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13 de abr. de 2015

Porque, segundo a Teologia Bíblica, o Teonomismo é errado?

Por Lane Keister

Nas linhas seguintes apresentarei alguns pontos com relação aos motivos pelos quais penso que o teonomismo não faz jus à teologia bíblica das Escrituras. De semelhante modo, incluirei alguns comentários exegéticos sobre várias passagens bem como diretrizes bíblico-teológicas mais abrangentes.

Primeiramente, esclareçamos os termos aqui abordados. O teonomismo pode ser definido como uma perspectiva teológica que crê que as leis civis do Antigo Testamento são aplicáveis aos governos atuais. NÃO É uma perspectiva que acredita que as leis cerimoniais ou o sistema de sacrifícios ainda estejam em vigor. As pessoas geralmente confundem essa diferenciação. O termo “teonomismo”, em si, se origina da junção de duas palavras gregas: theos, que significa “Deus”, e nomos, que quer dizer “lei”. Os teonomistas se opõem completamente a qualquer tentativa por parte do homem de determinar a lei por si mesmo. Desse modo, contestam a autonomia (a lei própria). Da mesma forma, também se contrapõem à abordagem dos “dois reinos” [1] que vários reformados adotam atualmente.Agora, contudo, devo apontar primeiramente uma reserva, a saber, a minha concordância com os teonomistas em vários pontos.

1 de nov. de 2014

O que dizer da Teonomia?

Palmer Robertson

O avanço da antiga aliança para a nova aliança também é parcialmente negado por aqueles que têm grande respeito pelas leis civis de Israel. Chamadas de “teonomistas”, essas pessoas são impressionadas pela equidade e sabedoria das leis que governaram o Estado de Israel – e corretamente. Particularmente quando comparadas com as leis impostas pelo Estado secular atual, a ordem civil do Estado de Israel, sob a antiga aliança, amplia as glórias de um Deus santo.

No entanto, deve ser conhecido o valor limitado do Estado de Israel da antiga aliança como um modelo tipológico do Reino de Deus. Seu domínio era definido espacialmente pelas fronteiras, a terra devia ter uma divisão cívica mediante a distribuição entre os descendentes físicos das doze tribos de Israel.

Nunca houve a pretensão de estabelecer essa legislação no território da Assíria ou do Egito (para pensar apenas nos vizinhos mais próximos de Israel). Embora planejada para revelar a equidade de Deus na distribuição da terra, essa legislação era temporal em sua aplicação, limitada ao tempo da presença de Israel como uma nação organizada na Palestina, sob as provisões da antiga aliança.

Na colonização inicial da América, foram feitos alguns esforços para reinstituir os códigos civis de Israel. As leis da Nova Inglaterra, como impressas em 1641, foram estabelecidas segundo os direitos territoriais tribais do antigo Israel; desse modo, as propriedades normalmente tinham de ser vendidas a outras pessoas que já habitavam uma cidade (mantendo, desse modo, a terra designada dentro da “tribo”). As filhas que herdavam terra deviam se casar dentro do distrito eleitoral da cidade ou pagar um imposto de aluguel para o tesouro público da cidade. Porém, esses esforços de transferir uma teocracia organizada de modo tribal para a moderna comunidade civil envolvem uma grande quantidade de esforço imaginativo. Conquanto o princípio geral de equidade possa ser transferido, as leis de natureza civil da antiga aliança não podem ter o efeito obrigatório das dez palavras.

Particularmente em razão da coação da verdadeira religião mediante autoridades cívicas segundo a lei mosaica, torna-se claro que a legislação da antiga aliança prevê um governo teocrático, que não se ajusta às intenções de Deus para a expansão do evangelho na presente era. De acordo com Deuteronômio 13.5, o profeta que promove uma falsa religião deve morrer. Segundo Deuteronômio 13.6-11, se qualquer pessoa, até mesmo em sua própria casa, propuser secretamente a adoração de outro deus, ela deve morrer. Conforme Deuteronômio 13. 12-18, se toda comunidade propuser a adoração de um falso deus, toda comunidade deve ser destruída.

Essas práticas devem ser úteis para descrever a eficácia do julgamento final. Elas podem fornecer uma base para a excomunhão da igreja de Cristo. Porém, pedir ao Estado secular atual – até mesmo um Estado cristianizado – para impor essas leis somente conduziria a sociedade uma vez mais aos horrores das guerras religiosas dos séculos passados.

Mediante a graça comum de Deus, os poderes civis atuais podem realizar uma função limitada de restringir o mal entre a humanidade caída. Por essa razão, eles merecem a honra que pertence apropriadamente à autoridade do Estado. Porém, as glórias do modelo da antiga aliança não devem ser confundidas com as funções limitadas do Estado na era atual. O Senhor da nova aliança reconheceu pessoalmente o lugar do Estado atual como distinto do seu próprio reino, quando declarou “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21).

Um dia a verdadeira religião será imposta pelo verdadeiro Estado. Porém, esse dia virá apenas com o retorno de Cristo em glória, quando ele estabelecerá o reino eterno de Deus. Enquanto isso, o cristão não deve se deixar cegar pelas glórias da revelação da antiga aliança, falhando em ver a glória maior da graça da nova aliança, no modo que ela é manifesta aos homens de todas as nações.

O reino da nova aliança é superior ao tipológico da época da antiga aliança. Graça maior é mostrada a todas as nações. Concentração maior é colocada na permanente duradoura lei moral de Deus. Glória maior é encontrada na pessoa de Cristo, o Rei Ungido, que derramou o seu Espírito sobre toda carne.
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Extraído do livro Alianças (Ed. Cultura Cristã), pág 65-66. 

17 de out. de 2014

Reconstrucionismo para leigos

Por Solano Portela

Vou colocar algumas informações sobre os teonomistas (Theonomists), também conhecidos como dominionistas (Dominonists), amplamente extraídas da memória, portanto, com possíveis lapsos e imperfeições e sem nenhuma pretensão de dar todos os ângulos sobre o movimento, ou sobre as pessoas que têm recebido esse rótulo.

Como indica o próprio nome, teonomia tem a ver com a lei de Deus. Mais especificamente com o papel da lei de Deus e sua aplicabilidade em todas as eras. Ainda mais restritamente, com o entendimento da abrangência da lei de Deus. Os chamados teonomistas dizem que as expressões da lei de Deus representam um modelo a ser emulado em qualquer época ou sociedade - não aceitando sem muitas qualificações a clássica divisão entre lei civil ou judicial; lei religiosa e cerimonial e lei moral. O movimento começou na década de sessenta, do século passado, nos Estados Unidos e destaco os seguintes pontos a relembrar e a ponderar:


1. O Guru do movimento foi o já falecido Rousas J. Rushdoony (1916-2001), brilhante teólogo reformado e apologista cristão, seguidor do pensamento do apologista e teólogo Cornelius Van Til, do Westminster Theological Seminary, especialmente na sua identificação como um "pressuposicionalista" (contrapondo-se aos "evidencialistas").


2. Possivelmente, o livro mais famoso dese teólogo foi o seu "Institutes of Biblical Law". Nesse livro ele faz uma exposição principalmente dos Dez Mandamentos, mas também de inúmeros pontos da legislação judicial mosaica, representando uma coletânea de ensaios ético-teológicos, sobre os diversos aspectos da lei de Deus, com considerações práticas na história e na vida contemporânea. Um dos pontos defendidos, no livro, é o da aplicabilidade da legislação civil a todas as sociedades, em todas as eras. Nesse sentido, a tarefa dos cristãos seria reconstruir uma sociedade formada à luz da lei de Deus, pela pregação do evangelho e por esforços de pressão e persuasão junto ao governo e legisladores. Daí serem chamados, também, de reconstrucionistas, além de teonomistas.


3. O movimento atraiu muitos reformados, principalmente dentro do campo presbiteriano (especialmente na Igreja Presbiteriana Ortodoxa - OPC, denominação de vários de seus proponentes, por vários anos). Também fez progresso no meio de vários Batistas Reformados; veio, entretanto, tomar uma forma mais teórica com a publicação de um livro do Greg L. Bahnsen em 1977, chamado: "Theonomy in Christian Ethics". Bahnsen, escritor eficaz e debatedor de primeira linha (dizem que os ateus temiam debatê-lo) lecionava no Reformed Theological Seminary e o livro ajudou a popularizar o movimento e a atrair, também, muita oposição.


4. O pós-milenismo veio a tornar-se uma das características do movimento, pois os que se identificavam com a linha viam a ação do cristianismo como fonte de uma sociedade futura justa e controlada por princípios emanados da Palavra. Rushdoony escreveu um livreto, que teve ampla circulação, defendendo esse pós-milenismo (que difere do pós-milenismo clássico - que via uma melhoria progressiva na raça humana; e do pós-milenismo puritânico - que via o milênio como o resultado de um reavivamento operado por Deus pela igreja), chamado: "Eschatology of Victory".


5. Logo muitos livros foram publicados e um peródico acadêmico ("Journal of Christian Reconstruction"), contendo vários artigos profundos sobre temas correlatos, era publicado duas vezes por ano. Os artigos produzidos e outras publicações emanadas do campo teonomista sempre tinham uma boa profundidade e grande dose de erudição, bem como a tentativa de fundamentação bíblica às idéias apresentadas. Um dos autores que mais escreveram, nessa linha, foi o Gary North (genro de Rushdoony). North, economista de formação - e não teólogo, espinafrou com competência as políticas inflacionárias dos governos. Um dos ótimos artigos publicados no "journal" já mencionado, teve o título: "Isaiah's Critique of Inflation", e baseava-se na condenação que Isaías faz dos que adulteravam a prata. North comparava isso ao abandono de um padrão monetário fiel e chama explicitamente de roubo. Hoje ele está muito mais dedicado a artigos econômicos do que a ensaios teológico-sociais, como antigamente.


6. Uma outra publicação que cresceu e se estabeleceu, foi a revista (no início, era apenas uma newsletter) chamada "Chalcedon Report", que existe até hoje, acredito. Na realidade, o movimento foi abrigado pela Chalcedon Foundation, cujas atividades foram bem além da publicação da revista: distribuía sermões e palestras gravadas (outro grande meio de divulgação, nos States), publicava livros e empregava, em tempo integral vários dos pensadores do movimento (site atual: http://www.chalcedon.edu/) .

7. Pelo que sei, patrocinaram uma faculdade e fizeram sua presença sentida em quase todos os seminários de linha reformada, desde a década de setenta até o presente, provocando grandes debates e alinhamentos entre alunos e, por vezes, envolvendo professores nas controvérsias. Na década de noventa atraíram para o quadro de articulistas o Rev. Steve Schlissel, grande pregador e escritor de Nova York, que foi expulso da Christian Reformed Church porque se insurgiu contra várias diluições doutrinárias naquela denominação, especialmente com relação à abertura progressiva dela ao homossexualismo. Ele produziu (produz?) inúmeros artigos interessantes, inclusive uma série de oito ou dez artigos sobre o princípio regulador no culto, no qual defende uma posição, com várias diferenças das normalmente apresentadas na tradição puritana, com muita competência e precisão.

8. Os teonomistas nem sempre foram caracterizados por graça na defesa apaixonada de suas posições. A linguagem era, por vezes, virulenta contra irmãos na fé. Na área de obediência às leis, defenderam, por muitas vezes e em muitas situações, uma postura de desobediência civil. Alguns radicais, do campo, chegaram a advocar a concretização da resistência ao governo "ímpio e corrupto", na forma de recusa no pagamento de impostos - principalmente o "de renda" (não fiquem tentados...). No cômputo final, terminaram por brigar consideravelmente entre si. Gary North brigou com o próprio sogro (Rushdoony) e continua escrevendo bastante, mas em rumo separado dos teonomistas.


9. O link que coloquei, acima, provavelmente é uma das melhores fontes do estado atual do movimento. Na minha avaliação, os teonomistas têm muito a nos ensinar, mas não posso embarcar na visão anacrônica e não bíblica da aplicabilidade da lei judicial ou civil de Israel aos dias de hoje (quiçá da cerimonial), nem na visão de uma sociedade controlada e transformada pela lei, em vez de "salgada" e "iluminada" pelo evangelho (e, assim, na providência divina, preservada até o tempo do julgamento de Deus). Gosto muito de Rushdoony e ele tem uma leitura interessante e elucidativa de vários aspectos da lei moral de Deus. Na área filosófica, um dos expoentes do reconstrucionismo foi o Dr. Gordon Clark[1902-1985] - mente brilhante, um dos meus favoritos (Um dos seus grandes livros é: "A Christian View of Man and Things").


10. No Brasil, algumas pessoas têm se interessado pela corrente, ou por alguns de seus expoentes. Se o teonomismo encontra dificuldades e resistência em uma terra que tem raizes (e ainda algumas nuances) cristãs, imagine em uma sociedade secularizada e dicotomizada (religião x sociedade civil) como a nossa! No rescaldo, vejo-me aprendendo uma coisa aqui e outra ali, dos tenomistas, enquanto exerço minha liberdade cristã de rejeitar vários dos fundamentos defendidos por eles. Não aceito "comprar o pacote completo", nem descartá-los como inconsequentes e não bíblicos em tudo. São, via de regra, gente séria e sincera, que tem muito a ensinar, principalmente no apreço pela Palavra de Deus e em encontrar uma forma de aplicação dos principios das Escrituras nas questões do dia a dia da vida. Uma nota curiosa, é que encontrei já vários segmentos neo-pentecostais que se alimentam da filosofia e das idéias dos reconstrucionistas (principalmente um determinado grupo, da Guatemala, liderado pelo pastor Harold Caballeros - da Igreja El Shaddai e do Movimento Apostólico). Aparentemente os ensinamentos dos teonomistas, de entrelaçamento com a sociedade civil e de conquista (reconstrução), encontraram eco em pontos tipicamente neo-pentecostais relacionados com batalha territorial, conquistas e respeitabilidade social, mesmo com a identificação que os reconstrucionistas fazem, de si próprios, como verdadeiros expositores e abraçadores da teologia da reforma.