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18 de jan. de 2017

A Espiritualidade de Espuma de Refrigerante

Por Fábio Henrique

Pelo menos uma vez na vida com certeza você já viu esta cena: Ao abrir um refrigerante e depositar o líquido no copo, rapidamente sobem até a superfície aquelas bolhinhas que costumeiramente chamamos de espuma. Algumas pessoas quando inadequadamente despejam o líquido no copo se assustam com a quantidade de espuma imaginando ser o tão precioso líquido quando na verdade não passa de gás carbônico evaporando. Resultado, tudo não passou de uma falsa impressão. Desta cena tão corriqueira podemos retirar pelo menos uma lição: “nem tudo que parece é ”.

Pensando nesta cena, recordei do tipo de fé manifestada por alguns cristãos e que podemos fazer uma analogia com o que o Senhor Jesus afirmou na parábola do semeador. Quando ao explicar tal tipo de espiritualidade, Ele afirmou: “..este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona.” (Mateus 13:20,21) Parece um paradoxo, mas a suposta fé que transbordava em alegria se transformou em desânimo e abandono da mesma. Qual seria o motivo disso tudo? O versículo de forma clara o expõe: “não tem raiz.”

Não precisa ser um profundo conhecedor de teologia para entender o significado do que Jesus esta dizendo. A ausência de raiz em uma planta é sinal de uma morte prematura, superficialidade e ausência de profundidade. Infelizmente, assim tem sido a espiritualidade de muitos que querem seguir a Cristo, mas não estão dispostos a enfrentar as adversidades e dificuldades de levar a sua palavra a sério. Ou seja, é uma espiritualidade incapaz de ultrapassar as portas de um templo religioso, pois assim como a espuma de um refrigerante se dissolve facilmente ao primeiro contato com o mundo fora da garrafa, assim é a fé destes em relação à vida cristã fora dos portões de suas igrejas.

É a espiritualidade do “oba-oba”, programações, louvorzão, congressos, acampamentos, encontros de casais ou de jovens e tantos outros “encontros” com Cristo. Da performance, do canta, pula, grita, gira, da espiritualidade exposta apenas na camisa de marketing daquele evento famoso, mas que não é fruto de um coração sincero para com Deus. É a espiritualidade da euforia provocada pela adrenalina do momento, porém desprovida de profundidade e intimidade com o Senhor através da oração diária e da devoção e obediência a sua Palavra. O problema dessa espiritualidade é sua fragilidade e artificialidade, além de ser viciada em doses cada vez mais fortes da “adrenalina gospel”. Os reflexos desse tipo de espiritualidade são perceptíveis tanto na vida do indivíduo quanto na própria igreja, pois essa mesma euforia e entusiasmo não são demonstrados quando o palco é desarmado, as luzes se apagam e é chegada a hora de por em prática tudo aquilo que foi pregado. O que resta é uma apatia em relação ao envolvimento, seriedade e comprometimento com as verdades do evangelho de Cristo e com sua igreja.

Talvez o que mais nos atraía nos refrigerantes seja seu sabor adocicado e a sensação de prazer causada pelo mesmo. Todavia, com o passar dos anos, surgem às consequências para a saúde - e caso não sejam tratadas podem levar ao óbito. Que possamos parar de nos iludir com a espiritualidade da espuma de refrigerante, ao invés dela, nos aprofundemos mais em nosso relacionamento com o Senhor através da oração, leitura e obediência a sua Palavra. Só assim estaremos isentos desta triste estatística relatada pelo Senhor Jesus de uma espiritualidade sem vida, sem profundidade, superficial, sem raiz e morta.

***
O autor é seminarista do Seminário Presbiteriano do Norte e membro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Rio Doce, Olinda-PE. 

3 de out. de 2015

A dificuldade de orar (E a solução)

Por Mark Jones
Oração não é fácil. Eu vejo que isso é verdade para mim, mas outros que têm meu respeito também dão testemunho da dificuldade de orar. Alguns indivíduos fazem parecer fácil; se eles passam horas por dia na tenda do encontro, provavelmente eles levam também o computador para lá.
Considere os seguintes testemunhos, que são cheios de pensamentos que, muito curiosamente, não são normalmente ouvidos quando as pessoas dão seus testemunhos públicos:

29 de ago. de 2015

O testemunho cristão e uma vida perseverante de oração

Por Morgana Mendonça dos Santos

"Perseverai na oração, velando nela com ações de graças, orando ao mesmo tempo também por nós, para que Deus nos abra uma porta à palavra, a fim de falarmos o mistério de Cristo, pelo qual também estou preso, para que eu o manifeste como devo falar. Andai em sabedoria para com os que estão de fora, usando bem cada oportunidade. A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um

Colossenses 4.2-6

Vivemos em mundo escravizado pela ideia da possibilidade de se viver como se Deus não existisse. Os cristãos são desafiados todos os dias a romperem com os pensamentos e ideias existencialistas. No mundo onde a verdade para muitos deixou de ser absoluta para ser relativa, uma secularização onde os valores e prioridades foram invertidos, chegando até a uma anarquia religiosa propagada por vários. Viver uma vida cristã piedosa e eticamente correta deixou de ser um fator primário para os cristãos, as pessoas vivem de forma deliberada, ao seu próprio modo, portanto temos hoje: funções invertidas nas famílias, diversidade sexual, pluralismo religioso, aparência espiritual, legalização do erro, intolerância à religião entre outros. Como cristãos o desafio tornou-se supremo e gigantesco: ir na contra mão do mundo, ir contra as heresias pregadas, ir contra as ideologias, ir contra e resistir firme diante da realidade gospel que hoje existe.

19 de ago. de 2015

O Propósito do Shabbath: Descanso ou Descanso Espiritual?

 
Por Alan Rennê Alexandrino

Um ponto que é essencial para a nossa compreensão acerca do dia do Senhor é entendermos qual é, exatamente, a natureza do descanso que nos é ordenado e providenciado pelo Senhor em seu dia. Isso envolve compreendermos se o domingo é um dia meramente voltado para o descanso físico, para o recompor das energias ou até mesmo para o ócio, a fim de enfrentarmos mais uma semana de trabalho, voltado para o descanso e o lazer com a família[i], ou se o domingo é um dia voltado para o descanso espiritual, isto é, para a devoção mais íntima, mais focada em Deus juntamente do povo de Deus.

13 de ago. de 2015

Providência e imanência: algo que todo missionário deve compreender


Por Morgana Mendonça dos Santos

A providência e a imanência não podem nenhum dia deixar de reger as nossas emoções. Sabemos que não há nada nesse universo que Deus não tenha criado e ordenado para a Sua glória. No entanto, a cada dia que passa somos afetados pela ansiedade e falta de contentamento. O título do texto específica "missionário", todavia deve ser compreendido por todo cristão. Perceba que ansiedade e falta de contentamento é quebra do primeiro mandamento. Para quem você tem direcionado sua confiança e animo? O primeiro mandamento diz claramente: "Não terás outros deuses diante de mim" Êxodo 20.3. E o que se exige desse mandamento? Segundo o Catecismo Maior de Westminster, pergunta 104:

28 de jul. de 2015

Revolucione sua Leitura Bíblica: Deixe que a Mente Transforme o Coração

Por Jen Wilkin

A segunda coisa que deixei de trás para frente em minha abordagem bíblica foi a crença de que meu coração deveria guiar meu estudo. O coração, conforme é dito nas Escrituras, é a sede da vontade e das emoções. Ele é a nossa “antena” e o nosso “tomador de decisões”. Deixar meu coração guiar o meu estudo significava buscar a Bíblia para me fazer sentir de determinada maneira quando eu a lesse. Eu queria que ela me desse paz, conforto ou esperança. Queria que ela fizesse com que eu me sentisse mais perto de Deus. Queria que ela me desse garantias em relação a escolhas difíceis. Devido ao fato de eu querer que a Bíblia se comprometesse com as minhas emoções, gastava pouco tempo em livros como Levítico ou Números e muito tempo em livros como os Salmos e os Evangelhos.

26 de jul. de 2015

Música

Por Mark Dever

Ora, por que escrevemos sobre “Música”? Por que não usamos uma terminologia mais santificada e o chamamos de “adoração”? Afinal de contas, é comum hoje falarmos em música, cânticos e adoração como palavras intercambiáveis. Primeiramente, adoramos. Depois, ouvimos o sermão.

Queremos desafiar essa suposição. A música no contexto do ajuntamento da igreja é somente um subconjunto da adoração corporativa. Ouvir a pregação da Palavra de Deus é uma das maneiras mais importantes de adorarmos juntos a Deus. De fato, é a única maneira pela qual podemos aprender como adorá-Lo de modo aceitável. Orar a Palavra de Deus, ouvi-la em público e vê-la nas ordenanças também são aspectos importantes da adoração. Contudo, falando de modo mais amplo, a adoração é uma vida completamente orientada no sentido de envolver-se com Deus, nos termos que Ele propõe e das maneiras que Ele provê. Nosso culto racional, a adoração exposta no Novo Testamento, consiste em oferecer a Deus todo o nosso ser como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele (Rm 12.1-2; cf. também 1Co 10.31; Cl 3.17). Portanto, a música é um subconjunto da adoração que envolve toda a nossa vida.

17 de jul. de 2015

Uma Reflexão sobre Nossas Falhas

Por Richardson Gomes

Falhamos. Estou certo de que erramos. É provável que daqui a poucas horas, ou minutos, ou segundos eu e você iremos falhar. Sim, é o que melhor sabermos fazer: errar. Acertamos somente em errar e, até quando acertamos, erramos. Amamos e abraçamos todos os dias o erro, pois não há um dia em que conseguimos fugir deles. Falhamos em amar, falhamos em ser amados. Vivemos errando, erramos na vida. Eu estava tentando me lembrar de quantas vezes eu falhei, e falhei por não conseguir.

10 de jul. de 2015

A Verdadeira Conversão

Por Thiago Azevedo

A experiência da conversão é algo que fica marcado na vida de um cristão. É o dia mais feliz de sua vida terrena, pois é o dia em que o próprio Deus o chamou para segui-lo.  Geralmente as pessoas mantêm gravadas na mente a data que ocorreu tamanha experiência. Porém, muitos têm confundido e não sabem o que é uma verdadeira experiência de conversão. É por isso que distingo neste texto as palavras convertido e convencido.

8 de jul. de 2015

Seis Benefícios da Evangelização para o Discipulado

Por Brian Parks

“A evangelização mudou a minha vida”. John, meu taxista, disse-me isso enquanto dirigíamos pela autoestrada de Orlando até a conferência da qual eu estava participando. A nossa conversa mudou para o assunto da fé assim que ele descobriu que eu não estava em Orlando para ir à Disney World, como a maioria dos seus passageiros.

22 de jun. de 2015

A Doutrina da Providência e o Sofrimento do Cristão

Por Samuel Alves

A teologia triunfalista[1] ensina que o homem é bom, que sempre vai vencer e conquistar, que nosso planeta é o melhor lugar do mundo, este é o lema! A teologia bíblica nos convida a participarmos dos sofrimentos de Cristo, a sermos testemunhas, a vivermos como estrangeiros em terra estranha, a colocarmos nossa esperança em Deus e não em nós mesmos ou nos outros, vivermos uma vida não pelo que vemos, mas, pelo que cremos. Esta filosofia de vida aos olhos dos ímpios parece loucura, “confiar em um Deus invisível”. Devemos lembrar que fomos salvos pela loucura da pregação, e estamos firmados em uma rocha, a pedra angular! Quando penso na doutrina da providência  me vejo frágil, debilitado e limitado. Mas vejo nas páginas das Escrituras um Deus criador e sustentador de sua criação. O nosso Deus não é o deus relojoeiro que deu corda no mundo e foi embora, nosso Deus reina soberanamente sobre sua criação. Berkhof[2] em sua teologia sistemática traz a seguinte definição sobre a doutrina da providência:

20 de jun. de 2015

A dupla purificação da piedade: Justificação e Santificação

Por Joel Beeke

Segundo Calvino, os crentes recebem de Cristo, pela fé, a “dupla graça” da justificação e santificação, as quais, juntas, provém uma dupla purificação. A justificação oferece pureza imputada; e a santificação, pureza atual.
Calvino define justificação como “a aceitação com que Deus nos recebe em seu favor como homens justos”. Ele segue dizendo que “posto que Deus nos justifica pela intercessão de Cristo, ele nos absolve não pela confirmação de nossa própria inocência, e sim pela imputação da justiça, para que, não sendo justos em nós mesmos, fôssemos reputados como tais em Cristo”. A justificação inclui a remissão dos pecados e o direito à vida eterna.

19 de jun. de 2015

A Bíblia e o Culto a Deus: Do papiro ao aplicativo

Por Thiago Azevedo

Todo e qualquer verdadeiro cristão deve ter o estudo das Sagradas Escrituras no centro de sua vida. Fora assim nos tempos mais longínquos. É possível perceber na Bíblia Sagrada que o interesse de homens pelos textos sacros permeia as mais diversas épocas e os mais diversos materiais em que as verdades bíblicas foram grafadas. Quem quiser mais detalhes, um bom material é o livro do Reverendo Wilson Paroschi “Origem e transmissão do texto do Novo Testamento”. Em Êxodo 20, Moisés recebe os dez mandamentos por parte de Deus e estes foram grafados numa pedra (material rústico). Moisés expôs o que grafou nas pedras ao povo de Israel e manuseava com frequência tal material (Êxodo 24:1-7). O material utilizado na transmissão do texto bíblico evoluiu para o papiro – espécie de planta aquática da qual se extraia o caule para escrita. Acredita-se que é ao papiro que Jeremias faz menção no seu livro no capítulo 36 e verso 2. A tão famosa biblioteca de Alexandria, de meados século III a.C, além de ter como objetivo principal de seus idealizadores possuir uma cópia de cada livro da época, tinha todo seu acervo em papiro. Posteriormente os escritos passaram a ser reproduzidos em outro material, a saber, pergaminho. Este nada mais era que a pele do animal após ser submetida a um intenso processo de tratamento e preparação para escrita. É a este material de escrita que o Apóstolo Paulo se refere em I Timóteo 4:13. Percebe-se que a existência de homens interessados e comprometidos pelo estudo das Escrituras Sagradas sempre foi uma realidade em todas as épocas - independentemente do material em que as verdades bíblicas estivessem grafadas.

22 de abr. de 2015

Aos cristãos "atores"

Por Thiago Azevedo

A sociologia já nos dá um bom panorama do que é atuar numa sociedade por meio dos papéis sociais. Mas, este texto não visa destacar as teses sociológicas, e sim destacar uma ocorrência contemporânea que há no seio da igreja moderna, a saber: a atuação teatral de alguns cristãos. Sabemos que o tão famoso símbolo do teatro é representado por duas máscaras (comédia e drama) e para haver êxito no ambiente teatral se faz mais que necessário à utilização de máscaras. Nem sempre estas máscaras são no sentido literal – o que não isenta sua ocorrência em palco – mas sim no sentido figurado da representação, da incorporação de uma personagem. 

6 de abr. de 2015

Quente ou Frio?

Por Samanta Gama Oliveira

“E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”.

Apocalipse 3:14-16

Este é um trecho da carta escrita para a igreja de Laodiceia, situada na Ásia Menor, atualmente região da Turquia. Laodiceia foi a única das sete igrejas que recebeu apenas críticas do SENHOR da Igreja. Através desses três versículos Jesus usa um fantástico elemento  que surpreendeu  os laodicenses. Ele contextualizou as suas críticas fazendo referências ao que eles mais tinham orgulho: a sua rica cidade.

Para entendermos melhor o que Jesus quis dizer chamando-os de mornos, vou citar algumas informações importantes sobre a cidade. A cidade era bem localizada, visível e vivia os seus tempos de ostentação devido a:

a) Grande centro comercial – Estava localizada dentro da rota de comércio da Ásia Menor, que favorecia uma grande movimentação financeira.

b) Grande centro bancário e financeiro: Conhecida como uma das cidade mais ricas da época dominada por Roma.

5 de mar. de 2015

Toda nossa Vida é Arrependimento

Por Tim Keller

Martinho Lutero abriu a Reforma pregando "As Noventa e Cinco Teses" na porta da Catedral de Wittenberg. A primeira dessas teses era: "Nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse uma de arrependimento". Superficialmente isso parece um pouco lúgubre. Lutero parece estar dizendo que os cristãos nunca farão muito progresso. Mas certamente esse não era o ponto de Lutero. Ele estava dizendo que o arrependimento é o caminho para fazermos progresso na vida cristã. De fato, o arrependimento difundido e duradouro é o melhor sinal de que estamos crescendo profunda e rapidamente no caráter de Jesus.

A transformação do arrependimento.

É importante considerar como o evangelho afeta e transforma o ato do arrependimento. Na 'religião' o propósito do arrependimento é basicamente manter Deus feliz, de forma que ele continuará te abençoando e respondendo suas orações. Isso significa que esse 'arrependimento religioso' é a) egoísta, b) promotor de justiça própria, c) e amargo até o fim. Mas no evangelho o propósito do arrependimento é repetidamente chegar à alegria da nossa união com Cristo para enfraquecer nossa necessidade de fazer algo contrário ao coração de Deus.

O arrependimento 'religioso' é egoísta.

Na religião nos entristecemos com o pecado somente por causa das suas conseqüências para nós. Ele nos trará castigo - e queremos evitar isso. Assim, arrependemos. Mas o evangelho nos diz que o pecado não pode nos levar ultimamente à condenação (Romanos 8:1). Sua atrocidade é, portanto, o que ele causa a Deus - ele o desagrada e desonra. Assim, na religião o arrependimento é centrado no homem; o evangelho o torna centrado em Deus. Na religião nos entristecemos principalmente pelas conseqüências do pecado, ma no evangelho somos entristecemos com o pecado em si.

Além do mais, o arrependimento 'religioso' é uma justiça própria. O arrependimento pode facilmente se tornar uma forma de 'expiação' pelo pecado. O arrependimento religioso frequentemente se torna uma forma de auto-flagelação, na qual convencemos Deus (e nós mesmos) de que estamos tão verdadeiramente miseráveis e pesarosos que merecemos ser perdoados. No evangelho, contudo, sabemos que Jesus sofreu e foi feito miserável por causa do nosso pecado. Não temos que sofrer para merecer o perdão. Simplesmente recebemos o perdão conquistado por Cristo. 1 João 1:8 diz que Deus nos perdoa porque ele é 'justo'. Essa é uma declaração notável. Seria injusto Deus nos negar o perdão, pois Jesus adquiriu nossa aceitação! Na religião adquirimos nosso perdão através do nosso arrependimento, mas no evangelho apenas o recebemos.

Por último, o arrependimento religioso é "amargo até o fim". Na religião nossa única esperança é viver uma vida boa o suficiente para Deus nos abençoar. Portanto, cada ocorrência de pecado e arrependimento é traumática, anormal e horrivelmente ameaçadora. Somente sob grande pressão uma pessoa religiosa admite que pecou, pois sua única esperança é sua bondade moral. Mas no evangelho o conhecimento da nossa aceitação em Cristo torna mais fácil admitir que somos falhos (pois sabemos que não seremos rejeitados se confessarmos as verdadeiras profundezas da nossa pecaminosidade). Nossa esperança está na justiça de Cristo, não na nossa própria; assim, não é traumático admitir nossas fraquezas e deslizes. Na religião nos arrependemos cada vez menos. Mas quanto mais aceitos e amados no evangelho nos sentimos, mais e mais nos arrependeremos. E embora, certamente, sempre haja alguma amargura em todo arrependimento, no evangelho há no final uma doçura. Isso cria uma nova dinâmica radical para o crescimento espiritual. Quanto mais você vê suas faltas e pecados, mais preciosa, eletrizante e maravilha a graça de Deus parecerá ser para você. Por outro lado, quanto mais ciente você estiver da graça de Deus e da aceitação em Cristo, mais você será capaz de abandonar suas justificativas e negações, e admitir as verdadeiras dimensões do seu pecado. O maior de todos os pecados é uma falta de alegria em Cristo.

As disciplinas do arrependimento do evangelho

Se você entende essas duas formas diferentes de se arrepender, então (e somente então!) você pode se beneficiar grandemente de uma disciplina regular e exigente de auto-examinação e arrependimento. Eu descobri que as práticas dos líderes metodistas do século XVIII, George Whitefield e John Wesley, são úteis para mim nesse aspecto. Numa carta para um amigo, datada de 9 de Janeiro de 1738, George Whitefield colocou uma ordem para o arrependimento regular. (Ele regularmente fazia seu inventário à noite). Ele escreveu: "Que Deus me dê uma profunda humildade e um amor em chamas, um zelo bem orientado e um olho simples, e então: que os homens e os demônios façam o seu pior!". Aqui está uma forma de usar essa ordem no arrependimento fundamentado no evangelho.

Profunda humildade (vs. orgulho)

Eu olho com desprezo para alguém? Eu tenho sido atormentado pelo criticismo? Eu me sinto desdenhado e ignorado?

- Arrependa-se dessa forma: Considere a graça de Jesus até que sinta (a) o desdém diminuir (visto que sou um pecador também), (b) a dor pelas críticas diminuir (visto que não devemos valorizar a aprovação humana acima do amor de Deus). À luz da sua graça, eu posso abandonar a necessidade de manter uma boa imagem - esse é um peso muito grande e desnecessário. Considere a livre graça e experimente uma alegria agradável e tranqüila.

Amor em chamas (vs. indiferença)

Eu tenho falado ou pensado com maldade de alguém? Eu tenho me justificado ao caricaturar (em minha mente) uma outra pessoa? Eu tenho sido impaciente e iracundo? Eu tenho sido egoísta, indiferente e desatencioso para com as pessoas?

- Arrependa-se dessa forma: Considere a graça de Jesus até que (a) não haja nenhuma frieza ou grosseria (pense no amor sacrificial de Cristo por você), (b) não haja nenhuma impaciência (pense na paciência de Cristo para com você), (c) não haja nenhuma indiferença. Pense na livre graça até que você mostre cordialidade e afeição. Deus foi infinitivamente paciente e atencioso para com você, pela graça somente.

Coragem sábia (vs. ansiedade)

Eu tenho evitado as pessoas ou tarefas que sei que enfrentarei? Tenho sido ansioso e preocupado? Tenho falhado em ser circunspecto ou tenho sido precipitado e impulsivo?

- Arrependa-se dessa forma: Considere a livre graça de Jesus até que (a) não haja nenhuma fuga covarde de coisas difíceis (visto que Jesus enfrentou o mal por mim), (b) não haja comportamento ansioso ou preocupado (visto que a morte de Jesus prova que Deus cuida de mim e se preocupe comigo). É orgulhoso ser ansioso - eu não sou sábio o suficiente para saber [mais do que Deus] como minha vida deveria ser. Considere a livre graça até que experimente uma calma profunda e uma coragem estratégica.

Motivações piedosas (um 'olho simples')

Estou fazendo o que estou fazendo para a glória de Deus e para os bem dos outros, ou estou fazendo motivado por temores, necessidade de aprovações, amor pelo conforto e calma, necessidade de controle, fome por aclamação e poder, ou "temor dos homens"? Tenho olhado para alguém com inveja? Tenho me dado, mesmo que de uma forma pequena, à luxúria e glutonaria? Estou gastando meu tempo com coisas urgentes ao invés de coisas importantes por causa dos meus desejos desordenados?

- Arrependa-se dessa forma: Como Jesus me fornece o que estou procurando nessas outras coisas? Ore: "Ó Senhor Jesus, faça-me feliz o suficiente em ti para evitar o pecado e sábio o suficiente em ti para evitar o perigo, para que possa sempre fazer o que é correto aos seus olhos. É em teu nome que oro, amém".
___________
Fonte: O Calvinismo

19 de fev. de 2015

As orações de alguns cristãos têm mais eficácia que de outros?

Por Mark Jones

Todos os cristãos professos oram com a mesma eficácia? Nossa santidade ou a falta dela afetam nossas orações em termos da influência que elas têm sobre a resposta de Deus a elas?

Não há dúvida de que nosso pecado tem o poder de criar obstáculos para nossas orações (Sl 66.18; Pv 28.9; Is 59.2; Jo 9.31; Tg 4.3; 1 Pe 3.7).

Então, se o pecado pode criar uma barreira invisível entre Deus e o seu povo ou um indivíduo, e quanto ao contrário?

Quando falamos sobre as orações de um justo em Tiago 5.16, por exemplo, eu creio que não estamos falando necessariamente de todo cristão professo. (Embora todo cristão possa e deva aproximar-se do trono de graça em nome de Cristo). Tiago parece estar abordando algo diferente. Provavelmente, ele tem em mente a ideia de que alguns cristãos possuem uma eficácia peculiar em suas orações porque eles são peculiarmente piedosos. Essas pessoas têm grande fé e possuem um dom para orar frequente e fervorosamente. Nem todos os cristãos têm o mesmo dom de oração fervorosa no Espírito. Se ele não tinha isso em mente, ele poderia simplesmente dizer: “ore por você mesmo”.

Pense nisso a partir da perspectiva de Cristo, o homem de oração par excellence.

As orações de Cristo eram eficazes por diversas razões. Ele orava fervorosa e frequentemente, sempre em fé. Mas ele também entendia a vontade de Deus. Muito antes de Cristo, Elias orou para que a chuva fosse detida. Ele não pediu isso porque lhe pareceu uma boa ideia. Pelo contrário, sua petição se baseava nas Escrituras: Deus ameaçou várias maldições contra o povo, inclusive seca (Dt 28.22,24).

Tiago menciona a exemplar “oração feita por um justo”, Elias, para mostrar que ela “pode muito em seus efeitos” (Tg 5.16). Se Elias continua sendo esse exemplo para nós, quanto mais Jesus em suas orações terrenas.

Em João 17, Jesus pediu que Deus cumprisse suas promessas feitas a ele como o Filho. Ele não era presunçoso, uma tendência particularmente abominável que aflige o povo de Deus, mas diligente em “lembrar” seu Pai de suas promessas a Jesus e seu povo. Essa persistência não parou depois que ele ofereceu sua oração sumo-sacerdotal, mas continua no céu até que tudo esteja consumado (conforme corretamente argumentou Jacob Armínio!).

Cristo foi prometido aos gentios (Is 49.1-12), então ele intercedeu por eles (Jo 17.20). A ele foi prometido glória (Dn 7.13,14), então ele a pediu (Jo 17.1-5). Nós não temos razão para duvidar que ele, durante sua vida terrena, pediu por tudo que foi legitimamente prometido a ele.

Falta de fé impediu os discípulos de conseguir expulsar um espírito imundo de um garoto (Mc 9.17-23). Cristo, o homem de oração e homem de fé, pôde fazer o que os discípulos incrédulos não poderiam. As orações e fé de Cristo foram responsáveis, juntamente com o Espírito (veja Mt 12.28), pela expulsão do demônio. Em outras palavras, Cristo não esperava uma coisa dos discípulos e algo diferente para si.

Em outro lugar, lemos sobre as orações de Cristo e a razão por que ele era ouvido: ele era ouvido por causa de sua reverência (Hb 5.7).

Esse princípio também tem relação conosco ou Tiago está simplesmente se referindo a todos os cristãos porque todos os cristãos possuem a justiça imputada de Cristo?

Considere as palavras do Apóstolo João: “… E qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista” (1 Jo 3.22). Esse verso deixa claro que receber de Deus está conectado com obedecer a Deus.

Em outras palavras, ambicione as orações dos justos (Lc 1.6, 23.50). Ambicione as orações daqueles que cumprem a vontade de Deus, não daqueles que afirmam pertencer a Deus mas negligenciam sua vontade (Mt 7.21).

Deus ouve o piedoso e ele responde suas orações. Mas, quanto àqueles que não cumprem sua vontade, as Escrituras não poderiam ser mais claras.

Assim, concordo plenamente com Sinclair Ferguson, que escreve:

“É por isso que a verdadeira oração nunca pode ser divorciada de santidade real. A oração da fé somente pode ser feita pelo homem ‘justo’ cuja vida está sendo mais e mais alinha da com a graça da aliança e os propósitos de Deus. No domínio da oração também… a fé sem obras é morta”.

Portanto,

- Há alguns cujas orações são impedidas por várias razões.

- Há alguns que conhecem a vontade de Deus, oram com grande fé, guardam os mandamentos de Deus e, assim, têm orações eficazes. É por isso que o homem, Jesus Cristo, orou com tanta eficácia.

Se Satanás treme quando vê o mais fraco cristão de joelhos, imagine quando Cristo estava de joelhos.
______________________
Fonte: Reforma 21

2 de fev. de 2015

Agostinho, Bispo de Hipona

Por Iain Murray

Agostinho, filho de um oficial romano, nasceu em Tagaste, no norte da África, em 354. Dotado de brilhantes talentos, profundamente motivado pela vanglória e pelo desejo de ser louvado, aos 19 anos ele estudava e ensinava retórica na antiga cidade de Cartago. Com sua mente voltada à busca da sabedoria humana e seu coração cativo aos prazeres do pecado, permaneceu ali desperdiçando o melhor de sua vida. Ai, ai!, escreveu mais tarde, aqueles passos me conduziram às profundezas do inferno! Labutando e desgastando-me por falta da verdade!  Os vários sistemas filosóficos de pensamento que ocupavam a atenção de Agostinho apenas o conduziam mais profundamente ao labirinto do erro. Com 31 anos de idade, o desespero mental e a angústia de coração levaram-no a adotar as dúvidas dos acadêmicos, os quais acreditavam que nada era certo. Eu estava sobrecarregado com as mais inquietantes preocupações, receando que morreria sem descobrir a verdade. Ora, nesse caminho, a consciência de pecado começou a atormentá-lo. Tomado por medo e vergonha, profundamente consciente de que o pecado havia corrompido sua mente e escravizado sua vontade, Agostinho passou a odiar a si mesmo.

Ele não percebia que um vaso de misericórdia estava sendo formado; que um servo de Cristo estava sendo criado e que ele seria, por meio da graça divina, um dos mais poderosos defensores da verdade outorgada por Deus à sua igreja. Aconteceu que, no ano de 386, em um jardim de Milão, uma voz soou em seus ouvidos, como que vinda do céu, ordenando-lhe que lesse a Bíblia. Tu me chamaste, gritaste e rompeste minha surdez.. Abrindo a Palavra de Deus em Romanos 13.13-14, Agostinho disse: Uma luz de serenidade infundiu-se em meu coração, e as densas trevas que flutuavam em meus olhos dissolveram-se em um instante. Tua voz poderosa disse: Haja luz, e houve luz... Desse momento em diante, Agostinho, profundamente humilhado, tinha apenas um ardente desejo: amar e servir seu Salvador. Não tenho qualquer prazer, exceto aquele que resulta de falar, ouvir, escrever, pregar e envolver me constantemente na meditação do Senhor e de sua glória. Era o momento designado por Deus para levantar seu servo.

Era uma época carregada de motivos para causar alarme e incitar temor. A igreja de Cristo estava sendo ameaçada por erros internos, enquanto externamente a queda do Império Romano trazia confusão, invasão de bárbaros, séculos de desordem e trevas sobre a Europa. Nos anos que seguiram à conversão de Agostinho, nós o vemos sendo transformado em um instrumento para o propósito de Deus. Dia a dia, ano após ano, ele foi completamente absorvido pela Palavra de Deus. Com freqüência, ele a estudava no meio da madrugada, aprendendo-a sobre seus joelhos, alimentando-se incansavelmente de seu conteúdo. Verdades fundamentais estavam sendo gravadas em sua alma, verdades da Palavra de Deus que deveriam brilhar durante as eras futuras da igreja.

No início do ano de 392, as orações do idoso Valério, bispo de Hipona, em favor de outro pastor para seu rebanho, foram respondidas com a vinda de Agostinho para assumir o seu lugar. Ali, Agostinho foi ordenado presbítero, aos 39 anos de idade e, posteriormente, torno use bispo. Infelizmente, para a igreja, estava desaparecendo a igualdade estabelecida pelos apóstolos entre presbíteros e bispos. Embora o ofício de bispo em Roma começasse a associar-se a uma arrogância de senhorio e à presunção sacerdotal, isto não acontecia em Hipona, no norte da África. Agostinho, como bispo de Hipona, tinha muitas coisas em comum com seus irmãos crentes e jamais se colocou em posição de destaque. Ao morrer, não deixou qualquer herança; em vida, não apenas repartiu o que tinha com todos, mas chegou a derreter vasos de prata da igreja por amor aos pobres. Do púlpito, ele implorava de forma surpreendente aos homens. Sua fonte de autoridade era a Palavra de Deus, a qual ele tratava com a mais profunda reverência. Oh! maravilhosa profundidade da tua Palavra! - ele exclamou - em certa ocasião, enquanto pregava, cujas verdades, nós, pequeninos, podemos ver com facilidade; apesar disso, há uma maravilhosa profundidade, ó meu Deus, uma maravilhosa profundidade! Ao final de sua vida, este ministro apostólico declarou: Ainda que tenhamos capacidade e diligência para estudar durante a vida inteira, desde a infância à velhice, somente as Sagradas Escrituras, elas possuem tanta consistência e abundância de verdades, que todos os dias poderemos aprender algo que não sabíamos. Agostinho pregava do profundo de seu coração, e seu intenso amor pelas almas fê-lo sentir um grande desejo de pregar a seus ouvintes para levá-los a Cristo. Ele havia aprendido, em sua vida diária, a olhar tão intensamente para Cristo, que toda sua pregação a respeito de outros assuntos reduziu-se a quase nada.

Ó amor indescritível, ele costumava clamar, que levou Deus, em carne, a morrer pelo homem; se o homem não tivesse sido comprado por tão elevado preço, inevitavelmente sofreria a eterna condenação. Agostinho se absteve da sabedoria de palavras e pregou uma mensagem veemente, direta, sem rodeios, freqüentemente trazendo seus ouvintes às lágrimas.

Quais eram as doutrinas ensinadas por esse homem piedoso?

Deus o levantou para falar contra quais erros? Ninguém deve afirmar que a antiguidade dos escritos de Agostinho prejudicam a utilidade deles. O mundo, disse ele, com sua glória e grandeza, logo perecer à, mas a verdade de Deus permanece, eterna e imutável. Da mesma forma, embora o erro apareça em incontáveis formas, a base sobre a qual ele está alicerçado é a mesma em todas as épocas. De fato, é verdade que as doutrinas que Agostinho expôs fundamentado nas Escrituras possuem importância tão grande, que ignorá-las nos torna incapazes de julgar as questões vitais de nossos dias. Portanto, o erro ao qual ele se opôs permanece até hoje com efeitos devastadores na igreja.

A heresia jamais surge com a aparência de heresia. Na época de Agostinho, ela surgiu através de um homem chamado Pelágio, aparentemente sem culpa, modesto, que praticava a mortificação e com zelo exortava os outros a seguirem o exemplo de Cristo. O ensinamento desse homem era tão sutil e ambíguo, que passou despercebido perante um concílio de bispos da Palestina. Foi deixada para Agostinho a responsabilidade de expor os alicerces do pelagianismo. Através de muitos anos de provações e humilhações, Deus o preparou para essa tarefa. A raiz do ensino pelagiano estava errada em sua visão da natureza do homem. Pelágio dizia que o homem não estava numa condição de pecado original e possuía o livre-arbítrio, assim como Adão antes da queda. O pecado não é herdado por natureza e sim pelo exemplo. Portanto, na salvação, a graça de Deus não é um poder interior que renova a natureza corrompida e restaura a vontade pecaminosa do homem, trazendo-a à liberdade, mas, ao invés disso, a graça de Deus é algo externo, que nós podemos receber, se assim decidirmos. Pelágio afirmava que a graça de Deus era oferecida a todos igualmente e, portanto, era a escolha do homem que determinava se a graça seria recebida ou não. Em resumo, o pelagianismo é uma crença de que a salvação é o resultado da cooperação entre Deus e o pecador.

O que levou Agostinho a contender tão firmemente contra afirmações como essas? Ele não era o tipo de homem que entraria em controvérsia por causa de assuntos não-essenciais, pois o espírito de controvérsia era algo bastante diferente de seu terno amor para com todos. Sua única preocupação no mundo era a glória de Deus através da sua igreja; mas Agostinho sabia que a segurança da igreja reside na preservação da verdade, e estava disposto a denunciar o pelagianismo como um erro pernicioso. O grande pecado do pelagianismo , declarou Agostinho, .é fazer o homem esquecer-se por que ele é um crente. Defendendo as Escrituras, Agostinho afirmou que a conversão do pecador resulta apenas da eleição gratuita da parte de Deus e que a razão pela qual Ele chama alguns e rejeita outros reside inteiramente em sua vontade inescrutável. Em sua obra .Concerning the Predestination of the Saints. (A Predestinação dos Santos), Agostinho escreveu o seguinte: Para que ninguém diga, minha fé ou minha justiça me distingue dos demais, o grande apóstolo dos gentios pergunta: O que tendes que não recebestes? A fé, portanto, desde seu princípio até à sua perfeição, é um dom de Deus. Entretanto, o motivo da fé não ser dada a todos, não deve preocupar o crente, pois este sabe que todos, por causa do pecado de um só homem, estão debaixo da mais justa condenação. A razão por que Deus livra uma pessoa de sua condenação e não a outra, está em seus próprios e inescrutáveis juízos. E, se perguntamos por que o receptor da fé é considerado digno por Deus para receber tal dom, acharemos aqueles que dirão: É por escolha humana. Mas nós afirmamos que é pela graça; ou seja, pela divina predestinação. Seguindo as Escrituras, Agostinho demonstrou que a eleição é a causa primária de tudo e mostrou como é absurdo afirmar que a fé prevista por Deus é a causa da eleição. Paulo não declara que os filhos de Deus foram escolhidos porque Ele previu que creriam, mas para que pudessem crer.

Deus não nos escolheu porque nós cremos, mas para que crêssemos; para não parecer que fomos nós quem primeiro O escolhemos. Paulo assevera com clareza que, desde o princípio da humanidade, ser santo é fruto da eleição. Aqueles que colocam a eleição depois da fé agem, portanto, de forma bastante absurda. Quando Paulo apresenta o beneplácito que Deus teve em Si mesmo como a causa da eleição, ele exclui todas as outras possíveis causas.

Os adversários de Agostinho reivindicaram que a autoridade da igreja estava contra suas doutrinas, e ele replicou que, antes da heresia de Pelágio, os pais da igreja primitiva não manifestavam suas opiniões profundas sobre a predestinação, e sua resposta era correta. E acrescentou: Qual a necessidade de examinar as obras daqueles escritores que, antes de surgir a heresia de Pelágio, não sentiram qualquer necessidade de se expressarem sobre essa questão? Se esta necessidade tivesse surgido e se houvessem sido compelidos a responder aos inimigos da predestinação, sem dúvida, eles o teriam feito. O que me compeliu a defender as passagens das Escrituras onde a predestinação é claramente ensinada? O que me estimulou foi o aparecimento dos pelagianos dizendo que recebemos a graça de Deus quando nos tornarmos dignos dela.

Não podemos falar agora sobre a maneira como a controvérsia pelagiana foi resolvida, sobre o modo como o Concílio de Éfeso condenou as posições de Pelágio, em 431, sobre como o piedoso bispo de Hipona, cheio de amor por Cristo, labutou até ao seu último suspiro e como ele morreu três meses antes da guarda romana em Hipona ser vencida pela invasão bárbara. E não há espaço para discorrer a respeito das lições que podemos aprender da vida desse homem, a não ser esta que salientamos: a vida de Agostinho desaprova, de uma vez por todas, a objeção de que a fé na predestinação eterna da parte de Deus é inconsistente com o zelo na pregação e no evangelismo. Agostinho escreveu: Eles dizem que a doutrina da predestinação é inimiga da pregação e que não traz qualquer benefício. É como se ela fosse inimiga da pregação do apóstolo. O excelente apóstolo aos gentios freqüentemente exaltou a predestinação e, apesar disso, jamais deixou de pregar a Palavra de Deus. Pois, assim como a piedade deve ser pregada, para que Deus seja verdadeiramente adorado, assim também deve acontecer à predestinação. Aquele que tem ouvidos para ouvir glorie-se na graça de Deus, no próprio Deus, e não em si mesmo.

O mundo de Agostinho passou, mas os erros que temos de combater não. Eles foram poderosamente reavivados no arminianismo, no século XVII; e, em nossos dias, os mesmos erros (este grande pecado, como o chamou Agostinho), têm se espalhado pela igreja visível. Deus pronunciou um solene anátema contra aqueles que buscam desfazer a sua obra, ao edificarem sobre aquilo que Ele destruiu (Js 6. 26). Ao encerrar este artigo, consideremos atentamente as palavras de Richard Sibbes, teólogo de Cambridge:

A heresia de Pelágio foi condenada ao inferno pelos antigos concílios. Os vários concílios realizados na África e diversos sínodos, nos quais o próprio Agostinho esteve presente, condenaram a heresia de Pelágio. Hoje não existem homens que querem ressuscitar estas heresias? Nada podemos esperar, exceto a maldição que prevalece quando homens reavivam heresias que Deus condenou. Elas são opiniões amaldiçoadas pela igreja de Deus, que até agora tem sido guiada pelo Espírito Santo. Tais opiniões, penso eu, que falam levianamente sobre a graça de Deus e promovem o poder do livre-arbítrio, fazem deste um ídolo; por isso, estão debaixo de condenação e, por natureza, são inimigas da graça de Deus.
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Fonte: Ministério Fiel