Por Thiago Oliveira
O cantor (e dito pastor) Thalles Roberto deu uma entrevista ao programa The Noite,
apresentado por Danilo Gentili (veja aqui), no dia de
Natal. Antes de qualquer coisa, gostaria de dizer que não tenho nada contra a
sua pessoa, e desejo o seu sucesso. Porém, acima disto tenho apreço a Palavra
de Deus e é por este apreço que eu escrevo tais palavras. Até gostaria de falar algo que achei bacana na
entrevista: No final, o Thalles disse que está revertendo o dinheiro do seu
álbum para resgatar meninas que são vendidas – no Nepal – para que homens
tenham relações sexuais com elas. Isto (se realmente acontece) é louvável, mas
não apaga uma série de coisas negativas realizadas pelo mesmo. O Chico Xavier,
por exemplo, nunca ficou com um centavo de suas obras, todo o dinheiro arrecadado
era para a caridade. Só que tal ato não faz dele alguém ortodoxo.
EXPLICANDO O TÍTULO
O
título deste texto faz uma alusão ao significado de heresia. Numa descrição bem
direta, heresia é um ensino contrário ao que determinado sistema religioso ensina.
Ao ensinamento correto, chamamos de ortodoxo. Para os católicos, tudo o que a
Igreja estabelece como correto deve ser acatado como certo. Quando aconteceu a
Reforma Protestante no século XVI, os reformados enfatizaram como lema a frase
que dizia: “Somente a Escritura”. Essa mudança de pensamento fez da Bíblia a
palavra final em matéria de credo. Para os católicos, a Bíblia também é uma
autoridade, mas a tradição da Igreja está em pé de igualdade com o Texto
Sagrado.
Pois
bem, sabemos que o movimento evangelical é oriundo da Reforma, e por isso, os
evangélicos devem manter o mesmo lema dos reformadores “Somente a Escritura”. Na
prática, isto deveria funcionar da seguinte maneira: Se algo dito por
determinado pastor ou outro irmão qualquer não estiver de acordo com a Bíblia, deve-se
repudiar e fazer com que o determinado irmão entenda que o que ele diz é
prejudicial, por se tratar de um desvio da Sã Doutrina. Só que no segmento
evangélico, há espaço para muitas outras revelações questionáveis. Enquanto a
Bíblia é infalível e isenta de erros, pessoas que se dizem profetas e tem as mais
variadas visões e sonhos, devem ser questionadas à luz da Escritura. Algo que
não ocorre muito. Geralmente, mesmo se uma profecia diz o oposto da Bíblia, o status quo do profeta faz com que as
pessoas desconsiderem o texto bíblico e abracem uma profecia, ainda que
herética.
Paulo,
aos Gálatas disse: “Mas ainda que nós ou
um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que
seja amaldiçoado!” (Gl 1.8). Este é um versículo que nos alerta sobre
determinadas “inovações” doutrinárias que surgem aos montes. Mas, saibam que as
heresias são velhas, só fazem trocar de roupa. A heresia, tida por coisa nova,
na verdade é uma repetição de algo que já foi dito – e combatido pelos
ortodoxos – anteriormente. Mas afinal, você pergunta, porque que o Thalles
personifica a heresia?
A
resposta é simples: O termo latino que deu origem a palavra heresia, significa “escolha”.
Escolher trilhar um caminho autônomo é algo muito tentador. Para quê seguir
normas? Do que servem estes padrões pré-estabelecidos? Estes são os
questionamentos de boa parte dos que chutam o pau da barraca e mandam a
ortodoxia para as cucuias. Por isso que a heresia parece ser algo bom. Pois,
ela lhe dá a sensação de inovação, de liberdade. Faz você pensar que criou
algo, que é revolucionário, que é singular. Assim sendo, os hereges sempre se
apresentam como pessoas atraentes, bacanas, descoladas... Os hereges são
populares, inspiradores, admiráveis. Tal como o Thalles constrói a sua imagem,
a heresia ganhou terreno na cristandade utilizando-se da mesma metodologia.
Ao chegar
no talk show, trajando uma roupa com
os dizeres Ide 3 (que é o nome do seu álbum), o Thalles diz que foi uma
estratégia que ele teve para falar sobre Deus. Logo no começo da entrevista ele
fala o seguinte: “Eu acho que religião
faz mal sempre, de verdade. A minha autenticidade de falar de Deus, vem do
coração que não tá misturado com pessoas, não tá misturado com seguir ninguém.
Eu sigo Deus cara”. Daí o que se
segue é o relato de sua conversão. Segundo o cantor, ele comprou uma Bíblia e
sozinho, desvinculado de Igreja, a partir de suas experiências foi
construindo as suas convicções sobre a Divindade.
Parece
que foi essa falta de alguém para lhe discipular que fez com que o Thalles não
só fosse apenas uma personificação da heresia, mas também um herege que ensina uma
concepção errônea e confusa sobre Deus. Eis o preço que muitos pagam por querer
a “autenticidade” ao invés da infalível revelação escriturística.
COMO ASSIM, SOU DOS TRÊS?
A controvérsia
sobre a Trindade é algo combatido ao longo dos séculos em toda a Cristandade.
Thalles, sem criar ou inovar coisa alguma, afirma pertencer aos 3 (Pai, Filho e
Espírito Santo). O problema é que embora existam 3 pessoas distintas, Deus é um
só. Quando falamos por aí que somos dos 3, isso redunda em uma confissão politeísta.
Devemos refutar este conceito, pois Deus é um. Vejamos o que dizem dois credos,
um do século IV e um do século V:
“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis”. (Credo Niceno)
“Ora, a verdadeira fé cristã é esta: que
honremos um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade. (...) Sem confundir as
Pessoas ou dividir a substância. (...)Contudo não são três eternos, mas um só
Eterno. (...) Contudo não são três todo-poderosos, mas um só Todo-poderoso.
(...) Pois, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar cada pessoa
em particular como sendo Deus e Senhor, assim somos proibidos pela fé cristã de
falar de três Deuses ou Senhores”. (Credo Atanasiano)
Se
parássemos nestes dois estaria ótimo. Mas após a Reforma, outras confissões de
fé foram elaboradas, e todas elas fazem coro com estes dois antigos credos. A Confissão
Belga (1561) relata que Deus é um ser único, mas que contém 3 pessoas na sua
essência una. Embora:
“Esta distinção não significa que Deus
está dividido em três. Pois a Sagrada Escritura nos ensina que cada um destes
três, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, tem sua própria existência, distinta
por seus atributos, de tal maneira, porém, que estas três pessoas são um só Deus”.
A
Confissão Helvética (1566), também é trinitariana, e diz crer e ensinar sobre
Deus imenso, uno e indiviso. A crença no Deus único é clara. E mesmo esse Deus
distinto em pessoas “(...) não há três
deuses, mas três pessoas, consubstanciais, co-eternas e co-iguais, distintas
quanto às hipóstases e quanto à ordem, tendo uma precedência sobre a outra, mas
sem qualquer desigualdade. Segundo a natureza ou essência, acham-se tão unidas
que são um Deus, e a essência divina é comum ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo”.
Para
encerrar, utilizemos a Confissão de Fé de Westminster (1643). No primeiro
artigo da segunda seção é dito que “Há um
só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições”. E o
terceiro artigo diz mais: “Na unidade da
Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade”.
Portanto,
na história da Cristandade, o conceito da Trindade está bem definido há
séculos, embora seja atacado por diversos grupos heréticos que vez ou outra se
levantam, acusando a doutrina trinitariana de ferir a lógica. A grande questão
é que pela lógica não conseguiremos nunca compreender a Trindade. Pois, segundo
nosso raciocínio lógico, 1 + 1 + 1 = 3. Já quando estamos falando sobre o ser
de Deus, a conta é muito diferente: 1 + 1 + 1 = 1. Este mistério só é
compreendido por fé, através da revelação vinda do próprio Deus. Trindade é
unidade e a unidade de Deus é trina.
Thalles
está errado em enumerar as pessoas da Trindade desta forma, pois elas não se somam entre
si. Embora haja Pai, Filho e Espírito Santo, a essência não é compartilhada.
Como vimos nos credos e confissões. A essência de Deus é una e não pode se
dividir. Nenhuma das Confissões acima utiliza-se do plural em referência a
Deidade. Todas estão de acordo em manifestar a unidade de Deus. Todas confessam
e adoram a um Deus único e verdadeiro. Referir-se a Deus no plural é ferir um
de seus atributos, que é a Sua indivisibilidade, e assim cometer blasfêmia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Torno
a dizer que não tenho absolutamente nada contra a pessoa do Thalles e não
gostaria de prejudicá-lo. Como sempre digo: quando se trata de Ortodoxia, não
estamos falando sobre mim ou você, falamos sobre Deus e sobre a maneira que Ele
se revelou na Palavra. Para mim seria ótimo que o Thalles tivesse acesso a este
texto e parasse de utilizar o bordão “Sou dos 3”. Compreendo que isso lhe
traria certo prejuízo financeiro, pois uma série de produtos com essa marca
deixariam de ser vendidos. Mas, se ele é um servo autêntico de Deus, não se
preocupará com esse prejuízo, se preocupará em fazer o que é certo.
Já
para aqueles que sentiram falta das referências bíblicas que respaldem a
doutrina da Trindade, nem se preocupem. Deixei elas para o final deste texto.
Que Deus abençoe a todos. A Ele a glória!
Mt. 3:16-17; 28-19; João
1:14, 18 e 15:26; Gl. 4:6 I Jo. 5:7.