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3 de set. de 2015

O Calvinismo e o Conceito de Cultura - Uma antítese ao marxismo cultural

Por Thomas Magnum[i]

"Nossas críticas à cultura não terão poder de persuasão a menos que estejam baseadas em algo que possamos endossar nas crenças e nos valores dessa cultura".

Timothy Keller


Cultura é uma palavra bem gasta e com muitas conotações e nuances em cada contexto que é aplicada.  Vemos um florescer benéfico do interesse de muitos cristãos brasileiros pela cultura, e como a igreja pode engajar-se nela, como entender a cultura. Será que tudo na cultura é ruim? Ou a igreja deve enxergar a cultura como bênção de Deus e desfrutá-la sem medida? Ou será que deveríamos nos afastar definitivamente da cultura popular e termos realmente uma cultura evangélica? Quem nunca ouviu: "Devemos apenas evangelizar, nada de nos envolvermos com política ou com arte"; "um crente músico somente pode tocar seu instrumento na igreja ou com músicas cristãs, ele não deve envolver-se com coisas desse 'mundo', o mundo jaz no maligno". Essas são afirmações que ainda ouvimos muito. Lembro na época em que fui para o seminário (que ainda era tolerável porque se ia estudar a Palavra de Deus), mas o jovem que queria ir a faculdade era imediatamente repreendido por alguns irmãos da igreja – cuidado para não se desviar! Quando comecei minha graduação em jornalismo um irmão me exortou: cuidado para não virar ateu! E por aí vai...

28 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (4/4)

Por Hans Rookmaaker

A degradação da música de entretenimento

Dois ou três séculos atrás, antes da grande fragmentação na cultura ocidental que ocorreu com o iluminismo, havia uma unidade na cultura. Se você morasse em Leipzig por volta de 1725, você iria à igreja no domingo pela manhã e ouviria a última cantata de Bach como parte da liturgia. À tarde, as mesmas pessoas iriam à feira e lá haveria uma banda de metais tocando música de dança. O povo apreciava isso. À noite, em suas casas, eles tocariam música de câmara ou talvez fossem a um concerto formal, onde eram tocados concertos de órgão ou violino. Todos esses tipos de música eram compreendidos pelas pessoas e eram todos parte da cultura geral. Para diferentes ocasiões, entretanto, havia diferentes tipos de música. Eles tinham uma palavra para isso naqueles dias. Uma palavra que temos esquecido: “decorum” (decoro).  Decorum significa que as coisas precisam ser apropriadas à situação. Em um desfile não se apresenta uma orquestra tocando uma sinfonia de Beethoven, pois esse não é o contexto adequado. Nessa situação em particular, o apropriado seria uma banda de metais tocando Sousa.

21 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (3/4)

Por Hans Rookmaaker 
A música faz a pessoa
O que podemos dizer sobre a música como parte do nosso estilo de vida cristão? A música é o ambiente que criamos para nós mesmos. A música não é simplesmente algo que temos em comum com todo mundo. Ela não é apenas 95%. É 95% mais 5%. A primeira coisa que faço quando visito a casa de alguém é olhar seus discos, pois eles me dizem quem a pessoa é. Em holandês temos a expressão “as roupas fazem o homem.” Ela significa que conhecemos uma pessoa pelo modo que ela se veste. Similarmente, a música é uma expressão de nós mesmos. As pessoas não ouvem qualquer coisa. Elas escolhem as músicas que criam e ouvem. Isso porque há uma intrínseca conexão entre a música que nos rodeia e quem somos.

14 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (2/4)

Por Hans Rookmaaker

Agora trataremos da questão da relação entre o cristão e a cultura não-cristã. A Bíblia ensina que não devemos ser contaminados pela iniquidade e nem seguir os seus caminhos do mundo. “Mundo” neste sentido quer dizer o mundo de pecado. Mas a Bíblia também diz que não devemos ter medo de examinar todas as coisas e guardar o que for bom. Não devemos recuar. É interessante percebermos que a Bíblia jamais fala em cultura de um modo negativo. A cultura do mundo em si não é negativa. As Escrituras não nos ensinam que tudo que é produzido por não-cristãos é intrinsecamente mau. Quando Salomão construiu seu templo, ele chamou um arquiteto de Tiro, que certamente era um pagão. Mas o homem era um bom arquiteto. Apocalipse 17 fala de Babel – personificação do mundo mau e centro de todo o anticristianismo – como uma cidade cheia de beleza e riquezas, um lugar onde as mulheres usavam belos vestidos longos. A Bíblia não diz que tudo aquilo que vem do mundo é mau. Ao invés disso ela nos ensina a ouvir e olhar a nossa volta, retendo as boas coisas.

7 de jun. de 2015

Cristianismo e Música (1/4)

Por Hans Rookmaaker

Deveríamos almejar ser uma subcultura?

Implícita na palestra Rock e Protesto estava a questão: “O que nós, como cristãos, vamos fazer com o Rock?” Quero tratar desta questão de um modo explícito, apesar de me ater somente ao Rock.”

O tópico “Cristianismo e Música” é parte de um tema mais abrangente, “cristianismo e cultura”, o qual pode ser dividido em duas partes: nossas próprias formas culturais e o nosso relacionamento com a cultura que nos cerca.

6 de dez. de 2014

Kuyper e o Conflito de Fé e Ciência

Por Rodolfo Amorim

Não verdade não existe, segundo Kuyper, um conflito básico entre fé e ciência! Nenhuma surpresa. É que a ciência, quando tenta estabelecer a relação entre sujeito e objeto, necessita pressupor pela fé vários princípios não verificáveis racional ou empiricamente. Dentre estes estão: a autoconsciência do investigador; o trabalho acurado dos sentidos na medida em que este fornece informações reais sobre a externalidade; o funcionamento correto das leis do pensamento atuando no sujeito da investigação; fé em algo universal escondido por detrás dos fenômenos especiais; fé na vida; e fé nestes princípios gerais dos quais o sujeito procede em qualquer empreendimento científico (2002: 138).
Em sua obra Sacred Theology, Kuyper parte de uma reflexão interna do próprio processo de fundamentação da ciência, dialogando com propostas empiristas e racionalistas, afirmando a base cristã fundamental do próprio empreendimento científico, o qual o influenciará na proposta de uma ciência cristã. Após explorar os aspectos da relação entre sujeito e objeto Kuyper afirma:
Uma vez que o objeto não produz o sujeito, e o sujeito não produz o objeto, o poder que liga os dois organicamente juntos precisa necessariamente ser buscado fora de ambos (…) e por mais que ponderemos ou tentemos especular, não há forma de conceber como esta relação de afinidade orgânica se apresenta (…) sob a qual o edifício da ciência é erigido, até que às mãos da Escritura Sagrada confessamos que o Autor do cosmos criou o homem no cosmos como micro-cosmos conforme sua imagem e semelhança. (Kuyper, 1980:19)
Um segundo aspecto fundamental na proposta kuyperiana que fundamenta sua proposta de duas ciências é a afirmação de que o sujeito do fazer científico opera basicamente em um processo de encadeamento causal a partir de princípios firmemente estabelecidos em sua consciência. Segundo Kuyper, o grau de certeza que uma pessoa tem de sua convicção não pode ser exposto sem causar a antítese com o resultado científico de outros, se tornando fator marcante no resultado científico. E isto se torna ainda mais presente quando se trata de uma ciência espiritual, cujo objeto é psíquico. A consciência subjetiva de comunidades inteiras, das quais procedem os princípios gerais que orientam o empreendimento científico, operam fortemente na direção das ações humanas, moldando-os conforme seus princípios, seja na ciência, na arte, religião, vida social, e negócios (1980: 49).

Como aspecto de diferenciação básica entre duas propostas científicas está à noção kuyperiana depalingenesis, ou nova criação. A dogmática descreve, segundo Kuyper, a realidade experimentada pelos filhos de Deus, de que ocorre no homem regenerado uma transformação fundamental que está acima da consciência humana, e que a transforma de forma radical, uma regeneração, um nascer de novo, seguido por uma iluminação, que modifica o homem em seu mais interno ser. Esta distinção gerada pela palingênese não é em grau ou especificidade, mas de tipo, como na relação entre uma arvore enxertada e uma selvagem, que gerarão frutos completamente distintos. Segundo Kuyper:
Nos falamos enfaticamente em dois tipos de pessoas. Ambos são humanos, mas internamente são distintos um do outro, e consequentemente sentem um conteúdo distinto emergindo de sua consciência; assim eles encaram o cosmos de diferentes perspectivas, e são impelidos por diferentes impulsos. E o fato de que há dois tipos de pessoas ocasiona a necessidade do fato de que há dois tipos de vida e de consciência de vida, e de dois tipos de ciência. (1980: 51)
Para Kuyper, assim, a aceitação da unidade da ciência seria a negação do fato da palingeneses, e que por princípio conduz à negação da própria religião cristã. Assim, mesmo operando com impulsos em direção ao fim da ciência e utilizando métodos semelhantes, os dois modelos de ciência partem de princípios distintos, e chegarão a resultados distintos, estabelecendo a afirmativa de que no esforço científico destas duas comunidades estão sendo construídos dois edifícios do conhecimento científico, e não um. E embora a palingeneses não interfira sobre a capacidade de apreensão dos sentidos e do uso das leis da lógica, presente no início de qualquer processo científico, a interpretação posterior presente em todas as ciências, seja nas naturais ou espirituais, conduzirá o empreendimento científico a resultados claramente distintos.
Somente a partir de uma cosmovisão cristã abrangente pode a ciência ter o seu domínio restaurado, ser favorecida em sua busca como pela própria glória de Deus, e produzir resultados verdadeiros, em consonância com o estado das coisas na realidade do universo criado por Deus compreendido a partir de sua revelação.
Referências:
KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2002.
KUYPER, Abraham. Sacred Theology. Delaware: Associated Publishers and Authors, 1980.
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Fonte: O Teste da Fé Brasil

5 de dez. de 2014

Hans Rookmaaker e Francis Schaeffer

Por Laurel Gasque


Faz-se necessária uma leitura europeia e continental de Rookmaaker. Muito do que já foi escrito sobre ele nos oferece apenas uma perspectiva americana de uma pessoa cujo pensamento foi formado fora da cultura americana; e, até certo ponto, fora da cultura ocidental, já que seus anos formativos foram vividos nas Índias Orientais Holandesas.
O fato acima, aliado à tendência de associar Rookmaaker com pensadores teológicos e filosóficos, tem mascarado sua singular voz como crítico e historiador de arte informado pela perspectiva cristã. Incluí-lo em uma perspectiva teológica não é útil ao entendimento de seu pensamento, do diálogo entre arte e fé ou à compreensão do abrangente mundo artístico atual. Rookmaaker precisa ser visto sob uma luz adequada.  Na época em que viveu, ele não estava separado do mundo da arte do qual ele falava como está a maioria daqueles que comentam sobre Rookmaaker nos dias atuais.
Os pensadores calvinistas aos quais ele é associado, como Francis Schaeffer e Calvin Seerveld, têm uma história diferente.  Schaeffer era muito americano, apesar de ter vivido a melhor parte de sua vida adulta na Europa.  Seerveld, apesar de americano, reside no Canadá há décadas.  Providencialmente, a família de Seerveld, composta de imigrantes, lhe deu o dom de falar holandês e se tornar poliglota. Schaeffer era monoglota, apesar de ter vivido na Suíça. Rookmaaker era multilíngue, algo que escapou a seus críticos de língua inglesa, que mal leram suas Obras Completas,traduzidas para o inglês para sua conveniência.
Schaeffer e Rookmaaker se conheceram em 1948 através da noiva de Rookmaaker, Anky Huitker, que organizou o encontro dos dois, quando Schaeffer estava em Amsterdã para ajudar a convocar uma reunião do Conselho Internacional de Igrejas Cristãs (ICCC – the International Council of Christian Churches), uma resposta fundamentalista ao estabelecimento do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Rookmaaker era dez anos mais jovem que Schaeffer, ainda estudante de graduação. Não há dúvida de que esse encontro teve um enorme impacto sobre a vida de ambos. O encontro começou com o que era para ser uma conversa de meia hora de duração cujo objetivo era levar Rookmaaker a aprender mais sobre música negra americana. (É duvidoso que o próprio Schaeffer soubesse algo sobre este assunto!) Sua conversa terminou às 16:00! Para seu crédito, parece que Schaeffer ouviu este jovem e, portanto, recebeu sua primeira lição sobre a história do jazzblues espirituals, e também sobre arte moderna.
Certamente houve uma identificação mútua entre eles, visto que ali começou o que viria a se tornar uma amizade para toda vida; mas não foi uma forma sistemática e simbiótica de pensamento que levou a um projeto intelectual em comum entre os dois homens. Rookmaaker, na verdade, tornou-se tutor de Schaeffer na arte. E, novamente, para crédito de Schaeffer, ele prestou bastante atenção no que lhe foi dito. Mas Schaeffer já havia sido formado tanto pelo fundamentalismo cristão americano de Carl McIntire quanto pela apologética filosófica de Cornelius van Til, seu professor no Westminster Theological Seminary na Philadelphia.
Não resta dúvida de que Rookmaaker apreciava ter um amigo mais velho que lhe abrisse o mundo para os falantes de língua inglesa. Mas ele sempre manteve o seu próprio caráter. O vínculo entre Rookmaaker e Schaeffer era profundo. Entretanto, eles eram muito diferentes um do outro. Amizade sincera não significa necessariamente concordância total, mesmo quando se têm valores e crenças profundos.  Vemos isso, por exemplo, na profunda amizade de C. S. Lewis e Owen Barfield.
Schaeffer era um evangelista americano de formação fundamentalista e que também era um intelectual. Rookmaaker era um intelectual europeu de formação reformada e que também era, de maneira particular, um evangelista. Artistas e estudantes de arte professaram fé em Jesus após muitas de suas palestras. Rookmaaker certamente não estava em busca de recrutar convertidos, mas suas apresentações eram convincentes. Schaeffer e Rookmaaker se completavam de uma forma extraordinária e impactaram para o bem a vida real de muitas.
Intelectualmente, eles devem ser considerados de forma independente um do outro, a fim de apreciar e direção adequada na qual Rookmaaker estava seguindo. Ele não era o racionalista que Schaeffer tendia a ser. Antes de Rookmaaker morrer em 1977, ele levou alguns discípulos de Schaeffer a se preocupar com o rumo de seu pensamento. Ele era embasado e pensava em diversas áreas.  Em sua crítica da modernidade, ele não teve medo de ir aonde muitos críticos da atualidade – associados com o pós-modernismo – só chegaram agora. Ele igualmente defendia a criação artística dos cristãos no mundo contemporâneo, sem qualquer tipo de controle ou restrições no estilo. Para esse fim, ele orientava artistas e cuidava amorosamente de seus alunos de história da arte, mesmo quando eles não entendiam claramente sua formação, direção e missão.
O vínculo pessoal de amizade entre Schaeffer e Rookmaaker deve permanecer intacto, mas as trajetórias intelectuais dos dois homens devem ser separadas para que possamos ter uma ideia mais clara de quem Rookmaaker realmente era e o que ele realmente pensava e realizou.
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Fonte: L'abrart