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12 de mai. de 2015

Pregando Cristo e proclamando Sua Graça a partir de Sofonias

Por Morgana Mendonça dos Santos

O livro de Sofonias é pouco ensinado em nossos púlpitos, com três capítulos apenas, a ênfase é no Juízo Divino sobre a humanidade (1.2-3)  e sobre o Seu próprio povo (1.4-6). Esse dia está próximo (1.7,14) e o profeta oferece detalhes na descrição (1.15). Sofonias aponta outras peculiaridades diante dos 16 livros proféticos a começar por sua genealogia. 

"Palavra do Senhor que veio a Sofonias, filho de Cuchi, neto de Gedalias, bisneto de Amarias e trineto de Ezequias, durante o reinado de Josias, filho de Amom, rei de Judá:" Sofonias‬ ‭1‬:‭1‬

17 de abr. de 2015

O Contraste entre Deus e o Homem

Por Luciana Barbosa

"No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça. Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Então um dos serafins voou até mim trazendo uma brasa viva, que havia tirado do altar com uma tenaz.Com ela tocou a minha boca e disse: Veja, isto tocou os seus lábios; por isso, a sua culpa será removida, e o seu pecado será perdoado. Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: Quem enviarei? Quem irá por nós? E eu respondi: "Eis-me aqui. Envia-me!"

Is.6:1-8

Estudando essa passagem de Isaías, extraí duas lições importantíssimas para nós cristãos genuínos, e que serve também para aqueles que ainda não tem a verdadeira compreensão da doutrina da antropologia (doutrina do homem). Algo que ultimamente tem me incomodado ao conversar com crentes e que também escuto dentro da igreja, é um ensino antibíblico, onde o homem acha-se a última bolacha do pacote, colocando-se no lugar de Deus, ou seja, invertendo os padrões bíblicos, colocando Deus na posição de servo e o homem de Senhor. Dividiremos esse trecho de Isaías em duas partes: O conhecimento de Deus (versículos de 1-4) e o de nós mesmos (versículos de 5-8). 

29 de nov. de 2014

O Prazer do Bem-Aventurado

Por Fred Lins 


Tenho refletido detidamente e me debruçado sobre o Salmo 1. Claro que não apenas o ele, mas todo o livro de Salmos e o seu uso no culto judaico. Desta feita, quero me dedicar e dividir com cada um dos leitores as profundas lições obtidas deste texto. Não espere nada novo, nada que talvez nunca tenha percebido, nada que te chame atenção a ponto de saltar os olhos da nossa Teologia, no entanto a perspectiva pela qual se olha este texto e a lente obtusa da nossa própria existência nos faça ofuscar as verdades Espirituais contidas neste maravilhoso e profundo texto. 

O Salmo 1 ao contrário do que muitos dizem não foi composto por Davi e nem há traços semânticos, nem presença textual que confirme tal autoria. Mas Talvez atribuímos ao mesmo, por apresentar características presentes nesse admirável personagem Bíblico. Há no “varão bem-aventurado” um alto nível de piedade, de satisfação, de dedicação, de firmeza, como há algum tempo não vejo no nosso atual contexto eclesial. Outra característica presente no livro de Salmos - e está presente no texto em apreço - é a presença de paralelismos, sejam eles: antitéticos, sinonímicos, emblemáticos... Por certo é algo que torna peculiar e de singular sentido neste maravilhoso livro.

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
(Sl 1.1)

O caminho do varão infeliz (contrário de bem-aventurado) é trilhado por uma progressão de escolhas que inicia-se a partir do conselho. Obviamente, não é qualquer conselho, mas o conselho do impiedoso, do incircunciso, daqueles que nada tem haver com Deus. O conselheiro leva tal infeliz a imitar (termo usado pela versão NVI, substituindo detém) uma conduta e como já disse, progressivamente, o leva a compactuar com as ideias agora compartilhadas. Quem nunca vivenciou tal realidade, nunca percebeu irmãos na caminhada sendo seduzidos por conselhos e por práticas pecaminosas que nos levam de maneira progressiva a conviver com o pecado. Outra faceta desse mau conselho é reconhecer que apesar de estarmos dentro de uma comunidade cristã, somos por vezes surpreendidos com “crentes” que possuem um conselho impiedoso. Senhor, ajude-nos a enxergar em Ti e naqueles que te servem o conselho que necessitamos.

Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
(Sl 1.2)

Não há como negar que a progressão da prática pecaminosa desenvolve uma certa sensação de prazer (falsa). Não é a toa que o versículo 2 inicia exatamente com esta expressão: “sua satisfação” (seu prazer), justamente indicando que o prazer do bem-aventurado está no Senhor, nas Sua Palavra e na meditação diária da mesma. Alguns comentários afirmam que uso da expressão “meditação de dia e noite” possivelmente revela uma prática comum entre os judeus, o uso dos filactérios (tefilins). Os filactérios eram pequenas caixas que possuíam correias na sua extremidade e poderiam ser atadas na mão esquerda ou na testa. Nestas pequenas caixinhas haviam um conjunto de quatro textos que enfatizavam o cuidado na preservação da Lei do Senhor e de seus decretos (Ex. 13.1-10, Ex 13.11-16, Dt 6.4-9, Dt 11.13-21). Este cuidado deu origem a Shemá: no qual se diz שמע ישראל י-ה-ו-ה אלוהינו י-ה-ו-ה אחד (Shemá Yisrael Ado-nai Elohêinu Ado-nai Echad - Escuta ó Israel, Ado-nai nosso Deus é Um (Dt 6.4-9). O cuidado na manutenção da Lei do Senhor no coração e na mente dos judeus era o zelo do próprio Deus com o Seu povo. Que hoje também tenhamos jovens, homens e mulheres zelosos pela palavra de Deus e com ávido desejo de meditação diária.

Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.

Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. 
(Sl 1.3-4)

Esses dois textos estão relacionados entre si. Obviamente que uma árvore plantada em um terreno regado por águas dará certamente seu fruto e as suas folhagens são conservadas (não murcham). Enquanto que os ímpios são como grãos soltos e sem sustento e fundamento. De um lado encontramos firmeza, força e certeza do futuro. Do outro encontramos incerteza, fraqueza e inexistência de futuro. Que a Graça de Deus nos ofereça segurança, certeza, firmeza, profundidade e certeza na Esperança futura.

Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.
(Sl 1.5-6)

Estes dois versículos tanto podem ter o significado de merecimento e recompensa tanto para o justo (bem-aventurado) quanto para o ímpio, como uma dimensão escatológica. Seremos por Deus julgados e por Deus absolvidos ou condenados. Por fim, o justo vive sobre uma condição de prosperidade (plenitude e completude em Deus). De fato somente em Deus é possível ter certeza de toda a recompensa que os justos, segundo Ele, podem receber. Que esta certeza esteja presente em nosso coração e nos encha a mente de toda a sua justiça.

28 de nov. de 2014

Deus Exige Fidelidade à Sua Palavra

Por Luciana Barbosa

“Agora, ó sacerdotes, este mandamento e para vós. Se não ouvirdes, e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome, diz o Senhor dos exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o vosso coração. Eis que vos reprovarei a posteridade, e espalharei sobre os vossos rostos o esterco, sim, o esterco dos vossos sacrifícios; e juntamente com este sereis levados para fora. Então sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que o meu pacto fosse com Levi, diz o Senhor dos exércitos. Meu pacto com ele foi de vida e de paz; e eu lhas dei para que me temesse; e ele me temeu, e assombrou-se por causa do meu nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e a impiedade não se achou nos seus lábios; ele andou comigo em paz e em retidão, e da iniquidade apartou a muitos. Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes o pacto de Levi, diz o Senhor dos exércitos. Por isso também eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na lei.” Malaquias 2:1-9

Introdução

No livro de Malaquias aprendemos sobre o culto a Deus e seu relacionamento com seu povo, em um momento de crise espiritual na vida do povo de Israel. E é com o profeta Malaquias que nós aprendemos o amor e o zelo de Deus por seu povo eleito e pelo culto que Ele estabeleceu para sua própria glória. O Teólogo Van Groningem nos diz que o principal tema do livro de Malaquias é o Amor Pactual de Yahweh por seu povo, isto é, o povo da aliança.

No capitulo 1 nós vemos um primeiro diálogo entre Yahweh e seu povo, onde o Senhor diz: "Eu sempre os amei", diz o Senhor. "Mas vocês perguntam: ‘De que maneira nos amaste? ’ "Não era Esaú irmão de Jacó? " declara o Senhor. "Todavia eu amei Jacó, mas rejeitei Esaú.Ml. 1:2,3

O Senhor declara seu amor a seu povo e este mesmo povo cinicamente pergunta: “Em que nos tens amado?” E o Senhor claramente mostra seu amor na sua soberana eleição. Já no capitulo 2, versículos de 1 à 9, vamos observar um segundo diálogo, agora sua fala é para os sacerdotes que estavam profanando o culto ao Senhor. Diante de tudo isso que fora dito acima, entraremos no capitulo 2:1-9, que dividirei em três tópicos:

Contexto

A fala de Yahweh nesse segundo momento é para os sacerdotes, pois, estes estavam profanando o culto do Senhor, isto é, cumprindo suas tarefas de modo relaxado. Os sacerdotes tinham pelo menos três tarefas ou ofícios, que eram:

1) oferecer o sacrifício do povo de acordo com a lei de Moisés que dizia que os sacerdotes deveriam separar os animais puros dos impuros e oferecer no altar apenas as entranhas.

2) guardar o templo e zelar por ele.

3) instruir o povo na Lei de Deus e liderá-lo no louvor a ele.

E isso não estava sendo cumprido pelos sacerdotes, e uma coisa é verdade, quando os sacerdotes eram infiéis, o culto a Deus se corrompia e o povo se desviava dos caminhos de Deus.

I. Deus chama os sacerdotes ao arrependimento (v. 1-3)

Os sacerdotes cumpriam muito dos rituais exigidos na lei, entretanto, o propósito não era a honra nem a glória de Deus e, por isso, Deus iria enviar sobre eles a maldição (Dt.28.20). E no versículo 3 vemos a intensidade do que seria o castigo que haveria de vir ao usar a expressão: “atirei excremento ao vosso rosto”, ou melhor dizendo “esfregarei esterco na sua cara”.

Ah! Irmãos como Deus zela pela Seu culto e palavra.

II. Deus relembra a aliança que tinha firmado com Levi e os sacerdotes (v.4-7)

Deus faz questão de lembrá-los da Sua aliança feita com Levi, onde a alusão aqui é o concerto feito com Finéias (Nm.25.10-13). Os levitas vinham da linhagem de Arão e por serem sacerdotes sabiam que a violação da lei de Deus acarretaria em maldição. Deus deixa claro que estes seriam amaldiçoados. Isso serviria para que temessem a Deus. Vemos também que Deus faz questão de dizer que os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, pois, os levitas eram responsáveis por ensinar a lei de Moisés, ou seja, a verdadeira instrução ao povo. Eles que guiavam o povo para junto de Deus e se estes falhavam, logo, o povo falhavam.

III. Denuncia os pecados dos sacerdotes e anuncia os castigos (v. 8,9)

Deus termina essa seção denunciando os pecados dos sacerdotes e anunciando o castigo, que além de não estarem cumprindo suas funções, traíam seu chamado de ensinar a palavra de Deus.

Conclusão

I. Devemos aprender que Deus ama Seu povo eleito mas, antes de os amar Ele zela por seu culto. Não devemos pensar que o culto é para o homem, antes é exclusivamente para Deus.

II. Devemos aprender que uma das principais funções do ministério sacerdotal no culto é a instrução da palavra. A mensagem é primordial, não secundária.


III. Devemos aprender que a responsabilidade do povo é não aceitar um culto corrompido, onde a palavra de Deus é negligenciada e pregada com falta de zelo e fidelidade.

26 de nov. de 2014

A glória da segunda casa: Uma interpretação cristológica

 
Por Alan Rennê Alexandrino Lima

“A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ageu 2.9).

É com frequência que igrejas locais mudam de endereço, a fim de proporcionar melhorias aos seus membros, bem como em busca de maiores espaços, a fim de acomodar um maior número de pessoas. É frequente, também, que para promover esta busca e conferir uma grande importância a um espaço cúltico maior, muitos acabam usando a passagem de Ageu 2.9. A lógica é a seguinte: O primeiro “templo” comportava apenas 150 pessoas. Já este segundo possui a capacidade para 500 pessoas. Com isso, de acordo com eles, cumpre-se a Palavra do Senhor em Ageu, pois a glória da “segunda casa” é maior que a da primeira.

Meu propósito neste breve comentário é analisar a passagem citada em seu contexto, a fim de obter uma conclusão a respeito da maneira como a mesma é aplicada por aqueles que entendem que ela diz respeito a locais de culto cada vez maiores.

O Livro de Ageu

Ageu é conhecido como um dos profetas da restauração, o que significa que sua atuação profética se deu quando os judeus já haviam retornado à Terra Prometida. O livro tem início com a contextualização histórica: “No segundo ano do rei Dario” (1.1), ou seja, por volta de 520 a.C. Juntamente com Zacarias, Ageu profetizou durante o reinício da reconstrução do Templo, exatamente no ano 520 a.C. De acordo com O. Palmer Robertson, Ageu foi “a primeira voz profética a falar desde o tempo da restauração da nação”.[1]

O primeiro tema a receber destaque na profecia de Ageu é o da reconstrução da “Casa do SENHOR”:

Assim fala o SENHOR dos Exércitos: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do SENHOR deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso, é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas? Ora, pois, assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai o vosso passado. Tendes semeado muito e recolhido pouco; comei, mas não chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vesti-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado.
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai o vosso passado. Subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; dela me agradarei e serei glorificado, diz o SENHOR. Esperastes o muito, e eis que veio a ser pouco, e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu com um assopro o dissipei. Por quê? – diz o SENHOR dos Exércitos; por causa da minha casa, que permanece em ruínas, ao passo que cada um de vós corre por causa da sua própria casa (Ageu 1.2-10).

O povo de Israel estava sendo negligente em reconstruir o Templo, o lugar da habitação de Deus no meio do seu povo. A ordem de Deus era no sentido de que o povo abandonasse seu egoísmo e passasse a se preocupar com a casa do Senhor. A ideia passada pelo povo com a sua atitude era a de que Deus era irrelevante. Eles não sentiam falta do Templo, do lugar onde o Senhor era adorado, onde o sacrifício tipológico era realizado e o perdão anunciado.

A “Segunda Casa” Comparada com a Primeira

A partir do versículo 12 vê-se que o povo atendeu à ordem do Senhor por intermédio do profeta Ageu: “Então, Zorobabel, filho de Salatiel, e Josué, filho de Jozadaque, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo atenderam à voz do SENHOR, seu Deus, e às palavras do profeta Ageu, as quais o SENHOR, seu Deus, o tinha mandado dizer; e o povo temeu diante do SENHOR”. A profecia inicial de Ageu se deu no primeiro dia do sexto mês (1.1), ao passo que a reconstrução do templo teve início no “vigésimo quarto dia do sexto mês” (1.15).

Cerca de um mês após o início da reconstrução (2.1), os anciãos que ainda tinham em sua lembrança o esplendor do templo construído por Salomão, ao verem as construções do segundo templo lamentavam a sua inferioridade estética em relação ao primeiro. Por isso, o Senhor Deus perguntou por intermédio do profeta Ageu: “Quem dentre vós, que tenha sobrevivido, contemplou esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é ela como nada aos vossos olhos?” (2.3). “Comparado com o anterior, o templo que eles estão construindo terá pouco da primitiva grandeza e beleza. Parecer-lhes-á como nada”.[2] A comparação é feita entre a “glória” do primeiro templo e a aparente ausência de “glória” do segundo.

É importante recordar que o termo hebraico kabôd, traduzido como “glória” é usado em outros profetas com uma conotação diferente desta. Ezequiel, por exemplo, fala da kabôd para se referir à presença do Senhor no templo: “Como o aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de chuva, assim era o resplendor em redor. Esta era a aparência da glória do SENHOR; vendo isto, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de quem falava” (1.28). No capítulo 10, Ezequiel vê a kabôd do Senhor abandonando o templo, simbolizando que Deus não mais habitaria ali, não mais estaria presente de um modo especial e pactual: “Então, se levantou a glória do SENHOR de sobre o querubim, indo para a entrada da casa; a casa encheu-se da nuvem, e o átrio, da resplandecência da glória do SENHOR [...] Então, saiu a glória do SENHOR da entrada da casa e parou sobre os querubins” (vv. 4,18). Entretanto, Ageu “não aponta inicialmente para essa glória da presença de Yahweh. Antes, ele refere-se à beleza do templo de Salomão”.[3]

Já no versículo 7, o termo kabôd possui a mesma conotação da profecia de Ezequiel. A referência é à presença do Senhor no seu templo. Enquanto os anciãos se lembravam da beleza e esplendor do templo de Salomão, Deus promete que o segundo templo, menor em tamanho e riquezas, possuirá uma glória plena, pois, diz o Senhor “encherei de glória esta casa”. O Senhor estava ensinando ao seu povo que, “a glória do templo não dependeria de sua forma exterior. Ao contrário, a glória é vista na própria presença de Yahweh”.[4] A mensagem para aqueles que se encontravam chorosos e àqueles que concentram sua atenção na estrutura física do edifício cúltico, é que a beleza e o tamanho não influenciam ou diminuem a glória do local, mas sim a presença de Deus com o seu povo.

A Glória da Segunda Casa e Jesus Cristo

Deus prometeu que a sua presença encheria aquela casa de glória: “Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar e a terra seca; farei abalar todas as nações, e as coisas preciosas de todas as nações virão, e encherei de glória esta casa, diz o SENHOR dos Exércitos” (2.6-7). A grande questão é se a manifestação plena da glória de Deus estaria limitada àquele segundo templo que estava sendo construído na ocasião, ou se ela aponta apara algo além daquela edificação. A linguagem do profeta lembra o que aconteceu quando Davi se tornou rei de Israel. Várias nações reconheceram o seu reinado e enviaram presentes, coisas preciosas (2Samuel 5.11). O mesmo aconteceu com Salomão, filho de Davi (1Reis 5.8-10; 10.1-10). Não obstante, a referência é que as nações virão agora para contemplar a glória da casa do Senhor. Deus está falando de Cristo, que tanto era filho de Davi (Mateus 1.1) como a habitação permanente de Deus entre o seu povo (João 1.14). O. Palmer Robertson faz um comentário perspicaz a este respeito:

Este segundo abalo põe em destaque um único descendente de Davi, que possuirá poderes para agir com autoridade divina sobre todas as nações. Assim como o templo de Deus e o trono de Davi se fundiram no Monte Sião com a vinda da Arca para Jerusalém, assim também o profeta antecipa uma futura unificação gloriosa do culto divino e do domínio através de um monarca Davídico restaurado.[5]

A interpretação de Calvino também leva em conta o elemento messiânico da profecia:

Mas nós podemos entender o que ele diz de Cristo, virá o desejo de todas as nações, e eu encherei esta casa com glória. De fato, sabemos que Cristo era a expectativa de todo o mundo, de acordo com o que foi dito por Isaías. E pode ser dito apropriadamente que, quando o desejo de todas as nações vier, isto é, quando Cristo se manifestar, em quem os desejos de todos convergem, então, a glória do segundo templo será esplendorosa.[6]

Por esta razão é que o Senhor declara, no versículo 9: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira”. A glória do segundo templo não possui nenhuma relação com o seu espaço físico ou com seus objetos de valor. A glória do segundo templo está direta e inextricavelmente relacionada com a vinda de Jesus Cristo. Por se tratar de um templo mais próximo da vinda do Messias do que o que fora construído por Salomão, o segundo seria mais glorioso. Diz o puritano Matthew Poole que, “o que Deus chama de glória deve ser bem melhor do que prata e ouro. Maior que a da primeira, verdadeiramente mais gloriosa, em muitos graus. O mínimo de Cristo tem glória maior que toda a magnificência de Salomão. Não existiram mais que duas casas erigidas por designação divina, e, na segunda, adentrou pessoalmente o Messias”.[7] Calvino afirma ainda que, não devemos imaginar, como alguns intérpretes “brutos”, que a glória futura do segundo templo dizia respeito às reformas empreendidas por Herodes, visando restaurar a suntuosidade do templo. Antes, de acordo com ele, “o que é dito aqui a respeito da glória futura do templo é aplicado à excelência daquelas bênçãos espirituais que apareceram quando Cristo foi revelado, e ainda continuam visíveis para nós através da fé”.[8]

A conexão entre a glória do segundo templo e Jesus fica mais evidente com a continuação do versículo 9: “e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos”. No Antigo Testamento a promessa de paz sempre estava ligada à vinda do Messias: “O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo” (Salmo 29.11). O conceito veterotestamentário de paz carrega “a noção positiva de bênçãos, especialmente a de um correto relacionamento com Deus”.[9] Isso fica evidente na bênção araônica, em Números 6.24-26: “O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz”.

Além disso, as passagens proféticas do Antigo Testamento olham adiante para um período de paz que seria inaugurado pela vinda do Messias: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9.6); “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta. Destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às proximidades da terra” (Zacarias 9.9-10). O profeta Ezequiel anunciou que através do Messias, Deus faria uma eterna aliança de paz com o seu povo: “Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua. Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles, para sempre” (37.26). Interessantemente, a ideia de um santuário, um templo ligado ao estabelecimento da paz também aparece na passagem de Ezequiel.

Isto posto, quando os discípulos estavam reunidos com Jesus no cenáculo, ouviram o seu Mestre dizer: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” (João 14.27). Com toda certeza eles rememoraram as promessas escriturísticas a respeito do estabelecimento da paz pelo Messias, aquele que era o tabernáculo de Deus entre os homens.

É importante observar ainda que, Apocalipse 21.22 faz uma afirmação extraordinária a respeito da Nova Jerusalém: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro”. G. K. Beale e Sean M. McDonough afirmam que, “João provavelmente entendeu estas profecias do Antigo Testamento como sendo cumpridas no futuro por Deus e Cristo substituindo o primeiro templo físico e a arca por sua gloriosa habitação, o que tornará a glória do primeiro templo diminuta”.[10]

Conclusão

A glória do segundo templo não dizia respeito ao seu tamanho nem ao esplendor do material usado na sua construção – até porque, em comparação com o primeiro templo, o segundo foi capaz de despertar o choro dos anciãos que viram o que fora construído por Salomão. A glória da segunda casa estava ligada à vinda do Messias, de Jesus Cristo, o verdadeiro templo de Deus, o Emanuel, o Deus conosco.

Usar a passagem de Ageu 2.9 para recomendar um enorme espaço cúltico, com capacidade para abrigar milhares de pessoas é cometer duplo erro. Em primeiro lugar, comete-se o erro de torcer o sentido da passagem de acordo com o contexto do livro do profeta Ageu. A segunda casa cuja glória seria maior era pequena e destituída de ornamentos em comparação com a primeira. Mas muitos usam a passagem para falar de uma segunda casa maior que a que usavam até então. Em segundo lugar, comete-se o erro de desconsiderar Jesus Cristo, de se apegar às sombras do Antigo Testamento em detrimento daquele que dá sentido a todo ajuntamento solene e que enche de glória todo e qualquer lugar onde o povo de Deus está reunido para adorá-lo em espírito e em verdade.

Soli Deo Gloria!
__________
Notas:
[1] O. Palmer Robertson. The Christ of the Prophets. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2004. p. 368.
[2] Gerard van Groningen. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 813.
[3] Ibid.
[4] Ibid. pp. 817-818.
[5] O. Palmer Robertson. The Christ of the Prophets. p. 383.
[6] John Calvin. The Minor Prophets: Habakkuk, Zephaniah & Haggai. Vol. 4. Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1986. p. 360.
[7] Matthew Poole. A Commentary On The Holy Bible: Psalms-Malachiah. Vol. 2. Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2010. p. 987.
[8] John Calvin. The Minor Prophets: Habakkuk, Zephaniah & Haggai. Vol. 4. p. 361.
[9] Andreas J. Köstenberger. “John”. In: G. K. Beale e D. A. Carson (Eds.). Commentary On The New Testament Use of The Old Testament. Grand Rapids, MI: Baker Academic e Apollos, 2007. p. 490.
[10] G. K. Beale e Sean M. McDonough. “Revelation. In: Ibid. p. 1153.

7 de out. de 2014

O Precioso Salmo 119


Por Morgana Mendonça dos Santos


Fico a meditar em que situação, com que sentimentos, por quais motivos o autor desse salmo entrega-se em oração ao Senhor. Um resumo ou uma compilação não seria tão simples, um exame minucioso dessa pérola nos faria refletir melhor sobre as emoções e sentimentos inspirados que nos trouxe a essa revelação tão sublime sobre o Ser de Deus e Sua Palavra. Questiono a falta de pessoas com um coração tão obstinado em desejar obedecer a Deus, em amar a Sua lei, em mergulhar no Seu conhecimento, em envolver-se tão inteiramente nos Seus mandamentos.


Um salmo, que em 176 versos, é repetido diversas vezes as palavras: lei, obedecer, mandamentos, meditar, ensinar, estatutos, decretos, promessas. O seu clamor para aprender seus mandamentos e por eles viver é uma verdadeira súplica pelo conhecimento divino. A sua exortação para que possamos viver uma vida piedosa e santa, a indicação de uma vida devota aos estudos da lei, a maneira como devemos cultuar ao Senhor, a incansável petição para viver em obediência aos seus mandamentos. Chamado por alguns do salmo octonário, porque, em cada oito versículos sucessivos, as palavras iniciais de cada linha começa com a mesma letra, na ordem do alfabeto hebraico. Um poema em acróstico com 22 estrofes, um cântico mencionando a cada verso os atributos da palavra de Deus.

De forma repetitiva e bem peculiar, o autor desse salmo introduz sistematicamente de forma inspirada a doutrina revelada por Deus, a estrutura do salmo revela a possibilidade de ensino sobre cada doutrina que é apresentada em cada estrofe. O maior capítulo da Bíblia concentra-se em fazer uma bela apologia sobre a Palavra de Deus. Abraçar o salmo 119, faz arder o coração numa devoção cristã autêntica, uma verdadeira exposição de como orar, glorificar e agradecer a esse Deus tríuno.

Salmos 119.1 "Bem-aventurados os que trilham com integridade o seu caminho, os que andam na lei do Senhor!"

Do início ao fim, o salmista não se desvia do seu objetivo de vida, isto é, viver em obediência ao Senhor.

Salmos 119.176 "Desgarrei-me como ovelha perdida; busca o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos."

Uma pérola, que precisa ser escavacada, quanto mais meditado mais encontrado seu profundo tesouro, suas características diversas, onde encontramos exortação, gratidão, exaltação ao único que é digno e devoção cristã. As Escrituras Sagradas, nossa biblioteca inspirada, inerrante e infalível, deve nos levar a uma vida cativa em obediência. O salmista nos adverte a obediência: Salmos 119.30 "Escolhi o caminho da fidelidade; diante de mim pus as tuas ordenanças". O salmista clama por sabedoria e conhecimento: Salmos 119.33-34 "Ensina-me, ó Senhor, o caminho dos teus estatutos, e eu o guardarei até o fim. Dá-me entendimento, para que eu guarde a tua lei, e a observe de todo o meu coração".

Durante séculos, o livro de salmos foi modelo de oração, cânticos e petições ao Senhor, nosso Deus. O salmo 119 exemplifica as várias atitudes do salmista em render-se ao senhorio divino: Salmos 119.58; 62; 132; 137; 142; 145; 146 "De todo o meu coração imploro o teu favor; tem piedade de mim, segundo a tua palavra. A meia-noite me levanto para dar-te graças, por causa dos teus retos juízos. Volta-te para mim, e compadece-te de mim, conforme usas para com os que amam o teu nome. Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos. A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a verdade. Clamo de todo o meu coração; atende-me, Senhor! Eu guardarei os teus estatutos. A ti clamo; salva-me, para que guarde os teus testemunhos".

O entendimento do Sola Scriptura e Tota Scriptura permeia esse salmo, o salmista descreve quão valioso é os Seus estatutos, testemunhos, mandamentos, ordenanças, lei, promessas. Discorre em amor e zelo pela verdade, em cada verso expõe a sede por viver uma vida cativa a palavra de Deus. Salmos 119.174 "Anelo por tua salvação, ó Senhor; a tua lei é o meu prazer". Salmos 119.167 "A minha alma observa os teus testemunhos; amo-os extremamente".

Salmos 119.97; 111; 113; 127; 139; 140; 159; 163 "Oh! quanto amo a tua lei! ela é a minha meditação o dia todo. Os teus testemunhos são a minha herança para sempre, pois são eles o gozo do meu coração. Aborreço a duplicidade, mas amo a tua lei. Pelo que amo os teus mandamentos mais do que o ouro, sim, mais do que o ouro fino. O meu zelo me consome, porque os meus inimigos se esquecem da tua palavra. A tua palavra é fiel a toda prova, por isso o teu servo a ama. Considera como amo os teus preceitos; vivifica-me, Senhor, segundo a tua benignidade. Odeio e abomino a falsidade; amo, porém, a tua lei".

O que questiono e ao mesmo tempo reflito, acerca do livro dos Salmos é sobre como vivemos distantes dessa essência voltada a devoção que ardia o coração do salmista de tanto fervor e amor pelas Escrituras Sagradas. Algumas palavras de Lutero [1] sobre o livro dos Salmos: “não coloca diante de nós somente a palavra dos santos, (...) mas também nos desvenda o seu coração e o tesouro íntimo de suas almas”, onde aprendemos a “falar com seriedade em meio a todos os tipos de vendavais”, e que o saltério “faz promessa tão clara acerca da morte e ressurreição de Cristo e prefigura o seu Reino, condição e essência de toda a cristandade – e isso de tal modo que bem poderia ser chamado de uma ‘pequena Bíblia’”. Ele também afirmou: “É muito benéfico ter palavras prescritas pelo Espírito Santo, que homens piedosos podem usar em suas aflições”. Em seu leito de morte, ele recitava continuamente: “Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade” (Sl 31.5).

João Calvino [2], que comentou todo o livro de Salmos, escreveu: "Tenho por costume denominar este livro – e creio não de forma incorreta – de ‘Uma anatomia de todas as partes da alma’, pois não há sequer uma emoção da qual alguém porventura tenha participado que não esteja aí representada como num espelho. Ou melhor, o Espírito Santo, aqui, extirpa da vida todas as tristezas, as dores, os temores, as dúvidas, as expectativas, as preocupações, as perplexidades, enfim, todas as emoções perturbadas com que a mente humana se agita. (...) A genuína e fervorosa oração provém, antes de tudo, de um real senso de nossa necessidade, e, em seguida, da fé nas promessas de Deus. É através de uma atenta leitura dessas composições inspiradas que os homens serão mais eficazmente despertados para a consciência de suas enfermidades, e, ao mesmo tempo, instruídos a buscar o antídoto para sua cura. Numa palavra, tudo quanto nos serve de encorajamento, ao nos pormos a buscar a Deus em oração, nos é ensinado neste livro".

Mesmo que de forma generalizada, esse dois reformadores, comentou a respeito do saltério, portanto, de forma simples e direta, convido meu caro leitor a meditação e exame desse salmo, que Deus em Sua eficácia e poder nos ajude, nos ensine a guardar os Seus mandamentos! Se nunca leu o salmo 119, deleite-se na palavra de Deus com o mesmo fervor que o salmista assim o faz.

A Deus toda Glória, Rm 11.36.
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[1] “Prefácio ao Livro dos Salmos 1545”, “Sumários sobre os Salmos e razões da tradução”, “Trabalhos do Frei Martinho Lutero nos Salmos apresentados aos estudantes de teologia de Wittenberg” e “Os sete Salmos de Penitência”, Martinho Lutero – Obras selecionadas, v. 8: interpretação bíblica, princípios (São Leopoldo: Sinodal & Porto Alegre: Concórdia, 2003), p. 33-37, 224-233, 331-492, 493-548.
[2] João Calvino, O livro dos Salmos, v. 1 (São José dos Campos: Fiel, 2009), p. 26-27.