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10 de fev. de 2015

Uma análise do apostolado bíblico

Por John Stott

Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes, À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. (1 Coríntios 1:1-3)

A carta começa, como era costume então, com a apresentação e a saudação de quem escreve. Paulo se apresenta primeiro a si mesmo como o escritor da carta e logo apresenta e saúda os conríntios, os destinatários da carta. Finalmente, o apóstolo apresenta a sua mensagem, resumindo em seu desejo para os coríntios: graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Em nove das treze introduções das suas cartas, Paulo se apresenta como apóstolo de Cristo pela vontade de Deus ou por mandamento de Deus. Na saudação inicial desta carta, ainda que Paulo inclua Sóstenes na sua saudação à Igreja, só aplica a si mesmo o titulo de "apóstolo de Jesus Cristo", enquanto que a Sóstenes o chama de irmão.


Há muita confusão na igreja atual sobre a palavra "apóstolo". No Novo Testamento este termo é usado em três sentidos. Em somente um versículo se aplica a todos os crentes, em João 13.16, onde Jesus disse que aquele que é enviado não é maior do que aquele que o enviou. A palavra "enviado" é traduzida do grego "apóstolo". Jesus declara que os cristãos estão comprometidos com a missão apostólica. O segundo uso da palavra se aplica aos cristãos como enviados da Igreja. Em 2 Coríntios 8:23 em Filipenses 2:25, Paulo descreve a Epafrodito como seu apóstolo ou enviado. Os "apóstolos da igreja" no Novo Testamento eram o que hoje chamamos de missionários, mensageiros do Evangelho enviados para uma Igreja em particular com uma missão especifica. 

O uso mais frequente do termo "apóstolo" no Novo testamento é o no seu sentido restrito, aplicado aos doze apóstolos de Jesus. A este grupo reduzido se somou o apóstolo Paulo, provavelmente Tiago e talvez mais alguns. Não eram apóstolos da igreja, mas sim apóstolos de Cristo, mensageiros que Ele havia elegido e chamado. Paulo, a exemplo dos doze, recebeu este chamado de Jesus Cristo de forma direta e pessoal. Como eles, também era testemunha da ressurreição. É certo que não havia conhecido Jesus Cristo em sua existência terrena; tão pouco teve o enorme privilégio de passar esses três anos formativos com os discípulos de Jesus. No entanto, o Cristo ressuscitado lhe apareceu pessoalmente; sem essa experiência da ressurreição de Cristo, Paulo não poderia ter sido um apóstolo.

Paulo se refere aos seus antecedentes como apóstolos no capítulo 9 da mesma carta aos Coríntios, e reitera o mesmo conceito no capítulo 15, ao enumerar as aparições de Jesus depois da ressurreição. Em 15:8, disse: "Por último, como a um abortivo, apareceu a mim". Ainda que se trate de uma aparição peculiar de Cristo, posterior a sua ascensão, Paulo reclama a validade desta circunstância para respaldar seu nome na lista dos apóstolos. Podemos dizer com toda firmeza que na atualidade não há na Igreja apóstolos de Jesus Cristo, porque ninguém teve uma aparição do Cristo ressuscitado. Existem lideres, bispos, evangelistas, pioneiros, missionários e plantadores de igrejas aos quais podemos nos referir como ministros apostólicos. É válido dar-lhes o qualificativo "apóstolos" (adjetivo), porém não lhes corresponde o título "apóstolo" (substantivo). Há uma diferença fundamental entre aqueles primeiros apóstolos e qualquer mensageiro do Evangelho que os tem sucedido.

A Igreja primitiva compreendeu muito bem esta diferença. Quando morreu o último apóstolo, a igreja sabia que se iniciava uma etapa nova, a era pós-apostólica. Uma das melhores evidências disto é o testemunho do bispo Ignácio da Síria, a quem os eruditos localizam ao redor de 110 DC, quando já tinham morrido os apóstolos. Ignácio foi condenado à morte por ser cristão e ia a caminho de Roma, fazia seu martírio. Durante a travessia, escreveu uma série de cartas às Igrejas, algumas das quais chegaram até nós. Nelas Ignácio repete com frequência este conceito: "Não lhes dou ordem ou mandamento como fizeram Pedro e Paulo, porque eu não sou apóstolo para condenar aos homens". Ainda que fosse bispo, Ignácio enfatizava que não era apóstolo nem tinha a mesma autoridade que eles. É de se esperar que nós entendamos este conceito com a mesma clareza.

Se houvesse hoje pessoas com a mesma autoridade que aqueles primeiros apóstolos, deveriam agregar seus ensinamentos ao Novo Testamento e toda a Igreja estaria comprometida em aceitá-los e obedecê-los. Porém ninguém tem a autoridade comparável à dos doze e Paulo. Devemos distinguir entre os apóstolos da igreja, os quais existem muitos ao redor do mundo hoje, e aqueles apóstolos de Cristo. 

5 de dez. de 2014

A Busca da Santidade

Por John Stott

Muitos dos segredos da santidade nos são revelados nas páginas da Bíblia. De fato, um dos objetivos principais da Escritura é mostrar ao povo de Deus como levar uma vida que lhe seja digna e que lhe agrade. Porém um dos aspectos mais negligenciados na busca da santidade é a parte que compete à mente, conquanto o próprio Jesus tenha posto o assunto fora de qualquer dúvida quando prometeu: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. É mediante a sua verdade que Cristo nos liberta da escravidão do pecado. De que forma? Onde se encontra o poder libertador da verdade?

Para começarmos, precisamos ter um quadro bem claro do tipo de pessoa que Deus pretende que sejamos. Temos de conhecer a lei moral de Deus e os mandamentos. Como o expressou John Owen: “o bem que a mente não é capaz de descobrir, a vontade não pode escolher, nem as afeições podem se apegar”.. Portanto, “na Escritura o engano da mente comumente se apresenta como o princípio de todo pecado”.

O melhor exemplo disso pode-se encontrar na vida terrena do nosso Salvador. Por três vezes o diabo aproximou-se dele e o tentou no deserto da Judéia. Nas três vezes Ele reconheceu ser má a sugestão que lhe fizera Satanás e contrária à vontade de Deus. Três vezes Ele se opôs à tentação com a palavra gegraptai: “está escrito”. Jesus não deu margem a qualquer discussão ou argumentação. A questão já estava decidida, logo de partida, em sua mente. Pois a Escritura estabelecera o que é certo. Este claro conhecimento bíblico da vontade de Deus é o segredo básico de uma vida reta.

Não basta sabermos o que deveríamos ser, entretanto. Temos de ir mais além, resolvendo, em nossas mentes, a alcançá-la. A batalha é quase sempre ganha na mente. É pela renovação de nossa mente que nosso caráter e comportamento se transformam. Assim é que, seguidamente, a Escritura nos exorta a uma disciplina mental nesse sentido. “Tudo o que é verdadeiro”, diz ela, “tudo o que respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”.

De novo: Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

De novo ainda: “Os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz”.

O autocontrole é, antes de tudo, o controle da mente. O que semeamos em nossas mentes, colhemos em nossas ações. “Ler É Viver” foi o lema de uma recente campanha publicitária. É um testemunho do fato de que a vida não consiste apenas em trabalhar, comer, dormir. A mente tem de ser também alimentada. E o tipo de comida que nossas mentes receberem determinará que tipo de pessoa seremos. Mentes sadias têm um apetite sadio. Temos de satisfazê-las com alimento saudável, e não com drogas e venenos intelectuais perigosos.

Há, entretanto, uma outra espécie de disciplina mental a que somos convocados no Novo Testamento. Temos que considerar não somente o que deveríamos ser, mas também o que, pela graça de Deus, já somos. Devemos constantemente nos lembrar do que Deus já fez por nós, e dizer a nós mesmos: “Deus uniu-me com Cristo em sua morte e ressurreição, e assim acabou com a minha velha vida e me deu uma vida completamente nova em Cristo. Adotou-me em sua família e me fez seu filho. Pôs em mim seu Espírito Santo, fazendo de meu corpo seu templo. Também tornou-se seu herdeiro e prometeu-me um destino eterno, consigo, no céu. Isto é o que Ele fez para mim e em mim. Isto é o que sou em Cristo”.

Paulo não se cansa de nos incitar a que deixemos nossas mentes pensar nessas coisas. “Quero que saibais”, ele escreve. “Porque não quero, irmãos, que ignoreis...”E cerca de dez vezes em suas cartas aos Romanos e Coríntios ele profere esta pergunta incrédula: “Não sabeis...” “Não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus , fomos batizados na sua morte?” Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos...? “Não sabeis que sois santuários de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?

A intenção do apóstolo nesta enxurrada de perguntas não é apenas fazer-nos sentir envergonhados por nossa ignorância. É antes fazer com que nos dizem respeito, as quais de fato nos são bem conhecidas; e que falemos entre nós sobre elas até o ponto em que se apoderem de nossas mentes e moldem o nosso caráter. Não se trata do otimismo de autoconfiança de Norman Vicent Peale, cujo método procura conseguir que façamos de conta que somos algo que não somos. O método de Paulo é nos lembrar do que realmente somos, porque assim nos fez Deus em Cristo.


Fonte: Crer é também pensar, John Stott. (via monergismo.com)