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27 de jan. de 2017

Os Símbolos Cristãos e sua Finalidade Histórica

Por Thomas Magnum

Acho interessante - e porque não dizer curioso - o evangelicismo brasileiro se afastou da simbólica cristã. De fato como diria o filósofo Mário Ferreira dos Santos, o símbolo faz parte do processo comunicativo normal do homem.

Obviamente temos inúmeras explicações históricas, por exemplo, o motivo dos evangélicos no Brasil não serem próximos a simbologia cristã, como o uso da cruz - por exemplo, o colarinho clerical, a falta de prédios de igrejas que possuam de fato uma arquitetura cristã. Em relação aos prédios é facilmente reconhecido que hoje em dia a praticidade para plantar uma igreja e ali funcionar os cultos não necessita de um prédio bonito, mas, de pessoas regeneradas. Isso é um fato que eu concordo, obviamente. No entanto, a questão é que os símbolos cristãos como cristogramas, a cruz, a pomba, o peixe, a âncora e as vestes pastorais comunicam algo.

Entendo que muitos evangélicos rejeitaram por exemplo a cruz nos templos por julgarem ser isso "católico". E se é católico não nos pertence, é maldito. Não esqueçamos que a igreja é católica. Ela está em todo mundo, ela é universal. Engraçado é que quando ocorre alguma apropriação indevida da simbologia cristã muitos então julgam que o correto é abandonar o símbolo. Por exemplo: palavras como promessa, bênção, maldição e decreto. Estas, são empregadas abusadamente e indevidamente por grupos neopentecostais heréticos. Mas, essas palavras carregam enorme significado teológico.

Os símbolos na história do cristianismo não tem como função a superstição, mas, o testemunho. A cruz vazia testemunha da morte do salvador, mas nos diz que a morte não o deteve. A gola clerical, simboliza que o ministro é um escravo da palavra. Sua garganta é um instrumento divino para pregação, ensino, aconselhamento e cuidado com o rebanho de Deus. A arte sacra em templos cristãos através de uma arquitetura ou outro meio que demonstre aos fiéis e aos infiéis a graça e glória de Deus são poderosos meios de testemunho. Não esqueçamos que a simbólica está presente na revelação de Deus, pois é um meio cognitivo. A sarça ardente, as colunas de fogo e a nuvem. A arca da aliança, o candelabro, o véu, a mesa, etc., claro que o significado completo destes símbolos foram cumpridos em Cristo. Mas veja que eles testemunhavam. A mística cristã histórica não ignorou a simbólica, mas, é verdade que houve abusos.

Não temos mais preocupação com templos arquitetonicamente cristãos, eu lamento por isso. Não digo que é norma, mas, é uma perca de oportunidade para o testemunho. Minha reflexão obviamente não é dogmática e tenho ciência da opinião por exemplo dos puritanos sobre a simbólica precedente no cristianismo. Meu objetivo não é desdizer o que os puritanos disseram. Mas nos lembrar que havia cristianismo antes da reforma. Algumas manifestações, mais puras e outras menos puras. A teologia não começa com Calvino. Foi ele de fato para mim o grande exegeta e teólogo da reforma. Mas, creio na catolicidade da igreja.

Não tenho a intensão - como disse - de normatizar nada, mas, de trazer a consciência de alguns que porventura gastaram tempo lendo esse texto, que nosso uso histórico da simbólica cristã tem valor testemunhal. Obviamente filtrando o que é bom.

26 de jan. de 2017

Teologia do Coaching: A Substituta da Teologia da Prosperidade

Por Pedro Pamplona

A teologia da prosperidade já apanhou demais. Seus grandes ícones já foram expostos e desmascarados. Infelizmente ela ainda faz vítimas pela falta de conhecimento do povo, principalmente nas periferias, público alvo desse tipo de “teólogos”. Felizmente ela está cada vez mais marginalizada e ficando limitada a determinadas igrejas. Um bom números de crentes tem um grande repúdio por esse tipo de abordagem “evangélica”. Pois bem, eis que temos uma substituta para a tal da teologia da prosperidade (TP). Eu a chamo de teologia do coaching (TC). Usareis as siglas a partir de agora.

A Cultura do Coaching

Sou formado em administração. Cursei quatro anos de faculdade e fiz outros cursos na área. Na época o coaching não era tão conhecido como hoje. Sempre valorizei cursos com conteúdos práticos como finanças, marketing e recursos humanos. Nunca fomos ensinados que precisaríamos de pessoas nos acompanhando para ensinar, direcionar, motivar e cobrar. Nós mesmos faríamos isso. Então a cultura do coaching chegou. Vá a uma seção de administração e negócios de uma livraria hoje e você perceberá o que estou dizendo. Nunca me dei bem com ela para ser sincero. E quero explicar a razão usando duas citações do Instituto Brasileiro de Coaching. Primeiro, o que é o coaching?

Um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras visando à conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”¹

Agora pergunto: como o coaching acontece?

Conduzido de maneira confidencial, o processo de Coaching é realizado através das chamadas sessões, onde um profissional chamado Coach tem a função de estimular, apoiar e despertar em seu cliente, também conhecido como coachee, o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja”²

Antes de continuar deixe-me dizer algo para que fique claro. Acredito na liberdade de trabalho honesto. Se você gosta ou trabalha honestamente com isso, ok, é a sua escolha. Por mais que eu tenha críticas a essa prática, aqui entrarei na relação do coaching com a igreja. Usarei essas duas respostas dadas para analisar biblicamente o que chamo de TC. Minha argumentação será essa: Igreja e evangelho não combinam com o coaching e não devem se misturar jamais. Quando isso acontece temos uma nova TP com uma roupagem mais humanista e existencialista.

Junto com o coaching cresceu o chamado empreendedorismo de palco (EP). São aqueles profissionais que trabalham com palestras motivacionais e grandes palestras de coaching. Esse mercado tem crescido assustadoramente e também tenho sérias dificuldades com ele. Aqui se aplica a mesma observação que fiz aos profissionais de coaching. Mesmo assim indico um ótimo texto escrito por Ícaro de Carvalho chamado Por que o empreendedorismo de palco irá destruir você. O autor começa com uma afirmação que capta bem o ponto onde quero chegar:

O empreendedorismo é a nova religião do homem moderno. Materialista e secular, ele substituiu os Santos do seu altar por fotografias de homens bem sucedidos; os seus Evangelhos são livros como “O sonho grande” e “A força do Hábito”. Ele acredita, de alguma maneira, que tudo aquilo irá aproximá-lo do seu objetivo principal: sucesso, fama e dinheiro…de preferência agora!”³

Essa cultura construída em torno do coaching e do EP é em sua maioria materialista. O objetivo de muitos é o sucesso financeiro, e isso significa enriquecer. Com um fator especial: o mais rápido possível. É comum ler e ouvir grandes promessas e ensinamentos sobre como trabalhar menos e ganhar mais. O foco está no esforço intelectual e físico daquele que está buscando seu lugar ao sol. É dessa cultura de palco, sonhos, riquezas e promessas que estou falando. Já viu onde isso vai chegar na igreja? Vamos falar disso agora!

O Coaching na Igreja

Eu já vi palestras de coaching acontecendo onde deveria haver uma pregação da Palavra. Isso mesmo, em pleno culto público. Infelizmente essa cultura chegou em muitas igrejas. E se eu já não me dou bem com ela no mercado de trabalho, na igreja não tenho medo de dizer que ela é minha inimiga. Assim como repudio a TP também o faço com essa nova onda da TC. Em alguns sentidos essa segunda chega a ser pior do que a primeira. Vamos analisar três pontos que constroem a TC.

Humanismo: O coaching utiliza de técnicas humanas num indivíduo que é o centro de tudo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes tem enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como palestras motivacionais da fé que confundem fé com força e vontade, evangelho com motivacionismo e Cristo com um palestrante. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. Fé essa que passa por Cristo, mas que tem seu objeto na própria pessoa e nos seus esforços dirigidos. Muitas “pregações” tem o mesmo objetivo do coaching, ou seja, estão “visando à conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. O apelo pode ser até espiritual, mas ainda assim Você já deve ter escutado muito coisas do tipo “como ser o melhor marido”, “como atrair e fidelizar pessoas para o reino”, “alcançando sucesso através da fé.”. Tudo isso travestido de espiritualidade…

Materialismo: há um desejo enorme em conquistar coisas. Sejam elas produtos do mercado como carros, casas, roupas, viagens ou algo mais “espiritual” como paz, pessoas, bom casamento, filhos educados, castidade, etc. As pessoas querem conquistar, possuir e avançar, sendo tudo isso fruto não da humilhante auto confrontação e negação de si mesmo, mas da auto-afirmação. O papel do pastor se tornou muito parecido com o do coach: “estimular, apoiar e despertar em seu cliente (ovelha)… o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja”. É exatamente isso que essa mistura humanista-materialista busca: o potencial infinito de cada ser humano para conquistar aquilo que ele deseja. Há uma conexão com o existencialismo, onde o indivíduo e sua busca pessoal por significado em si mesmo passa a ser o centro do pensamento filosófico.

Ceticismo: Humanismo e materialismo são marcas de seres céticos. A crença no Deus da Bíblia é cada vez mais fraca onde esse tipo de cultura se manifesta. Como eu já disse, a TC busca descobrir o potencial de cada pessoas para que ela alcance seus próprios objetivos. Dependência de Deus é algo apenas fantasiado. Orações são feitas apenas para que Deus abençoe nossos planos e para que Ele nos dê apoio em nossa própria empreitada. O sobrenatural é esquecido e Deus vai ficando cada vez mais distante. Na TC o soberano é o indivíduo com suas decisões de fé e sucesso. Em muitas igrejas tudo que você vai encontrar nos púlpitos são mensagens sobre o que os homens podem fazer para serem alguma coisa melhor do que já são. Até a mistura com conteúdos de coaching, marketing pessoal e psicologia você encontrará. Aliás, tem sido comum pastores e líderes entrarem nesses cursos e palestras para serem mais persuasivos, contagiantes e teatrais (pra não usar manipuladores). O Espírito Santo não tem muito espaço na TC, mesmo que usem seu nome.

São por esses motivos principais que digo que a TC está substituindo a TP. Esse discurso tem atraído jovens, empresários, profissionais liberais, e todo o tipo de gente, principalmente na classe média. E aqui está a transição entre as duas abordagens. A TP faz uma barganha com Deus crendo que Ele efetuará milagres para benefício material e espiritual do homem. A TC eliminou a barganha ao deixar Deus de longe, mas passou a ter no próprio homem a força “milagrosa” para seu benefício material e espiritual. Na TP ainda há uma certa dependência de Deus e seu agir sobrenatural, enquanto na TC o homem declarou sua independência. O relacionamento de barganha foi substituído para o relacionamento de platéia. O Deus da TC está assistindo e torcendo pelos grandes empreendedores no palco da fé. Talvez você ache ruim o uso do palavra coaching, mas pelo que você entenda a expressão completa “teologia do coaching” que estou usando para definir esse tipo de abordagem.

Essa é uma teologia mais sutil, que parece mais humilde, mas na verdade transborda soberba ainda mais do que a tenebrosa TP. Seu ambiente menos escandaloso e mais conformado a cultura secular permite que esse tipo de abordagem lote igrejas e obtenha grande aceitação. Geralmente se fala o que as pessoas querem ouvir e pecados são tratados como pedra e obstáculos no caminho que devem ser superados. A pregação fica até mais dinâmica, com uso de mídias, frases de efeito e motivação mútua. Tudo isso associado com o desejo material dos nossos dias só contribuem para que a TC ganhe terreno. Logo logo nós teremos grandes problemas com ela e talvez ela chegue ao mesmo patamar da TP. Que Deus nos livre e proteja disso!

O que Jeremias e Tiago Diriam?

Não quero tornar esse texto num texto longo demais. Portanto, encerrarei apenas com três passagens bíblicas (quem sabe um artigo completo poderá sair em breve sobre o tema). Compare com as ideias da TC e veja como a Bíblia é contrária a isso. Jeremias profetizou para um povo orgulho e que confiava em suas próprias forças e em sua “tradição espiritual”. Contra isso Deus falou por meio do profeta:

Assim diz o Senhor: “Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor” (Jeremias 9:23,24)

Num momento mais a frente ele resume bem sua mensagem ao povo:

Assim diz o Senhor: Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do Senhor… Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está” (Jeremias 17:5-7)

Encerro com a passagem de Tiago, um verdadeiro balde de água fria na teologia do coaching:

Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna.” (Tiago 4:13-16)

TP e TC, ambas são maléficas e distantes do cristianismo bíblico que leva o homem a negar a si mesmo, humilhar-se diante de Deus e depender dele em tudo. Ter sucesso profissional e conquistar riquezas não é pecado em si, mas isso não pode ser um dos pontos centrais de nossa espiritualidade cristã. Cuidado para não substituir a teologia da prosperidade pela teologia do coaching, em ambas o deus que adoram é o mesmo: o homem.

***

¹ Retirado de http://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching/o-que-e-coaching/ Acesso em 28/12/2016

²Ibid


³ Ícaro de Carvalho. Por que o empreendedorismo de palco irá destruir você. Acesso em 28/12/2016

24 de jan. de 2017

O que é humildade, o que não é, mas muitos pensam que é


Por Thiago Oliveira
Ser humilde é virtuoso. As Escrituras dizem muito sobre a humildade. Provérbios 15.33, diz que a humildade precede a honra. Nas bem-aventuranças, os humildes — disse Jesus — herdarão a terra (Mateus 5.5). O próprio Cristo é o nosso paradigma para sermos humildes, tal como ele foi. Ele diz: “Aprendei de mim que sou manso e humilde” (Mateus 11.29). O apóstolo Paulo tratando sobre o tema nos conclama para que tenhamos o mesmo sentimento de Cristo (Filipenses 2.11).
Humildade, segundo os padrões bíblicos, é não alimentar um conceito elevado acerca de si mesmo (vide Romanos 12.3). E o porquê disto? Porque somos seres criados, limitados e desde que o pecado entrou no mundo, imperfeitos. Não somos a medida de todas as coisas e dependemos de Deus para tudo, desde o respirar ao abrir os olhos, pois somos suas criaturas. É partindo dessa cosmovisão que poderemos compreender melhor o que é ser humilde e evitar erros comuns, pois muitos chamam de humildade aquilo que ela não é. Vejamos:
Humildade não é falsa modéstia
A Bíblia nos ensina a não termos um conceito elevado sobre nós, mas isso não significa que devemos negar as nossas qualidades. Se o Lionel Messi falasse que se considera um jogador mediano e que está no mesmo nível dos demais atacantes da Europa, ele não estaria sendo humilde, mas sim falseando algo que é óbvio: seu futebol está num nível acima da imensa maioria dos jogadores em atividade. E ser falso é ir de encontro com a verdade, portanto, é uma agressão aos padrões morais de Deus. Negar as nossas qualidades não nos faz humildes, a humildade reside em saber que tais qualidades são bênçãos que o SENHOR graciosamente nos concede, e que, portanto, não são provenientes de nós mesmos. Assim sendo, não devemos nos vangloriar. Também não devemos humilhar aqueles que não possuem os mesmos talentos que portamos. Uma maneira efetiva de sermos humildes seria utilizarmos nossas habilidades em prol do bem estar alheio, i.é., servindo uns aos outros.
Deus nos concede dons e talentos, negá-los é o mesmo que negar a autoria da fonte divina. Nenhuma pessoa possui todas as aptidões, consequentemente, compartilhar o que temos para ajudar os que não têm é algo nobre. Lembrando que também seremos servidos por aqueles que portam as habilidades que nos faltam.
Humildade não é baixa autoestima
Semelhantemente a falsa modéstia, a baixa autoestima é uma negação de quem você realmente é, obviamente, não pelo mesmo motivo, mas que na prática também desagrada ao SENHOR. A Bíblia diz que o conceito acerca de nós mesmos deve ser equilibrado (Romanos 12.3). Portanto, o desequilíbrio pende para mais ou para menos. Se colocar no pedestal é censurável, mas cavar um buraco para enterrar a si mesmo é passível de igual censura.
Tendo Cristo como nosso paradigma, conforme dito anteriormente, vejamos como ele se portou no episódio em que lavou os pés dos discípulos. Na ocasião, ele executou uma tarefa que era própria de um escravo. Seus discípulos acharam aquela cena humilhante, todavia, Cristo diz aos mesmos que ele é Mestre e Senhor daqueles homens (João 13.13). E mesmo executando um labor serviçal, não deixa Pedro fazer a sua vontade — nem ditar as regras. De maneira imperativa, Jesus faz com que Pedro se submeta a ter os pés lavados (João 13.6–10). O Cristo era, ou seja, a sua posição, não dependia da avaliação crítica dos apóstolos ou de quem quer que fosse.
Muitas vezes, a baixa autoestima reflete a estima alheia, no entanto, devemos manter um conceito equilibrado. Nunca somos tão bons ou tão maus como dizem que somos (No segundo caso é mais comum sermos ainda mais vis do que nos apontam). Quem nos conhece de fato é o próprio SENHOR, e é em sua palavra que podemos entender que apesar de pecadores, limitados e imperfeitos, fomos lavados e remidos. Em Cristo somos mais que vencedores e abençoados com toda a sorte de bênçãos espirituais (Romanos 8.37 e Efésios 1.3). Equilíbrio aqui é reconhecer que somos, conforme a máxima de Lutero, “simultaneamente justos e pecadores”. O que passa disso é puro equívoco de identidade.
Humildade não é “saber menos”
Existe uma mentalidade enraizada na cultura brasileira de que a intelectualidade leva à soberba e a ignorância acaba exaltada como uma virtude associada ao “ser humilde”. A mentalidade anti-intelectual é falsa e, em muitos casos, maquila a arrogância. Pois, ir atrás do saber, isto é, estudar, remete a ir atrás de algo que assumidamente não se sabe, e com isso, o aprendiz curvar-se perante o portador do saber, deixando-se por ele ser guiado — tal qual Dante foi guiado por Virgílio na obra A Divina Comédia.
A disposição para o aprendizado é mais humilde do que a pré-disposição de permanecer na ignorância. Requer disciplina, respeito e a prontidão em tomar conselhos com os mestres que nos cercam. É feliz o homem que obtém conhecimento (Provérbios 3.13), todavia, a Bíblia chama de insensato os que desprezam a sabedoria e a disciplina (Provérbios 1.7).
Se o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, logo é ponto de partida para que seus filhos se arvorem pelos meandros dos saberes a fim de compreender melhor o mundo criado — e na medida em que conhecem, contemplam e veneram a sabedoria do Altíssimo que fez tudo harmônico e belo, para o louvor da sua glória. Ao desprezarmos o conhecimento, deixamos de prestar esta veneração e ficamos embotados.
Humildade não é pobreza
Geralmente, o termo humilde para se referir à pessoa pobre denota simplicidade. Por razões econômicas, uma pessoa mora numa casa feita de materiais baratos e muitas vezes, construída com objetos improvisados e em lugares improvisados. Daí se diz que “fulano habita numa casinha humilde”.
Mas há quem confunda a pobreza com a humildade no sentido em que estamos trabalhando nesse texto. Geralmente, quem faz tal confusão é o ideólogo que vislumbra no pobre a imagem sacrossanta do bem. A pobreza como situação econômica embora possa exercer certa influência não pode ser vista como fator determinante para a moralidade. Há vileza em pobres e ricos. De igual modo há altivez, arrogância e por incrível que pareça esnobismo em muitos moradores de periferia. Há aqueles que se consideram melhor do que os das classes mais altas pelo simples fato de serem desprovidos de fortuna. Isso é uma ruptura do princípio bíblico referente à humildade. Lembremos que o humilde é aquele que não alimenta um conceito elevado sobre si mesmo.

19 de jan. de 2017

Se alguém pensa diferente...

Por Davi Charles Gomes

O adolescente escuta enquanto o professor [re]afirma a posição de Nietzche quanto a convicções religiosas: “toda convicção é uma prisão...” O moço então pergunta se afirmativas como esta e como a morte de Deus não seriam também prisões. “Então, de acordo com o filósofo, você precisa duvidar de toda opinião, até mesmo desta”, foi a resposta rápida do professor. Só que o aprendiz, sem esquecer o ódio que o professor nutre por quem classifica Nietzche como niilista (posição filosófica que nega a realidade substancial, a possibilidade da verdade ou qualquer moral transcendente), perguntou maroto: “mas isso não seria, então, uma forma de niilismo?” Essa troca aconteceu pouco tempo atrás, em uma classe de ensino médio.


A história é antiga. A expressão “não existe absolutamente nenhuma verdade absoluta” é a mãe de todas as filosofias absolutistas! “Todo discurso normativo é uma tentativa de dominação...” ou “toda metanarrativa é uma agressão ideológica...” E por aí vão as declarações aparentemente libertadoras, mas surpreendentemente totalitárias. Fico pensando se Alvin Plantinga não tinha razão quanto afirmou: “Acho difícil ver essa atitude como manifestação de tolerância ou de humildade intelectual: parece-me mais uma condescendência paternalista...” (Alvin Plantinga, Warrented Chistian Belief).


Uma questão tem ocupado minha cabeça: por que é que se fala tanto sobre liberdade de pensamento enquanto radicalizações, coercivas ou não, parecem se multiplicar como coelhos!? E isso, sem gastar tempo mostrando como tal estado de coisas vem acompanhado do ocaso do debate frutífero de idéias bem firmadas, cuidadosamente articuladas e respeitosamente expressadas.


Pensei em chamar este texto pelo título: “Voltaire, socorro!” (Voltaire, ou François Marie Arouet, 1694-1778). Mas, talvez, o título não ficasse bem para um pastor, e, portanto, preciso me explicar (já que acabei deixando escapar!). A antiga tradição da tolerância, a do Iluminismo, dizia algo mais ou menos assim: posso discordar de suas idéias, mas lutarei para que você as possa ter. A suposta “tolerância” de hoje, entretanto, parece gritar: acredite no que quiser menos em que sua crença seja verdadeira!


Fico lembrando que houve tempo em que idéias eram defendidas na ponta da lança ou no tacape. Alguns povos mais espertos, entretanto, resolviam suas diferenças de forma mais “maneira”. Para algumas tribos, as diferença podiam ser resolvidas no grito e no volume do som do bater dos pés. Mas outras tradições milenares apostavam no diálogo, no debate, ou mesmo nas disputas, como melhor maneira para defender idéias e convicções. É assim na tradição bíblica, no pensamento cristão, e especialmente na herança dos reformadores: idéias são importantes, convicções são necessárias e existem acertos e erros, e cada um vai se comprometer com certas crenças e visões das coisas. É claro que, para alguém que crê assim, será inevitável o estabelecimento de um ponto de referência, tal como de uma confiança em que esse ponto de referência seja passível de conhecimento.


Para um cristão, o ponto final de referência é o próprio Criador, que é conhecido de forma pessoal em sua revelação e especialmente em Cristo, o Deus-homem. Mas, exatamente porque reconhece esse ponto de referência externo a ele mesmo, e porque ele aceita que Deus se revela, é que o cristão valoriza o debate de idéias e aceita que o convencimento da verdade envolve fatores racionais, afeitos e, finalmente, de motivos do coração – como eu reajo ao conhecimento de Deus que me confronta nas múltiplas formas como esse Deus se revela. Isso gera uma dupla atitude: firmeza nas convicções já alcançadas e, ao mesmo tempo, tranquilidade quanto ao fato de que essas convicções podem e devem ser objeto de discurso persuasivo, mas nunca poderão ser impostas a outros por força externa – nem mesmo no grito ou no bate-pé!


Aliás, é por aí que vai o apóstolo Paulo quando argumenta em favor da verdade e afirma que, mesmo não pensando ter alcançado a plenitude do conhecimento, prossegue para o alvo de ver as coisas por meio da ótica de Cristo, e, então, completa:


“Todos nós que alcançamos a maturidade, devemos ver as coisas dessa forma, e, se em algum aspecto vocês pensam de modo diferente, isso também Deus lhes esclarecerá. Tão-somente vivamos de acordo com o que já alcançamos” (Filipenses 3,15-16).

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Via: Coram Deo

18 de jan. de 2017

A Espiritualidade de Espuma de Refrigerante

Por Fábio Henrique

Pelo menos uma vez na vida com certeza você já viu esta cena: Ao abrir um refrigerante e depositar o líquido no copo, rapidamente sobem até a superfície aquelas bolhinhas que costumeiramente chamamos de espuma. Algumas pessoas quando inadequadamente despejam o líquido no copo se assustam com a quantidade de espuma imaginando ser o tão precioso líquido quando na verdade não passa de gás carbônico evaporando. Resultado, tudo não passou de uma falsa impressão. Desta cena tão corriqueira podemos retirar pelo menos uma lição: “nem tudo que parece é ”.

Pensando nesta cena, recordei do tipo de fé manifestada por alguns cristãos e que podemos fazer uma analogia com o que o Senhor Jesus afirmou na parábola do semeador. Quando ao explicar tal tipo de espiritualidade, Ele afirmou: “..este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona.” (Mateus 13:20,21) Parece um paradoxo, mas a suposta fé que transbordava em alegria se transformou em desânimo e abandono da mesma. Qual seria o motivo disso tudo? O versículo de forma clara o expõe: “não tem raiz.”

Não precisa ser um profundo conhecedor de teologia para entender o significado do que Jesus esta dizendo. A ausência de raiz em uma planta é sinal de uma morte prematura, superficialidade e ausência de profundidade. Infelizmente, assim tem sido a espiritualidade de muitos que querem seguir a Cristo, mas não estão dispostos a enfrentar as adversidades e dificuldades de levar a sua palavra a sério. Ou seja, é uma espiritualidade incapaz de ultrapassar as portas de um templo religioso, pois assim como a espuma de um refrigerante se dissolve facilmente ao primeiro contato com o mundo fora da garrafa, assim é a fé destes em relação à vida cristã fora dos portões de suas igrejas.

É a espiritualidade do “oba-oba”, programações, louvorzão, congressos, acampamentos, encontros de casais ou de jovens e tantos outros “encontros” com Cristo. Da performance, do canta, pula, grita, gira, da espiritualidade exposta apenas na camisa de marketing daquele evento famoso, mas que não é fruto de um coração sincero para com Deus. É a espiritualidade da euforia provocada pela adrenalina do momento, porém desprovida de profundidade e intimidade com o Senhor através da oração diária e da devoção e obediência a sua Palavra. O problema dessa espiritualidade é sua fragilidade e artificialidade, além de ser viciada em doses cada vez mais fortes da “adrenalina gospel”. Os reflexos desse tipo de espiritualidade são perceptíveis tanto na vida do indivíduo quanto na própria igreja, pois essa mesma euforia e entusiasmo não são demonstrados quando o palco é desarmado, as luzes se apagam e é chegada a hora de por em prática tudo aquilo que foi pregado. O que resta é uma apatia em relação ao envolvimento, seriedade e comprometimento com as verdades do evangelho de Cristo e com sua igreja.

Talvez o que mais nos atraía nos refrigerantes seja seu sabor adocicado e a sensação de prazer causada pelo mesmo. Todavia, com o passar dos anos, surgem às consequências para a saúde - e caso não sejam tratadas podem levar ao óbito. Que possamos parar de nos iludir com a espiritualidade da espuma de refrigerante, ao invés dela, nos aprofundemos mais em nosso relacionamento com o Senhor através da oração, leitura e obediência a sua Palavra. Só assim estaremos isentos desta triste estatística relatada pelo Senhor Jesus de uma espiritualidade sem vida, sem profundidade, superficial, sem raiz e morta.

***
O autor é seminarista do Seminário Presbiteriano do Norte e membro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Rio Doce, Olinda-PE. 

25 de nov. de 2016

O prejuízo da sinceridade excessiva

Por Daniel Santos
O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior.
(Provérbios 18.2)
Não é fácil discernir a verdadeira motivação de uma pessoa com respeito àquilo que faz, fala ou pensa. Na verdade, há situações em que nem mesmo a pessoa sabe porque fez o que fez. Esse provérbio apresenta uma excelente ferramenta para identificar insensatez ou tolice na atitude de alguém, a saber, o modo como valorizamos o ato de entender as coisas. Há duas ideias que são comparadas nesse provérbio: de um lado, o prazer no entendimento; do outro, o prazer em externar o seu interior. Externar o seu interior (literalmente, “tornar conhecido o seu coração”) pode ser entendido como um excesso de sinceridade ou de um desejo de colocar para fora aquilo que está no coração.
À primeira vista, parece não haver nada de errado com a atitude de ser demasiadamente sincero e transparente, não escondendo nada em seu coração. Entretanto, a sabedoria de Deus revelada nesse provérbio nos adverte que há maior benefício em buscar entender do que em revelar o que está no coração. Além disso, o provérbio classifica como insensato ou tolo aquele que prefere o excesso de sinceridade a laboriosa tarefa de entender o que se passa. A razão para tal preferência parece óbvia – colocar para fora aquilo que pensamos nos causa alívio; tentar entender o que se passa nos causa fadiga.
Diante disso, não temos como fugir da conclusão de que o prazer em externar o seu interior estará invariavelmente associado com o ato de falar demais, postar demais, curtir demais, blogar demais. Todas essas coisas são formas de externar o seu interior e quem as pratica é considerado insensato pela ótica bíblica. Quando o prazer de uma pessoa está no entendimento, ela se torna mais seletiva quanto ao que irá externar. Eis alguns exemplos de externar o interior que procedem de uma pessoa que ama o entendimento: o louvor, a confissão, a súplica, a gratidão, etc. Todas essas manifestações são fruto de um processo prévio de reflexão e entendimento daquilo que se passa.
Aplicação
O alívio de ter colocado para fora o que se pensa não paga a vergonha de ser chamado de tolo. Você já considerou a possibilidade de que o seu desejo excessivo de externar o seu coração pode causar aflição no coração dos que ouvem? 
***
Post original aqui

4 de nov. de 2016

A Missão Não Íntegra de quem fala em nome da TMI

Por Thiago Oliveira

O Missão na Íntegra, que de acordo com a sua própria página diz ser “um dos movimentos de pregadores e pensadores protestantes que refletem a partir da proposta da Missão Integral”, está apoiando as ocupações nas escolas, e fez isso ao repetir em caixa alta - por três vezes - a seguinte frase num de seus post’s no Facebook: “TODO APOIO AOS ESTUDANTES NAS ESCOLAS OCUPADAS”!

Vale ressaltar que o Missão na Íntegra foi responsável por criar um manifesto contrário ao impeachment, acusando todos que apoiavam a saída da então presidente Dilma Rousselff de serem antidemocráticos. E ainda houve leitura do manifesto com a cobertura da mídia do PT[1], onde o Ariovaldo Ramos, o homem que está por trás disso tudo, deu declarações como esta: “É um privilégio como evangélico e negro ter a possibilidade de lutar contra o golpe. Nós não podemos aceitar a reconstrução de uma senzala que ainda não terminamos de derrubar”. Na ocasião, escrevi uma moção de repúdio ao manifesto[2], e disse que era um documento pró-petista redigido com linguagem velada. Mas desde que a saída de Dilma da presidência do país foi concretizada, a linguagem passou a ser desvelada, e alguns dos proponentes da Teologia da Missão Integral (TMI) - integrantes e não integrantes do Missão na Íntegra - passaram a tornar cada vez mais explícita a sua posição política, que como sempre se suspeitou, é uma posição que se coloca a esquerda do espectro político.

A revista Cristianismo Hoje, em sua edição de número 52/Ano 9 trouxe o título: "Missão Integral, Missão de Deus" na sua capa. A matéria panfletária sobre a TMI tem depoimentos de alguns de seus medalhões. Samuel Escobar ao responder como se define ideologicamente diz: “a esquerda não me assusta”. Seguindo mais adiante, fala o seguinte: “Encontro, no programa de movimentos classificados como ‘de esquerda’, preocupações e sensibilidades que estão mais de acordo com o ensino bíblico sobre uma sociedade mais justa do que os que se dizem ‘de direita’” (p.37). Ora, e quais são os representantes das esquerdas no cenário político da América Latina? Não seriam eles políticos e partidos com agendas muito distintas do que prega a sã doutrina?

Mais recente ainda, o Harold Segura escreveu um lamurioso texto[3] em que provoca os pioneiros teóricos da TMI lamentando que o povo colombiano tenha votado contra o perdão das FARC em plebiscito - que não apenas anistiaria seus integrantes, mas transformaria aquela organização criminosa e terrorista em um partido. Embora seja colombiano, lamenta também o impeachment de Dilma no Brasil e de um modo geral, vê a derrocada da esquerda e o crescimento do “conservadorismo evangélico” como sendo “em parte” culpa da irrelevância da TMI. Ora, porque será? Érika Isquierdo Paiva escreve um endosso da carta do Segura[4], e vejam só como é a sua redação: “A René, Samuel, Valdir, Juan, Tito e Pedro, entre muitxs outrxs”. Viram só isso? O “x” serve para não mais identificar o masculino e o feminino. Meus irmãos, quem é que encabeça a ideologia de gênero em nosso continente? Sim, são grupos progressistas financiados por partidos da esquerda, partidos esses que em sua maioria se identificam com os postulados de Karl Marx e os pensadores da new left.

Logo, fica evidente que quando o Missão na Íntegra (que reflete "a partir da proposta da Missão Integral") se manifesta apoiando a ocupação nas escolas, ele o faz com o compromisso de defender a sua ideologia ou o seu programa político. Pois, se defendesse o evangelho, não apoiaria certos jovens impedirem outros de estudar e prestar o Enem. E esses outros a quem me refiro são a maioria, privados de seu direito de frequentar a escola por causa de um bando de “gatos pingados”. Isso não é nem um pouco democrático, e nem é justo. Também vale ressaltar que os ocupantes são menores de idade e estão nas ocupações, em muitos casos, contra a vontade de seus próprios pais. Sendo assim, há uma desintegração familiar. Será que a missão integral não se importa com a relação harmônica entre pais e filhos? Entre preservar o quinto mandamento e subverter o patriarcado, de que lado ficará o movimento do Sr. Ariovaldo?

A matéria supracitada, da revista Cristianismo Hoje, dá a entender que as críticas feitas a TMI, que a associam as ideias marxistas, são infundadas. Há um missionário americano ligado a TMI que diz que fazer tal associação é algo "tão absurdo que eu tenho muita dificuldade de levar a sério". Mas como não entender diante de tantas falas que não são apenas parecidas, e sim idênticas as falas de qualquer líder político progressista anti-cristão? Vá na rede social de qualquer partidário do PSOL ou do PSTU, por exemplo, e veja se ele não escreve todxs, muitxs, outrxs e etc.

Reitero o que já mencionei em outras ocasiões: Considero o Pacto de Lausanne um documento ortodoxo e de grande valia para o segmento evangelical. É dele que vem a expressão “missão integral”. Todavia, lamento que a expressão tenha sido capturada por cristãos progressistas que tem um alinhamento político-ideológico com os setores da esquerda. Isto fere a própria tradição de Lausanne, pois em Junho de 1980 a Consulta de Pattaya se posicionou contrária ao marxismo, vendo-o como um sistema concorrente do cristianismo e anti-cristão. O relatório extraído desta consulta foi publicado com o título Evangelho e o Marxista, pela ABU. Foi um lançamento em conjunto com a Visão Mundial que traz outros documentos, num total de 10 livretos que compõem a Série Lausanne. A série foi recentemente reeditada, exceto, a que contém o texto de Pattaya. Como é que tentam apagar assim um documento histórico? E por quais razões? 

Há gente com muita propriedade fazendo críticas sensatas e visando uma reavaliação da intoxicação ideológica que alcançou a TMI e a fez se distanciar de Lausanne. Guilherme de Carvalho, Jonas Madureira, Filipe Fontes, Yago Martins e o pessoal do Movimento Mosaico têm escritos e palestras disponíveis na internet sobre a questão. Essas críticas precisam ser feitas, pois, a Igreja precisa ficar alerta e se posicionar contra qualquer teologia que faça síntese com ideologias idolátricas. E aqui quero recomendar quatro obras que podem ajudar bastante a fazer desintoxicação política: Contra a Idolatria do Estado, do Franklin Ferreira; Visões e Ilusões Políticas, do David Koyzis, Fé Cristã e Cultura Contemporânea, de vários autores e Ortodoxia Integral, do Pedro Lucas Dulci.


[1] http://www.pt.org.br/evangelicos-se-unem-para-dizer-nao-ao-golpe/
[2] https://bereianos.blogspot.com.br/2016/03/eu-repudio-o-manifesto-do-ministerio.html
[3] https://www.facebook.com/notes/novos-di%C3%A1logos/provoca%C3%A7%C3%B5es-p%C3%BAblicas-aos-meus-mestres-da-fraternidade-teol%C3%B3gica-latino-americana/1197918663607517
[4] https://www.facebook.com/notes/novos-di%C3%A1logos/acorda-neo/1202120739853976

26 de out. de 2016

Sobre a Confissão e a Acusação de Inerrância na Prática

Por Alan Rennê Alexandrino

A Confissão de Fé de Westminster, em seu capítulo 31.3, sobre os Sínodos e Concílios, faz uma afirmação muito importante a respeito de decisões conciliares tomadas desde os tempos mais imemoriais:

"Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa".

Nesta afirmação, a Confissão chega a apontar o dedo indicador para si mesma, ao deixar claro que ela não é inerrante nem a regra de fé dos crentes. Chad Van Dixhoorn, importante estudioso da Assembleia de Westminster e editor das Atas da Assembleia, afirma que nesse parágrafo, "em verdadeira sabedoria, a Assembleia de Westminster reconhece tal limitação e redireciona seus leitores à Sagrada Escritura" (Confessing the Faith: A Reader's Guide to the Westminster Confession of Faith. p. 420).

Nas últimas semanas têm se tornado comuns declarações e ataques de determinado grupo, no sentido de que os subscreventes dos Padrões de Westminster a têm como inerrante e que a mesma é tanto engessada como engessa qualquer reflexão teológica a partir do texto puro das Escrituras. Além disso, as acusações de que consideramos a CFW inerrante, ao menos na prática, são fundamentadas no fato de nos recusarmos a reformá-la. De acordo com alguns deles, nós dizemos que ela pode ser reformada, mas quando é para reformar, apresentamos evasivas e saímos de fininho.

Enxergo nisso um pouco do espírito anarquista aplicado à questão da autoridade da Igreja. É como se bastasse querer reformar a Confissão, e pronto. Ou é como se tivéssemos a permissão de pública e abertamente falar contra ela. Michael Horton faz uma afirmação interessante a este respeito: "Se o liberalismo desafiou o cristianismo credal e confessional em nome da razão, o biblicismo rejeita a autoridade legítima da igreja em tirar da Escritura 'boas e necessárias consequências', assumindo que suas doutrinas são tomadas diretamente das palavras da Bíblia. Entretanto, muitos dos fundamentos que ele deseja proteger foram formulados por cortes eclesiásticas através de conclusões e deduções necessárias. Quando nós perdemos nossa consideração pela autoridade ministerial da igreja para ensinar e confessar as verdades da Palavra de Deus, isso não acontece sem antes começarmos a questionar a autoridade magisterial em si" (The Christian Faith: A Systematic Theology for Pilgrims On the Way. pp. 214-215).

Os tais desprezam as formulações confessionais e falam em adotar doutrinas extraídas apenas da própria exegese, mas esquecem que, mais uma vez citando Horton: "Na história da igreja, algumas formulações dogmáticas foram elevadas ao nível de dogmas (a saber, a Trindade, as duas naturezas de Cristo em uma pessoa etc.), mas elas nunca são a obra de um único teólogo. Elas são o fruto cumulativo da reflexão comunal e ganham o consentimento do Corpo de Cristo" (op. cit., pp. 213-214).

Sobre o alarde em torno da reforma da Confissão, a dificuldade dos tais em relação à autoridade da Igreja pode ser vista nos seus constantes apelos por uma reformulação que, a bem da verdade, traz em seu bojo o anseio por cada um adotar uma confissão própria e particular.

Não compete a mim, enquanto membro ou ministro, reformar a Confissão conforme eu bem entendo. O ato de adoção de uma confissão de fé é prerrogativa da denominação. Trata-se de um ato formal que tem lugar num ambiente conciliar. Assim sendo, a autoridade para reformar uma confissão de fé não está posta sobre os meus ombros, mas sobre a denominação e seus concílios. Como o ato de adoção, o ato de revisão e consequente reforma pertence à denominação. Em sua excelente obra O Imperativo Confessional, Carl Trueman encarna o seguinte questionamento: "Como se deve proceder à revisão ou complementação das confissões de uma igreja?" Eis a sua resposta: "Sem dúvida, não é algo que apenas um indivíduo deve fazer: o refrão deste livro é que os credos e as confissões são documentos eclesiásticos, propriedade de toda uma igreja, não do crente isolado" (p. 255). Ainda de acordo com ele, as confissões, como documentos eclesiásticos, possuem importância corporativa, que não é compartilhada por outros escritos, como as Institutas de Calvino, por exemplo: Debates sobre como traduzir passagens de Calvino, ou se ele está certo ou errado em um ponto podem ser interessantes, mas têm pouca ou nenhuma importância eclesiástica. No entanto, as confissões são diferentes: elas são documentos aos quais a igreja está vinculada por cânones processuais, votos de ordenação etc. A diferença é importante quando se trata da revisão confessional. Qualquer revisão deve ser feita pela igreja, de modo específico pelos encarregados de garantir a firmeza de sua instrução, ou seja, os presbíteros" (op. cit., p. 256).

Isto posto, não basta somente vociferar que a Confissão de Westminster deve ser reformada.

É necessário que passos formais e indispensáveis sejam dados. Se se deseja que a mesma seja revisada e complementada, que sejam seguidos os passos e etapas certos. Trata-se de uma obra que não pode ser feita de qualquer forma. Não pode ser feita em clima de oba-oba.

Como diria o excelente Dr. Hermisten Maia: "Fazer teologia é tarefa da Igreja; não é um estudo descompromissado feito por transeuntes acadêmicos".

SOLI DEO GLORIA

12 de out. de 2016

Não Faça a Vontade de Deus Como Um Ateu

Por John Piper

Depois da minha mensagem ao corpo discente da University Liberty semana passada, um estudante atento me perguntou essa questão esclarecedora: "Então você não acredita que atos altruístas são possíveis ou desejáveis?".

Eu pedi para ele definir altruísmo de modo que eu pudesse responder o que ele realmente estava perguntando. Ele disse: "Fazer uma boa obra a outros sem vislumbrar uma recompensa". Eu respondi: "Está certo, sendo ou não possível, eu não acredito que é desejável, porque não é o que a Bíblia nos ensina a fazer; e não é o que pessoas sentem como sendo um amor genuíno. Porque isto não é amor genuíno."

QUANDO DEUS É GLORIFICADO

Eu tinha dito na mensagem de convocação: "Fazer o certo pela causa da retidão é ateísmo. Crentes deveriam fazer o que é certo pela causa de Deus; porque a Bíblia nos ensina a fazer tudo para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31). Mas Deus não é glorificado se nós O deixamos fora da questão e dizemos que fazer a obra certa é sua própria justificação. Nada justifica a si mesmo se Deus é deixado de lado.

Crentes deveriam fazer o que Deus diz que é certo porque, ao fazer isso, nós apreciamos mais a Deus. Jesus estava nos motivando a ser generosos aos outros quando Ele disse: "Mais bem-aventurado é dar que receber" (Atos 20:35). Estou simplesmente dizendo que essa benção motivadora prometida não é principalmente mais dinheiro, mas mais de Deus. Deus gosta mais de revelar mais de si mesmo ao generoso do que ao mesquinho (João 14:23).

Esse motivo glorifica a Deus. Deus é glorificado quando Ele é desejado como um tesouro. Se nós queremos uma comunhão mais profunda com Ele porque Ele nos faz mais felizes do que qualquer pessoa, nós O glorificamos. Então, estar motivado a fazer o certo pelo desejo de mais de Deus, glorifica a Deus.

COMO JESUS MOTIVA

Jesus disse que quando nós somos difamados enquanto crentes, devemos nos regozijar (Mateus 5:12) e amar os nossos inimigos (Mateus 5:44) "porque é grande o vosso galardão nos céus" (Mateus 5:12), e "para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste" (Mateus 5:45). A motivação a qual ele apela é que o caminho do amor sacrificial leva a um aumento de alegria no nosso relacionamento com Deus enquanto Pai.

Jesus nos motiva a "convida(r) os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos" para nosso banquete" pelo fato de não terem eles com que recompensar [a nós]". E adiciona: "a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos." (Lucas 14:13-14). Em outras palavras: seja generoso; faça sacrifícios nesse mundo; porque grande é a sua recompensa no céu.

A recompensa, é claro, inclui tudo na herança de Deus. Você será um "herdeiro do mundo" (Romanos 4:13). "Porque tudo é vosso" (1 Coríntios 3:21). Os mansos "herdarão a terra" (Mateus 5:5). Sim, a recompensa inclui coisas terrenas. Mas naquele dia não haverá o perigo da idolatria. A terra, os céus e todas as coisas declararão a glória de Deus, e a essência da nossa alegria nelas será a alegria Nele. O que faz nossa recompensa verdadeiramente excelente é a plenitude maravilhosa da nossa comunhão com Deus. "Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente." (Salmos 16:11).

Essa "plenitude" e esse "perpetuamente" estão por trás da motivação dos crentes da igreja primitiva quando eles faziam o certo e sofriam. Eles visitavam amigos crentes na prisão porque eles viam a recompensa. "Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável." (Hebreus 10:34). Eles se regozijavam na prisão porque sua recompensa era grande no céu. É disto que eles ganhavam coragem para arriscar suas vidas: "tem grande galardão." (Hebreus 10:35).

Então, eu respondo novamente: "Fazer uma boa obra a outros sem vislumbrar uma recompensa" é antibíblico e ateísta. Isto desonra a Deus. Ele oferece mais alegria na sua comunhão àqueles que fazem o certo "pela Sua Causa" do que "pela causa da retidão". Se não abraçarmos a oferta da Sua Recompensa, nós O desprezamos. Mas se abraçarmos a oferta, mostramos que Ele É O Nosso Tesouro supremamente desejado — acima de todas as recompensas de fazer o que é errado.

NOSSA ALEGRIA EM AMAR OS OUTROS

Finalmente, eu disse como resposta à ótima pergunta do estudante: "Não apenas tentar fazer o bem pela causa da retidão desonra a Deus, mas também não mostra amor aos outros. Pessoas não experimentam isto como amor." Mas por que elas experimentariam o nosso bem como amor se estivéssemos buscando a nossa grande alegria em Deus? Elas não estariam sendo apenas usadas?

Não. Porque parte da alegria maior que buscamos em Deus, fazendo o bem a elas, é a inclusão delas na nossa alegria. Nossa alegria em Deus seria expandida pela alegria deles em Deus. Nós não os estamos usando para a nossa maior alegria. Nós os estamos trazendo para a grande alegria e desejando que eles sejam parte disso.

Mas fazer o certo pela causa da retidão não tem esse efeito. Suponha que eu vá visitar Ethel no hospital, uma senhora idosa que teve um ataque cardíaco. Eu estendo a minha mão no seu braço frágil, ela abre os olhos e diz: "Oh pastor, você não precisava vir". Suponha que eu responda: "Eu sei, mas era meu dever vir. Isso era a coisa certa a fazer por si mesma. Portanto, eu vim." Esta resposta não faz Ethel se sentir amada.

Mas suponha que eu diga: "Eu sei, mas sempre me faz mais feliz em Deus, Ethel, trazer um pouco de encorajamento para você e lembrá-la das promessas do Senhor." Ethel nunca diria: "Você é tão egoísta. Tudo o que você pensa é o que faz você ficar feliz." Ela não sentiria isso, embora eu tenha dito: "Sempre me faz mais feliz...". E a razão pela qual ela não o sentiria é porque minha busca de mais alegria em Deus ao fazer o bem a ela, e querer que ela faça parte disso, é o que amor genuíno é.


Que Deus nos proteja da noção ateísta de fazer o bem pela causa da retidão. E que ele nos transforme nesse tipo de adoradores esquisitos e maravilhosos que negam a si mesmos os "prazeres transitórios do pecado" e "preferem ser maltratados junto com o povo de Deus", porque nós "contemplamos o galardão" (Hebreus 11:25-26).

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Fonte: Desiring God