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9 de jan. de 2017

Adoração, os meios de graça e a centralidade de Cristo no culto

Por Thomas Magnum


Nossos cultos são basicamente constituídos por oração, música, leitura da Bíblia, momento de contribuição com ofertas e dízimos e pregação. Isso varia de lugar para lugar no que se refere a ordem. O culto deve ser um momento em que o povo de Deus o adora, o busca ansiosamente como disse o salmista: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?”(Salmos 42:2).

O culto deve ser um momento de solenidade, pelo simples fato de estarmos diante do Deus vivo que é o axioma básico da teologia cristã. Ele é o princípio de todas as coisas. Deus é a gênese do culto. Não deve haver outro centro de atração para adoração que não seja Deus, o Deus vivo e verdadeiro. O culto foi ordenado por Deus e fomos criados para cultuá-lo, para glorificá-lo e para adorá-lo. Evidentemente temos cultos particulares, familiares (adoração no lar) e cultos públicos. Nestas três instâncias temos abordagens distintas, mas, interligadas sobre o culto. O fim da existência humana é adorar a Deus conforme diz o catecismo maior de Westminster:

Pergunta 1. Qual é o fim supremo e principal do homem?
Resposta. O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

Com isso em mente, de que Deus deve ser glorificado e gozado pelos eleitos, o culto é uma dádiva divina para a igreja, afim de proporcionar a ela um relacionamento íntimo com seu Deus por meio de uma relação dialógica. Deus fala e seu povo responde e adora. Seu povo adora como fruto dessa fala divina que proporciona vitalidade a igreja. Da palavra divina brota vida, poder, graça, restauração, pacto.

Bom, ao tratarmos disso, penso em duas questões iniciais. Se cultuamos o Deus verdadeiro, logo:

O culto deve ser vibrante, cheio de alegria. O culto é um momento de celebração

Qual a importância disso para uma reflexão teológica sobre o culto? Quando comecei meu trabalho pastoral numa igreja local e começamos um trabalho de revitalização litúrgica e doutrinária na igreja, um dos elementos pertencentes a liturgia que adotei foi a confissão de pecados. Esse é um momento maravilhoso no culto, momento que o povo de Deus perante sua lei, reconhece seus pecados. Mas, um momento maravilhoso como esse pode ser transformado em um momento pesaroso e não evangélico se não celebrarmos o perdão concedido por Cristo na cruz. O momento de contrição no culto deve na verdade permear todo ato litúrgico, mas, não deve desprezar a celebração no culto. Cristo não apenas morreu por nossos pecados, Ele ressuscitou. Isto é motivo mais que suficiente para celebrarmos.

No culto somos alvo dos meios de graça.

Também temos aqui algo de grande importância para a compreensão da igreja local. Algo maravilhoso e que nos leva ao júbilo e a celebração: Deus alimenta seu povo pelos meios de graça. A leitura das Escrituras, os sacramentos e a pregação são alimento para o rebanho. Semelhante a multiplicação dos pães e peixes devemos comer até nos fartar. Cristo está presente para ser adorado, reverenciado, exaltado, glorificado, e também, para dar-se ao seu povo como pão do céu.

Notemos que em muitos salmos lemos as expressões júbilo e celebração, ora, isso não está por acaso nas Escrituras, Deus quer que o celebremos. Como isso quero enumerar alguns pontos que tenho refletido sobre adoração, culto e meios de graça:

1. A adoração comunitária é uma convocação divina. Devemos adorar individualmente, também em nosso lar, em família. Mas nunca desprezando a adoração no culto, pois isso se constitui pecado - Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia (Hebreus 10:25). 

2. Devemos nutrir anseio pelo culto, pois nele está o Deus vivo - Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mateus 18:20). 

3. O culto é cristocêntrico e ao falarmos da cristocentricidade do culto, falamos também de sua trinitariedade. O culto é trinitário. Sendo os sacramentos meios de graça presentes no culto, lemos na fórmula batismal - Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; (Mateus28:19). 

4. O culto não busca meu agrado, mas ele é prestado a Deus, a pessoa mais importante no culto é o Deus trino.

É interessante notar que muitas pessoas agem pragmaticamente - e utilitariamente - em relação ao culto. Essas são filosofias danosas que tem se perpetrado no coração do homem desde sempre. O culto não deve ser pensado ou realizado para o meu agrado, mas, para o de Deus. O culto não deve ser instrumento para minha autossatisfação, mas, a de Deus. Não tenho autorização divina para fazer do culto o que bem entender, Deus prescreve o que se pede para o culto em sua revelação.

Eu te exaltarei, meu Deus e meu rei; bendirei o teu nome para todo o sempre!
Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome para todo o sempre!
Grande é o Senhor e digno de ser louvado; sua grandeza não tem limites.
Uma geração contará à outra a grandiosidade dos teus feitos; eles anunciarão os teus atos poderosos.
Proclamarão o glorioso esplendor da tua majestade, e meditarei nas maravilhas que fazes.
Anunciarão o poder dos teus feitos temíveis, e eu falarei das tuas grandes obras.
Comemorarão a tua imensa bondade e celebrarão a tua justiça.
O Senhor é misericordioso e compassivo, paciente e transbordante de amor.
O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas.
Rendam-te graças todas as tuas criaturas, Senhor; e os teus fiéis te bendigam.
Eles anunciarão a glória do teu reino e falarão do teu poder,
para que todos saibam dos teus feitos poderosos e do glorioso esplendor do teu reino.
O teu reino é reino eterno, e o teu domínio permanece de geração em geração. O Senhor é fiel em todas as suas promessas e é bondoso em tudo o que faz.
O Senhor ampara todos os que caem e levanta todos os que estão prostrados.
Os olhos de todos estão voltados para ti, e tu lhes dás o alimento no devido tempo.
Abres a tua mão e satisfazes os desejos de todos os seres vivos.
O Senhor é justo em todos os seus caminhos e é bondoso em tudo o que faz.
O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam com sinceridade.
Realiza os desejos daqueles que o temem; ouve-os gritar por socorro e os salva.
O Senhor cuida de todos os que o amam, mas a todos os ímpios destruirá.
Com meus lábios louvarei ao Senhor. Que todo ser vivo bendiga o seu santo nome para todo o sempre!



(Salmo 145)

29 de nov. de 2016

Evangelização Reformada

Por Thomas Magnum

Introdução

Ao examinarmos ainda que rapidamente o assunto – evangelização – pelo prisma mais popular notamos que comumente algumas frases prontas são utilizadas como:

a) “Aceite Jesus, ele quer morar em seu coração...”
b) “Dê uma chance a Deus, ele pode mudar sua vida...”
c) “Jesus te ama e quer te salvar... só depende de você...”

Esse tipo de abordagem é totalmente antropocêntrica, ou seja, a preocupação maior da evangelização é o homem, e vale tudo para que o homem entenda a mensagem. De fato o homem é alvo da graça de Deus e por ter sido feito a imagem e semelhança do criador ele precisa cumprir os mandatos que lhe foram dados no início, mas, sem a graça redentora de Deus ele não poderá cumprir esses mandatos contidos em Gênesis 1.26-30. Nessa passagem nós temos três mandatos pactuais – mandato cultural, mandato social e mandato espiritual. Esses mandatos foram dados antes da grande comissão (Mt 28.19), nesses mandatos dados pelo Criador o homem teria que glorificar a Deus em todas as suas atividades culturais, em todas as suas atividades familiares e em toda sua atividade espiritual. Ao estarmos na Queda do pai da raça que era Adão não seria possível o homem cumprir esses mandatos como Deus havia determinado, o pacto foi quebrado, e na teologia aliancista chamados esse pacto de: Pacto de Obras. E o que viria a ser o Pacto de Obras? Primeiro entendamos em que consiste esse pacto e o que é o pacto de obras, a Confissão de Fé de Westminster (CFW) nos diz que

Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto [1].

O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal [2].

Essa é nossa base inicial para que compreendamos qual a posição do homem na evangelização e qual a posição de Deus na salvação de pecadores. Notemos que o homem não é o personagem principal no drama da salvação, mas, Deus. Por isso chamamos a evangelização bíblica de Teocêntrica e não de Antropocêntrica, a evangelização bíblica tem Deus no centro e não o homem. Visto que o homem quebrou esse pacto de obras o próprio Deus providenciou outro pacto para a salvação do homem caído vejamos:

O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para vida o Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer [3].

Isso nos dá a base para afirmar que todo homem que não creu no Filho de Deus como seu suficiente salvador está debaixo do pacto de obras, notemos que ele está sob o pacto de obras, mas, não pode cumpri-lo porque está caído, está irredimido, está destituído da glória de Deus como nos diz o Texto Sagrado: “...pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. (Romanos 3.23-NVI)

O fato de o homem não cumprir o pacto de obras o condena, porque a lei exige dele esse cumprimento. Vejamos:  “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente.” (Tiago 2.10 – NVI)

Fica claro que o homem por si mesmo não pode ir a Deus sem que seja trazido pelo próprio Deus.

Deus: o Autor da Evangelização

Entendido o fato que Deus é supremo na tarefa evangelizadora da Igreja, reconhecemos que Deus é o Autor da Evangelização. A maior tarefa da Igreja é glorificar a Deus entre todos os povos e a evangelização é um meio para que isso aconteça. É importante frisarmos que a evangelização está no decreto eterno de Deus, e chamamos isso na teologia de Pactum Salutis ou Aliança da Redenção como nos diz R.B. Kuiper:

As raízes da evangelização estão na eternidade. Os teólogos costumam falar do pactum salutis, feito na desde toda eternidade pelas três pessoas da Deidade. Pode-se traduzir a expressão pactum salutis tanto por Aliança da Redenção como por conselho da redenção... Neste plano, Deus o Pai devia enviar se Filho ao mundo para resgatá-lo; Deus o Filho haveria de vir voluntariamente ao mundo para se tornar merecedor da salvação por sua obediência até a morte; e Deus o Espírito aplicaria a salvação aos pecadores, instilando neles a graça renovadora [4].

É importante compreendermos um ponto da doutrina de Cristo que chamamos de obediência ativa de Cristo. Cristo obedeceu livremente, ou seja, guardou perfeitamente o pacto de obras, pacto este que o homem caído não pode mais guardar por que pecou e o pecado o legou ao fracasso espiritual, a morte espiritual (Ef 2.1-10), mas, Cristo morreu pela Igreja (Ef. 5.25; 2 Co 5.14; Jo 10.11), e sua morte foi o sacrifício substitutivo pelos pecadores que Deus determinou salvar como nos diz Lucas no livro de Atos 13.48. E a forma desses pecadores virem a Deus pela mediação de Cristo (1 Tm 2.5) é pela pregação do Evangelho conforme Paulo ensina em Romanos 10. A pregação é a forma que Deus determinou para trazer os pecadores à fé. Vejamos o que diz Romanos 10.17: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”.
A pregação é o meio pelo qual o pecador é levado à fé pelo Espírito Santo. Essa é uma verdade vital do Cristianismo bíblico.

Qual é o Motivo para a Evangelização?

Nos diz o  Breve Catecismo de Westminster em sua primeira pergunta:
Qual é o fim principal do homem?

Resposta:

O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre [5].

Ao evangelizarmos não cumprimos somente uma ordem divina, mas, devemos pregar ao mundo caído porque amamos a Deus e queremos proclamá-lo em todas as nações vejamos o que nos diz o salmista no Salmo 67:

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós, para que sejam conhecidos na terra os teus caminhos, e a tua salvação entre todas as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos. Exultem e cantem de alegria as nações, pois governas os povos com justiça e guias as nações na terra. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos. Que a terra dê a sua colheita, e Deus, o nosso Deus, nos abençoe! Que Deus nos abençoe, e o temam todos os confins da terra.

Fomos comissionados a glorificar a Deus entre todas as nações, reder-lhe louvor entre todos os povos línguas e nações, o livro do Apocalipse nos mostra vários cânticos louvor a glória da graça do Deus salvador e redentor, no capítulo 15, versos 3 e 4 nós lemos:

Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifesto.

Diz o teólogo J.I. Packer – Glorificamos a Deus pela evangelização não somente porque a evangelização é um ato de obediência, mas também porque na evangelização contamos a todo o mundo quão grandes obras poderosas da graça de Deus se tornam conhecidas, ele é glorificado [6].

Consequentemente se entendemos que a evangelização é também uma expressão de nossa adoração e nosso amor ao Senhor, amaremos nosso próximo que desejaremos que muitos sejam alcançados com as verdades eternas do Evangelho de Cristo. Para finalizarmos, cito mais uma vez a CFW:

No Evangelho Deus proclama seu amor ao mundo, revela clara e plenamente o único caminho da salvação, assegura vida eterna a todos quantos verdadeiramente se arrependem e crêem em Cristo, e ordena que esta salvação seja anunciada a todos os homens, a fim de que conheçam a misericórdia oferecida e, pela ação do Seu Espírito, a aceitem como dádiva da graça [7].
Conclusão

Deus, é o início e o fim da evangelização, a glória de Deus é a coisa mais importante. O desejo de Deus é ser glorificado e o homem foi criado para isso. Portanto todo método de evangelização que coloca o homem no centro é idólatra, todo método de evangelização que não diz que o homem é um pecador caído e necessitado de redenção falha em sua abordagem e todo método que somente mostra o homem como caído, mas, não lhe mostra Jesus como caminho é igualmente inválido. Todo método de evangelização deve ser teocêntrico, sendo teocêntrico será também cristocêntrico. Toda a Bíblia possui uma abordagem histórico-redentiva, a história da salvação, devemos seguir o método bíblico em apresentar a mensagem do Evangelho, Deus no centro de tudo.

E disse-lhes: Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas”.

Marcos 16.15
Amém.

***
Notas:

[1] CFW, cap. 7.1. Jó 9.32-33; Sal. 113. 5-6; At 17.24-25; Lc 17.10.
[2] CFW, cap.7.2. Gal. 3.12; Rom. 5.12-14 e 10.5; Gen. 2.17; Gal. 3.10.
[3] CFW, cap. 7.3. Gal, 3.21; Rom. 3.20-21 e 8.3; Isa. 42.6; Gen. 3.15; Mat. 28.18-20; Jo 3.16; Rom. 1.16-17 e 10.6-9; At. 13.48; Ezeq. 36.26-27; Jo. 6.37, 44,45; Lc. 11.13; Gal. 3.14.
[4] Kuiper. R.B. Evangelização Teocêntrica, Ed. PES, 2ª edição, 2013, p.9.
[5] Breve Catecismo de Westminster – Referências: Rom. 11.36; 1 Co 10.31; Sal 73.25-26; Is 43.7; Rom.14.7-8; Ef. 1.5-6; Is. 60.21; Is. 61.3.
[6] Packer, J.I. Evangelização e a Soberania de Deus, Ed. Cultura Cristã, 2ª edição, 2011, p.89.
[7] CFW, cap. 35.2. Jo 3.16 e 14.6; At 4.12; 1 Jo 5.12; Mc. 16.15; Ef. 2.4,8,9.

25 de ago. de 2016

Todos os cristãos precisam de Teologia

Por Morgana Mendonça dos Santos

É incrível, como existe no meio evangélico dos nossos dias, cristãos avessos ao labor teológico. Eis uma realidade que nem os reformadores gostariam de presenciar no nosso tempo. Nos últimos dias, percebi isso de forma mais aguda e acentuada. Há nos arraiais evangélicos pessoas que de tal forma rejeitam a teologia, não seria isso um grande contrassenso? Me parece que o discurso do amor é uma antítese ao labor teológico. 

Dificilmente um texto como esse resolveria a questão, dificilmente um sermão pregado no púlpito dia de domingo conseguiria destruir essa fortaleza que existe no coração de muitos. Acredito que, uma clareza de conceitos, processo de ensino e advertência sobre a importância da teologia, provocariam um passo no longo percurso da quebra de paradigmas. 

Não se deve negar que, durante muito tempo, a teologia esteve confinada num mundo acadêmico, toda a questão que envolve a teologia sempre distanciou o público leigo desse privilégio bíblico. Talvez sua linguagem técnica, sua rigorosidade científica, seu aspecto erudito, construíram muros ao invés de pontes para com o público cristão leigo. É possível que, certa "distinção clerical", tenha gerado ao longo do tempo um abismo entre a teologia e os iniciantes no caminho do saber bíblico. 

No entanto, a Escritura afirma e direciona o caminho do sacerdócio universal, não apenas a liderança eclesiástica deve vivenciar o labor teológico, mas, todo aquele que professa ser cristão (1Pd 2.9). Todos os cristãos, a Escritura afirma, devem crescer não apenas na graça, mas também no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pe 3.18). Retomemos o ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes! É verdade que entre abismos e muros, o trabalho de criar pontes será bem maior. Lembro-me, várias vezes, em aulas do seminário, dos professores repetirem: "somos chamados como construtores de pontes e não de muros". 

A ideia que Deus capacita apenas alguns e outros ficam somente como expectadores existe, e tem causado desperdício e desconforto na causa do Reino. Infelizmente, o que se dedica ao labor teológico é visto como orgulhoso, prepotente, sabedor da verdade e que de forma arrogante só sabe criticar ao invés daquele que mesmo sem saber muita coisa, consegue amar sem fazer acepções. Nunca deveria existir essa oposição da teologia e o amor, da teologia e a humildade, da teologia e a piedade. Na verdade, o verdadeiro propósito do conhecimento redundará em adoração através de uma vida piedosa, como testemunho. Esse é o fundamento da teologia, a glória de Deus e uma vida piedosa. 

Como um cristão pensa que se opor a teologia o faz mestre na piedade? A definição da teologia não deveria ser aquilo, que o cristão leigo ou não, deveria admitir buscar todos os dias? Conhecimento de Deus não deveria ser desejado? É importante perceber o fato de que hoje muitos dos que rejeitam essa vida acadêmica, são os mesmo que criticam quem assim o faz, negando por sua própria conduta seu discurso repetitivo e obsessivo por mais amor e menos intelecto. Devemos considerar do mesmo modo quem usa o academicismo como chicote e Bíblia como pedrada. De fato, muitos usam do "tulipar" ou "teologizar" para bater e pisar no corpo no qual Cristo é o cabeça, não sabendo realmente como usar esse labor para a glória de Deus. 

Há passagens bíblicas que mostram claramente a importância da teologia para todo o cristão e o quanto ela está a serviço do povo de Deus. Mais ainda: que existe benefício para todo o povo de Deus em todos os campos do labor teológico. 

Conforme a ordem dada ao sacerdócio real e a nação santa sobre o anúncio das grandezas de Deus (1Pd 2.9), esse é um ponto que se requer preparo no falar. Não deve ser negligenciado, pois as grandezas de Deus não podem ser anunciadas de qualquer forma. E, a parte da teologia que esmera-se nesse assunto, é a homilética, visto que, não somente prepara bem o pregador para o púlpito, mas, todo cristão para uma boa transmissão dessa verdade bíblica. 

A grande comissão nos ordena a fazer discípulos e a forma como devemos fazer é ensinando (Mt 28.19-20), a ordem deve ser obedecida. Devemos ensinar tudo aquilo que Cristo ordenou e isso requer conhecimento sobre Deus, seus mandamentos, sua lei. Como podemos fazer discípulos sem teologia? A teologia nos ajuda a romper com os métodos modernos, para crescer no conhecimento da teologia bíblica e exegética. 

Pedro, no capítulo 3, verso 15, da sua primeira carta, nos diz que devemos estar preparados para responder à todo aquele que nos inquirir a respeito da esperança que há em nós, a razão da nossa fé. Ou seja, é necessário que tenhamos conhecimento bíblico. Chamamos isso na teologia de apologética, isto é, um discurso de defesa da fé cristã bem embasado nas Escrituras. 

Há passagens na Bíblia de difícil interpretação, até o apóstolo Pedro concordou com isso (2Pd 3.16), inclusive, nesse mesmo verso, ele fala de homens que distorcem a Escritura para a sua própria destruição. Pedro traz-nos um alerta para que não sejamos enganados, de forma que não suceda perdermos nossa firmeza. A hermenêutica é o campo da teologia que se encarrega de examinar o sentido preciso de uma passagem bíblica. Como disse Pedro, todo cristão deve crescer na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. 

Poderia continuar propondo pontos que, de forma clara, são necessários a todo cristão, de fato, todos nós precisamos da teologia. Aprimorar nosso conhecimento a respeito de Deus através da Sua Palavra. Devemos ser inclinados ao labor teológico, ortodoxia e ortopraxia não são opostas, na verdade, são inseparáveis. Sejamos construtores de uma teologia saudável, que seja uma ponte para nossos irmãos da igreja local. Todo cristão deve desejar conhecer a respeito da revelação especial, eis um exemplo claro do conselho de Paulo a Tito:

Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina. Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade; use linguagem sadia, contra a qual nada se possa dizer, para que aqueles que se opõem a você fiquem envergonhados por não poderem falar mal de nós.

Tito 2.1, 7-8.

10 de jun. de 2016

Evangelismo e Apologética

Por Greg L. Bahnsen

O motivo pelo qual os cristãos são colocados na posição de apresentar a razão da esperança que neles há é que nem todos os homens têm fé. Porque há um mundo a ser evangelizado (homens que não são convertidos), há a necessidade de que o crente defenda sua fé: evangelismo conduz naturalmente à apologética. Isso indica que apologética não é mera questão de “duelo intelectual”; é uma séria questão de vida e morte — vida e morte eterna. O apologeta que falha em perceber a natureza evangelística de sua argumentação é cruel e arrogante. Cruel porque ignora a principal carência de seu oponente, e arrogante porque está mais preocupado em demonstrar que ele não é um tolo acadêmico do que em mostrar que toda glória pertence ao gracioso Deus de toda a verdade. Evangelismo nos faz lembrar quem somos (pecadores salvos pela graça) e do que carecem nossos oponentes (conversão de coração, não apenas modificação proposições modificadas). Acredito, portanto, que a natureza evangelística da apologética nos indica a necessidade de adotar uma defesa pressuposicional da fé. Em contraste a essa abordagem se colocam os vários sistemas de argumentação autônoma neutra.

Algumas vezes ouve-se, na área da erudição cristã (seja no campo da história, da ciência, da literatura, da filosofia ou em qualquer outro), a demanda por uma postura neutra, uma atitude não comprometida com a veracidade das Escrituras. Com freqüência, professores, pesquisadores e escritores são levados a pensar que, para serem honestos, devem pôr de lado todo comprometimento distintamente cristão quando estudam uma área que não esteja relacionada diretamente aos assuntos da adoração dominical. Eles raciocinam que, visto que a verdade é verdade onde quer que possa ser encontrada, as pessoas devem ser capazes de buscar a verdade pela orientação dos grandes pensadores de cada área, ainda que esses tenham uma perspectiva secular. “É realmente necessário considerar os ensinamentos bíblicos se você quer entender corretamente a guerra de 1812, a composição química da água, as peças de Shakespeare ou as regras da lógica?” Esse é o questionamento retórico deles. Daí surge a demanda por neutralidade no reino da apologética. Alguns apologetas dizem que deixariam de ser escutados pelo mundo descrente se abordassem a questão da veracidade das Escrituras com uma resposta preconcebida. De acordo com essa perspectiva, devemos estar dispostos a abordar o debate com descrentes com uma atitude comum de neutralidade — uma atitude “ninguém sabe até agora”. Inicialmente, devemos assumir o mínimo possível, é o que nos dizem; e isso significa que não podemos assumir premissas cristãs ou ensinamentos bíblicos. Assim, o cristão é chamado a abrir mão de suas crenças religiosas distintivas, a “deixá-las na estante” temporariamente, a assumir uma atitude neutra em seu pensamento. Satanás adoraria que isso acontecesse. Mais do que qualquer outra coisa, isso evitaria a conquista do mundo para crer em Jesus Cristo como Senhor. Mais do que qualquer outra coisa, isso faria dos cristãos professos impotentes em seu testemunho, ineficazes em seu evangelismo e incapazes em sua apologética.

O apologeta neutralista deveria refletir sobre a natureza do evangelismo; tal reflexão demonstra que (pelo menos) nas seis seguintes formas, o evangelismo requer uma apologética pressuposicional.

Na tentativa de levar boas novas ao mundo descrente, o neutralista é privado de seu tesouro.  Contrária à demanda por neutralidade, a palavra de Deus demanda lealdade sem reservas a Deus e sua verdade em todo o nosso pensamento e busca por instrução. E o faz por uma boa razão.

Paulo declara infalivelmente em Colossenses 2.3-8 que “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” em Cristo. Note que ele diz estarem depositados na pessoa de Cristo toda sabedoria e conhecimento — seja sobre a guerra de 1812, a composição química da água, a literatura de Shakespeare ou as leis da lógica! Toda atividade acadêmica e todo pensamento devem ser relacionados a Jesus Cristo, porque Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo. 14.6). Assim, evitar Cristo em seu pensamento, em qualquer ponto, é estar enganado, entregue à falsidade e morto espiritualmente.

Pôr de lado seus comprometimentos cristãos ao defender a fé é desviar-se voluntariamente do único caminho para a sabedoria e a verdade encontradas em Cristo. Temer o Senhor não é o fim ou o resultado do conhecimento; é o princípio do conhecimento reverenciá-lo (Pv. 1.7, 9.10). Paulo chama nossa atenção para a impossibilidade da neutralidade, a fim de que ninguém nos “engane com raciocínios falazes”. Ao contrário, devemos, como exorta Paulo, ser firmes, confirmados, radicados e edificados na fé, como fomos instruídos (v. 7). Uma pessoa deve estar pressuposicionalmente comprometida com Cristo na esfera do pensamento (e não neutra) e firmemente ligada à fé que recebeu por instrução, ou a argumentação persuasiva do pensamento secular irá enganá-la. Por isso o cristão é obrigado a pressupor a palavra de Cristo em toda área do conhecimento; a alternativa é o engano. No versículo 8 de Colossenses 2, Paulo diz: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas”. Ao tentar ser neutro em seu pensamento, você se torna um alvo fácil para ser enredado — privado por vãs filosofias de “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” que estão depositados somente em Cristo (v. 3). A mente obscurecida do descrente é uma expressão de sua carência de ser evangelizado.

Paulo nos diz em Efésios 4 que seguir os métodos ditados pela perspectiva intelectual daqueles que estão fora de uma relação salvadora com Deus é ter pensamentos vãos e entendimento obscurecido (vv. 17-18). O pensamento neutralista, então, é caracterizado por futilidade e ignorância intelectual. Na luz de Deus, vemos a luz (cf. Sl 36.9). Afastar-se da dependência intelectual da luz de Deus, da verdade de Deus e sobre Deus, é afastar-se do conhecimento para a escuridão da ignorância. Dessa forma, se um cristão deseja iniciar sua busca por instrução a partir de uma posição de neutralidade, ele estará, na verdade, disposto a iniciar seu pensar nas trevas. Ele não permitirá que a palavra de Deus seja luz para o seu caminho (cf. Sl 119.105). Ao caminhar pela neutralidade, tropeçaria pela escuridão. Tal pensamento certamente não honra a Deus como deve, e, conseqüentemente, Ele o torna nulo (Rm 1.21b). Neutralidade equivale à nulidade na visão de Deus.

Essa “filosofia” que não tem seu ponto de início e nem sua direção em Cristo é mais detalhadamente descrita por Paulo em Colossenses 2.8. Paulo não é contrário ao “amor pelo conhecimento” (isto é, “filosofia”, do grego) per se. Filosofia é admirável se a pessoa encontra sabedoria genuína — o que significa, para Paulo, encontrá-la em Cristo (Cl 2.3). No entanto, há um tipo de “filosofia” que não começa com a verdade de Deus, com o ensinamento de Cristo. Essa filosofia tem sua direção e origem nos princípios dos intelectuais do mundo — na tradição dos homens. Tal filosofia é alvo da reprovação de Paulo em Colossenses 2.8. É, para nós, esclarecedor, especialmente se somos propensos a aceitar a demanda por neutralidade em nosso pensamento, investigar sua caracterização desse tipo de filosofia.

Paulo diz que é “vã sutileza”. Que tipo de pensamento é esse que pode ser caracterizado como “vão”? Encontramos uma resposta ao comparar e contrastar passagens das Escrituras que falam de vaidade (por exemplo, Dt 32.47, Fp 2.16, At 4.25, 1Co 3.20, 1Tm 1.6 [loquacidade frívola], 6.20 [falatórios inúteis], 2Tm 2.15-18, Tt 1.9-10). Pensamento vão é aquele que não está de acordo com a palavra de Deus. Um estudo similar demonstrará que “sutileza” [engano, cf. Gn 27.35 ARC] é aquilo que está em oposição à palavra de Deus (cf. Hb 3.12-15; Ef 4.22; 2Ts 2.10-12; 2Pe 2.13 [mistificações]). A “vã sutileza” sobre a qual Paulo previne, então, é a filosofia que opera contra a verdade de Cristo e longe dela. Note a ordenança de Efésios 5.6, “Ninguém vos engane com palavras vãs”. Colossenses 2.8 nos diz que tomemos cuidado para não sermos enredados com “vãs sutilezas”. Paulo caracteriza ainda esse tipo de filosofia como “de acordo com a tradição dos homens, segundo os princípios fundamentais do mundo”. Essa filosofia põe de lado a palavra de Deus e a torna inválida (cf. Mc 7.8-13), e o faz ao basear-se nos elementos de aprendizagem ditados pelo mundo (isto é, os preceitos dos homens; cf. Cl 2.20,22). A filosofia que Paulo rejeita é aquele pensamento que segue as pressuposições (as hipóteses elementares) do mundo e, por essa razão, não está de acordo com Cristo.

O neutralista negligencia a antítese entre o cristão e o não-cristão que explica por que o crente está em posição de auxiliar o descrente Em Efésios 4.17-18, Paulo ordena que os seguidores de Cristo não mais andem “como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração”. Cristãos não devem andar, agir ou viver de uma maneira que imite o comportamento daqueles que não são redimidos; especificamente, Paulo proíbe que o cristão imite a vaidade dos pensamentos do descrente. Cristãos devem se recusar a pensar ou raciocinar de acordo com uma perspectiva ou mentalidade mundana. O agnosticismo condenável dos intelectuais do mundo não deve ser reproduzido nos cristãos como suposta neutralidade; essa perspectiva, essa abordagem à verdade, esse método intelectual evidencia um entendimento obscurecido e um coração endurecido. Ele se recusa a curvar-se perante o senhorio de Jesus Cristo sobre todas as áreas da vida, incluindo a erudição e o mundo. Todo homem, seja antagonista ou apologeta do Evangelho, distinguirá seu pensamento e a si mesmo pelo contraste com o mundo ou pelo contraste com a palavra de Deus. O contraste, a antítese, a escolha é clara: ser distinguido pela palavra de Deus (que é verdade) ou estar alheio à vida de Deus. Ou ter “a mente de Cristo” (1Co 2.16) ou a mente vã dos gentios (Ef 4.17). Levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2Co 10.5) ou continuar como “inimigos em suas mentes” (Cl 1.21). Aquele que segue o princípio intelectual de neutralidade e o método epistemológico da erudição descrente não honra o soberano senhorio de Deus como deve; como resultado, seu pensamento se torna nulo (Rm 1.21b). Em Efésios 4, como vimos, Paulo proíbe que o cristão siga essa mentalidade vã. Paulo prossegue ensinando que o pensamento do crente é diametralmente contrário ao pensamento ignorante e obscurecido dos gentios. “Mas não foi assim que aprendestes a Cristo” (v. 20). Enquanto os gentios são ignorantes, a verdade está em Jesus (v. 21). Ao contrário dos gentios, que estão alheios à vida de Deus, o cristão se despojou do velho homem e tem se renovado no espírito do seu entendimento (vv. 22-23). Esse “novo homem” é diferente em virtude da “justiça e retidão procedentes da verdade” (v. 24). O cristão é completamente diferente do mundo quanto ao intelecto e à erudição; ele não segue os métodos neutros de descrença, mas, pela graça de Deus, tem novos compromissos, novas pressuposições em seu pensamento.

Tentar ser neutro nos esforços intelectuais (seja pesquisa, argumentação, raciocínio ou ensino) equivale a se esforçar para apagar a antítese entre o cristão e o descrente. Cristo declarou que um foi separado do outro [santificado] pela verdade, que é a palavra (Jo 17.17). Quem tenta obter dignidade aos olhos dos intelectuais do mundo usando a insígnia da “neutralidade” somente o faz à custa de recusar ser santificado pela verdade de Deus. No reino intelectual, eles são absorvidos pelo mundo, de forma que ninguém pode dizer a diferença entre seus pensamentos e concepções e os pensamentos e concepções apóstatas. A linha entre o crente e o descrente é desvanecida.

Esse tipo de concessão nem é possível. “Nenhum homem pode servir a dois senhores” (Mt 6.24). “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).

A natureza da conversão não é de neutralidade e autonomia contínua, mas de fé e submissão ao senhorio de Cristo. A fé da pessoa que se torna cristã não foi gerada pelos padrões de pensamento da sabedoria mundana. O mundo, por sua própria sabedoria, não conhece a Deus (1Co 1.21), mas considera loucura a palavra da cruz (1Co 1.18, 21b). Se alguém adota a perspectiva do mundo, então ele nunca verá a sabedoria de Deus verdadeiramente; assim, nunca estará “em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria” (1Co 1.30). Logo, fé (e não observação auto-suficiente) faz de você um cristão, e essa confiança é posta em Cristo, não em seu próprio intelecto. Isso é o mesmo que dizer que o modo pelo qual se recebe Cristo é se desviar da sabedoria dos homens (a perspectiva do pensamento secular com suas pressuposições) e obter, pela iluminação do Espírito Santo, a mente de Cristo (1Co 2.12-16). Quando uma pessoa se torna cristã, sua fé não se baseia na sabedoria dos homens, mas na poderosa demonstração do Espírito (1Co 2.4-5).

E mais, o que o Espírito Santo causa é que todos os crentes digam “Senhor Jesus” (1Co 12.3). Jesus foi crucificado, ressurreto e assunto para que pudesse ser confessado como Senhor (cf. Rm 14.9, Fp 2.11). Dessa forma, Paulo pode resumir essa mensagem, que deve ser confessada se formos salvos, em “Jesus é o Senhor” (Rm 10.9). Para se tornar cristã, uma pessoa deve se submeter ao senhorio de Cristo, deve renunciar autonomia e pôr-se sob a autoridade do Filho de Deus. Aquele que Paulo diz que recebemos, de acordo com Colossenses 2.6, é Cristo Jesus, o Senhor. Como Senhor sobre o crente, Cristo requer que o cristão o ame com cada faculdade que tem (incluindo o entendimento, Mt 22.37); todo pensamento deve ser levado cativo à obediência de Cristo (2Co 10.5).

Logo, o apologeta evangelístico deve vir e arrazoar como um novo homem se quiser atingir o descrente; sua argumentação deve ser consistente com o objetivo para o qual mira. Vimos que a precondição absoluta da genuína erudição cristã é que o crente (e seu pensamento) deve estar radicado em Cristo (Cl 2.7). Paulo ordena que estejamos radicados em Cristo e que evitemos as pressuposições do secularismo. No versículo 6 de Colossenses 2, ele explica de forma simples como devemos ter nossas vidas (incluindo nossa busca por erudição) fundamentadas em Cristo e, daí, garantir que nosso raciocínio seja guiado pelas pressuposições cristãs. Ele diz “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele”; isto é, ande nele da mesma forma em que o recebeu. Se fizer isso, você será confirmado na fé, tal como foi instruído. Como, então, você se tornou cristão? Desse mesmo modo você deve crescer e amadurecer em sua caminhada cristã. Vimos acima que nossa caminhada não honra o padrão de pensamento da sabedoria mundana, mas se submete ao senhorio epistêmico de Cristo (isto é, sua autoridade na área do pensamento e do conhecimento). Dessa maneira uma pessoa alcança fé, e nessa maneira o crente deve continuar a viver e a aplicar seu chamado — mesmo quando se trata de erudição, apologética ou ensino.

Logo, o novo homem, o crente com uma mente renovada que foi ensinada por Cristo não anda mais na vaidade e escuridão intelectual que caracteriza o mundo descrente (cf. Ef 4.17-21). O cristão tem novos compromissos, novas pressuposições, um novo Senhor, uma nova direção e meta — ele é um novo homem; e essa novidade é expressa em seu pensamento e erudição, pois (como em todas as outras áreas) Cristo deve ter primazia no reino da apologética e do evangelismo (Cl 1.18b).

Se o evangelista quer que seu testemunho seja convincente, ele deve colocar-se em um firme fundamento de conhecimento. Deus nos diz que apliquemos nosso coração ao seu conhecimento para conhecermos a certeza das palavras da verdade (Pv 22.17-21). É característico dos filósofos atuais negarem a existência da verdade absoluta ou negar que alguém possa ter certeza sobre conhecer a verdade: ou ela não existe ou é inalcançável. No entanto, o que Deus escreveu para nós (ou seja, as Escrituras) pode mostrar-nos “a certeza das palavras da verdade” (vv. 20-21). A verdade é acessível! Contudo, para a compreendermos firmemente, devemos estar atentos à ordenança do versículo 17b: “aplica o coração ao meu conhecimento”. Conhecimento de Deus é primário, e o que quer que o homem deseje conhecer só pode ser baseado na recepção do que Deus tem conhecido desde a origem até ao fim. O homem deve pensar os pensamentos de Deus segundo Ele, pois “na tua luz, vemos a luz” (Sl 36.9).

O testemunho de Davi foi que “o Senhor meu Deus ilumina minha escuridão” (Sl 18.28). Na escuridão da ignorância humana, a ignorância que resulta da suposta auto-suficiência, surgem às palavras de Deus, trazendo luz e entendimento (Sl 119.130). Assim, Agostinho diz corretamente, “Creio para que possa entender”. Entendimento e conhecimento da verdade são os frutos prometidos quando o homem faz da palavra de Deus seu ponto de partida pressuposicional para todo pensamento. “Atende a minha sabedoria; à minha inteligência inclina os ouvidos para que conserves a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento” (Pv 5.1-2).

O neutralista se esquece da natureza graciosa de sua salvação Fazer da palavra de Deus sua pressuposição, sua norma, seu guia e instrutor, contudo, requer renunciar a auto-suficiência intelectual — a posição na qual você é autônomo, capaz de atingir conhecimento independentemente da direção e dos padrões de Deus. O homem que afirma ter (ou buscar) neutralidade em seu pensamento não reconhece sua completa dependência do Deus de todo o conhecimento para qualquer coisa que queira entender sobre o mundo. Tais homens (geralmente) dão a impressão de que são cristãos somente porque, como intelectos superiores, entenderam ou confirmaram (em quantidade grande ou significativa) os ensinos das Escrituras. Em vez de começar com a palavra certa de Deus por fundamento em seus estudos, querem que pensemos que começam com auto-suficiência intelectual e (usando isso como ponto de partida) chegam a uma aceitação “racional” das Escrituras. Embora cristãos possam cair em um espírito de autonomia ao seguir na busca por erudição, ainda assim, essa atitude não é consistente com a profissão e o caráter cristãos. “O temor do SENHOR é o princípio do saber” (Pv 1.7). Todo conhecimento começa em Deus e, assim, os que buscam conhecimento devem pressupor a palavra de Deus e renunciar a autonomia intelectual. “Não multipliqueis palavras de orgulho, nem saiam coisas arrogantes da vossa boca; porque o SENHOR é o Deus da sabedoria” (1Sm 2.3).

O SENHOR é aquele que aos homens dá conhecimento (Sl 94.10). Então, o quer que tenhamos, mesmo o conhecimento que temos sobre o mundo, isso nos foi dado por Deus. “E que tens tu que não tenhas recebido?” (1Co 4.7). Por que, então, se orgulhariam os homens em auto-suficiência intelectual? “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.31). Humilde submissão à palavra de Deus deve preceder toda busca intelectual do homem.

Apologética é evangelística por natureza. O apologeta lida com pessoas que têm mentes obscurecidas, fugindo da luz de Deus, se recusando a se submeter ao Senhor. O apologeta não deve demonstrar essa mesma mentalidade ao se esforçar por uma neutralidade que, no fim, o coloca no mesmo lamaçal. Ele deve ter como objetivo a conversão do descrente antagonista e, assim, deve desencorajar autonomia e encorajar fé submissa. O apologeta deve evidenciar, mesmo em seu método de argumentação, que ele é um novo homem em Cristo; ele usa pressuposições que estão em oposição às do mundo. Ele faz da palavra de Deus seu ponto de partida, sabendo que somente ela dá o conhecimento seguro que o descrente não pode ter enquanto rebelde a Cristo. O pensamento do não-cristão não tem fundamento firme, mas o cristão declara a confiável palavra de Deus. Se não o fizesse, não poderia de modo algum evangelizar: só compartilharia sua ignorância e especulação com o descrente. O cristão seria privado de todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento que estão depositados em Cristo somente. Além disso, o apologeta que tenta mostrar sua auto-suficiência intelectual movendo-se para uma posição de neutralidade para que possa “provar” certas verdades isoladas no sistema cristão se esquece de que somente a graça o fez o cristão que é; ele deveria, ao invés, continuar a pensar e se comportar da mesma maneira que recebeu Cristo (pela fé, submetendo-se ao Senhorio de Cristo).

Portanto, à luz do caráter do evangelismo, da natureza do descrente, da natureza do apologeta regenerado, da natureza da conversão, da natureza do pensamento e da salvação genuínos, convém que o apologeta cristão use uma abordagem pressuposicional em sua defesa da fé. O caráter evangelístico da apologética requer nada menos que santificarmos a Cristo, como Senhor, em nosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que nos pedir razão da esperança que há em nós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor (1Pe 3.15-16); “as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.4-5).

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Tradução: Sávio Ornelas Almeida
Fonte: Monergismo

1 de jun. de 2016

Antes de achar que é Teólogo

Por Thomas Magnum

A formação cristã é um requisito básico para alguém que pretende estudar ou opinar teologicamente. A enxurrada de informações teológicas na Internet tem substituído para muitos as longas horas, dias, semanas, meses e anos de pesquisa e leituras analíticas de temas complexos no corpus dogmático da fé cristã.

O imediatismo e mutação teológica na era digital é assustador e superficial. Do dia para noite muitos mudam de opinião. Depois mudam de novo. Eram pactuais, depois dispensacionalistas, depois pactuais de novo. Eram neocalvinistas, depois da TMI, depois marxistas culturais. Uma série de mudanças que demonstram o quanto vivemos numa era rasa teologicamente, imediatista, pragmática, sem anos de reflexão e maturação teológica e intelectual.

Temos vários reformadores "On" que mais criticam a igreja do que lutam por ela e a amam. Temos neófitos que se julgam aptos para teologarem nas redes e emitir juízo sobre teólogos com cabedal e histórico de um trabalho de contribuição pertinente a igreja. Vemos nascer nas redes pretensos teólogos amantes de si mesmos, arrogantes, impiedosos. Que mais falam do que fazem pela igreja.

A teologia não pode estar dissociada da vida evangélica, da piedade, da humildade, da cordialidade e hospitalidade inerentes a fé em Cristo.

Vemos surgir apologistas virtuais que nem conhecem as doutrinas elementares da fé. Calvinistas que nunca leram uma obra de Calvino e reformados que não sabem nem o que foi de fato a reforma e sua importância histórica, teológica, política e filosófica para o mundo moderno.

Não achemos que a leitura rápida e precipitada em blogs e sites ou vídeos no YouTube nos tornam teólogos. Antes de emitir opiniões teológicas estude. Estude muito.

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Palavra editorial - Para endossar as palavras escritas neste artigo, assista este curto vídeo:

15 de out. de 2015

A Oração e o Estudo Teológico

Por Thomas Magnum

Orar é parte vital para uma vida cristã saudável. Um cristão que não alimenta uma vida de oração se priva de deliciar-se num manancial que Deus deu a seu povo. É comum quando estamos envolvidos com o estudo teológico negligenciarmos a oração, principalmente quando não compreendemos qual seu papel em nosso labor na teologia. Os afazeres, os compromissos, a agenda da igreja e das obrigações acadêmicas não podem ser uma pedra de tropeço para nossa vida de oração. Se temos tempo para nossas leituras devemos ter tempo para a oração.