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21 de set. de 2016

Fale (ou escreva) o que é bom para a edificação: minha vindicação

Por Alan Rennê Alexandrino

Na chamada parte prática da Epístola aos Efésios o apóstolo Paulo, dentre vários mandamentos, apresentou o seguinte aos cristãos efésios: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (4.29). Nos versículos anteriores Paulo aplica a sua doutrina afirmando que os efésios deveriam andar de modo diferente dos gentios, isto é, daqueles que não conhecem a Deus. Como? Eis a resposta: “na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza” (v. 17). De acordo com ele, não foi dessa maneira que os efésios aprenderam. Seus leitores deveriam se despojar do velho homem, “que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (vv. 22-24).

A partir daí o apóstolo apresenta os seguintes imperativos:

1. Deixem a mentira e falem a verdade uns aos outros, pois somos membros uns dos outros (v. 25);

2. Irem-se sem pecar. Não permitam que o sol se ponha sobre sua ira (v. 26);

3. Não deem lugar ao diabo (v. 27);

4. Aquele que furtava pare com essa prática. Comece a trabalhar, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para também ter condições de socorrer aqueles que estão em necessidade (v. 28);

5. Não falem palavras torpes, mas apenas aquelas que contribuírem para a edificação mútua (v. 29);

6. Não entristeçam o Espírito de Deus, pois vocês foram selados nele para o dia da redenção (v. 30);

7. Lancem fora toda amargura, cólera, ira, gritaria, blasfêmias, bem como toda malícia (v. 31);

e 8. Sejam benignos uns com os outros, perdoando-se uns aos outros, segundo o que o próprio Deus, em Cristo, fez (v. 32).

Convém voltar nossa atenção para o versículo 29, onde Paulo fala do conteúdo das nossas palavras. Em primeiro lugar, Paulo nos proíbe falar aquilo que é “torpe”. A palavra grega utilizada aqui é σαπρς – saprós, que significa literalmente, de acordo com o Friberg Lexicon: “deteriorado, podre, apodrecido ou decomposto”.[1] Ainda de acordo com o mesmo léxico, o termo também pode significar, de modo mais geral “inútil, sem valor, impróprio”.[2] De acordo com outro léxico, o Thayer’s Greek Lexicon, o termo foi usado pelo filósofo grego Aristófanes, no 5º século antes de Cristo, para falar daquilo que foi “corrompido pela idade e já não é mais apto para uso”.[3] De modo geral, o termo fala daquilo que é de “qualidade pobre, má, inadequado para o uso e indigno”.[4] É interessante notar que este léxico também destaca que a palavra é oposta a καλς – kalós, que significa “bom, excelente em sua natureza e características”.[5]

Sendo assim, o apóstolo Paulo, ao nos proibir de falarmos aquilo que é torpe não está pensando apenas em palavras chulas, imorais e vergonhosas. Ele tem em mente qualquer tipo de palavra má, ímpia e pecaminosa. Isso inclui, por exemplo, a maledicência e a fofoca, que são pecados através dos quais o nome de alguém é difamado, caluniado etc. Jerry Bridges, em seu fantástico livro PECADOS INTOCÁVEIS, aplica o versículo 29, dizendo o seguinte:

“Ao examinarmos Efésios 4.29, observamos que não devemos permitir que nenhuma conversa corrupta saia de nossa boca. Essa conversa não se limita a palavrões e obscenidades. Inclui todos os tipos de conversas negativas que mencionei anteriormente. Note a proibição absoluta de Paulo. Nada de palavra destruidora. Nenhuma sequer. Isso significa nada de fofoca, nada de sarcasmo, nada de críticas, nada de palavras grosseiras. Todas essas conversas malignas que geralmente destroem outra pessoa têm de estar fora de nossas conversas”[6].

Em vez de palavras más, nossa palavra deve ser “unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”. Primeiramente, Paulo diz que aquilo que falamos deve ser bom para edificação. O que significa “edificar”? Seria uma palavra edificante apenas aquela que traz enlevo à nossa alma, que desperta bons sentimentos em nossos corações, que produz em nós boas sensações? Há alguma possibilidade de uma palavra edificante suscitar uma resposta de oposição ao pregador/escritor? Além disso, há alguma desarmonia ou incompatibilidade entre a palavra boa para a edificação e a veemência, a firmeza das convicções e a ousadia no falar?

O termo grego para edificação é οκοδομ - oikodomê, que fala de uma construção, um edifício cuja construção avança rumo ao seu acabamento. Novamente evocando o Thayer’s Greek Lexicon, o termo fala “da ação de alguém que promove o crescimento de outrem na sabedoria, piedade, santidade e felicidade cristãs”.[7] Comentando Efésios 4.29, o reformador João Calvino diz que interpreta a ordem de Paulo “como sendo o progresso de nossa edificação, pois edificar é progredir, avançar”.[8] Assim, a edificação busca que o outro avance, cresça, vá adiante, progrida na fé cristã.

É interessante que versículos antes o apóstolo Paulo fala do ofício pastoral e sua relação com a edificação dos crentes: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (4.11-12). Assim, o objetivo do Senhor Jesus ao conceder pastores e mestres à sua Igreja é o aperfeiçoamento dos santos e a edificação do corpo de Cristo. Logo em seguida, ele acrescenta um alvo positivo e outro negativo. O alvo positivo é até que “cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (v. 13). Já o alvo negativo é: “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (v. 14).

Com isto em mente, com qual objetivo pastores e mestres devem trabalhar? O que eles devem pretender ao pregarem, ensinarem, falarem e escreverem? Pelo princípio de 4.29, aquilo que edifica as pessoas de acordo com a necessidade. De acordo com 4.12, isso significa que, de um lado, que suas ovelhas se tornam cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus Cristo. De outro, que elas não sejam suscetíveis aos maus ensinamentos dos falsos mestres. Paulo deixa claro que parte da natureza do ministério pastoral é ser combativo, veemente, firme e ousado frente à enxurrada de falsos mestres que estão em operação. Ele tem seus olhos postos na atuação de falsos mestres que podem enganar os cristãos. D. Martyn Lloyd-Jones, em sua exposição dessa passagem nos diz que, “de todos os perigos, nenhum é maior do que ‘o engano dos homens’ e a astúcia com que eles enganam fraudulosamente’”.[9]

Esse perigo é reforçado quando observamos o ensinamento geral das Escrituras a respeito das falsas doutrinas e da postura combativa que o pastor deve adotar, a fim de repelir o erro. Nesse sentido, precisamos lembrar que o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, afirma que a linguagem dos falsos mestres “corrói como câncer” (2Timóteo 2.17). Escrevendo a Tito, Paulo fala daqueles que eram “insubordinados, palradores frívolos e enganadores” (1.10). A palavra de Paulo a Tito a respeito desses homens foi: É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (1.11). No versículo 13, Paulo continua: “Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé”. Pela regra de Efésios 4.29, Tito deveria falar de modo que contribuísse para a edificação conforme a necessidade. Há alguma incompatibilidade entre esse princípio e as ordens dadas por Paulo em sua carta pastoral? De modo nenhum! No caso específico, Tito estaria contribuindo com a edificação das outras pessoas a partir do momento em que fizesse os falsos mestres calarem e os repreendesse severamente. Fazê-los calar e repreendê-los severamente não é incompatível com a boa palavra que coopera para a edificação dos outros. Antes, é algo que está incluído. Pela regra de Efésios 4.12-14, ao silenciar e repreender os falsos mestres, Tito estaria cooperando para a edificação dos santos, para que eles não fossem enganados pela astúcia dos falsos mestres.

Nesse sentido, podemos pensar também em como o princípio de Efésios 4.29 se aplica ao ministério daquele que é conhecido como o último profeta do Antigo Testamento, João Batista. O ensino de João Batista compreendia o chamado ao arrependimento: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 3.2; conferir Marcos 1.4). No entanto, ao se dirigir aos muitos fariseus e saduceus que iam até ele para serem batizados, o discurso de João Batista adquiria um tom ainda mais forte: “Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3.7-10). É bom observar que, de acordo com Lucas, esse discurso também era dirigido às multidões, e não apenas aos fariseus e saduceus (Lucas 3.7). Qual foi mesmo o fim de João Batista, por ter ele se pronunciado contra o pecado de Herodes? Todos sabemos. Seria ele o tipo de profeta benquisto? Por qual razão ele não era benquisto? Teria ele errado ao falar como falou? Teria ele agido contra o princípio da edificação? Eu creio que a resposta é óbvia.

E Jesus? Ah, com Jesus é diferente. Afinal de contas, ele disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11.28-30). Palavras doces, não é mesmo? Certamente, tratam-se de palavras edificantes. No entanto, este mesmo Jesus, em diversas ocasiões, endureceu o seu discurso, foi veemente, ousado e intolerante em seus pronunciamentos. O que dizer do escandaloso discurso registrado em Mateus 23.13-36, no qual, por sete vezes Jesus se dirigiu aos escribas e fariseus, dizendo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas”? O que dizer das duras expressões usadas para adjetivar os escribas e fariseus, como por exemplo, “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mateus 23.15)? Não é possível deixar de perceber que, aqui, Jesus chamou os escribas e fariseus de “filhos do inferno”! Ele também os chamou de “insensatos e cegos!” (v. 17), “guias cegos” (vv. 16,24), “sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!” (v. 27), “serpentes, raça de víboras!” (v. 33), condenados do inferno (v. 33). O que dizer de tais palavras de nosso Senhor? Foram elas ditas para edificação? Elas serviram ao propósito de edificar os santos e, assim, livrá-los dos falsos mestres que enganam com todo tipo de astúcia? Certamente, que sim!

Temos ainda o famoso sermão sobre o Pão que desceu do céu, registrado em João 6. Qual foi a reação dos judeus que ouviram as palavras de Jesus naquela ocasião? Eis: “Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (João 6.60). As palavras de Jesus, disseram os judeus, foram duras. De acordo com eles, tal discurso era insuportável. No versículo 66 está escrito: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele”. Tudo ia bem até Jesus adotar um tom ousado e veemente em suas palavras. Ele era “edificante” até pregar o sermão de João 6. Mas, teria Jesus falhado em dizer palavras propícias à edificação daquelas pessoas, uma vez que elas não gostaram, na verdade, não suportaram aquele discurso? Ou será que, sim, Jesus disse palavras edificantes e a culpa estava, na realidade, nos corações dos ouvintes? Eu acredito firmemente que as palavras de Pedro respondem a estes questionamentos: “Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (v. 68). Pedro reconhece que aquele duro discurso, aquele discurso intolerável para muitas pessoas era, na verdade, constituído de palavras de vida. Aquele discurso intolerável era, sim, um discurso edificante.

Não é incomum a existência de uma tensão em razão do discurso mais duro e combativo de ministros do evangelho. Isso ocorre mesmo dentro das igrejas cristãs. Isso ocorreu com Paulo e uma igreja local plantada por ele. Em 2Coríntios 10.10 Paulo reproduz o que era dito pelos crentes da igreja de Corinto a respeito daquilo que ele escrevia: “As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra, desprezível”. O contraste entre “as cartas graves e fortes” e a “palavra desprezível” é digno de nota. Era como se dissessem que havia uma diferença entre o Paulo no púlpito e o Paulo escritor. Escrevendo ele era ousado, forte, impetuoso, intolerante. E isso não agradava os coríntios. E como os coríntios julgavam a Paulo? Ele mesmo responde no versículo 2: “nos julgam como se andássemos em disposições de mundano proceder”. Será que, naquilo que escrevia, Paulo não atentava para a edificação dos coríntios? Não é este o caso. A carta inteira, então, é uma defesa de Paulo, da corretude do seu procedimento. O que mais chama a minha atenção é o fato de que temos aqui crentes que eram filhos na fé de Paulo, e que o julgavam dessa forma. Não é de admirar, pois, que o mesmo ocorra com pastores cujas igrejas não foram plantadas por eles.

Eu poderia falar também do que era experimentado pelos profetas do Antigo Testamento. Limito-me, todavia, a Jeremias, chamado para falar contra os pecados do povo de Deus. No capítulo 20 do seu livro nós nos deparamos com uma triste ocorrência. Somos apresentados a um homem chamado Pasur, filho do sacerdote Imer. O versículo 1 diz que Pasur “ouviu a Jeremias profetizando estas coisas”. Que coisas? Precisamos voltar ao verso 15 do capítulo 19: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre esta cidade e sobre todas as suas vilas todo o mal que pronunciei contra ela, porque endureceram a cerviz, para não ouvirem as minhas palavras”. Jeremias proferira uma profecia de juízo, um anúncio de castigo da parte de Deus. O que Pasur fez? Como ele reagiu? Como ele tratou a Jeremias? Eis a resposta: “Então, feriu Pasur ao profeta Jeremias e o meteu no tronco que estava na porta superior de Benjamim, na Casa do SENHOR. No dia seguinte, Pasur tirou a Jeremias do tronco” (v. 2). Isso é simplesmente inimaginável! Um profeta espancado, amarrado a um tronco e deixado ao relento noturno! E por quê? Pela fidelidade a Deus! E Jeremias lamenta a sua situação diante do Senhor: “Persuadiste-me, ó SENHOR, e persuadido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste; sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de mim” (v. 7). Ele era escarnecido. Ele era zombado. E por quê? Pela fidelidade a Deus! Mais à frente, do versículo 14 ao 18, o lamento de Jeremias ganha contornos ainda mais doloridos.

O que se requer, então, dos cristãos em relação aos seus ministros nesse sentido? Compreensão, simpatia, empatia e boa vontade. Pastores precisam ser combativos. Paulo deixou isso bem claro aos presbíteros de Éfeso (Atos 20.17-35). Lobos vorazes que não poupam o rebanho penetram na igreja (v. 29). E, em nossos dias, isso acontece por meio da televisão e também da internet. Muitas vezes, do meio da própria liderança homens se levantam falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles (v. 30). Pastores precisam vigiar, estar atentos (v. 31). Eles precisam enfrentar tais lobos. E, ao fazerem isso, eles estão lutando pela edificação dos crentes. É uma tarefa dolorosa. É angustiante. É desgastante ter de lutar contra o erro, que muitas vezes se apresenta de modo sutil. Hebreus 13.17 diz que os crentes devem obedecer aos seus guias/líderes/ministros, pois eles velam por suas almas. E mais, os ministros prestarão contas pelas almas dos crentes. Meu coração acelera quando penso em que, um dia, eu estarei diante de Deus e prestarei contas pelas almas das pessoas que passaram pelos meus cuidados. E se eu não tiver vigiado atentamente contra os lobos? Se eu não tiver calado os falsos mestres? E se eu não os tiver combatido e repreendido? O que será de mim? Além disso, Hebreus 13.17 também diz que os crentes devem se submeter aos seus pastores, para que, no exercício do seu ministério eles façam isso com alegria e não gemendo. Será que quando uma ovelha se volta contra o ensino do seu pastor e o rejeita isso não faz com que ele gema?

Ainda evocando a Paulo, ele diz a Timóteo que “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Timóteo 5.17). Afadigar-se na palavra e no ensino... Fadiga é o resultado natural do pastorado. Essa fadiga pode ser aumentada, dependendo da resposta ao ministério do pastor. Mas, o pastor, que se afadiga na palavra e no ensino, que se esforça por fazer os falsos mestres calarem, que os repreende, que os combate, que vigia contra os lobos, e, em tudo isso, ele busca a edificação da igreja, o que ele merece? Paulo diz: “dobrados honorários” ou “duplicada honra”, como diz a versão Corrigida Fiel. Encerro com as palavras de um pastor, Jonathan Edwards, que, no passado, foi alvo de incompreensão, e que falando sobre a excelência do ministro cristão, fez o seguinte apelo aos crentes:

E aqui me dirijo especialmente ao povo de Deus, cujas almas em breve estarão sob os cuidados dEle, mas agora está solenemente sendo separado para a obra do ministério.

Se de fato, vocês ouviram, é a excelência apropriada de um ministro do Evangelho ser como uma lâmpada que arde e alumia, então é dever de vocês orarem seriamente pelo seu ministro, a fim de que ele se encha com a luz divina e com o poder do Espírito Santo. Pois aqui vocês estarão orando por algo que é para o vosso próprio benefício. Pois se o ministro de vocês queimar e iluminar, será para a vida e luz de vocês. Aquilo que foi exposto, que é a principal excelência de um ministro, a fim de se tornar um ministro a maior bênção de todas as coisas que Deus sempre dá a um povo.

E como é dever de vocês, orar pedindo que seu ministro seja tornado uma bênção tal para vocês, então devem fazer a sua parte para que seja assim, apoiando-o, e colocando-o na melhor das circunstâncias, com uma mente livre dos cuidados do mundo, e a pressão das demandas e dificuldades exteriores, para que ele se dedique inteiramente à sua obra. E por todas as formas devidas de respeito, e gentileza, e ajuda, vocês devem encorajar seu coração, e fortalecer suas mãos. E tomar cuidado a fim de que não façam nada para obscurecer e apagar a luz que brilha no meio de vocês, e abafar e apagar a chama, ao lançar terra e sujeira sobre ela; ao ter o ministro de vocês a necessidade de se envolver em preocupações mundanas, pela indigência com que o tratarem; e ao desencorajarem seu coração pelo desrespeito e rudeza.
E, particularmente, quando o ministro de vocês se mostrar uma lâmpada que queima, ao queimar com o zelo apropriado contra toda e qualquer impiedade que talvez esteja acontecendo no meio do seu povo, e manifeste esse zelo ao testemunhar apropriadamente contra isso na pregação da Palavra, ou por um exercício fiel da disciplina da casa de Deus, em vez de receber isso com gratidão, e o apoiando nisso, como vocês devem, não levantem outro fogo, de natureza de oposição contra isso, qual seja, o fogo de suas paixões ímpias, se manifestando ao reprová-lo por sua fidelidade. Aqui vocês irão agir de inconformidade com o povo cristão, e se mostrarem muito ingratos para com seu ministro, e para Cristo, que lhes deu um ministro tão fiel. E irão também, enquanto vocês lutam contra ele, e contra Cristo, lutar mais eficientemente contra suas próprias almas.

Se Cristo deu a vocês um ministro que é uma lâmpada que arde e alumia, tomem cuidado para que vocês não odeiem a luz, porque suas obras são reprovadas por ela. Mas amem e se regozijem na sua luz; e isso não somente por um tempo, como os ouvintes apóstatas de João Batista; e venham à luz. Que o seu auxílio frequente seja o seu ministro para os assuntos da alma, e em relação a qualquer dificuldade espiritual. E estejam abertos à luz e desejosos de recebê-la. E sejam obedientes a ela. E assim andem como os filhos da luz, e sigam o seu ministro assim como ele é seguidor de Cristo, isto é, quando ele é uma lâmpada que arde e alumia. Se vocês continuarem a fazer isso, seus caminhos serão como o caminho dos justos, que brilha mais e mais até ser o dia perfeito, e o fim do curso de vocês será naquelas regiões de alegria da infinita luz do Altíssimo, onde vocês brilharão com o vosso ministro, e vocês com Cristo, como o sol, no reino de nosso Pai celeste.[10]

Em Cristo, Senhor nosso,

Alan

***

REFERÊNCIAS:

[1] BibleWorks 10.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Jerry Bridges. Pecados Intocáveis. São Paulo: Vida Nova, 2013. p. 154.
[7] BibleWorks 10.
[8] João Calvino. Efésios. São José dos Campos: Fiel, 2007. p. 117.
[9] D. Martyn Lloyd-Jones. A Unidade Cristã: Exposição sobre Efésios 4.1-16. São Paulo: PES, 1994. p. 199.
[10] Jonathan Edwards. A Verdadeira Excelência do Ministro Cristão. Niterói, RJ: Interferência, 2012. pp. 47-50.

20 de jun. de 2016

Deve o pastor ser teólogo?

Por Samuel Alves

Pode parecer absurda minha pergunta, eu reconheço! Após ler alguns livros do Kevin J. Vanhoozer fiquei regozijado e ao mesmo tempo um senso de responsabilidade surgiu. Comecei a refletir sobre o papel do pastor - principalmente como um teólogo público. O pastor evangélico é um homem que transita em todas as esferas da sociedade e se expressa teologicamente, este homem de Deus dá respostas, expõe as Escrituras e transmite todo o conselho de Deus. Criou-se uma caricatura de que pastor é um ser alienado, alguém que não estuda, que sequer sabe se expressar verbalmente e que a religião desse pastor é apenas experiencial e sensitiva. É claro que não se deve generalizar, a grande questão é que a algumas igrejas compraram esta ideia, principalmente as igrejas neopentecostais[1]. Para os neopentecostais só interessa a experiência, é evidente o desprezo pela doutrina. Já cansei de ouvir frases do tipo: “A letra mata, doutrina esfria a fé, o mais importante é a unção e etc.”. Todo esse conceito envolvido em uma dose de pragmatismo leva muitos pastores a reverem seu papel como teólogo público e negociarem a fé, por este motivo muitos pastores parecem administradores e marqueteiros da fé. Neste tempo de onde o pastor é tido com uma pessoa irrelevante volto meu olhar para a Bíblia e vejo que Deus deu pastores a sua igreja (Efésios 4.11). Mas quem são estes homens que Deus deu a igreja e o que Deus espera deles? Esta é a pergunta que deve estar em nossa discussão, vivemos uma crise existencial e isto faz muitas vezes alguns líderes desprezarem seu chamado enquanto outros abusam de sua autoridade. O Vanhoozer[2] faz uma citação excelente sobre este homem que Deus deu a igreja:

Eis o paradoxo central: o pastor é uma figura pública que não deve fazer nada para o próprio benefício, que não deve falar com o objetivo de atrair atenção para si, mas para longe de si – ao contrário da maioria das celebridades contemporâneas. O pastor deve apresentar alegações de verdade com o objetivo de ganhar pessoas não para a sua maneira de pensar, mas para a maneira de pensar de Deus.


Este é um grande ponto para reflexão e recuperação, muitos pastores vocacionados estão sendo enviados para o seminário com uma visão distorcida do ministério. Um dos meus conflitos como seminarista muitas vezes foi tentar conciliar aquilo que aprendi a luz das Escrituras na igreja local. Em alguns momentos percebi que a doutrina era desprezada em detrimento de um pragmatismo anti-bíblico, convivi com frases do tipo: “os irmãos não tem maturidade para ouvir isso, eles vão perder a fé e etc.”. Este é grande desafio que o pastor como teólogo público enfrenta: como fazer que a dona de casa, o médico, o pedreiro, o auxiliar de escritório compreendam o evangelho? Simplesmente pregando e ensinado todo o conselho de Deus!

Esta é a ordenança, o pastor deve ser apto ao ensino (1 Timóteo 3.2), ensinar a Bíblia é crucial para o trabalho pastoral, precisamos entender que lideramos usando o exemplo de Cristo e Cristo ensinava com autoridade, em Cristo encontramos a essência do ministério pastoral, vemos na pessoa de Cristo ensino e compaixão pelas pessoas. Jeramie Rinne[3] faz a seguinte observação em seu livreto:

O que é mesmo um pastor? A palavra grega poimen, traduzida por “pastor”, significa “aquele que apascenta/pastoreia”.  Poimen pode referir-se a quem apascenta em sentido literal, como pastores encontrados em nos campos, no relato natalino de Lucas. Com muito mais frequência, porém, poimen se refere a Jesus, nosso bom pastor. [...] Assim, o pastor é quem apascenta, e pastorear significa cuidar do rebanho. Não surpreende que o vocábulo português “pastor” provenha da palavra latina “pastor”, que significa... apascentador!

Voltando nosso pensamento para o Texto de Efésios 4.11 podemos concluir que pastor e mestre andam juntos para descrever um só ofício e papel. Os pastores devem ser pastores-mestres e servirem a igreja de Cristo, assim como um médico cuida da saúde de pessoas o pastor cuida da alma das pessoas ao cumprirem seu chamado, em nenhum momento a Bíblia desassocia doutrina e piedade, ensino e prática. A doutrina correta anda junta com a prática e a compaixão (ortodoxia, ortopraxia e ortopatia).

É neste ponto que destaco o papel da doutrina na vida do teólogo público. A doutrina é uma ajuda indispensável na caminhada da igreja em busca de maturidade e crescimento espiritual. A teologia não é apenas uma teoria abstrata e irreconciliável com a vida piedosa, precisamos entender que a piedade vem justamente com a doutrina correta aplicada em nosso cotidiano. Precisamos ensinar a igreja de Cristo que a doutrina permeará nossas atitudes e decisões éticas. A ética que ensinamos é a ética do reino de Deus e isto fara diferença substancial na vida dos santos e sua vivencia em comunidade.

Uma crítica que muito se ouve é que muitos pastores não vivem o que pregam.  É um ponto para pensarmos e avaliarmos: o que os crentes pensam de nós? Precisamos pautar nosso ministério no “De acordo com as Escrituras”, é claro que muitas vezes seremos acusados injustamente, o ponto que destaco aqui é a atitude de Neemias e o Cyril Barber faz a seguinte exortação em seu livro:[4]

[...] quando os inimigos de Neemias atacaram a sua pessoa ele sentiu instintivamente que estava perdendo o pulso da situação. Sua resposta, portanto, foi negar a acusação, entregar toda questão ao Senhor, e depender do fortalecimento divino para continuar a obra. Ela não gastou tempo tentando justificar-se. Levando os seus problemas ao Senhor em oração, deixando tudo nas suas mãos, ele preservou sua estabilidade emocional. Assim, ele estava apto a continuar com a construção e deixar para o Senhor a defesa de sua pessoa. Se ele não tivesse feito assim, teria gasto o resto do dia preocupado com os seus problemas... até que estes vencessem.

Em meio as críticas e acusações injustas deveremos ter compromisso com Deus e sua Palavra. O foco aqui não é a opinião pública e sim agradar o Senhor e fazer sua vontade. Muitos jovens pastores convivem com este problema, agradar a opinião de alguns membros da igreja ou a Deus, e aqui, mais uma vez me abrigo nas palavras do Vanhoozer:[5]

A teologia é uma ciência no sentido de que diz respeito ao conhecimento de Deus, mas talvez “ciência” não seja o melhor rótulo para descrever esse conhecimento ou a razão pela qual a doutrina é importante para os discípulos. No reino secular, ciência significa o domínio de algum campo resumido em um sistema de conhecimento. Saber alguma coisa cientificamente é ser capaz de controla-la, usá-la em nosso proveito. Ninguém “domina” o projeto de viver de forma abençoada com os outros perante Deus.

Este pensamento reflete bem as polaridades que muitos pastores vivem. Uns negligenciam o ensino doutrinário, pregam um evangelho humanista, antropocêntrico e abusam de sua autoridade. Por outro lado, outros se dobram ao sistema e opinião pública em detrimento de uma falsa piedade, é neste conflito que se perde totalmente a visão do que é o verdadeiro chamado do pastor-teólogo. Não fomos chamados para controlar as pessoas, fomos chamados para apascentar e ensinar. Como cumpriremos esta tarefa? Ensinando todo o conselho de Deus! Respondendo à pergunta inicial “deve o pastor ser teólogo?” Sim, deve. Aliás, para pastorear a igreja do Senhor é obrigatório ensinar.
Soli Deo Gloria!



[1] O neopentecostalismo ou terceira onda do pentecostalismo é um movimento sectário dissidente do evangelicalismo, que congrega denominações oriundas do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais.

[2] VANHOOZER, Kevin J. O pastor como teólogo público: recuperando a visão perdida. São Paulo, Ed. Vida Nova. 2016. p. 34.

[3] RINNE, Jeramie. Presbíteros: Pastoreando o povo de Deus como Jesus; Tradução Rogério Portela. São Paulo: Vida Nova, 2016. p. 39.

[4] BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Vida, 2003, p. 90.

[5] VANHOOZER, Kevin J. Encenando o drama da doutrina: teologia a serviço da igreja; Tradução de A.G de Medeiros. São Paulo: Edições Vida Nova. 2016. p. 21.

20 de nov. de 2015

4 Razões para Preparar o Manuscrito de seus Sermões

Por Jason Dees

Se você já leu alguns dos muitos livros e artigos sobre preparação de sermão, provavelmente já leu o adágio que diz: “Pense exaustivamente, leia abundantemente, escreva claramente, ore fervorosamente e entregue-se completamente”. Essa frase já foi atribuída a Alistair Begg, John MacArthur e outros, mas, de fato, teve origem com um anglicano galês chamado W.H. Grifith Thomas.[1] Embora eu concorde com todas as cinco exortações de Thomas, a que desejo enfatizar neste ensaio é a terceira: “Escreva claramente”.

13 de nov. de 2015

Fatores que evidenciam uma Crise Pastoral

Por Thiago Azevedo

Em dias de crise econômica e escassez ética, nada melhor que refletir sobre as motivações que possam gerar uma situação igual a que estamos vivendo no contexto político de nossa pátria. Refletir sobre o tema específico é proveitoso. É justamente isso que iremos fazer neste conteúdo. Porém, não direcionaremos nossa reflexão à crise político-econômica de nossos dias. Pois, ao abordar este tema, necessariamente, outros temas viriam à baila. E se fizermos uma busca pelo ponto cerne de tudo, sem sombras de dúvidas, chegaríamos ao pecado como causa. Mas, a crise a ser abordada aqui, bem como suas causas, é na realidade outra, e que tem se instaurado em outro ambiente, a saber, no ministério pastoral. Há anos que temos introduzido no cenário religioso tupiniquim uma verdadeira “Crise Pastoral”. Em primeiro lugar, precisamos definir termos: Poimen, este que é o termo utilizado para pastor em grego e que significa supervisionar o rebanho – cuidado contínuo, zelo, preocupação com bem-estar e saúde das ovelhas. Observando o significado do termo em si, logo nos vem algumas dúvidas, a saber: Por que tantas pessoas que se aventuram no ministério pastoral não possuem essas características? Por que tantos que se aventuram neste ofício realizam a lógica contrária, a saber, obter vantagens próprias por meio das “ovelhas” ao invés de ampará-las? Na realidade, vivemos uma grande “Crise Pastoral” sem precedentes. Neste texto, tentarei destacar alguns dos principais motivos de tal crise.

5 de nov. de 2015

Um Bom Ministro de Cristo

Por Alan Rennê Alexandrino

“Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido”(1Timóteo 4.6).

Certa feita tive a honra de participar de um culto em ações de graças pela jubilação de um fiel ministro de Cristo. De fato, o pastor em questão é um fiel servo de Deus, um homem zeloso pela Palavra. Na ocasião várias pessoas receberam a oportunidade para testemunhar algo do pastor jubilado. Um deles afirmou que algo que chamou a sua atenção, foi o fato de nunca ter encontrado uma pessoa sequer para expressar alguma queixa contra o pastor. De acordo com a testemunha, isso mostrava que aquele ministro era, verdadeiramente, um bom pastor.

17 de out. de 2015

Sem aplicação? Então você não pregou!

Por Michael Lawrence

Você já se sentou em uma sala de aula pensando qual era o objetivo? Eu distintamente me lembro de sentir isso enquanto sofria durante as aulas de cálculo na faculdade. O curso era ministrado como se a aplicação dos princípios fossem autoevidentes. E talvez para os amantes da matemática na classe fossem. Mas para esse estudante de literatura inglesa, era um exercício constante de reflexão puramente abstrata e uma derrota. Sem entender o verdadeiro mundo de aplicação, eu tinha dificuldade em entender porque precisava saber o valor de alguma coisa enquanto esta se aproximava do infinito, sem nunca realmente alcançar .

E se você foi um gênio em matemática, simplesmente se lembre de como você se sentia quando pediam para discutir o significado dos sonetos de Shakespeare.

2 de set. de 2015

O Pastor precisa mesmo ser Teólogo?

Por Richardson Gomes

Mais uma vez, dirijo-me aos pastores. É importante deixar claro que não falo como pastor, mas como ovelha que tem alguns pedidos a fazer. Não falo em tom de superioridade, mas com muito carinho e respeito aos pastores. Tem sido semeada em muitas igrejas - e até em instituições teológicas - a ideia de que ser pastor não é ser teólogo. Antes de qualquer coisa, quero esclarecer que não sou a favor de uma teologia sem espiritualidade, nem de que o conhecimento bíblico apenas, sem que haja uma vida piedosa, seja suficiente. Também não estarei dizendo que não se pode ser pastor sem ter feito algum curso teológico. O ponto não é esse e não entrarei nessa questão.

27 de ago. de 2015

Uma forma simples de encorajar seu pastor

Por Kevin DeYoung 

Eu  decidi escrever esse post agora, enquanto ainda tenho quatro semanas de férias de verão, para deixar claro que estou fazendo comentários genéricos sobre o ministério pastoral, não tentando receber mais elogios do meu rebanho. Eu sirvo em uma igreja muito boa, e nada nesse curto texto deve ser lido como qualquer tipo de reclamação indireta.

Esclarecimentos feitos, aqui vai uma coisa simples e muito importante que você pode fazer para encorajar seu pastor: diga a ele que você é grato por sua pregação.

29 de jul. de 2015

Há Pastores dados por Deus...Outros são Fabricados!

Por Thiago Azevedo

É preciso entender que toda e qualquer expressão que haja nas Escrituras Sagradas é permeada de sentidos e significados. Estudar estes sentidos e estes significados seria uma das principais atividades do estudante da Bíblia. Quando Jesus se auto intitula como sendo o pão da vida e que desce do céu (Mateus 6:33-35), ele na realidade conhece o contexto daquele povo ao qual fala, contexto de privação de comida. Jesus se utiliza de um recurso metafórico para creditar o que está falando. Ora, as pessoas tinham necessidade e ao mesmo tempo escassez de alimento, alguém dizendo que é pão, no mínimo, teria a atenção de quem tem fome. Não foi muito diferente a isso o encontro de Cristo com a mulher samaritana. Nesta ocasião, Jesus fala de uma água viva com qualidade de saciar a sede de forma perene. Imagine agora uma pessoa que busca água todos os dias, percorre quilômetros para isso, esforça-se tanto em retirar a proteção do poço para ter acesso à água como em coletar água no fundo do poço, carrega peso, manuseia animais para este fim, etc. Jesus usa a expressão água viva em paralelo à sua pessoa (João 4:10-15). O espanto daquela mulher pode ser visto sem demora no versículo 15 onde ela pede desta água, para não ter mais sede e para não precisar mais ir até o poço retirá-la. Em um cenário de escassez de água, quem não queria tê-la de forma perene?

24 de jul. de 2015

Da Necessidade de Coerência entre Pregação e Vida do Pregador e a sua Incapacidade

Por Alan Rennê Alexandrino

Introdução

Não há tarefa mais importante para um Ministro do Evangelho do que expor as Sagradas Escrituras, a fim de alimentar o rebanho do Supremo Pastor, o Senhor Jesus Cristo. A tradição cristã reformada entende acertadamente que a fiel pregação é a Vox Dei, a voz de Deus falando ao povo da aliança reunido em assembleia solene no dia do Senhor. A Segunda Confissão Helvética, datada de 1562 e escrita por Heinrich Bullinger, em seu primeiro artigo afirma: “A pregação da Palavra de Deus é a Palavra de Deus”.[i] Tão séria e solene é a tarefa da pregação, que o apóstolo Paulo, escrevendo aos romanos, afirmou: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? [...] E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (10.13-15,17). É pela pregação da Palavra de Deus, como instrumento, que o Espírito Santo regenera o coração do pecador e o traz à fé em Jesus Cristo. Tiago, em sua epístola, afirmou que, segundo o querer de Deus, fomos gerados “pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (1.18).

25 de jun. de 2015

Pastores Leigos (Série: Os Sete pecados da Igreja contemporânea)

Por Daniel Clós Cesar

Recentemente li uma pesquisa feita pela sociedade bíblica estadunidense, e apontava que mais de 50% dos pastores daquele país nunca leram toda a Bíblia, e estamos falando de uma pesquisa que se baseia unicamente na resposta dada pelo entrevistado, isto é, este número, pode e deve ser muito maior. Uma outra pesquisa aponta que pelo menos 85% dos pastores em serviço hoje no Brasil não possuem formação teológica alguma... Ok, são pesquisas feitas em duas nações diferentes, mas acredito ser possível traçar algum paralelo.

12 de jun. de 2015

Deus aprova o ministério pastoral feminino? (Uma Resposta ao Pr. Lucinho)

Por Morgana Mendonça dos Santos

O vídeo começa com a seguinte pergunta de uma jovem: "Como tratar da figura de uma pastora na igreja se a Bíblia não fala sobre isso?"

Essa pergunta já tem pressupostos de que não existe nenhuma base bíblica. Todavia, de forma bem simplista, o dito "pastor" Lucinho entrega a resposta da maneira mais objetiva possível. Ele diz: "Só quero ler o primeiro verso de 2 João". Incrível como ele reduz a questão de maneira tão fácil e soluciona de forma tão equivocada a dúvida. Um debate tão acirrado que perdura por tanto tempo nos seminários teológicos, ele resolve em 3'36". Assista clicando aqui.

6 de jun. de 2015

A Síndrome de Eurico

Por Thiago Azevedo

Há algumas semanas o mundo do futebol ficou chocado com mais uma declaração do senhor Eurico Miranda, presidente do Vasco da Gama.  O Sr. Eurico teceu um comentário em resposta as possíveis críticas vindas de alguns dos próprios atletas do clube, e proferiu a seguinte frase: “Aqui no Vasco, ninguém pode ter opinião diferente da minha” (veja aqui). 

3 de fev. de 2015

Ferramentas Indispensáveis ao Pastor

Por Kevin DeYoung

Que ferramentas todo pastor deve possuir? Que habilidades ele precisa ter? Ou, perguntando com franqueza: o que um pastor tem de fazer razoavelmente para ser um bom pastor?

Observe o que não estou perguntando. Não estou perguntando sobre a teologia do pastor. Ou sobre a sua santidade pessoal. Ambas são essenciais e mais importantes do que algum dom específico. Todo pastor precisa cuidar bem de sua vida e de sua doutrina (1 Tm 4.16). Mas, o que um pastor tem de fazer? Esse é o assunto deste artigo.

Admitamos que ele está indo bem nas áreas de caráter e de convicção. Mas, o que se exige dele quanto à competência?

Em seguida, apresentamos uma lista que não é exaustiva. E, com certeza, não reivindicamos ser excelentes em cada área. Todavia, com base em minha experiência, um pastor de igreja local – estou pensando, em particular, no papel de pastor principal ou de pastor único – tem de ser competente em cinco áreas.

1. Um pastor tem de ser capaz de ensinar. Uma das cinco diferenças existentes nas qualificações de presbíteros e diáconos e a única habilidade na lista é que o presbítero seja “apto para ensinar” (1 Tm 3.2). Se o pastor é o único ou o pastor principal, ele labutará especialmente na pregação e no ensino (1 Tm 5.17). As igrejas suportarão várias deficiências, porém muitas igrejas ficarão impacientes com um pastor que não sabe ensinar.

É verdade que ensinar e pregar são habilidades que se desenvolvem com o passar do tempo. Por isso, talvez seja difícil determinar se um jovem é “apto para ensinar”. Contudo, antes de alguém entrar no ministério, ele deve ser capaz de comunicar a Palavra de Deus com alguma medida de confiança e clareza.
Algumas coisas que devemos examinar:

• Ele gosta de ensinar? Se não gosta, não melhorará no ensino.

• Ele pode se comunicar com as crianças? Seria um grande treinamento e um admirável campo de prova se os pastores trabalhassem como professores de alunos das primeiras séries, antes de entrar no ministério de tempo integral. Bons mestres sabem como tornar compreensíveis verdades profundas. Em contraste, se você torna confusas coisas simples, talvez não tenha o dom de ensino, ainda não.

• Ele gosta de ler? Alguns pastores leem bastante. Outros lerão devagar ou sem muita freqüência. Mas, se um pastor não gosta de ler (supondo que ele tem acesso a bons livros), ele dificilmente crescerá em profundidade e amplitude de discernimento. Se um pastor não tem fome por aprender, talvez não ajudará outros a aprender.

2. Um pastor tem de ser capaz de relacionar-se com as pessoas. Há muitas maneiras de um pastor conectar-se com seu povo. Ele pode fazer visitas aos enfermos, ou mentorear pessoas individualmente, ou liderar grupos pequenos, ou trabalhar para que haja mais envolvimento da equipe de colaboradores. Sempre haverá pessoas ao redor do ministério; e um bom pastor se esforçara para estar disponível a pelo menos algumas dessas pessoas.

Os relacionamentos assumem muitas formas. Você pode ser um pastor extrovertido e gregário ou um introvertido meditativo. Alguns de nós somos bons em bate-papo. Outros odeiam isso e preferem um convívio mais próximo e quieto com outra pessoa. Não estou dizendo que o ministério pastoral é somente para os sociáveis. Mas, se um homem não pode lidar cordial, gentil e amavelmente com as pessoas, ele deve pensar duas vezes em ser um pastor.

Uma boa pergunta a ser considerada: este homem faz amigos com facilidade? Eu hesitaria em chamar um pastor que luta para fazer e manter amigos.

3. Um pastor tem de ser capaz de liderar. Isso pode nos enganar. Ao usar o vocábulo “liderar” não quero dizer que todo pastor tem de ser um empreendedor ousado. Mas ele deve ter pessoas que o seguem. Tem de ser disposto a tomar uma posição, ser impopular às vezes. Precisa de coragem e da habilidade de tomar decisões desagradáveis. Se um homem tem necessidade de ser apreciado por todos, em todo o tempo, ele não está pronto para ser um pastor. Um pastor não deve ter medo de influenciar. E, se ele não é um visionário ousado, deve ser aquele tipo de líder que encoraja outros que têm dons de liderança mais destacados.

4. Um pastor tem de ser relativamente organizado ou cercar-se de pessoas que podem fazer isso por ele. Eu queria usar a palavra “administração” para referir-me a esse assunto, mas decidi não usá-la por receio de ser mal compreendido. Não creio que os pastores precisam ser gurus administrativos. De fato, penso que nenhum pastor entrou num seminário com o sonho de que poderia ser capaz de manter a igreja cumprindo sua função tranquilamente. Administração não é a essência do ministério; pelo menos, não deveria ser.

No entanto, não podemos evitar isto: um pastor tem de possuir alguma habilidade básica de organização. Ele não pode esquecer sempre os seus compromissos ou chegar atrasado em cada reunião de presbíteros. O pastor precisa retornar as chamadas telefônicas e entender como se realiza uma reunião. Na verdade, todos esquecemos coisas. Todos nós falhamos de vez em quando. Ser um pastor não exige onisciência ou onipotência, mas temos de ser responsáveis. Certo ou errado, talvez a sua igreja não perceba imediatamente que você parou de estar com as pessoas e que você não tem capacidade de liderar, mas a congregação perceberá logo que não pode depender de você.
Competência administrativa básica é exigida para o ministério pastoral. Se você não tem essa competência como pastor, ache pessoas que têm e permita que elas cuidem de você.

5. Um pastor tem de orar. Se essa ferramenta ficar corroída, ninguém saberá; pelo menos, não a princípio. É impossível sobreviver como pastor sem as outras quatro habilidades. Contudo, infelizmente, é fácil sobreviver e, até, prosperar no ministério sem essa ferramenta. O pastor que prospera sem oração não é o pastor sob cujo ministério quero estar, nem o pastor que desejo ser. Podemos realizar muito em nós mesmos, mas o que realmente importa exige oração, porque exige a presença de Deus. Um homem que não ora não deve pregar.

Como você mesmo pode testemunhar, essas cinco competências não são iguais em importância. As competências 1, 2 e 5 são essenciais e devem ser o foco do ministério. As competências 3 e 4 podem ser evitadas por algum tempo, mas não podem ser ignoradas. Em minha experiência, todas as cinco habilidades são necessárias ao ministério pastoral. Alguns pastores serão excelentes em várias dessas competências. Alguns serão muito bons em uma área ou muito bons em outras. Nenhum pastor será um modelo de todas essas cinco áreas. Se eu tivesse de avaliar um aluno de seminário que está prestes a entrar no ministério, ou se fosse membro de uma igreja que está à procura de um pastor, desejaria ver competência básica em cada uma dessas áreas.
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Traduzido por: Wellington Ferreira
Do original em inglês: Requisite Tools
Fonte: Ministério Fiel

27 de jan. de 2015

Sobre Pregadores Engraçadinhos


Por Thiago Oliveira

Hoje estamos vivendo um período em que as pessoas acham que a Igreja deve fazer de tudo para agradar os fiéis. Mudar antigas convenções não tem a motivação de glorificar a Deus. Absolutamente! Mudam-se as coisas para atrair mais pessoas.A Igreja precisa ser ao gosto do freguês. O segmento evangélico transformou-se num bandejão, onde você degusta o que quiser e por fim escolhe o prato que mais lhe agrada. Nesse afã de querer agradar a gregos e a troianos, o culto tem se transformado num verdadeiro circo. Além de aparecerem diversas manifestações artísticas de qualidade duvidosa, temos também as pregações transformadas em palestras motivacionais, e o que é pior: apresentações humorísticas.

Estava eu no Facebook e me aparece uma sugestão de página para curtir. Tratava-se da página de um Senhor que tem por slogan: "Um Pastor Cheio de Graça".Eu já conhecia o sujeito, pois o vi dar uma entrevista num talk show. Ele costuma ministrar para casais e sua peculiaridade é fazer piadas. Depois que ele apareceu na TV, muitos foram os vídeos do YouTube que apareceram na timeline de amigos meus, nas redes sociais, elogiando a sua forma engraçada de transmitir a Palavra.

Francamente,não vejo com bons olhos um pregador que coloca um slogan de humorista para projetar o seu ministério, se é que posso chamar assim. Não quero aqui dizer que este homem não é cristão. Também não digo que ele está mal intencionado. O grande problema é que também erramos com boas intenções. Faço minhas as palavras do Dr. Martyn Lloyd-Jones quando ele diz em seu livro (Pregação e Pregadores, p.224) que: “O indivíduo que força a si mesmo para ser divertido é uma abominação e jamais deve ter permissão de ocupar o púlpito. Esta opinião se aplica ao homem que faz isso deliberadamente, para obter as boas graças de seus ouvintes”.


Muitos de nós esquecemos que o culto é para Deus, e este deve ser o princípio regulador.Não devemos nos pautar em princípios sentimentais, estéticos e mercadológicos.O culto é uma demonstração de fé, gratidão e louvor ao Deus que nos amou primeiro e nos transportou das trevas para o Reino do Filho do seu amor. Só o SENHOR é digno de ser adorado e para isto a Igreja se reúne periodicamente. O culto feito ao nosso bel-prazer, para nosso deleite, não é aceito por Deus. Ele só se compraz da adoração que O glorifica, não sendo assim, Ele rejeita a nossa maneira de cultuar, por mais agradável que ela nos pareça.

Quando moldamos o culto segundo as nossas preferências, corremos o risco de contrair a ira divina sobre nossas cabeças. Se não obedecermos o que Deus predeterminou em sua Palavra, estamos em apuros. Um exemplo claro é o que aconteceu com Uzá (leia 2 Sm 6. 1-11). Ele foi fulminado porque tocou a arca da aliança. A arca estava sendo transportada num carro de boi, quando na verdade, ela deveria estar sobre os ombros dos sacerdotes, tal como Deus havia estabelecido. Uzá morreu, mesmo bem intencionado, por causa do amoldamento que foi feito a uma questão litúrgica. E nós, porque achamos que podemos moldar o culto da forma como bem entendemos?

Deus é glorificado através da séria exposição da Sua Palavra. Ele é glorificado a cada vez que o pregador deixa claro que não está levando uma mensagem que é fruto de sua imaginação, e sim a própria voz divina que é capaz de converter os pecadores de seus maus caminhos. Não é preciso muito. Importa sermos fiéis as Escrituras e deixar que o Espírito Santo trabalhe para edificar, consolar e converter os que ali se fazem presentes. O pregador precisa ter cuidado com gracejos, anedotas e ilustrações, pois muitas vezes, eles tiram o foco na Palavra e os ouvintes se acostumam a ouvir o pregador apenas porque se identificam com seu apurado senso de humor, ou pela sua aguçada imaginação .

Não estou dizendo que no púlpito o mensageiro deve ser carrancudo e enfadonho. Ele pode ser alguém simpático, de aparência leve e até vibrante. Todavia, precisa compreender que sua missão não é fazer com que as pessoas o considerem engraçado ou atraente, mas sim levar cativas ao SENHOR a mente dos seus ouvintes. Todos precisam olhar para si, enxergar sua pequenez diante da grandeza e da glória de Cristo e humildemente se aproximarem do trono da graça com orações e súplicas.

Charles Haddon Spurgeon, um dos maiores pregadores que passou por este mundo, era alguém muito bem humorado e que contava algumas histórias engraçadas em seus sermões. Certa vez, uma irmã o repreendeu por isso. Spurgeon não ficou ofendido e confessou aquela senhora que se ele não se controlasse e podasse a si próprio, corria o risco de contar muito mais gracejos. O que esse episódio nos ensina? Que é necessário podar nossa personalidade (Spurgeon era alguém engraçado por natureza) para que não seja ela a maior evidencia em nossos sermões. A glória deve ser exclusiva para Deus, é necessário que Ele cresça e que nós diminuamos. 

Termino alertando a você – pregador - que busque a Deus em oração, pedindo para que Ele venha moldar sua maneira de estudar, preparar e pregar o seu sermão, de uma forma que suas mensagens sejam tão cristocêntricas que você seja sempre ofuscado pelo brilho do Filho de Deus. Alerto também aos crentes de modo geral a se perguntarem: Estou cultuando a Deus ou estou satisfazendo as minhas preferências? Se a resposta for a primeira, então amém. Se for a segunda, ore para que o SENHOR venha mudar o teu coração e que você encontre satisfação na Palavra de Deus, sem necessitar de nenhum subterfúgio a mais. 

A Deus,somente, toda a glória!