der uma parte do valor? Estas são as dúvidas mais corriqueiras dentro deste tema.

Em primeiro lugar: quando alguém pergunta muito se algo é pecado ou não é porque de fato ele tem um pé atrás com determinada prática. Querer que a Bíblia descriminasse de forma específica uma prática da sociedade atual (moderna e capitalista) seria um tanto quanto anacrônico. Mas o fato de a Bíblia não falar sobre o assunto de forma específica não significa dizer que podemos legislar sobre o mesmo de forma independente, isso seria um frágil argumento intitulado como argumento da ausência. Ou seja, por não ter textos se pode tomar a decisão que quiser. Se fosse assim, a Bíblia não possui nenhum texto que recomende a prática de jogar na Mega Sena – quer seja duas ou três vezes ou só no fim do ano – logo poderíamos deduzir que não se pode jogar.

O que se pode avaliar dentro de uma perspectiva bíblica é o princípio da transferência da fé. Ou seja, uma pessoa possui fé em Deus, mas esta pessoa transfere sua fé para quaisquer outras coisas. Foi isso que Israel fez ao confeccionar um bezerro de ouro e transferir para este toda sua fé (Êxodo 32). Israel transferiu sua fé – a fé em Deus de conduzir o povo, a fé em Deus de livrar dos inimigos, a fé em Deus de receber provisão etc. A transferência da fé é onde reside todo o problema. Quando alguém joga na Mega Sena ou outro jogo da loteria, de forma automática, esta pessoa está transferindo sua fé em Deus para um prêmio material – a condução da vida do cristão depende única e exclusivamente de Deus e quando alguém joga na Mega Sena está declarando com esta atitude que não tem confiança suficiente na pessoa divina para condução de sua vida. É como se o indivíduo apostador tivesse dando uma “forcinha a Deus”. A bíblia diz que “o justo viverá da fé; E, se ele recuar a alma do Senhor não tem prazer nele” (Hebreus 10:38).

A fé em Deus não pode ser transferida para nada, mesmo que seja apenas uma vez por ano como muitos fazem (apostando na Mega Sena da Virada). Quando alguém transfere sua fé da pessoa divina para o que quer que seja - recuando então - Deus não tem prazer neste indivíduo. Há uma palavra que é direcionada constantemente a quem realiza apostas, a saber, “fezinha” (de fé pequena). Quanto a isso gostaria de contar uma história da minha infância:

Meu pai era envolvido com a obra de Deus, mas sempre realizava suas apostas de fim de ano. Um belo dia fui com ele até a lotérica e o mesmo fez seu joguinho. Prontamente, ao terminar a aposta, a mulher do caixa se despediu do meu pai com as seguintes palavras: “Espero que sua ‘fezinha’ dê certo...”. Logo o questionei acerca daquela palavra e de seu significado, meu pai não soube responder. Depois que cresci descobri que “Fezinha” nada mais é que um escape, um plano B, um jeitinho brasileiro, uma transferência da fé da pessoa de Deus para algo material. O justo viverá da fé e essa fé não pode ser tida como uma “fezinha”. Isso sem falar na possibilidade desta prática se tornar um vício e neste caso as Escrituras condenam pesado a prática viciosa.

Podemos concluir com 1 Co 6:12 que nos mostra o seguinte texto: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma delas”. Assim, se alguém me pergunta se pode ou não pode jogar na Mega Sena, quer seja da virada ou durante outros dias do ano, prontamente responderia que pode, mas não deve. Pois, realizando este ato estará demonstrando sua transferência de fé da pessoa divina, a fé em algo sólido – Deus – para algo que não merece ser depósito de fé, algo material e pueril. No que diz respeito à última pergunta que tanto se tem visto nos meios cristãos, a saber, e se alguém ganhar e me der uma parte? Pois bem, alguém transferiu sua fé da pessoa divina para algo terreno e material – premiação – e à medida que aceito alguma parte desta premiação comungo de forma automática de sua transferência de fé – peco indiretamente. Portanto, Deus é quem deve ser a fonte de fé e de esperança de todos aqueles que se intitulam de cristãos. 

26 de dez. de 2014

O Que o Natal Significa Para Mim

Por C.S. Lewis
Há três coisas que levam o nome de “Natal”. A primeira é a festa religiosa. Ela é importante e obrigatória para os cristãos mas, já que não é do interesse de todos, não vou dizer mais nada sobre ela. A segunda (ela tem conexões históricas com a primeira, mas não precisamos falar disso aqui) é o feriado popular, uma ocasião para confraternização e hospitalidade. Se fosse da minha conta ter uma “opinião” sobre isso, eu diria que aprovo essa confraternização. Mas o que eu aprovo ainda mais é cada um cuidar da sua própria vida. Não vejo razão para ficar dando opiniões sobre como as pessoas devam gastar seu dinheiro e seu tempo com os amigos. É bem provável que elas queiram minha opinião tanto quanto eu quero a delas. Mas a terceira coisa a que se chama “Natal” é, infelizmente, da conta de todo mundo.
Refiro-me à chantagem comercial. A troca de presentes era apenas um pequeno ingrediente da antiga festividade inglesa. O Sr. Pickwick levou um bacalhau a Dingley Dell [1]; o arrependido Scrooge [2] encomendou um peru para seu secretário; os amantes mandavam presentes de amor; as crianças ganhavam brinquedos e frutas. Mas a ideia de que não apenas todos os amigos mas também todos os conhecidos devam dar presentes uns aos outros, ou pelo menos enviar cartões, é já bem recente e tem sido forçada sobre nós pelos lojistas. Nenhuma destas circunstâncias é, em si, uma razão para condená-la. Eu a condeno nos seguintes termos.
1. No cômputo geral, a coisa é bem mais dolorosa do que prazerosa. Basta passar a noite de Natal com uma família que tenta seguir a ‘tradição’ (no sentido comercial do termo) para constatar que a coisa toda é um pesadelo. Bem antes do 25 de dezembro as pessoas já estão acabadas ― fisicamente acabadas pelas semanas de luta diária em lojas lotadas, mentalmente acabadas pelo esforço de lembrar todas as pessoas a serem presenteadas e se os presentes se encaixam nos gostos de cada um. Elas não estão dispostas para a confraternização; muito menos (se quisessem) para participar de um ato religioso. Pela cara delas, parece que uma longa doença tomou conta da casa.
2. Quase tudo o que acontece é involuntário. A regra moderna diz que qualquer pessoa pode forçar você a dar-lhe um presente se ela antes jogar um presente no seu colo. É quase uma chantagem. Quem nunca ouviu o lamento desesperado e injurioso do sujeito que, achando que enfim a chateação toda terminou, de repente recebe um presente inesperado da Sra. Fulana (que mal sabemos quem é) e se vê obrigado a voltar para as tenebrosas lojas para comprar-lhe um presente de volta?
3. Há coisas que são dadas de presente que nenhum mortal pensaria em comprar para si ― tralhas inúteis e barulhentas que são tidas como ‘novidades’ porque ninguém foi tolo o bastante em adquiri-las. Será que realmente não temos utilidade melhor para os talentos humanos do que gastá-los com essas futilidades?
4. A chateação. Afinal, em meio à algazarra, ainda temos nossas compras normais e necessárias, e nessa época o trabalho em fazê-las triplica.
Dizem que essa loucura toda é necessária porque faz bem para a economia. Pois esse é mais um sintoma da condição lunática em que vive nosso país ― na verdade, o mundo todo ―, no qual as pessoas se persuadem mutuamente a comprar coisas. Eu realmente não sei como acabar com isso. Mas será que é meu dever comprar e receber montanhas de porcarias todo Natal só para ajudar os lojistas? Se continuar desse jeito, daqui a pouco eu vou dar dinheiro a eles por nada e contabilizar como caridade. Por nada? Bem, melhor por nada do que por insanidade.
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Notas:
[1] Samuel Pickwick é o personagem principal de Pickwick Papers, romance de Charles Dickens no qual suas aventuras são narradas. Dingley Dell é o nome de uma fazenda, um dos cenários do romance. (N. do T.)
[2] Referência ao avarento milionário Ebenezer Scrooge, personagem da obra Um Conto de Natal, de Charles Dickens. (N. do T.)

4 de nov. de 2014

Jesus salva; fé, não

Por Scott Swain

Jesus é o “agente” da salvação. Fé é o “instrumento” da salvação. Nós não devemos confundir os dois.

Jesus é o agente que alcanças todas as graças salvíficas por nós e em nós.  Jesus “salva”, “justifica”, “santifica” e “glorifica” seu povo em cumprimento do soberano propósito do seu Pai e por meio do poder do Espírito. Seu nome é “Jesus” porque ele salva seu povo dos seus pecados (Mt 1.21).

Fé é o instrumento que recebe Jesus o salvador (Jo 1.12). Fé é o meio fraco e indefeso pelo qual Jesus concede suas bênçãos salvadoras para pobres e miseráveis pecadores como eu e você (Rm 4.16-21). Fé não é a obediência que Jesus exige quando nós ficamos aquém de suas exigências mais difíceis. Fé é uma alternativa para as exigências de Jesus (Rm 4.4-5). De fato, fé é a raiz da qual toda obediência grata a Jesus nasce (Gl 5.6). Mas Jesus é o solo que nutre essa raiz e a água vivificante que a leva a dar fruto (Ef 3.17).

Quando a fé se tornar o agente da salvação, nos depararemos com vários problemas. Nós começaremos a imaginar se e quando realmente cremos, e se estamos crendo com sinceridade suficiente, força suficiente e consistência suficiente.

Quando Jesus torna-se o instrumento da salvação, também nos deparamos com sérios problemas. Em vez de confiar nele para completar a boa obra que ele iniciou em nós (Fp 1.6) e guardar sua Palavra para cumpri-la (Jr 1.12), nós começamos a pensar nele como um espectador passivo da nossa salvação, alguém que precisamos manipular por meio de atividades religiosas para que ele desperte e nos dê o que precisamos ou o que achamos que precisamos.

Jesus e fé andam lado a lado. Mas eles o fazem em ordem e relacionamento definidos. Confunda essa ordem e relacionamento e você – assim como aqueles que escutam sua confusão – terão sérios problemas espirituais. Entenda corretamente e você começará a pensar e falar muito mais sobre Jesus e seus atos salvíficos e muito menos sobre fé. E isso é algo bom: porque Jesus é um salvador espetacular e somente ele – não sua fé – é digno de sua confiança.
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Fonte: Reforma 21