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28 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (4/4)

Por Hans Rookmaaker

A degradação da música de entretenimento

Dois ou três séculos atrás, antes da grande fragmentação na cultura ocidental que ocorreu com o iluminismo, havia uma unidade na cultura. Se você morasse em Leipzig por volta de 1725, você iria à igreja no domingo pela manhã e ouviria a última cantata de Bach como parte da liturgia. À tarde, as mesmas pessoas iriam à feira e lá haveria uma banda de metais tocando música de dança. O povo apreciava isso. À noite, em suas casas, eles tocariam música de câmara ou talvez fossem a um concerto formal, onde eram tocados concertos de órgão ou violino. Todos esses tipos de música eram compreendidos pelas pessoas e eram todos parte da cultura geral. Para diferentes ocasiões, entretanto, havia diferentes tipos de música. Eles tinham uma palavra para isso naqueles dias. Uma palavra que temos esquecido: “decorum” (decoro).  Decorum significa que as coisas precisam ser apropriadas à situação. Em um desfile não se apresenta uma orquestra tocando uma sinfonia de Beethoven, pois esse não é o contexto adequado. Nessa situação em particular, o apropriado seria uma banda de metais tocando Sousa.

21 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (3/4)

Por Hans Rookmaaker 
A música faz a pessoa
O que podemos dizer sobre a música como parte do nosso estilo de vida cristão? A música é o ambiente que criamos para nós mesmos. A música não é simplesmente algo que temos em comum com todo mundo. Ela não é apenas 95%. É 95% mais 5%. A primeira coisa que faço quando visito a casa de alguém é olhar seus discos, pois eles me dizem quem a pessoa é. Em holandês temos a expressão “as roupas fazem o homem.” Ela significa que conhecemos uma pessoa pelo modo que ela se veste. Similarmente, a música é uma expressão de nós mesmos. As pessoas não ouvem qualquer coisa. Elas escolhem as músicas que criam e ouvem. Isso porque há uma intrínseca conexão entre a música que nos rodeia e quem somos.

14 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (2/4)

Por Hans Rookmaaker

Agora trataremos da questão da relação entre o cristão e a cultura não-cristã. A Bíblia ensina que não devemos ser contaminados pela iniquidade e nem seguir os seus caminhos do mundo. “Mundo” neste sentido quer dizer o mundo de pecado. Mas a Bíblia também diz que não devemos ter medo de examinar todas as coisas e guardar o que for bom. Não devemos recuar. É interessante percebermos que a Bíblia jamais fala em cultura de um modo negativo. A cultura do mundo em si não é negativa. As Escrituras não nos ensinam que tudo que é produzido por não-cristãos é intrinsecamente mau. Quando Salomão construiu seu templo, ele chamou um arquiteto de Tiro, que certamente era um pagão. Mas o homem era um bom arquiteto. Apocalipse 17 fala de Babel – personificação do mundo mau e centro de todo o anticristianismo – como uma cidade cheia de beleza e riquezas, um lugar onde as mulheres usavam belos vestidos longos. A Bíblia não diz que tudo aquilo que vem do mundo é mau. Ao invés disso ela nos ensina a ouvir e olhar a nossa volta, retendo as boas coisas.

7 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (1/4)

Por Hans Rookmaaker

Deveríamos almejar ser uma subcultura?

Implícita na palestra Rock e Protesto estava a questão: “O que nós, como cristãos, vamos fazer com o Rock?” Quero tratar desta questão de um modo explícito, apesar de me ater somente ao Rock.”

O tópico “Cristianismo e Música” é parte de um tema mais abrangente, “cristianismo e cultura”, o qual pode ser dividido em duas partes: nossas próprias formas culturais e o nosso relacionamento com a cultura que nos cerca.

4 de fev. de 2015

O Senhorio de Cristo e a Redenção das Artes

Por Rodolfo Amorim

Cristo veio nos redimir para nos tornar humanos, no sentido pleno da palavra. Ser novo homem significa que nós podemos começar a agir em nossa plena e livre capacidade humana, em todas as facetas da vida.

HANS ROOKMAAKER

Henderik Roelof Rookmaaker foi um cristão pioneiro no campo das artes e um trabalhador fiel e incansável a serviço do Deus criador e redentor de todas as  coisas. Hans, como era gentilmente chamado pelos familiares e amigos íntimos, expressou essa convicção a respeito de seu Senhor com aspiradora intensidade a partir de 1942, ano em que se converteu ao cristianismo em uma prisão nazista em Estanislaw, na atual Ucrânia. Tudo nesse pequeno holandês — personalidade, paixão, energia, talento e fé — transpirava uma forte convicção de chamado e missão: o chamado para viver plenamente como cooperador de Cristo em sua obra de redenção e na reforma das realidades afetadas pela distorção do pecado.

Diferente de outros heróis da fé, Rookmaaker não partiu para terras distantes com a missão de lutar contra as forças do mal e levar o evangelho para os povos não alcançados. Sua missão era direcionada ao coração da cultura europeia do pós-guerra, mais especificamente ao terreno inexplorado do campo das artes. Após vivenciar os horrores da guerra, Rookmaaker sabia que a batalha contra a “cidade dos homens” não se dava apenas em domínios geograficamente distantes. Uma batalha estava sendo travada dentro de seu próprio país, no interior de sua própria casa, e atingia as pessoas próximas e queridas à sua volta. Esse confronto espiritual podia ser visto nas diferentes manifestações artísticas e culturais — música, pintura, teatro, arquitetura e outras expressões do espírito humano — produzidas e consumidas diariamente não apenas por seus concidadãos holandeses, como também pelos europeus e por todo o Ocidente.

Ao iniciar sua missão no inexplorado terreno da relação entre as artes e a fé cristã no mundo moderno, Rookmaaker seguiu a direção apontada por alguns de seus conterrâneos, que já haviam percebido a importância de uma ação integral da igreja no mundo. Entre os defensores da proposta de uma ação cristã integral, estavam alguns luminares espirituais como Groen Van Prinsterer, Abraham Kuyper, Herman Bavinck, e os contemporâneos Herman Dooyeweerd, Dirk Vollenhoven e Johan Meekes.

Pouco tempo depois de sua conversão, Rookmaaker já era reconhecido como uma das vozes mais atuantes no campo da integração entre fé e artes no Ocidente. Seu importante legado é uma prova incontestável da influência exercida por ele sobre os cristãos de todas as partes do mundo. Seu tempo de vida como cristão foi relativamente curto (25 anos, aproximadamente), porém sua contribuição para o reino de Cristo foi expressiva. Ele deixou dezenas de livros publicados, abordando o tema das intrincadas relações entre arte, cultura e cristianismo, e centenas de artigos publicados em revistas especializadas na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá. Deixou também vários departamentos de arte estruturados ou em vias de estruturação na Holanda, Estados Unidos e Inglaterra; associações de artistas cristãos criadas diretamente por ele ou sob sua influência; um centro internacional de estudos formado e estabelecido na Holanda (L’Abri) e estações de rádio criadas e fortalecidas neste país. Holanda. Porém, seu maior legado foi o impacto provocado por ele na vida de outras pessoas. Contribuiu para que centenas de artistas e acadêmicos desenvolvessem suas vocações sob sua influência e acompanhamento. Indivíduos, famílias e comunidades foram enriquecidos e alcançados pela influência da graciosa manifestação do reino de Cristo nas artes. Sua intenção não era “informar as pessoas sobre arte”, mas sim “compartilhar com outros, por meio da arte, sobre a plenitude da vida e a riqueza da realidade criada por Deus, em seu amor”.

Seu estilo geralmente polêmico e exagerado levou-o a desafiar ideias pré-concebidas sobre o papel do cristão no mundo e quebrou barreiras que impediam a manifestação da plenitude do evangelho de Cristo na realidade criada. Certa ocasião, já no fim de sua vida, em Oxford, alguém lhe perguntou, em tom desafiador, se havia alguma relação entre evangelismo e sua palestra intitulada  Rock, Beat e Protesto. Rookmaaker foi direto: “Por que deveríamos passar a vida toda evangelizando? Passei 25 anos da minha vida meditando sobre esse assunto, procurando relacionar princípios bíblicos e arte. Por que você não faz o mesmo em sua área de atividade?”.

Na resposta de Rookmaaker há uma clara noção de que a vida diante de Deus deve ser vivida de forma integral, não só em situações ou atividades religiosas específicas. O espírito intencionalmente polêmico e a valorização do trabalho integral da fé na luta contra as forças desumanas presentes na arte e na cultura de seu tempo são os traços marcantes da vida de Rookmaaker.

Pouco conhecido no Brasil — nenhuma de suas obras foi ainda traduzida para o português* —, Rookmaaker é uma vida a ser explorada e um mestre a ser estudado, mas, acima de tudo, um exemplo a ser seguido. Vivemos numa época em que a comunidade evangélica nacional parece ter perdido o rumo. Para superar essa fase, precisamos buscar fundamentos sólidos nos depósitos de sabedoria cristã. É tempo de parar para “ouvir” e “ler” a vida daqueles que, no passado, percorreram um caminho excelente e deixaram um exemplo aprovado de vida cristã, em vez de sair em busca de inovações e experimentos teológicos que mais confundem do que edificam o Corpo de Cristo.

Nossas doutrinas e nossos princípios de prática cristã, assim como os modelos apresentados como exemplo e inspiração para o número cada vez maior de cristãos evangélicos no Brasil, precisam de reforma.

Assim, abordamos neste capítulo os principais aspectos relacionados à vida, pensamento e obra de Hans Rookmaaker e suas possíveis implicações para o contexto brasileiro. Buscamos uma apropriação crítica de seu trabalho e sinalizamos desafios atuais e contextualizados para a construção de uma ação informada no seio da igreja evangélica brasileira e na vida pessoal de cada cristão.
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*Na época que foi escrito este artigo não havia nenhuma obra dele traduzida para o português. Hoje temos. 

Fonte: L'abrarte

5 de dez. de 2014

Hans Rookmaaker e Francis Schaeffer

Por Laurel Gasque


Faz-se necessária uma leitura europeia e continental de Rookmaaker. Muito do que já foi escrito sobre ele nos oferece apenas uma perspectiva americana de uma pessoa cujo pensamento foi formado fora da cultura americana; e, até certo ponto, fora da cultura ocidental, já que seus anos formativos foram vividos nas Índias Orientais Holandesas.
O fato acima, aliado à tendência de associar Rookmaaker com pensadores teológicos e filosóficos, tem mascarado sua singular voz como crítico e historiador de arte informado pela perspectiva cristã. Incluí-lo em uma perspectiva teológica não é útil ao entendimento de seu pensamento, do diálogo entre arte e fé ou à compreensão do abrangente mundo artístico atual. Rookmaaker precisa ser visto sob uma luz adequada.  Na época em que viveu, ele não estava separado do mundo da arte do qual ele falava como está a maioria daqueles que comentam sobre Rookmaaker nos dias atuais.
Os pensadores calvinistas aos quais ele é associado, como Francis Schaeffer e Calvin Seerveld, têm uma história diferente.  Schaeffer era muito americano, apesar de ter vivido a melhor parte de sua vida adulta na Europa.  Seerveld, apesar de americano, reside no Canadá há décadas.  Providencialmente, a família de Seerveld, composta de imigrantes, lhe deu o dom de falar holandês e se tornar poliglota. Schaeffer era monoglota, apesar de ter vivido na Suíça. Rookmaaker era multilíngue, algo que escapou a seus críticos de língua inglesa, que mal leram suas Obras Completas,traduzidas para o inglês para sua conveniência.
Schaeffer e Rookmaaker se conheceram em 1948 através da noiva de Rookmaaker, Anky Huitker, que organizou o encontro dos dois, quando Schaeffer estava em Amsterdã para ajudar a convocar uma reunião do Conselho Internacional de Igrejas Cristãs (ICCC – the International Council of Christian Churches), uma resposta fundamentalista ao estabelecimento do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Rookmaaker era dez anos mais jovem que Schaeffer, ainda estudante de graduação. Não há dúvida de que esse encontro teve um enorme impacto sobre a vida de ambos. O encontro começou com o que era para ser uma conversa de meia hora de duração cujo objetivo era levar Rookmaaker a aprender mais sobre música negra americana. (É duvidoso que o próprio Schaeffer soubesse algo sobre este assunto!) Sua conversa terminou às 16:00! Para seu crédito, parece que Schaeffer ouviu este jovem e, portanto, recebeu sua primeira lição sobre a história do jazzblues espirituals, e também sobre arte moderna.
Certamente houve uma identificação mútua entre eles, visto que ali começou o que viria a se tornar uma amizade para toda vida; mas não foi uma forma sistemática e simbiótica de pensamento que levou a um projeto intelectual em comum entre os dois homens. Rookmaaker, na verdade, tornou-se tutor de Schaeffer na arte. E, novamente, para crédito de Schaeffer, ele prestou bastante atenção no que lhe foi dito. Mas Schaeffer já havia sido formado tanto pelo fundamentalismo cristão americano de Carl McIntire quanto pela apologética filosófica de Cornelius van Til, seu professor no Westminster Theological Seminary na Philadelphia.
Não resta dúvida de que Rookmaaker apreciava ter um amigo mais velho que lhe abrisse o mundo para os falantes de língua inglesa. Mas ele sempre manteve o seu próprio caráter. O vínculo entre Rookmaaker e Schaeffer era profundo. Entretanto, eles eram muito diferentes um do outro. Amizade sincera não significa necessariamente concordância total, mesmo quando se têm valores e crenças profundos.  Vemos isso, por exemplo, na profunda amizade de C. S. Lewis e Owen Barfield.
Schaeffer era um evangelista americano de formação fundamentalista e que também era um intelectual. Rookmaaker era um intelectual europeu de formação reformada e que também era, de maneira particular, um evangelista. Artistas e estudantes de arte professaram fé em Jesus após muitas de suas palestras. Rookmaaker certamente não estava em busca de recrutar convertidos, mas suas apresentações eram convincentes. Schaeffer e Rookmaaker se completavam de uma forma extraordinária e impactaram para o bem a vida real de muitas.
Intelectualmente, eles devem ser considerados de forma independente um do outro, a fim de apreciar e direção adequada na qual Rookmaaker estava seguindo. Ele não era o racionalista que Schaeffer tendia a ser. Antes de Rookmaaker morrer em 1977, ele levou alguns discípulos de Schaeffer a se preocupar com o rumo de seu pensamento. Ele era embasado e pensava em diversas áreas.  Em sua crítica da modernidade, ele não teve medo de ir aonde muitos críticos da atualidade – associados com o pós-modernismo – só chegaram agora. Ele igualmente defendia a criação artística dos cristãos no mundo contemporâneo, sem qualquer tipo de controle ou restrições no estilo. Para esse fim, ele orientava artistas e cuidava amorosamente de seus alunos de história da arte, mesmo quando eles não entendiam claramente sua formação, direção e missão.
O vínculo pessoal de amizade entre Schaeffer e Rookmaaker deve permanecer intacto, mas as trajetórias intelectuais dos dois homens devem ser separadas para que possamos ter uma ideia mais clara de quem Rookmaaker realmente era e o que ele realmente pensava e realizou.
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Fonte: L'abrart