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19 de set. de 2016

A Analogia do Endividado

Por Thiago Oliveira


Um homem simples está devendo um valor xis a um homem proeminente. O credor então cobra-lhe a dívida dando-lhe um ultimato: Ou se paga ou o fim do devedor será trágico. Ao homem endividado só resta temer o seu destino, pois ele tem o número da conta do seu credor em mãos, todavia, não conseguirá fazer nenhum depósito, ele não possui e nunca possuirá tal quantia. Quando menos se espera, um outro homem, que não tinha nada a ver com aquela dívida, deliberadamente paga o valor exato para livrar o devedor da sua severa punição.

Ao ver todo aquele dinheiro depositado em sua conta, o credor não tem mais nada para cobrar. Foi pago tim-tim por tim-tim. E o homem que estava prestes a ser arruinado, agora folga por não ter mais aquele débito. Estava livre. Agora imagine você, caro leitor, que mesmo após ver a importância depositada em sua conta, o credor mandasse um encarregado seu ir atrás de quem lhe devia e perguntasse:

- Alguém pagou a dívida para você. Agora cabe a ti aceitá-la.

Neste momento você deve estar achando improvável tal pergunta. E de fato é. Agora, imagine que além disso, a resposta do endividado fosse:

- Não, eu não quero aceitar.

Absurdo. Não há uma outra palavra para adjetivar tal desfecho. No entanto, é assim que se baseia a teologia arminiana quando diz que a Graça é resistível e que o homem pode rejeitar a oferta da salvação. Para entendermos isso de uma maneira melhor, é necessário estar ciente de outros basilares conceitos da soteriologia (doutrina da salvação) reformada. A saber: Total Depravação e Expiação Limitada.

A depravação total consiste em dizer que todos os homens estão numa situação decaída. Eles estão em rebelião contra Deus e por isso estão espiritualmente mortos (Ef 2:3; Rm 3:12; Jo 8:34). Mas, Deus em Sua soberana vontade, para o louvor de Sua glória, escolheu alguns destes pecadores mortos e os vivificou em Cristo. Por que Ele fez isso? Efésios 1 nos diz que foi para “o louvor da Sua glória” (v. 6, 12 e 14).  Seus eleitos, não tiveram mérito algum, por isso não podem se vangloriar (Ef 2:8-9, Rm 3:27). Daí o questionamento: e quanto aqueles que não se convertem quando anunciamos o sacrifício do calvário? Não estariam eles resistindo?

Aparentemente eles estão rejeitando sim. Contudo voltemos a analogia do homem endividado. Porque ele não podia negar o pagamento feito por um terceiro elemento em seu favor? Porque aquele pagamento salvaria sua pele. Por isso não há como rejeitar o sacrifício de Cristo, a não ser que este não tenha morrido por aqueles que continuam mortos. A expiação limitada ensina justamente isto: A cruz não redimiu todos os homens, apenas os eleitos. Da mesma forma, o homem de nossa estória pagou a dívida de um devedor e não de todos os devedores. Por isso, os que aparentemente rejeitam a mensagem da cruz, na verdade não foram por ela alcançados. Em outras palavras, a dívida deles não foi paga por Jesus.

Quando a Bíblia diz que o sangue de Jesus é suficiente para nos purificar de todo o pecado (Tt 2:14, 1Pd 1:18-23 e Ap 1:5), não podemos conceber a ideia de que tais homens desprezariam sua morte, tornando-a em vão. Se estes continuam na sua condição pecaminosa, é porque não receberam a fé salvífica e não foram alcançados quando Cristo expirou no gólgota. Eles são espiritualmente cegos e não enxergam que são pecadores. Obstinados continuam devendo e acham que está tudo quite. A revelação de que devíamos um exorbitante valor, e que nossa dívida foi paga, chegou até nós. Regozijamos com esta boa-nova. Porém, alguns continuam com os olhos vendados para esta realidade (2Co 4:3-4). 

Dizer que Jesus morreu por todos os homens, porém muitos não serão salvos porque vão recusá-lo é tornar os sofrimentos do Senhor inúteis, sendo necessário fazer mais alguma coisa. Restringir a cruz a vontade humana é tão absurdo como acreditar que o devedor da nossa analogia escolheria continuar devendo um débito que já havia sido quitado.

1 de out. de 2014

1 Tm 2.6 refuta a Expiação Limitada?

Por Thiago Oliveira

Os 5 pontos do Calvinismo, também conhecidos por TULIP, acróstico referente as iniciais de cada ponto na língua inglesa são: Depravação Total do Homem; Eleição Incondicional; Expiação Limitada, Vocação Eficaz e Perseverança dos Santos. Eles são um resumo da teologia extraída dos Cânones de Dort, isso no auge das disputas entre calvinistas e arminianos no séc XVII acerca das doutrinas da salvação. Dentre os 5 pontos, o terceiro talvez seja o mais combatido e o mais controverso dentro do segmento protestante/evangélico, por dizer que Jesus na cruz não morreu por todos os homens, e sim, morreu para remir os que Ele incondicionalmente elegeu.

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”.  1 Timóteo 2: 5-6.

Alguns teólogos arminianos, como o Roger E. Olson, tem citado essa passagem com o intuito de refutar a bíblica doutrina da expiação limitada (indico a leitura de “Por Quem Cristo Morreu?” do puritano John Owen, disponível na internet em PDF). Outro expoente seguidor de Armínio, Vernon Grounds, disse que é necessário uma “ingenuidade exegética, beirando o sofisma” para que se negue a universalidade presente nesse texto de Paulo à Timóteo. No entanto, veremos que um exame diligente (e não ingênuo) das Escrituras não nos deixam nenhuma dúvida de que o apóstolo Paulo nem aqui e nem em nenhum outro lugar na Bíblia está defendendo a expiação universal.

Observando o princípio hermenêutico de que as Escrituras se interpretam entre si, vamos analisar não apenas 1 Timóteo 2, mas também outros escritos paulinos. Basta compreendermos que o termo “todos” aqui empregado não se reporta a indivíduos, e que esta palavra está dentro do contexto de que o presbítero de Éfeso deveria, no culto público, interceder em favor de todas as classes de homens, incluindo os reis e os que estão em eminência (v.2). Calvino, em seu comentário, nos lembra de que os magistrados nessa época eram os mais severos inimigos de Cristo. Mesmo assim a ordem apostólica é de que devemos orar também por estes perseguidores da igreja. Quando Paulo diz que o desejo de Deus é “que todos os homens se salvem” fica evidente que ele se refere a classe e não a totalidade de indivíduos na Terra.

Ao afirmar que Deus deseja que homens de cada posição social, nacionalidade ou gênero sejam salvos está corroborando com a ideia de que há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens´, a saber: Jesus Cristo (v.5). A ideia de Jesus como mediador de uma nova aliança quebra as barreiras nacionalistas do judeu e também esmaga o elitismo da cosmovisão grega. O termo “todos” é uma referência óbvia aos gentios, objeto do ministério paulino (v.7). Quanto a isso, Paulo interpreta a si mesmo em outras cartas: (Rm 3:29,1 Co 12: 13, Cl 3:28).

“É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente. Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão”. Romanos 3:29-30

“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. 1 Coríntios 12:13

“Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Gálatas 3:26-28

O universalismo da expiação não compreende a cada indivíduo. Afirmar isso apenas porque a expressão “todos” existe no texto é a verdadeira ingenuidade. Seria como dizer que uma reunião só começaria quando cada habitante do planeta chegasse, pois o chefe teria dito que só começaria quando “todos” estivessem presentes. Paulo está falando da abolição de classes que a mediação única de Cristo “dando a Si mesmo como preço da redenção (v.6)” produziu. Não existem vários mediadores e deuses competindo pela adoração da humanidade. Se antes, os demais povos estavam longe, separados da comunidade de Israel, com a mediação de Cristo Jesus fomos unidos aos membros da aliança:

“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz. E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito”. Efésios 2:14-18

Apoiando a teologia Paulina, temos Pedro que escreve a sua epístola aos “aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia”, dirigindo-se a todas as regiões gentílicas onde o Evangelho havia sido difundido e onde os eleitos de todos os povos poderiam ser encontrados. Estes são as “pedras vivas na edificação de uma casa espiritual” por meio (ou seja, mediação) de Jesus Cristo (1Pe 2: 5), fazendo povo de Deus aqueles que nem sequer eram povo e nem sequer haviam recebido misericórdia (1Pe 2:10). De igual modo, o apóstolo João, ao receber a revelação daquele que poderia abrir o livro da vida, relata que o canto que ecoava no céu era o seguinte:

"Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação”. Apocalipse 5:9
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Referências Bibliográficas:

1. BARCLEY, William. Comentário do Novo Testamento.E-Book.
2. CALVINO, João. Pastorais. Ed Fiel.
3. HENDRIKSEN , William. Comentário do Novo Testamento. Ed. Cultura Cristã.
4. KELLY, J.N.D. 1 e 2 Timóteo e Tito: Introdução e Comentário. Ed. Vida Nova.