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26 de jan. de 2017

Teologia do Coaching: A Substituta da Teologia da Prosperidade

Por Pedro Pamplona

A teologia da prosperidade já apanhou demais. Seus grandes ícones já foram expostos e desmascarados. Infelizmente ela ainda faz vítimas pela falta de conhecimento do povo, principalmente nas periferias, público alvo desse tipo de “teólogos”. Felizmente ela está cada vez mais marginalizada e ficando limitada a determinadas igrejas. Um bom números de crentes tem um grande repúdio por esse tipo de abordagem “evangélica”. Pois bem, eis que temos uma substituta para a tal da teologia da prosperidade (TP). Eu a chamo de teologia do coaching (TC). Usareis as siglas a partir de agora.

A Cultura do Coaching

Sou formado em administração. Cursei quatro anos de faculdade e fiz outros cursos na área. Na época o coaching não era tão conhecido como hoje. Sempre valorizei cursos com conteúdos práticos como finanças, marketing e recursos humanos. Nunca fomos ensinados que precisaríamos de pessoas nos acompanhando para ensinar, direcionar, motivar e cobrar. Nós mesmos faríamos isso. Então a cultura do coaching chegou. Vá a uma seção de administração e negócios de uma livraria hoje e você perceberá o que estou dizendo. Nunca me dei bem com ela para ser sincero. E quero explicar a razão usando duas citações do Instituto Brasileiro de Coaching. Primeiro, o que é o coaching?

Um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras visando à conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”¹

Agora pergunto: como o coaching acontece?

Conduzido de maneira confidencial, o processo de Coaching é realizado através das chamadas sessões, onde um profissional chamado Coach tem a função de estimular, apoiar e despertar em seu cliente, também conhecido como coachee, o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja”²

Antes de continuar deixe-me dizer algo para que fique claro. Acredito na liberdade de trabalho honesto. Se você gosta ou trabalha honestamente com isso, ok, é a sua escolha. Por mais que eu tenha críticas a essa prática, aqui entrarei na relação do coaching com a igreja. Usarei essas duas respostas dadas para analisar biblicamente o que chamo de TC. Minha argumentação será essa: Igreja e evangelho não combinam com o coaching e não devem se misturar jamais. Quando isso acontece temos uma nova TP com uma roupagem mais humanista e existencialista.

Junto com o coaching cresceu o chamado empreendedorismo de palco (EP). São aqueles profissionais que trabalham com palestras motivacionais e grandes palestras de coaching. Esse mercado tem crescido assustadoramente e também tenho sérias dificuldades com ele. Aqui se aplica a mesma observação que fiz aos profissionais de coaching. Mesmo assim indico um ótimo texto escrito por Ícaro de Carvalho chamado Por que o empreendedorismo de palco irá destruir você. O autor começa com uma afirmação que capta bem o ponto onde quero chegar:

O empreendedorismo é a nova religião do homem moderno. Materialista e secular, ele substituiu os Santos do seu altar por fotografias de homens bem sucedidos; os seus Evangelhos são livros como “O sonho grande” e “A força do Hábito”. Ele acredita, de alguma maneira, que tudo aquilo irá aproximá-lo do seu objetivo principal: sucesso, fama e dinheiro…de preferência agora!”³

Essa cultura construída em torno do coaching e do EP é em sua maioria materialista. O objetivo de muitos é o sucesso financeiro, e isso significa enriquecer. Com um fator especial: o mais rápido possível. É comum ler e ouvir grandes promessas e ensinamentos sobre como trabalhar menos e ganhar mais. O foco está no esforço intelectual e físico daquele que está buscando seu lugar ao sol. É dessa cultura de palco, sonhos, riquezas e promessas que estou falando. Já viu onde isso vai chegar na igreja? Vamos falar disso agora!

O Coaching na Igreja

Eu já vi palestras de coaching acontecendo onde deveria haver uma pregação da Palavra. Isso mesmo, em pleno culto público. Infelizmente essa cultura chegou em muitas igrejas. E se eu já não me dou bem com ela no mercado de trabalho, na igreja não tenho medo de dizer que ela é minha inimiga. Assim como repudio a TP também o faço com essa nova onda da TC. Em alguns sentidos essa segunda chega a ser pior do que a primeira. Vamos analisar três pontos que constroem a TC.

Humanismo: O coaching utiliza de técnicas humanas num indivíduo que é o centro de tudo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes tem enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como palestras motivacionais da fé que confundem fé com força e vontade, evangelho com motivacionismo e Cristo com um palestrante. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. Fé essa que passa por Cristo, mas que tem seu objeto na própria pessoa e nos seus esforços dirigidos. Muitas “pregações” tem o mesmo objetivo do coaching, ou seja, estão “visando à conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. O apelo pode ser até espiritual, mas ainda assim Você já deve ter escutado muito coisas do tipo “como ser o melhor marido”, “como atrair e fidelizar pessoas para o reino”, “alcançando sucesso através da fé.”. Tudo isso travestido de espiritualidade…

Materialismo: há um desejo enorme em conquistar coisas. Sejam elas produtos do mercado como carros, casas, roupas, viagens ou algo mais “espiritual” como paz, pessoas, bom casamento, filhos educados, castidade, etc. As pessoas querem conquistar, possuir e avançar, sendo tudo isso fruto não da humilhante auto confrontação e negação de si mesmo, mas da auto-afirmação. O papel do pastor se tornou muito parecido com o do coach: “estimular, apoiar e despertar em seu cliente (ovelha)… o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja”. É exatamente isso que essa mistura humanista-materialista busca: o potencial infinito de cada ser humano para conquistar aquilo que ele deseja. Há uma conexão com o existencialismo, onde o indivíduo e sua busca pessoal por significado em si mesmo passa a ser o centro do pensamento filosófico.

Ceticismo: Humanismo e materialismo são marcas de seres céticos. A crença no Deus da Bíblia é cada vez mais fraca onde esse tipo de cultura se manifesta. Como eu já disse, a TC busca descobrir o potencial de cada pessoas para que ela alcance seus próprios objetivos. Dependência de Deus é algo apenas fantasiado. Orações são feitas apenas para que Deus abençoe nossos planos e para que Ele nos dê apoio em nossa própria empreitada. O sobrenatural é esquecido e Deus vai ficando cada vez mais distante. Na TC o soberano é o indivíduo com suas decisões de fé e sucesso. Em muitas igrejas tudo que você vai encontrar nos púlpitos são mensagens sobre o que os homens podem fazer para serem alguma coisa melhor do que já são. Até a mistura com conteúdos de coaching, marketing pessoal e psicologia você encontrará. Aliás, tem sido comum pastores e líderes entrarem nesses cursos e palestras para serem mais persuasivos, contagiantes e teatrais (pra não usar manipuladores). O Espírito Santo não tem muito espaço na TC, mesmo que usem seu nome.

São por esses motivos principais que digo que a TC está substituindo a TP. Esse discurso tem atraído jovens, empresários, profissionais liberais, e todo o tipo de gente, principalmente na classe média. E aqui está a transição entre as duas abordagens. A TP faz uma barganha com Deus crendo que Ele efetuará milagres para benefício material e espiritual do homem. A TC eliminou a barganha ao deixar Deus de longe, mas passou a ter no próprio homem a força “milagrosa” para seu benefício material e espiritual. Na TP ainda há uma certa dependência de Deus e seu agir sobrenatural, enquanto na TC o homem declarou sua independência. O relacionamento de barganha foi substituído para o relacionamento de platéia. O Deus da TC está assistindo e torcendo pelos grandes empreendedores no palco da fé. Talvez você ache ruim o uso do palavra coaching, mas pelo que você entenda a expressão completa “teologia do coaching” que estou usando para definir esse tipo de abordagem.

Essa é uma teologia mais sutil, que parece mais humilde, mas na verdade transborda soberba ainda mais do que a tenebrosa TP. Seu ambiente menos escandaloso e mais conformado a cultura secular permite que esse tipo de abordagem lote igrejas e obtenha grande aceitação. Geralmente se fala o que as pessoas querem ouvir e pecados são tratados como pedra e obstáculos no caminho que devem ser superados. A pregação fica até mais dinâmica, com uso de mídias, frases de efeito e motivação mútua. Tudo isso associado com o desejo material dos nossos dias só contribuem para que a TC ganhe terreno. Logo logo nós teremos grandes problemas com ela e talvez ela chegue ao mesmo patamar da TP. Que Deus nos livre e proteja disso!

O que Jeremias e Tiago Diriam?

Não quero tornar esse texto num texto longo demais. Portanto, encerrarei apenas com três passagens bíblicas (quem sabe um artigo completo poderá sair em breve sobre o tema). Compare com as ideias da TC e veja como a Bíblia é contrária a isso. Jeremias profetizou para um povo orgulho e que confiava em suas próprias forças e em sua “tradição espiritual”. Contra isso Deus falou por meio do profeta:

Assim diz o Senhor: “Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor” (Jeremias 9:23,24)

Num momento mais a frente ele resume bem sua mensagem ao povo:

Assim diz o Senhor: Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do Senhor… Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está” (Jeremias 17:5-7)

Encerro com a passagem de Tiago, um verdadeiro balde de água fria na teologia do coaching:

Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna.” (Tiago 4:13-16)

TP e TC, ambas são maléficas e distantes do cristianismo bíblico que leva o homem a negar a si mesmo, humilhar-se diante de Deus e depender dele em tudo. Ter sucesso profissional e conquistar riquezas não é pecado em si, mas isso não pode ser um dos pontos centrais de nossa espiritualidade cristã. Cuidado para não substituir a teologia da prosperidade pela teologia do coaching, em ambas o deus que adoram é o mesmo: o homem.

***

¹ Retirado de http://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching/o-que-e-coaching/ Acesso em 28/12/2016

²Ibid


³ Ícaro de Carvalho. Por que o empreendedorismo de palco irá destruir você. Acesso em 28/12/2016

28 de dez. de 2016

Teologia e Piedade

Lyle D. Bierma*

Voltemos agora às duas maneiras sugeridas anteriormente nas quais a teologia de Calvino é relevante para a igreja mundial no século 21. Essas duas maneiras tem a ver não tanto com o conteúdo da teologia de Calvino, mas com toda a sua maneira de fazer teologia.

Em primeiro lugar, vejamos como Calvino relaciona teologia e piedade. A primeira edição das Institutas de Calvino, em 1536, tinha o seguinte título longo e interessante – “Institutas da Religião Cristã, contendo virtualmente toda a soma da piedade e tudo o que necessita ser conhecido sobre a doutrina da salvação: Uma obra que vale a pena ser lida por todos os cristãos que têm zelo pela piedade”. Para começar, trata-se de “institutas”. Institutio em latim significa algo como “instrução básica”, “compêndio” ou “manual de instruções”. Mas um manual de que – de teologia? Não, um manual “que contém virtualmente toda a soma da piedade”, um manual “que vale a pena ser lido por todos os cristãos que têm zelo pela piedade”. Não se trata de um livro primariamente sobre teologia, mas sobre piedade. Obviamente existe muita teologia no livro. Mas para Calvino a reflexão teológica nunca é um fim em si mesma. A teologia é sempre utilizada a serviço da piedade; ela deve conduzir à piedade. Assim, a teologia de Calvino algumas vezes tem sido chamada de theologia pietatis, uma “teologia da piedade”.

Mas o que Calvino quer dizer com piedade? Na mesma sentença de abertura das Institutas, nós lemos: “Quase toda a sabedoria que possuímos... consiste em duas partes: o conhecimento de Deus e de nós mesmos” (1.1.1). Na seção seguinte, Calvino passa a dizer que, quando se trata do conhecimento de Deus, “nós não diremos que... Deus seja conhecido onde não existe religião ou piedade. . . Eu denomino ‘piedade’ aquela reverência unida ao amor a Deus que o conhecimento dos seus benefícios induz” (1.2.1). Ou então: “Aqui certamente está a religião pura e verdadeira: a fé tão unida a um sincero temor a Deus que esse temor também inclui uma reverência voluntária e leva consigo o culto legítimo que está prescrito na lei” (1.2.2).  Portanto, para Calvino o verdadeiro conhecimento de Deus é um conhecimento sobre Deus que é aplicado na piedade ou devoção, isto é, em reverência, fé, amor, adoração, obediência e serviço a Deus. A teologia – o estudo de Deus, a busca de conhecimento acerca de Deus – deve evocar uma resposta de piedade em nós se queremos verdadeiramente conhecer a Deus. Pois, como diz Calvino:

"Como pode o pensamento de Deus penetrar em sua mente sem que você perceba imediatamente que, visto ser obra de suas mãos, você foi... vinculado a ele por direito de criação, você deve a sua vida a ele? – que qualquer coisa que você empreende, qualquer coisa que faz, deve ser atribuída a ele? (1.2.2)".

A teologia deve levar à piedade.

É exatamente assim que Calvino realiza a sua própria reflexão teológica ao longo das Institutas; as Institutas são na realidade um manual de instruções sobre a piedade. Por exemplo, ao tratar acerca de Deus, o Criador, Calvino não somente explica os detalhes da doutrina da criação, mas também exorta o leitor a “comprazer-se piedosamente nas obras de Deus” (1.14.20). O que significa confessar que Deus é o Criador dos céus e da terra? Primeiramente, diz ele, significa refletir sobre a grandeza do divino Artista mediante a contemplação de suas maravilhosas obras de arte. A criação reflete “essas imensas riquezas de sua sabedoria, justiça, bondade e poder... [e] nós devemos meditar sobre elas longamente, considerá-las em nossas mentes com seriedade e fidelidade, e evocá-las repetidamente” (1.14.21). Mas a nossa resposta deve ir além disso. Nós também devemos compreender, diz Calvino, que Deus criou todas as coisas para o bem da humanidade; devemos “sentir o seu poder e graça em nós mesmos e nos grandes benefícios que ele nos concedeu, e assim sermos levados a confiar, invocar, louvar e amá-lo” (1.14.22). Isso é piedade. Essa é uma teologia que conduz à piedade. Para Calvino, estudar a doutrina da criação não é mero exercício intelectual; envolve a pessoa inteira – coração, alma, mente e força. Como ele disse no final dessa seção acerca da criação: “Convidados pela grande doçura da beneficência e bondade [de Deus], dediquemo-nos a amá-lo e servi-lo de todo o nosso coração” (ibid.).

O mesmo se aplica à maneira como Calvino trata da predestinação, uma questão doutrinária sobre a qual ele tem sido freqüentemente mal-compreendido e violentamente atacado. O historiador americano Will Durant certa vez escreveu: “Nós sempre acharemos difícil amar o homem [Calvino] que obscureceu a alma humana com a mais absurda e blasfema concepção acerca de Deus de toda a longa e honrada história das tolices”. E o tele-evangelista americano Jimmy Swaggart certa vez afirmou: “Creio que Calvino fez com que incontáveis milhões de almas fossem para a perdição”. Todavia, a predestinação é um conceito bíblico, um conceito com o qual os teólogos ocidentais tinham se debatido por mil anos antes de Calvino. O que Calvino faz com essa doutrina é o que ele faz com toda a sua teologia – ele a relaciona com a piedade do crente. A doutrina da eleição, diz ele, em primeiro lugar acentua para nós que a salvação é sola gratia: é totalmente e inteiramente pela graça de Deus. Portanto, a doutrina da eleição deve nos humilhar, porque ela nos defronta com o fato de que não temos nenhuma contribuição a dar para a nossa salvação; ela é unicamente uma obra de Deus. Deus nos escolheu antes que nós o escolhêssemos. Em segundo lugar, essa doutrina devia levar-nos a glorificar a Deus por essa grande dádiva que ele graciosamente nos concedeu (3.21.1). Por fim, ela pode assegurar-nos do caráter definitivo da nossa salvação, pois Deus prometeu em Romanos 8 que aqueles a quem ele predestinou para a salvação nunca irão separar-se do seu amor. Como Calvino disse: “Cristo nos libertou da ansiedade nessa questão... Quando somos dele, somos salvos para sempre” (3.24.6). Calvino não pretendeu que a predestinação fosse uma doutrina aterrorizante para o crente, mas uma doutrina consoladora.

Essa teologia da piedade foi assimilada por muitas confissões reformadas na própria época de Calvino e nos anos posteriores à sua morte. A denominação à qual eu e o professor Bosma pertencemos, a Igreja Cristã Reformada da América do Norte, subscreve três dessas antigas confissões reformadas – a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort – e em todas as três está presente essa aplicação pessoal, prática e experimental das doutrinas. Por exemplo, a Confissão Belga de 1561 explica com alguns detalhes a doutrina da providência de Deus, mas também dá atenção a qual deve ser a nossa resposta a esse ensino (Art. 13). Nós não devemos ser excessivamente curiosos quanto às obras de Deus que ultrapassam a compreensão humana. Devemos adorar as decisões de Deus com humildade e reverência. Devemos reconhecer “o conforto indizível” que essa doutrina nos dá em seu ensino de que nada nos pode acontecer por acaso. E podemos repousar no pensamento de que “Deus controla os demônios e todos os nossos inimigos, os quais não podem nos ferir sem a sua permissão e vontade”. Essas são respostas de piedade!

Uma teologia de piedade é ainda mais pronunciada no Catecismo de Heidelberg, de 1563. Como um catecismo, obviamente ele foi concebido como um guia para ensinar, pregar e aprender doutrinas. Mas ele sempre apresenta as doutrinas com um propósito em mente: aplicar essas doutrinas à vida e experiência cristãs; instilar no crente um senso de consolo ou certeza da salvação; evocar no crente uma resposta de gratidão por sua libertação do pecado e da miséria espiritual. Ouça algumas das perguntas: “Como a ressurreição de Cristo nos beneficia?” (P. 45); “Como a volta de Cristo para julgar os vivos e os mortos consola você?” (P. 52); “Que bem lhe faz, todavia, crer em tudo isto?” (P. 59); “Por que ainda precisamos praticar boas obras?” (P. 86); “Por que os cristãos precisam orar?” (P. 116). A reflexão teológica no Catecismo de Heidelberg não é um exercício abstrato. Ela é relevante para a vida e a experiência do crente.

O que Calvino e as confissões fazem aqui não é de fato uma coisa nova. Essa teologia da piedade já estava evidente na tradição humanista cristã na qual Calvino foi formado. Porém, o que é mais importante, ela tem o seu fundamento nas Escrituras, o recurso básico de Calvino na elaboração da sua teologia. Quando Calvino descreve o conhecimento de Deus como um conhecimento sobre Deus que evoca uma resposta de confiança, obediência e amor por Deus, ele está simplesmente ecoando o ensino da própria Escritura. Encontramos já no Antigo Testamento que o conhecimento de Deus não é mera posse de informações sobre Deus. É o reconhecimento dos direitos de Deus sobre nós. É o reconhecimento respeitoso e obediente do poder de Deus, da graça de Deus, das exigências de Deus. Conhecer a Deus é honrá-lo e fazer o que é justo e íntegro. Como Deus diz através do profeta Jeremias:

"Não se glorie o sábio na sua sabedoria... mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor". (9.23-24)

A implicação é que o Senhor se compraz no amor e na justiça não somente quando ele os pratica, mas também quando nós os praticamos. Então poderemos afirmar que realmente compreendemos e conhecemos a Deus.

O livro de 1 João no Novo Testamento dá ênfase ao mesmo ponto: “Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (2.3-4). Portanto, a teologia da piedade de Calvino ressoa com a mensagem da própria Escritura. Pode-se realmente dizer que essa maneira pela qual ele procurou mostrar o valor das Escrituras na sua época não tem relevância em nossos próprios dias?
____________

* É professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary, em Grand Rapids, Michigan. Esse texto é um excerto de uma palestra proferida no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper no dia 28 de agosto de 2003, traduzida pelo Rev. Alderi S. Matos, disponível na íntegra aqui

24 de out. de 2016

Como saber se eu sou um Reformimion?

Por Thiago Oliveira

"Alguns se desviaram dessas coisas e se entregaram a discussões sem propósito algum, querendo ser mestres da lei, embora não entendam nem o que dizem nem o que afirmam com tanta confiança."

I Timóteo 1:6-7

Tem crescido na internet o interesse pela teologia reformada e todo o arcabouço prático-doutrinário que corresponde à mesma. É legal ver que mais pessoas estão buscando uma sólida compreensão das Escrituras através de uma tradição que nos legou excelentes expositores. Mas existe um lado não muito legal: são os Reformimions. Não sabe do que se trata? São seres bastante chatos que se acham os baluartes do calvinismo e que possuem a pretensão de anunciar quem merece ou não receber a alcunha de reformado. Geralmente, tais seres são prejudiciais à propagação da ortodoxia, pois, eles a divorciam da ortopraxia e da ortopatia, isto é, advogam a doutrina correta, porém estão longe da prática e das afeições corretas.

Como o evangelho não é um caminho de apontamento alheio, e sim de autoexame e constante vigilância de si mesmo, vamos fazer um teste rápido para saber se você pode ser considerado um Reformimion. Podemos começar?

Pergunta 1: Você já leu a Bíblia toda?

Esta é uma pergunta importante, pois, reformimions gostam de ensinar teologia através das redes sociais. Mas a teologia tem por base o livro da revelação, isto é, a Bíblia. Para estar apto a ensinar doutrinas bíblicas, o mais prudente seria ler a Bíblia com frequência e em sua totalidade. Logo, se você anda “teologando por aí”, mas a sua Bíblia anda empoeirada, possa ser um forte indício de que você pertence a categoria dos reformimions.

Pergunta 2: Qual a motivação do seu coração ao entrar em debates?

Seja sincero ao responder, pois, se a tua motivação for a de querer demonstrar conhecimento, e assim ganhar likes e mais likes, isso é típico de reformimions, que buscam a autoglorificação ao invés de glorificar ao Senhor e buscar a edificação - em unidade - da Igreja. Debates podem nos enriquecer em conhecimento, mas há uma linha muito tênue entre o enriquecer-se e o embriagar-se. O primeiro visa crescimento que pode ser aplicado no Reino, o segundo é vaidoso e ególatra.

Pergunta 3: Quando e onde você se converteu?

Esta pergunta é importante por dois motivos: Se tratando de tempo, neófitos não são as pessoas indicadas para distribuírem conteúdo doutrinário. Logo, se sua conversão é bem recente, você deve buscar aprender, aprender e aprender. Ensinar, talvez mais para frente, também vai depender se tiver vocação para o ensino. A questão do local importa pelo fato de muitos terem se convertido em igrejas pentecostais, e atualmente falam horrores das mesmas, chegando ao cúmulo de dizer que não existe nada de bom nesse meio. Uma coisa é reconhecer equívocos e evidenciar determinados desvios doutrinários de uma corrente, outra bem diferente é achincalhar com ela. Reformimions - via de regra - possuem linguagem grosseira e venenosa, pois, estão longe da piedade.

Pergunta 4: Qual o seu envolvimento com a igreja local?

Muitos reformimions que moderam grupos e páginas do Facebook não são envolvidos em igrejas locais, são desigrejados. E os que são membros de alguma congregação não costumam se envolver nos ministérios locais, limitando-se ao papel de expectadores (e avaliadores) de sermões. Este é um grande problema!

Pergunta 5: Quem te pastoreia?

Se há pouco ou nenhum envolvimento com a igreja local, então como é a relação de um reformimion com um pastor? Ora, Deus deu pastores a sua igreja e devemos nos submeter a tais líderes, com disposição para sermos pastoreados. Logo, se você não tem sido apascentado, você anda distante do plano que Deus traçou para seu povo. Você acha que é mais sábio do que o próprio Senhor para recusar o pastoreio em sua vida?

Pergunta 6: Qual o seu conhecimento da História eclesiástica?

Ler a História da Igreja e o desenvolvimento da doutrina cristã nesses dois milênios é um forte indício de que você não é um reformimion ou está deixando de ser, pois estes geralmente desconhecem os pais da Igreja, os credos e confissões, é por isso que muitas vezes passam vergonha ao chamar de hereges pessoas que estão bem fundamentadas na tradição. Por desconhecerem a tradição e terem um reduzido conhecimento das doutrinas da graça, acabam produzindo uma cristologia  e uma eclesiologia equivocada.

Pergunta 7: Já leu Calvino ou algum reformador?

A maioria dos reformimions se diz calvinista sem sequer terem lido um capítulo das Institutas ou outra obra do reformador de Genebra. Lutero então?Xiiiiiiii...Vai entender essa turma!

...

Pronto, chegamos ao fim do nosso teste. Se você chegou a conclusão de que age de acordo com o modus operandi dos reformimions, não perca as esperanças. Muitos conseguiram deixar para trás esse passado obscuro e hoje são pessoas mais lúcidas, mais conhecedoras do pensamento reformado e mais úteis para edificação do corpo de Cristo. Você também pode sair dessa furada, basta se arrepender desse mau caminho e pedir ao Senhor Jesus sabedoria e domínio próprio. Siga estudando, congregue numa igreja biblicamente saudável e tenha disposição para ser pastoreado e prestar conta pelos seus atos.

P.S. O nome reformimions faz alusão aos Minions, todavia, repeti o "M" duas vezes remetendo ao "mimimi" destes personagens denunciados no texto. Ok?

12 de ago. de 2016

O Contencioso


Por Morgana Mendonça

Porque o evangelho não é uma doutrina de língua, mas, de vida”. O grande reformador João Calvino (1509-1564), consegue em poucas palavras, nos ensinar algo de extrema importância. Ele nos ensina sobre uma vida piedosa que retrata o evangelho da graça de Deus. A vida do cristão precisa, não apenas por palavras, e sim, por conduta, expressar a sã doutrina.

Tem sido um grande desafio viver uma vida que glorifique a Cristo. A comunidade evangélica tem enfrentado situações desafiadoras em todas as áreas, seja com questões culturais, ideológicas e até mesmo com relacionamentos interpessoais. Cada dia mais os relacionamentos virtuais têm sido alvo de grandes controvérsias. Perceber o quanto estamos longe de uma saudável convivência com o corpo de Cristo nas redes sociais é importante para destacar um ponto chamado contenda. Outra questão é perceber que as "contendas" criam dimensões gigantescas e trazem, não somente divisão, como adeptos a cada dia. No meio reformado, essa tem sido uma triste realidade que destoa com aquilo proposto na Escritura. Amantes das controvérsias, em torno de temas teológicos, produziram muitos teólogos "fakes" e "super-crentões". A Escritura nos diz claramente:

O que ama a contenda ama a transgressão; o que faz alta a sua porta busca a ruína.

Provérbios 17.19

Contenda é pecado! Amar a contenda é pecado, pecado esse que mina o coração e reflete um comportamento desprezível. Esse verso nos diz que: quem ama a contenda, ama o pecado. A contenda é um pecado que se encarrega de trazer outros pecados, como a maledicência, a ira, a maldade e o orgulho. O próprio verso mencionando em provérbios fala do orgulho, "aquele que faz alta a sua porta facilita sua própria queda". Em nossos dias, esse amor à contenda é visto de várias formas nas redes sociais, em páginas ou em grupos. Uma vitrine de contendas, relacionamentos destruídos e muitos bloqueados. Cristãos contenciosos, não seria uma questão trágica em nosso meio? A ânsia da defesa pública e da exposição teológica reformada, para que "likes" alimentem um ego enfermo. Um desejo ardente para oferecer a última palavra baseado em todo arcabouço da filosofia ou teologia, não é menos importante do que manter um relacionamento saudável com um irmão, que, por um detalhe, pensa diferente de você. 

A falsa piedade tem convencido a muitos com uma retórica de amor e zelo pela verdade, e ódio contra o pecado. Como disse, certa vez, um pastor reformado sobre suas percepções a respeito desses debates teológicos de Facebook: "A contenda se reveste de falsa piedade, quando o que realmente está acontecendo é amor ao pecado que Deus odeia". A glória de Deus, o bem ao próximo, o verdadeiro zelo pela Escritura estão longe dos debates teológicos das redes sociais, são poucos os que proporcionam realmente santo temor e paz entre os envolvidos. 

De fato, é necessário um exame das nossas motivações teológicas, um sondar das nossas intenções. Devemos questionar o propósito de tantas leituras, labor teológico e filosófico, de tanto conhecimento bíblico com um objetivo de apenas satisfazer o ego, e que, por fim, carece bastante de motivações genuinamente piedosas. Muitos outros pastores têm se posicionado contra essa realidade, trazendo a reflexão necessária sobre este desserviço à fé reformada. 

Aqueles que confessam a fé cristã reformada devem, em todos os âmbitos, manifestar o senso profundo e inequívoco do Soli Deo Gloria. Não devemos ter prazer nas contendas, nem muito menos em disputas teológicas. E isso não quer dizer que devemos abandonar o labor teológico, nem um debate saudável. Que o fim de se envolver nesse embate seja a glória de Deus, negando qualquer outra motivação que traga algum prejuízo na comunhão com os irmãos. O próprio reformador João Calvino não amava a disputa, nem a controvérsia, nem o falar contencioso. O alvo de Calvino era defender a fé com zelo, por amor às ovelhas de Cristo, para a glória de Deus. 

A verdadeira sabedoria é humilde e o pai da contenda é o orgulho. Que a nossa oração seja: concede-nos, ó Pai, uma inteligência em sincera humildade e pronta humilhação. A mistura de conhecimento e insensatez é chamada pelos gregos de sofomania, ou seja, o hábito de querer parecer sábio. Lembremos-nos do livro de provérbios, que diz, "o temor a Deus é o princípio da sabedoria" (Pv 1.7). Deixo aqui, nas palavras do apóstolo, um grande conselho:

E rejeita as questões tolas e desassisadas, sabendo que geram contendas; e ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, e que se desprendam dos laços do Diabo (por quem haviam sido presos), para cumprirem a vontade de Deus.

2 Timóteo 2.23-26

16 de mai. de 2016

Sexo, poder e dinheiro: cuidado com quem domina você

Por Mark Jones

Se você quer saber quem domina você, descubra quem você está proibido de criticar” (Voltaire)

Se as três irmãs da graça são fé, esperança e amor, também podemos dizer que as três irmãs da carne são sexo, poder e dinheiro.

Anos atrás, eu fui alertado sobre essas irmãs da carne.

Todos nós somos constituídos de maneira diferente em corpo e alma. E nossas constituições naturais alimentam desejos particulares, pois o corpo e alma possuem um relacionamento orgânico entre si. Além disso, a posição social de uma pessoa também tem implicações para os tipos de pecado que ela comete: aqueles que são prósperos são inclinados a certos pecados, aqueles que são pobres a outros. Aqueles que têm grande intelecto são inclinados ao orgulho. Os pais devem ser cuidadosos antes de chamar seus filhos de o próximo Einstein.

Certos pecados são mais dominantes em diferentes estágios da vida. Uma criança possui um coração que será inclinado a certos pecados somente mais tarde. Além disso, os desejos pecaminosos dos indivíduos duram de acordo com suas variadas vocações. Judas roubou porque ele era pecador, e também porque, como tesoureiro, foi colocado diante de uma oportunidade fácil de roubar.

Para responder à objeção de que certos pecados são contrários a outros e que os homens não são dados a todos os tipos de cobiça, Thomas Goodwin explica que as pessoas são inclinadas a diferentes pecados em diferentes estágios de suas vidas. Assim, o jovem pródigo pode tornar-se cobiçoso quando for idoso. Também é verdade que algumas pessoas têm antipatia por certos pecados, mas essa antipatia não é moral, mas física, “ou porque seus corpos não suportam ou por algum outro incômodo que eles veem naquilo” (Goodwin). Um hipocondríaco pode não visitar uma prostituta por temor de ficar doente, em vez de temor de Deus.

A tentação para Davi ter Bate-Seba foi fortalecida pelo fato de que ele podia ter Bate-Seba. Essa tentação para a lascívia foi obviamente diferente para Davi quando ele era velho. Se nós pudéssemos ter qualquer mulher que quiséssemos, provavelmente lutaríamos muito mais com tentação sexual do que fazemos. O quaterback bonitão da universidade normalmente tem tentações maiores com mulheres que o capitão-assistente da equipe de xadrez.

Talvez nós devamos agradecer a Deus agora porque não somos particularmente atraentes ou bonitos; nós podemos agradecer a Deus porque não desfrutamos de muito sucesso; nós podemos descobrir um dia que ele nos manteve pobre (ou com a aparência relativamente mediana) para nos salvar e guardar de muitos pecados.

Nós podemos não achar que dinheiro é tentação até que a porta para o dinheiro se abra um pouquinho. Logo, como um leão provando sangue pela primeira vez, a porta se abre, nossos bolsos começam a ficar cheios daquilo que nos controla, e estamos indefesos contra a putrefação que se iniciou. Tudo isso para dizer que não sabemos o quanto amamos o dinheiro até que se torne realmente uma tentação real. Fique alerta: aqueles que lhe dão dinheiro provavelmente também controlam você de alguma forma. E, assim, você rapidamente é incapaz de criticá-los de qualquer maneira, forma ou jeito. Você se torna cada vez mais cego, como os ídolos a quem você serve (Sl 115). Eu fico feliz que meu empregador é a igreja local e nenhuma organização tem controle sobre mim porque me pagam um monte de dinheiro.

Nós podemos não achar que amamos o poder até que tenhamos um gosto do poder. Tudo o que eu tenho visto até agora em círculos reformados tem somente me convencido que não somente o dinheiro corrompe, mas o poder corrompe ainda mais. De fato, quanto mais dinheiro, mais poder. Aqueles que estão no poder podem rapidamente cultivar uma cultura do medo. Como Voltaire disse, “Se você quer saber quem domina você, descubra quem você está proibido de criticar”. Eu acho que alguns de nós poderiam achar esse exame bastante desconfortável.


M’Cheyne disse bem: “As sementes de todos os pecados estão em meu coração e talvez o mais perigoso é que eu não as vejo”. Imagine ter amigos que realmente desafiarão você e lhe dirão que você está sendo estúpido!

***

Fonte: Reforma21

11 de mai. de 2016

Evangelismo com Mentira: a nova loucura do Lucinho

Por Thiago Oliveira

E lá vamos nós outra vez. Um texto escrito por mim, criticando o Lucinho Barreto... Já fiz isso antes, mas torno a fazer por motivos óbvios: alertar jovens para que não caiam nas loucuras que esse sujeito propõe. A mais nova está bem aqui. Assista ao vídeo e depois volte a ler este pequeno artigo.

Presumindo que você tenha assistido a “loucura de maio”, vamos ao cerne da questão: Esse dito cujo propõe que uma dupla de jovens use o artifício da mentira para obter “conversões” dentro do transporte coletivo. Isso mesmo. Dois jovens entram, enquanto um distribui panfletos evangélicos, outro finge que se opõe ao evangelismo, ambos entram numa discussão teológica/apologética e por fim, o que já é crente, fingindo não ser, dirá que se convenceu e “aceitará” a Jesus após um apelo. EVANGELISMO MENTIROSO É DOSE!

Algumas pessoas - advogando em prol do Lucinho - argumentam que isso é um teatro. Mas daí me vem algumas questões: i) o Lucinho em nenhum momento diz que aquilo é uma peça teatral e nem orienta que os jovens digam isso ao público ouvinte. ii) as pessoas quando assistem a uma peça teatral estão ali conscientes de que estão vendo atores em cena. O método que o Lucinho propõe faz com que as pessoas acreditem que os dois jovens não se conhecem e discutem de verdade. A finalidade também é que o povo acredite que a conversão ocorreu. Logo, definitivamente não é teatro. Está mais para “pegadinha do Malandro”, só falta o “glu, glu, ié-ié”.

A tal “loucura de maio” consiste na quebra do 9º mandamento. O Catecismo Maior de Westminster esclarece. Na pergunta 145 lemos: “Quais são os pecados proibidos no nono mandamento?”. Eis uma parte da resposta: “falar inverdades, mentir”. Mentira é algo repugnante para Deus (Pv 12.22), por isso que os mentirosos são expulsos da Sua presença (Sl 101.7 e Ap 22.15). Quem mente é filho do Diabo, pois é ele o pai da mentira (Jo 8.44). O apóstolo Paulo ensina aos colossenses que a partir do momento em que nos despimos do velho homem e passamos a ser nova criação, moldados a imagem do próprio Deus, devemos abandonar a mentira (Cl 3.9-10). Repito: o cristão deve abandonar a mentira (Ef 4.25). Logo, o que faz uma pessoa em sã consciência faltar com a verdade e simular uma conversão? Há alguém que pode elucidar a questão.

Mark Dever, pastor e diretor do Ministério 9Marcas, escreveu sobre o que caracteriza uma igreja saudável, que por tabela vai diagnosticar também igrejas doentes. Uma das marcas para que a igreja goze de boa saúde é a compreensão exata do que vem a ser evangelização. E por exata, ele quer dizer bíblica. Observem um trecho de sua fala no livro O que é uma Igreja Saudável? : “(...) se em nossas igrejas deixamos de lado o que a Bíblia diz a respeito da obra de Deus na conversão, a evangelização se torna uma obra nossa em que fazemos o que for possível para obter uma confissão verbal”.

Dever continua:

De acordo com as Escrituras, os cristãos são chamados a cuidar, exortar e persuadir os não-cristãos (2Co 5.11). Mas devemos fazer isso por meio da plena ‘manifestação da verdade’, que significa rejeitar ‘as coisas que, por vergonhosas se ocultam’ (2Co 4.2)”.

Quando a igreja entende que deve fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor, e atentar para a Sua divina soberania em converter os pecadores de maneira sobrenatural através da simples exposição do evangelho, então ela irá parar de confiar em metodologias baratas e não ficará nessa fissura por apresentar números elevados. Isso que o Lucinho propôs retrata a enfermidade da igreja brasileira, que não tem uma compreensão bíblica da evangelização por falta de ensinamento. E como vem o ensinamento? No caso da igreja não há nada melhor que a pregação expositiva das Escrituras. Ela é alimento robusto, pois traz em seu bojo a centralidade do evangelho e busca esclarecer o conteúdo bíblico para os fiéis trazendo aplicações que servem para o dia-a-dia.

Não é coincidência que esse método espúrio de evangelizar venha de um “pastor” que se fantasiou de Superman e de Chapolim. Pastor de uma igreja que em seu púlpito já rolou de tudo: de stund-up até dicas de maquiagem. Igreja que ao invés de se ater ao Ensino da Palavra, enfatiza a adoração por meio de música e realiza “atos proféticos” sem nenhuma fundamentação bíblica. Está tudo entrelaçado meus irmãos. Se falta boa doutrina, a evangelização é comprometida, pois, quem evangeliza desconhece o conteúdo do evangelho. Por isso vemos tantas abordagens evangelísticas que falam sobre obter paz, amor e felicidade em Jesus, mas que não falam o mais importante: Jesus veio para livrar do jugo do pecado e da condenação ao inferno todo aquele que nEle crê. O perdão dos pecados é o centro da boa-nova. O resto até pode vir agregado, mas não é promessa para este mundo.

Finalizo ciente de que vão me acusar de ter inveja do Lucinho e criticá-lo por má fé, na tentativa de me promover em suas costas. Nem precisa ser profeta para saber que em alguns comentários alguém falará (fora de contexto): “não julgueis”. Mas eu teimo em escrever, e teimo na esperança de que jovens que estavam prestes a cometer tal loucura, parem para refletir, dando atenção aos versículos aqui mencionados, e não utilizem este método infame para evangelizar. Se querem compartilhar do evangelho para obter conversões genuínas, gastem tempo estudando a fundo a Bíblia, gastem tempo expondo o que aprenderam através de uma sequência de estudos com algum não-crente e gastem tempo orando para que o Senhor converta o coração daquele que você tem investido em discipular. E no tempo certo, tempo de Deus, os frutos que demonstram conversão irão aparecer.

Oro para que Deus desperte a nossa juventude para o ensino da Palavra.

8 de abr. de 2016

Uma Preciosa Exortação à Igreja (1 Jo 2.12-17)

Por Thiago Oliveira

12. Filhinhos, eu lhes escrevo porque os seus pecados foram perdoados, graças ao nome de Jesus.

13. Pais, eu lhes escrevo porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes escrevo porque venceram o Maligno.

14. Filhinhos, eu lhes escrevi porque vocês conhecem o Pai. Pais, eu lhes escrevi porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes escrevi, porque vocês são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece e vocês venceram o Maligno.

15. Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.

16. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo.

17. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.

Introdução

Após o apóstolo João falar do mandamento do amor e advertir os crentes de que a ausência do amor é a ausência de luz, ele passa a falar sobre o mundanismo. João vai se dirigir a toda a Igreja. Ele não segmenta a sua fala a um grupo, mas exorta toda a congregação dos santos. Uma das coisas que vale a pena ressaltar é o caráter multi-geracional do Corpo de Cristo. A Igreja é composta de crianças, jovens, adultos e idosos. Quando fala que escreveu aos seus filhos no versículo 12, João usa uma linguagem fraterna, que lhe é particular. Ele, por ser idoso, considerava as ovelhas de seu rebanho filhos, e por elas tinha um afeto paternal. Após o termo generalizado, no versículo 14 ele parece falar com os filhos dos pais mencionados no versículo anterior. Podemos deduzir que sua fala alcançava aos jovens, citados diretamente nos versículos 13 e 14, mas também crianças, que podem preencher o espaço existente entre os “pais e filhos” a quem o apóstolo se dirige.

Antes de exortar a Igreja para que ela não seja seduzida pelo sistema maligno que assola o mundo desde a Queda, João a encoraja e lhe faz lembrar as bênçãos que vem do Senhor Jesus para sua amada noiva. Ele enfatiza que escreveu, justamente porque a escrita é um registro de algo que é dito. Louvado seja Deus que inspirou tais homens santos e deixou registrada as suas Palavras, assim, nós hoje temos acesso a este banquete espiritual e podemos desfrutar deste maná.

Bênçãos em Cristo (12-14)

Ao dirigir-se ao Corpo de Cristo e falar alguns motivos de ter escrito a sua epístola, João fala das bênçãos que o Senhor Jesus concede a sua igreja. A primeira delas é o perdão dos pecados. Isto se dá por graça e graças ao nome de Jesus. Ao falar do “nome”, o apóstolo tenciona falar daquilo que ele representa, que é a pessoa e o ofício de Cristo como sendo o enviado de Deus para salvar a humanidade do pecado e da morte. Esta é a dádiva maior que herdamos de Cristo. Ser perdoado é não ter mais empecilho ao nos relacionarmos com Deus. Está escrito: “Mas as suas maldades separaram vocês do seu Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os ouvirá”. Isaías 59:2. Todavia, quando perdoados, nossos pecados são lançados fora e estamos livres e podemos atender ao convite feito pelo autor do livro de Hebreus: “Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura”. Hebreus 10:22. Maravilhoso é saber que antes erámos inimigos do SENHOR por causa de nossa rebeldia para com suas santas ordenanças, mas que purificados por Cristo somos íntimos do Deus triúno e podemos gozar de sua presença e infinita bondade.

A segunda benção é o conhecimento de Deus. Este se dá por meio da revelação. O Soberano se revelou aos homens e num sentido geral fez-se conhecido através da natureza (Rm 1.20). Mas aos seus filhos Deus se revela de uma forma especial. Pois, através do Espírito que habita em nós, temos discernimento daquilo que é espiritual e o que antes enxergávamos embaçado, agora vemos com nitidez. Obviamente que o nosso conhecimento de Deus não é exaustivo, pois muita coisa ainda é mistério para nós, todavia, conhecemos o suficiente para nos prestarmos em adoração diante do nosso Senhor, sabendo que Ele é o único e verdadeiro Deus, e fora dEle não há outro. Este conhecimento não é apenas teórico, ele é também relacional. Conhecemos a Cristo de andarmos com Ele. Ao dirigir-se aos pais, isto é, aos mais velhos, o apóstolo apela para que eles transmitam este conhecimento para os mais jovens. A fé precisa dos pais precisa ser transmitida aos filhos. Isto se dá em casa, no ambiente familiar. Temos um grande problema em nossa geração: os pais terceirizam a educação de suas crianças. E aqui inclui-se também a terceirização da instrução bíblica. Que os pais não esqueçam do provérbio que diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”. Provérbios 22:6.

A terceira benção, é a vitória sobre o maligno. O apóstolo endereça aos jovens esta fala, pois, na juventude as mais diversas tentações nos assolam. O mundo parece mais sedutor para aquele que está no auge de seu vigor físico. Os que estão na flor da idade têm muitos atrativos. E são nestes atrativos que muitos são fisgados e sucumbem aos desejos pecaminosos, entregando-se as paixões da mocidade. No entanto, João assevera que mesmo jovem, o crente tem a vitória decretada sobre as hostes do mal, e sua vitória não está na sua força física ou capacidade intelectual. O jovem que vence o maligno é aquele que tem a Palavra de Deus.

Muitas igrejas tem negligenciado a doutrinação de sua juventude. Para atrair os jovens apostam em entretenimento, e muitos estão dentro das igrejas sem ter um conhecimento substancial da Palavra. Não é o entretenimento que deve “prender” os jovens na igreja. Eles precisar ter consciência de que o mais importante na vida cristã é ouvir e assim aprender mais do Evangelho, para praticar em seu cotidiano. Não levar a sério a pregação da Palavra para os jovens é uma característica daquilo que João irá falar em seguida.

Cuidado com o mundanismo (15-17)

O mundo, no contexto da passagem, é o sistema de valores que opera entre pessoas pecadoras que tem Satanás como seu mentor. João novamente faz o uso de contraste e numa afirmação categórica diz que aquele que ama o mundo não tem o amor do Pai celestial. Não existe um meio termo: ou se deseja a Deus e as coisas que são do alto, ou se deseja as coisas terrenas, transformando-as em ídolos.

As coisas do mundo são resumidas em uma lista com termos abrangentes. A saber temos: i) a concupiscência da carne, ii) a concupiscência dos olhos e iii) a soberba da vida. Os desejos da carne são desejos perversos, uma cobiça que fere o décimo mandamento. Muitas vezes este desejo é ativado pelos olhos, que quando fitam determinada coisa, faz o interior desejar o objeto que está sendo olhado. Daí vem a ganância e a vontade de ter passando por cima de qualquer coisa. Esse “ter” resulta em orgulho. O homem olha para o que já fez e já acumulou para si nesta vida e se engrandece por isso. Precisamos ter muito cuidado com isso.

Infelizmente, alguns líderes evangélicos tem dado ênfase a um estilo de vida materialista e o consumismo tem invadido as igrejas com uma infinidade de produtos com o selo “gospel”, concebido e voltado para o público evangélico, que já tem sido explorado pelo mercado como um bom nicho para se investir. John Stott, como presidente do Grupo de Trabalho sobre Teologia e Educação da Comissão de Lausanne para Evangelização Mundial, foi um dos responsáveis por elaborar, em Outubro de 1980, o Compromisso Evangélico Com Um Estilo de Vida Simples. Em sua obra, Discípulo Radical, ele afirma que a simplicidade é uma característica essencial de um discípulo de Jesus. Esse estilo de vida simples está associado a uma postura de mordomia, que é o cuidado com os recursos que Deus colocou sobre a nossa responsabilidade. O cristão não precisa se isolar do mundo. Ele não tem que viver como um monge, longe de tudo e todos. O apóstolo João não adverte para que deixemos o mundo, sua advertência é dirigida ao amor ao mundo.

Sim, podemos ter posses. Não é errado possuir bens e até mesmo investir para que eles frutifiquem. O errado é colocar neles todo o sentido par a vida. Por que quando alguns homens de negócio quando perdem seu patrimônio cometem suicídio? Porque fizeram de suas posses um fim em si mesmo, quando na verdade, se temos algo, este algo deve servir para nosso desfrute e para a ajuda ao nosso semelhante. Compartilhar é uma benção! Quando alguém é cristão e é rico, este faz de sua riqueza seja usada para fins nobres. Há muitos que investiram e investem suas fortunas em missões e obras sociais. Não são os dias daqui que importam para nós, por isso que o conselho do apóstolo Paulo é o de que devemos pensar nas coisas que são de cima (Cl 3.2). Aqui tudo é corruptível e passageiro, portanto, focados na Eternidade, sejamos desapegados a este mundo. Esta é uma marca dos verdadeiros membros do Corpo de Cristo.

Aplicações

1. Devo estar ciente de que em Cristo Jesus, nas regiões celestiais, eu sou abençoado. As coisas mais preciosas já me foram dadas. Sendo assim, devo descansar no meu Senhor e com gratidão prestar um culto sincero e jubiloso durante todo o meu viver.

2. Não posso depositar a minha esperança nas coisas do mundo, pois, se eu fizer isto, serei um idólatra e não tenho o amor do Pai. É necessário desapegar do materialismo e adotar um estilo de vida simples.

3. Preciso ser um bom mordomo dos recursos que graciosamente recebi dos céus. Administrar bem os recursos desta terra é cultuar a Deus e prestar-Lhe serviço. 

16 de mar. de 2016

O Que a Minha Salvação Tem a Ver Com o Lulopetismo?

Por Pedro Pamplona*

O vocábulo “Lulopetismo” está em grande uso no Brasil. Há tempos ele foi criado, mas diante dos fatos recentes a palavra ganhou notoriedade. Já está, inclusive, na Wikipédia. A junção dos nomes de Lula e do Partido dos Trabalhadores traz a ideia de uma devoção ao partido por meio do seu principal representante. E é isso mesmo que acontece em nosso país. Hoje vemos um grande dualismo. Os petistas estão cada vez mais envolvidos pelo lulopetismo, enquanto o resto dos brasileiros estão cada vez mais enojados disso. Mas o que falar de nós que fomos salvos, ou melhor, regenerados para uma nova vida, coração e cosmovisão? Sim, cristãos regenerados estão se deixando envolver por esse culto político-religioso. A pergunta enfim é essa: o que minha salvação tem a ver com o lulopetismo?

O lulopetismo não é só uma opção política

Infelizmente essa visão ultrapassa as urnas. A devoção ao partido através de Lula transcende o ambiente eleitoral. Ele está impresso nos corações dos adeptos. O PT é tratado como uma religião e Lula como o salvador. Algumas semelhanças são nítidas e não podem ser negadas. Primeiro, as palavras de Lula são tratadas como verdades quase que absolutas. Para os lulopetistas não importa o que diz a justiça, a polícia, o povo, a mídia ou a oposição, Lula é infalível. Segundo, as promessas de Lula são objeto de uma fé extremamente forte por parte dos adeptos. Os lulopetistas creem de toda alma, mente e coração que o mundo será melhor através dele e de suas promessas. E terceiro, os lulopetistas são apologetas incríveis. Estão prontos a defender todos os argumentos contrários e incrédulos. Eles realmente construíram uma religião social. E o pior, uma religião cega, carente de verdades e bases racionais e históricas. Uma religião construída pelo culto marxista à personalidade. O que isso tem a ver com a fé para qual fomos regenerados? Nada!

O lulopetismo parte de uma antropologia mentirosa

Como eu citei, o lulopetismo é um culto marxista. E assim tem sua base filosófica no marxismo cultural. O que diz essa base sobre o homem e a religião? Vou deixar meu amigo Thiago Oliveira responder:

o marxismo tem características de religião. Uma religião secularizada – é bem verdade – pois tem sua base no materialismo. Marx era estudioso e admirador do materialismo de Epicuro. Este filósofo grego acreditava que o mundo era composto de átomos que do vazio (espaço) se movem verticalmente para baixo. É o desvio do movimento dos átomos que dá origem as coisas. O homem, fruto desse desvio, é um combinado de átomos pesados e leves, que formam respectivamente o corpo e a alma. Os epicuristas entendiam que a alma é mortal e não eterna, uma vez que todo composto atômico é dissolúvel. Epicuro rejeitava a ideia da eternidade dos corpos celestes, e pretendia livrar os homens das amarras da superstição religiosa. Embora não seja um determinismo, pois o desvio dos átomos aponta para uma gama de possibilidades não determinadas, o atomismo epicureu mantém as suas bases mecanicistas, sendo o homem e toda realidade material fruto da casualidade do movimento atômico. O jovem Marx manteve essa base ontológica para fundamentar o seu materialismo histórico. André Bieler esclarece assim o conceito materialista marxiano: “[...] conforme as suas concepções, é o material que precede e determina o espiritual, e não o contrário, como o ensina a ética cristã. [1]

Em outras palavras, o homem é fruto do acaso e busca sua realização e religião a partir do materialismo. O que isso tema ver com a fé para qual fomos regenerados? Nada!

O lulopetismo chega a uma soteriologia mentirosa

O Marxismo assume que o homem cria a religião para consolar a si mesmo diante das situações sociais opressoras. De novo, o materialismo é a gênese da religião. Isso é exatamente o que Marx fez e Gramsci melhorou. Eles criaram uma soterilogia (salvação) baseada no materialismo e na fuga dessa opressão social. Para eles a salvação está no fim da luta de classes e da relação opressor x oprimidos. E claro, eles definiram quem está de cada lado. E claro, eles querem acabar com a classe opressora. Mais uma vez Thiago Oliveira comenta muito bem:

Marx, junto com Engels, criou uma soteriologia ao anunciar o fim da opressão quando o proletariado se rebelar contra a burguesia e tomar o poder político e econômico, controlando os modos de produção e a máquina estatal. É um enredo religioso-escatológico […] Ora, isso frustra os marxistas que pregam o Reino dos Céus na terra, algo que não funcionará enquanto o pecado dominar o coração humano. [2]

Se pararmos para pensar, todo cristão lulopetisma está numa situação de soteriologias incompatíveis. Ele crê no reino de Deus descrito nas Escrituras e partindo do princípio do “já e ainda não” ou crê no ideal terreno do marxismo? Pergunto de novo: o que isso tem a ver com a fé para qual fomos regenerados? Nada!

Nem as manifestações de ontem [DOMINGO] me impressionaram mais do que a cegueira ideológica dos crentes da seita Lulopetista, esforçando-se com textões, comentários a torto e a direito e memes mentirosos para desqualificar a movimentação popular. Pior ainda, cristãos fazendo isso e igualando-se, na teimosia, aos “fascistas” que tanto temem (e com isso, dando infelizmente uma bela e inadvertida mãozinha a eles). Uma vergonha. [3]

Nossa regeneração é para uma renovação da mente

Romanos 12:2 nos lembra que a salvação, através da regeneração, é uma mudança de mente. Crer em Deus é crer de acordo com a cosmovisão revelada por Deus. E isso exclui o lulopetismo. As promessas de Deus a respeito da regeneração no antigo testamento falam que Deus imprimirá suas leis (intelectuais e práticas) na mente e nos corações do seu povo (DT 30:6, Jr 31:33, Ez 36:26-27). Fomos regenerados para uma antropologia e soteriologia cristãs. O lulopetismo não faz parte da agenda da nossa salvação. Ele não se encontra em lugar nenhum na pós-regeneração da ordo salutis. Um culto cego marxista ao PT por meio de Lula é uma religião idólatra. E para que não haja reclamações. Termino ampliando essa afirmação. O culto cego de qualquer ideologia secular a qualquer partido político por meio de qualquer personalidade divinizada é uma religião idólatra. Deixemos isso em nome de Jesus, o único pelo qual fomos regenerados para uma viva esperança eterna.

Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele.” 

1 João 2:29

P.S. Estou dizendo que todos o que se dizem crentes e que apresentam marcas do lulopetismo não são regenerados? Não. Estou dizendo que esse regenerados estão em pecado nessa área. E como todos os outros pecado há esperança no arrependimento por meio de Jesus.
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[2]Ibid
[3]Perfil no Facebook do Guilherme de Carvalho