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21 de ago. de 2015

Justificados pela Fé - Um Estudo em Romanos 4

Por Thiago Oliveira

INTRODUÇÃO


A carta de Paulo aos Romanos é um tesouro teológico que precisa ser mais lido, estudado e entendido pelos crentes em Cristo Jesus. Homens do passado, tais como Agostinho, Lutero e Calvino, ao se debruçarem nesta carta tiveram suas mentes transformadas e passaram a compreender o Evangelho tal como é: A revelação de um Deus soberano que nos trata pela via da graça e não pela via do mérito.

18 de jul. de 2015

Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram...o céu?

Por Alan Rennê Alexandrino

Comumente, quando as pessoas estão falando a respeito do céu, pensando a respeito da sua beleza, da sua glória, das ruas de ouro e dos muros adornados com toda sorte de pedras preciosas, elas costumam utilizar a passagem de 1Coríntios 2.9: “mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”.

4 de jul. de 2015

Sobre os "Iluminados" de Hebreus 6

Por Alan Rennê Alexandrino

O texto em foco diz:

É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.” (Hebreus 6.4-8)

17 de mai. de 2015

O Sermão Escatológico de Cristo (2/2)

Por Thiago Oliveira
A Grande Tribulação ou A Queda de Jerusalém (Mt 24: 15-21)
Devemos lembrar que o discurso de Jesus tem por base o questionamento duplo feito pelos discípulos. De início sua resposta tenta corrigir o equívoco de seus interlocutores, que achavam que a parousia aconteceria logo após a destruição de Jerusalém, por isso vai falar que o que está para acontecer com Jerusalém e também outros eventos no decorrer da história são apenas o começo das dores. 

16 de mai. de 2015

O Sermão Escatológico de Cristo (1/2)

Por Thiago Oliveira

O capítulo 24 do Evangelho segundo Mateus registra as falas de Jesus acerca do fim dos tempos. Todavia, Jesus ali também fala da destruição de Jerusalém que aconteceria ainda naquele século, como de fato aconteceu no ano 70 d.C., quando os romanos - liderados por Tito - invadiram e assolaram a Cidade de Davi. Se tratando de um texto escatológico, a controvérsia se faz presente nos círculos teológicos. Poucos textos geram tantos debates e interpretações como Mateus 24 (cf. Mc 13 e Lc.21). O que contribui para que haja alguns desacordos interpretativos é a presença do linguajar figurativo, tão comum da profecia judaica.

8 de fev. de 2015

Que tal começar por julgar a si mesmo?

Por Thiago Oliveira

Mateus 7:

1 "Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
2 Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.
3 "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
4 Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu?
5 Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.
                                                         
Introdução

O texto que nos serve de base é o início da parte final do Sermão do Monte. Devemos lembrar que é um sermão endereçado aos fiéis, pois, Jesus começa com as bem-aventuranças, algo que descreve o caráter dos que são remidos. Seu ensinamento é prático, coerente com a Lei de Deus e está em ferrenha oposição ao ensino dos fariseus. Este grupo religioso deturpou e muito a Palavra, tornando-a conveniente a elevação do status quo dos mesmos, que se consideravam justos devido aos seus próprios méritos. Acontece que eles haviam rebaixado o padrão de Deus. Deixe-me exemplificar: A não ser que você seja alguém com estatura, impulsão e aptidão para o basquetebol, provavelmente você não conseguirá fazer uma enterrada. Mas digamos que você rebaixe a tabela, cerca de um metro. Conseguirá agora? Presumimos que sim, todavia, você e eu sabemos que não é uma enterrada legítima, ao estilo da NBA. Era exatamente assim que os fariseus faziam. Jesus os chama de hipócritas, e não é à toa.

Em todo o sermão, o antagonismo fica evidente quando Cristo diz, “ouvistes o que foi dito, eu porém vos digo”. Ele está ali colocando o seu ensino em confronto com o ensino farisaico. Eram eles os mestres daquele povo. Ao ficar ciente desse contexto, a compreensão daquilo que Jesus nos diz nestes primeiros versículos de Mateus 7 torna-se mais clara. Que esse estudo venha a atingir diretamente o nosso ego, nos fazendo atentar para o que precisa mudar, para sermos cristãos diferente do que estamos sendo.

O porquê de não julgar

Cristo começa dando uma sentença. E qual é ela? “Não julguem”. No entanto, esse versículo tirado do seu contexto gera uma confusão que permeia a mente de muitos. Será que aqui Jesus nos diz que não devemos analisar nada e nem ninguém? Será que não podemos dizer que alguém que está em pecado é pecador? Será que se um homem prega algo antibíblico, não devemos julgá-lo como herege? Lógico que não é isso que o Senhor nos pede. De modo algum Jesus nos proíbe de discernir, avaliar e ponderar. Se fosse assim, como teria dito logo em seguida: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (v.6)? Ora, para identificar quem são os cães e quem são os porcos, é necessário julgar. O julgamento é uma responsabilidade de todo crente, todavia, não deve ser feito de acordo com o mero achismo ou sem conhecimento de causa. O ato de julgar é respaldado pela Palavra. A própria Escritura é o parâmetro e não a nossa justiça própria (João 7:24). E se há condenação, quem condena é o próprio SENHOR, através da sua Lei registrada na Bíblia.

Para que não haja sombra de dúvidas, observem o que é dito nos versículos 15 ao 20: "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!” É preciso exercer juízo de valor, atentando para os frutos, isto é, pensamentos e ações, para se discernir quem é um falso profeta e consequentemente não ouvi-lo e nem segui-lo.

Mas então, o que Jesus está dizendo? Lembre-se que seu ensino está em oposição ao grupo dos fariseus. Estes viviam emitindo sentenças baseadas em sua própria justiça. Em Lucas 16:15 o Senhor lhes repreende dizendo: "Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês”. Todo fariseu adorava transparecer uma impressão de piedade e obediência a Lei. Eles aparentavam um semblante triste para dizer que jejuavam, mandavam tocar trombeta todas as vezes que iam ofertar, oravam em voz alta nas esquinas, dando uma ideia de que não aguentavam chegar na sinagoga para orar, de tão fervorosos que eram, etc. A parábola do Fariseu e do Publicano mostra o tipo de imagem que os fariseus faziam de si próprios.

A parábola em questão está no capítulo 18 do Evangelho de Lucas. O propósito de Jesus ter contado nos é dito no versículo 9: “A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola”. Pelo personagem escolhido por Jesus, não nos resta dúvida, os fariseus eram quem se vangloriavam. A oração farisaica, segundo a parábola, era assim: “Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano” (Lucas 18:11).

Esse é o tipo de julgamento que não devemos proferir: Que condena, discrimina e menospreza, fundamentado em nossa índole, como se fôssemos melhores por fazermos determinadas coisas. Não somos bons por nós mesmos. Tudo o que somos de bom procede do nosso Pai. Podemos até nos reportar a alguém que esteja vivendo em pecado, mas não devemos nos apresentar como superiores, desajudando quem peca. Toda correção deve ser feita com amor, visando que a pessoa corrigida abandone o pecado que lhe prende. Disciplinar é um ato amável e não um ato de desprezo. Esse juízo temerário não nos cabe. É nesse sentido que o Mestre nos adverte para que não julguemos.

Recebendo na mesma medida

Cristo usa de tremenda sabedoria quando diz: “Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês”. Isso é verdadeiro e me faz lembrar da anedota de certa senhora que observava sempre os lençóis que a sua vizinha estendia no varal. Ela bisbilhotava pela janela de vidro e compartilhava com o seu marido o quanto que a vizinha era desleixada e suja com os afazeres domésticos, pois os lençóis eram manchados e tinham um aspecto encardido. Tal análise se repetia constantemente. Num belo dia ela admirou-se e relatou ao marido que finalmente a vizinha havia feito um bom serviço. Os lençóis, segundo ela, estavam branquinhos. No entanto, o marido lhe fez uma revelação que a constrangeu. Naquela manhã, ele havia limpado a vidraça.

A ilustração acima é bem oportuna. Não era a vizinha que era suja e desleixada, conforme presumia a bisbilhoteira. Pelo contrário, era ela a emporcalhada. A medida que ela usava para emitir seu julgamento, lhe caiu como uma luva e a deixou, com perdão do trocadilho, em maus lençóis. No entanto, a questão vai um pouco mais além. O problema de julgarmos conforme nossas medidas é que o SENHOR nos julgará com as mesmas. O apóstolo Paulo nos dá uma excelente ajuda para que entendamos melhor. Vejamos o que ele nos diz em Romanos 2: 1-6:

"Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas. Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus? Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento. Deus , retribuirá a cada um conforme o seu procedimento’". 

Embora Paulo nos fale sobre um julgamento diferente, que levará os ímpios a danação, enquanto que Jesus fala de um julgamento galardoador, pois seu público alvo são os cristãos e estes não perdem a salvação, mas perderão alguma coisa na dimensão da Glória, o princípio é o mesmo. Deus julgará cada um segundo suas obras, crentes e incrédulos (ver 2 Coríntios 5:10). E se não quisermos ser envergonhados na presença de Deus, então não devemos ser irresponsáveis ao que se refere ao julgamento alheio.

Já olhou para a sua condição?

O grand finale dessa seção sobre o julgamento (versículos 3-5) é regado a muita ironia. Cristo quer que imaginemos numa cena, alguém com um bastão enfiado no olho, que está preocupado com um cisco no olho de outrem. Algo muito tosco. E é exatamente isso que Jesus quer repassar com sua linguagem hiperbólica. Aqui ele trata do hipercriticismo que usamos com os demais, sem utilizar-se de tanta minúcia para fazermos um autoexame. Para reparar um cismo no olho de alguém, preciso estar muito atento, meio que procurando algo para tomar nota. Isso é o que muita gente anda fazendo nas igrejas. O patético disso é que enquanto nos alarmamos com o pequeno fiapo que está no globo ocular do nosso irmão, nós estamos com a visão prejudicadíssima e nem sequer removemos aquilo que afeta nossa vista.

Recentemente li uma frase do pastor presbiteriano, Ricardo Barbosa que gostaria de compartilhar aqui. Ele diz: "Muitas vezes queremos uma igreja diferente que nos faça diferentes, mas não queremos ser pessoas diferentes que constroem uma comunidade diferente". Assim são os que ostentam suas traves, mas que reparam a farpa alheia. Isso demonstra que a intenção não é boa. Tais pessoas não estão preocupadas com a condição de seus irmãos, pois, se estivessem, olhariam primeiro para si mesmas. Se um cego não pode nem guiar outro cego, quanto mais curá-lo? A Escritura nos diz: “Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos” (2 Coríntios 13:5). O Evangelho não é joguinho de tiro ao alvo. O objetivo primário não é encontrar o erro do irmão, mas ver o meu erro e correr para Cristo, clamando pela sua ajuda. Já dizia Lutero logo na sua primeira das 95 teses que assinalou: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos...., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.”

A palavra que Jesus usa para descrever a pessoa que aponta para os erros dos outros sem corrigir os seus é: Hipócrita. Ou seja: fingido, embusteiro. Um termo forte que nos deve levar a confrontar nosso ego e nosso narcisismo. Assuma sua condição pecaminosa. Assuma seus pecados, lute contra eles, mas não lute sozinho, recorra ao único que pode removê-los pelo poder do seu Espírito. Você deve fazer isso e eu também. Não sou nem melhor e nem pior que qualquer outro ser humano da face da terra. Sou tão necessitado de Graça quanto qualquer um é. Por isso, ao orar, oremos como o publicano: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lucas 18:13).

Considerações Finais

1. Devemos evitar a postura dos fariseus, que se achavam bons o suficiente para recriminar os seus patrícios. Olhemos para os mais novos e débeis na fé e lembremos que já passamos pela mesma fase, se ainda não estivermos nela. Podemos até ajudá-los, não sem antes provar a nós mesmos e termos a certeza que somos aptos para prestar o auxílio, pois superamos aquilo que perturba o nosso irmão que está mais vulnerável.

2. Cuidado com o senso crítico. Ele faz bem e nos evita de cairmos em muita roubada. Todavia, quando ele é demasiado, corremos o risco de errarmos em quase todas as conclusões que tomamos a respeito de vários assuntos. Se tudo que você enxerga na Igreja, no pastor, nos líderes e demais irmãos for ruim, provavelmente o problema está consigo e não com os demais. Lembre-se que nunca haverá igreja perfeita, sendo você um membro desta igreja. Por acaso você e eu somos perfeitos?

3. Examinemos a nós mesmos frequentemente. Uma sugestão: Peguemos os 10 mandamentos e no final do dia vejamos se descumprimos algum. Devemos anotar os mandamentos quebrados e soma-los no final da semana. Se achamos que somos os santarrões, iremos levar um cruzado direto no queixo ao consultarmos o resultado. Ai de nós se não fossem as misericórdias do SENHOR renovadas a cada manhã. O arrependimento tem que ser constante.
Que Deus nos ajude. A Ele a glória!  

19 de dez. de 2014

Podemos realizar milagres maiores que os de Jesus?

Por Thiago Oliveira

“Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.”

João 14:12

Muitos cristãos entram em crise quando leem esse versículo. O motivo? A falsa compreensão do que seriam as “obras” mencionadas por Jesus. Seriam os milagres? Há uma linha que assim interpreta, demonstrando incapacidade exegética. Antes de explicar o que seriam as tais “obras” gostaria de abrir um parênteses e falar um pouco sobre essa ânsia por milagres. Seriam eles fundamentais para a nossa fé? Se Deus não mais operasse nenhum evento sobrenatural para intervir na história e usasse apenas as equilibradas leis da natureza, por acaso deixaria de ser Deus?

Quando penso no relato bíblico da peregrinação hebreia rumo a Terra Prometida, logo chego a seguinte conclusão: Os milagres não são suficientes para fundamentar alguém na fé. Ora, porque digo isso? Porque o SENHOR realizou inúmeros milagres e o povo continuou murmurador, desobediente e incrédulo. Primeiro enviou as dez pragas (Êxodo do capítulo 7 ao 12), em seguida abriu o Mar Vermelho (Ex 14:22) e no deserto fez cair a comida do céu (maná e codornizes, Ex 16: 4-13), além de fazer sombra com a nuvem ao dia e aquecendo-os do frio com a coluna de fogo à noite (Ex 13: 21-22). Quer mais? Durante os 40 anos de andanças pelo deserto e suas vestes e calçados não ficaram velhos (Dt 29:5).

Mesmo depois de todas essas coisas, na ausência de Moisés, os hebreus fizeram um bezerro de ouro e a ele renderam culto (Dt 9:12). De igual modo Jesus realizou diversos sinais e prodígios e foi desacreditado. Por isso, caro leitor, fundamente a sua fé na doutrina dos apóstolos, pois nela sois edificados para sedes santuário dedicado a Deus, no qual o próprio Cristo é a pedra angular (Ef 2: 20-21). Não estou afirmando em hipótese alguma que Deus não pode fazer milagres hoje, apenas digo que eles não podem ser o cerne de nossa devoção. Sempre costumo dizer que eu poderia morrer sem nunca ter visto um cego ver, um surdo ouvir e um paralítico andar, mesmo assim morreria crendo que o SENHOR é capaz de operar todas essas coisas. Mesmo sem ver um desses fenômenos eu O adorarei.

Encerrado esse parênteses e voltando para o texto de João 14; É inequívoco que “obras” não significam milagres. Portanto, não podemos operar milagres maiores que os de Jesus. O termo no original grego é ergon e denota trabalho. Este é o sentido: “Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também o trabalho que tenho realizado”. Após analisar o escrito original, também é de suma importância adentrar o contexto dessa passagem e de uma vez por todas entender o que Jesus estava querendo transmitir aos Doze naquele momento.

Jesus estava nos últimos momentos de sua vida e exortava os apóstolos. O Rabi falava acerca de sua ida ao Pai, pois estava ciente que a hora de sua morte estava próxima. Nesse contexto fala das obras como sendo o seu ministério aqui na terra. Cristo habitou entre nós para manifestar o Reino de Deus e inaugurá-lo. Todo o seu trabalho consistia em promover o Reino dos Céus. Um Reino de outro mundo no qual ele é o Soberano. Foi por isso que ele encarnou, ensinou ao povo, serviu aos homens e operou milagres. Todavia, seu tempo de encarnação era limitado e o momento de voltar ao Pai não tardaria. Com a ascensão de Jesus após sua morte e ressurreição, o Espírito Santo, o Conselheiro seria derramado. Ele ensinaria e traria a lembrança de tudo o que os discípulos viveram durante todo o tempo em que estiveram com o Messias.

Em Atos lemos o cumprimento dessa promessa. Quando receberam o poder do Espírito com a finalidade de testemunharem de Cristo em Jerusalém e irem até os confins da terra (At 1:8) os discípulos expandiram o Reino em duas perspectivas: Territorial e Numérica. Já no Pentecostes, após a pregação de Pedro, há um acréscimo de três mil pessoas à igreja (At 2:41). Além de Jerusalém, limite territorial de Jesus enquanto esteve encarnado, a Boa Nova se espalhou por todo o Império Romano. A expansão tem início quando o Espírito Santo separa Barnabé e Paulo e, após a imposição de mãos, os dois navegam para Chipre (At 13: 2-4). Até mesmo a prisão de Paulo era obra divina para que o Evangelho chegasse a capital:

“Na noite seguinte o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma". Atos 23:11

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós, sempre sedentos por milagres, querendo Suas bênçãos e buscando sempre o favorecimento próprio. A Igreja precisa envolver-se mais com o “Deus que É” e não apenas com o “Deus que faz”. A seara é grande e poucos são os trabalhadores (MT 9:37). Todavia os que, de fato, creem saem da inércia religiosa e adentram os campos, impelidos pelo Espírito propagam aos povos que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). 

Soli Deo Gloria.

21 de nov. de 2014

Sobre a Dureza de Coração e o Divórcio

Por Alan Rennê Alexandrino Lima
Jesus afirmou o seguinte sobre o motivo de o divórcio ter sido permitido entre o povo de Deus:
"Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio" (Mateus 19:8).

O que é "dureza de coração"? Essa expressão traduz uma única palavra grega: σκληροκαρδία, que, denota “a persistente não receptividade à declaração da vontade salvífica de Deus” (TDNT Dictionary in BIBLEWORKS 9.0). A “dureza de coração" é a condição do homem egocêntrico que se fecha diante de Deus, das Suas ofertas e exigências, e também diante do seu próximo. O que Jesus está dizendo, é que o divórcio, no meio do povo da Aliança, surgiu por causa da obstinação dos israelitas. O divórcio não é causado, em última instância, por imoralidade ou adultério. O divórcio é provocado, no final das contas, pela dureza de coração. O adultério é um pecado terrível. É análogo à idolatria. É abominável diante do Senhor. Ainda assim, é a dureza de coração que, nesta passagem, é censurada pelo Senhor.

Pensando a respeito desta afirmação chego à conclusão de que dureza de coração é o princípio motivador de todos os casos de divórcio. A dureza de coração está envolvida em todos os casais separados e em todos os lares desfeitos.

Da parte do ofensor, a dureza de coração pode se manifestar através da recusa em confessar o pecado, pedir perdão e abandonar o pecado. Nesse caso, o coração se encontra petrificado pela imoralidade, pelo adultério, pelo desprezo e pelo desamor.

Da parte do ofendido, a dureza de coração se manifesta através da indisposição em estabelecer um diálogo e uma prestação de contas pelo pecado do ofensor e também por meio da indisposição em perdoar e restaurar o relacionamento. Nesse sentido, é óbvio que alguém que não perdoa de modo algum é alguém de coração duro. No entanto, a dureza de coração em relação ao perdão também se mostra de uma forma mais sutil. Às vezes a parte ofendida afirma que se dispõe a perdoar. Porém, ela estabelece condições que não estão nas Sagradas Escrituras. Aqui a dureza de coração aparece de modo diferente, é verdade, mas ela está lá, motivando as ações e os pensamentos do ofendido.

A dureza de coração também aparece em casos de divórcio que não têm o adultério como elemento envolvido. Por exemplo, um casal que fala em divórcio por incompatibilidade, na verdade, demonstra dureza de coração, pois a Palavra de Deus fala de não buscar cada um o que é propriamente seu (Filipenses 2.4). Porém, a dureza de coração é o que faz com que nenhuma das partes ceda.

Precisamos afirmar que as palavras de Jesus não foram um elogio dirigido à dureza de coração. Muito pelo contrário! Elas foram uma séria condenação! 

Dureza de coração é pecado. Não agrada a Deus. É reprovada pela Escritura. É obra da carne. Facilmente aceitamos que adúlteros, homossexuais, assassinos e outros pecadores impenitentes e que não se arrependem da sua maldade serão condenados. No entanto, no que diz respeito à dureza de coração, seguramente, também podemos aplicar o princípio de Jesus, em Lucas 13.3,5: "se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis".

Que o Senhor nos ajude a pensar a respeito do estado do nosso próprio coração! Que ele nos conduza ao arrependimento! Que ele nos ensine a perdoar de forma bíblica!
SOLI DEO GLORIA!
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Fonte: Facebook do autor

20 de nov. de 2014

Teologia é bem mais importante do que dizem por aí


Por Pedro Pamplona

A igreja em Colossos estava cercada de teologia. Péssima teologia. Naquela época quatro tendências assolavam a igreja cristã: o gnosticismo, o legalismo, o misticismo e o ascetismo. Na cidade dos colossenses predominavam as religiões helênicas de mistério e o culto ao imperador romano, além de sinagogas judaicas. Nesse meio urbano altamente religioso surgiu uma heresia perturbadora para a igreja cristã. Essa era a preocupação de Epafras, companheiro de Paulo e natural de Colossos. Ao levar o problema para o apóstolo, Epafras o motiva a escrever a carta aos colossenses com uma boa teologia cristã contra os maus ensinamentos da cultura da cidade. Muito se especula, mas não se sabe ao certo qual seria a heresia que rondava os colossenses. Pelo seu caráter singular e misterioso muitos a tem chamado de a Heresia de Colossos. Sobre ela o Dr. Augustus Nicodemus comenta:

"Ela deve ter sido de origem judaica e começado nas sinagogas. No entanto, era sincrética, pois absorvia e incluía elementos de outras religiões. Também continha elementos cristãos, visto que falava a respeito de Cristo, da salvação e de Deus. Havia incorporado ainda elementos de crenças pagãs, especialmente das religiões de mistério – e, em particular, ideias que mais tarde dariam origem ao gnosticismo. Ao fazer isso, absorveu também o conceito grego do dualismo, que era muito comum naquela época

O cenário teológico não era nada bom. Paulo percebeu o grave problema e escreveu a carta para combater essa heresia com boa teologia. Aliás, teologia é bem mais importante do que dizem por ai. Vejamos a oração de Paulo no capítulo 1:

Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria, dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. (Colossenses 1:9-14)

Cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual

Paulo está orando por teologia, uma boa teologia. Seu desejo é que os colossenses sejam cheios do conhecimento de Deus e da sua vontade, ou seja, teologia. Não temos, felizmente, como escapar dela. Paulo sabe que todo cristão é um teólogo nesse sentido. E ele sabe ainda mais: que se você não for um bom teólogo será um mau teólogo, e isso pode destruir uma igreja. Num ambiente rodeado de perigosa heresia a boa teologia era o principal pedido de paulo. É isso mesmo, Paulo está orando por teologia! Mais do que por unidade, mais do que por amor, mais do que por paz. Ele sabe que sem o conhecimento de Deus essas coisas são inúteis. Você já orou por boa teologia ou tem falado mal dela?

Para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra

O primeiro objetivo da boa teologia é a glória de Deus. E como o glorificamos melhor? Vivendo de maneira digna e agradando-o. Não podemos agradar alguém sem conhecê-lo. Muitas boas intenções são desperdiçadas por más teologias. O desejo de Paulo é que a igreja de Colossos agrade a Deus da maneira correta. É importante lembrar que a consequência de uma boa teologia num coração regenerado é uma vida que frutifica em boas obras. Boa teologia se manifesta em uma vida piedosa. Como está a sua?

Crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória

Um cristão está em constante crescimento para estar mais parecido com Cristo. Para ter mais conhecimento de Cristo. A teologia é importante para o crescimento saudável da igreja, fortalecendo o homem não pela força humana, mas por aquele que está na glória de Deus. Paulo está clamando por esse crescimento para a igreja dos colossenses e sabe que uma boa teologia serve como alimento sólido para o crente. Você tem gasto mais tempo com boa teologia ou criticando as más?

Para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria

Além de crescimento uma boa teologia gera um crescimento seguro e alegre. A teologia é importante para manter a raiz da igreja forte e inabalável. Aquela péssima teologia da heresia de Colossos acabaria com a igreja se não fosse combatida. Por outro lado, a teologia de Paulo fortificou a igreja e a protegeu da apostasia. Nós devemos muito aos bons teólogos cristãos. Você tem agradecido por eles ou apenas desprezado-os?

Dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz.

A boa teologia gera humildade e gratidão, pois aponta para o Deus triúno como o único salvador e sustentador soberano. Ela nos protege da arrogância destrutiva em que o corpo de Cristo pode entrar. Muitos falam contra a teologia afirmando que ela gera crentes arrogantes, mas a culpa não é dela e sim do coração endurecido do homem. Na verdade, aqueles que são contra a teologia caem na arrogância quando dizem não a necessidade do conhecimento de Deus. A verdadeira humildade está em conhecer mais a Deus e dar graças somente a Ele. O conhecimento de Deus humilha o nosso.

Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados

Finalmente, toda boa teologia está alicerçada numa única coisa: na obra redentora de Jesus Cristo na sua vida, morte e ressurreição. O evangelho verdadeiro é o centro. A cruz é o ponto de partida de toda boa teologia. Nosso fundamento é Cristo! Jesus não é um grande teólogo, Ele é a própria teologia encarnada (Rm 14:7-11). Rejeitar o conhecimento de Deus é rejeitar aquele que foi a máxima expressão desse conhecimento.

Depois de orar por uma boa teologia Paulo apresenta aos colossenses a total supremacia de Cristo sobre todas as coisas. Esse é o nosso fundamento! Foi essa teologia que protegeu aquela igreja da perigosa heresia sincrética da época. É importante dizer que o gnosticismo, misticismo, legalismo e sincretismo ainda assolam e muito a igreja nos dias de hoje. No restante da carta Paulo está justamente desenvolvendo uma boa teologia contra esses falsos ensinamentos. A boa teologia sempre terá seu lugar de suma importância para a igreja.

A teologia destrói ou protege a igreja. De que lado você está? A teologia é bem mais importante do que dizem por aí. Pergunte aos colossenses…

Soli Deo Gloria!

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¹A Supremacia e a Suficiência de Cristo – Editora Vida Nova – Pag 15.

13 de nov. de 2014

Quem deve ser ungido segundo Tg 5.14?

Por Leandro Lima

"Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor” (Tg 5.14)

A partir do estudo desta passagem, o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil acabou de aprovar a “unção com óleo”. A decisão diz o seguinte: 

1) Reafirmar que Deus é soberano para atender ou não, aos pedidos nas orações, segundo sua suprema vontade, independente da fé do crente. 2) Determinar aos pastores e presbíteros que não unjam pessoas ou objetos com óleo durante cultos de qualquer natureza, públicos ou em casas, quer sejam reuniões ou encontros em quaisquer lugares. 3) Permitir excepcionalmente que a unção com óleo seja realizada, exclusivamente em pessoas, nunca em objetos, pelos pastores e presbíteros somente quando forem convidados por membros enfermos de suas igrejas, em suas casas, orando por eles e suplicando de Deus o seu pronto restabelecimento.4) Que a exceção mencionada no item anterior fica à discrição dos pastores e presbíteros das igrejas locais uma vez certificados de que o enfermo crente, não atribui poderes miraculosos ao óleo e também que seu emprego não irá gerar superstições e misticismo”.

Sem dúvida, a questão da unção com óleo é complexa e não é nosso objetivo repudiar a decisão do Supremo Concílio, a qual tentou fazer justiça ao texto bíblico, e, provavelmente fez, na medida do possível. Nosso objetivo aqui é ponderar algumas observações que, talvez, lancem mais luz sobre o assunto e nos ajudem ver a questão sob outro ângulo.

Inicialmente, é preciso dizer que, provavelmente, o principal equívoco em relação à interpretação do texto de Tiago seja a preocupação com o óleo em si mesmo, desconsiderando o contexto em que ele foi utilizado. Há muito esforço por parte de alguns estudiosos para dizer que trata-se de um óleo medicinal, o qual seria utilizado como uma espécie de remédio. Nesse caso, a interpretação é falha porque o próprio texto parece negar o poder do “óleo" de curar, dizendo antes que “a oração da fé” salvará o enfermo.

Por outro lado, há um esforço por parte de outros especialistas em desqualificar o próprio óleo, focalizando mais na importância da oração, tornando o óleo algo opcional. É óbvio que a oração é fundamental, e ela, segundo Tiago, levantará o enfermo, mas a questão aqui é que pouco adianta tentar enfraquecer o uso do termo óleo, pois a ordem de utilizá-lo está no texto, e não podemos removê-la. É preciso lembrar que todo o texto ordena que se faça isso, usando verbos imperativos, e nesse sentido, o Supremo Concílio foi coerente, pois não quis proibir algo que claramente é “mandado fazer” na Escritura.

O ponto, provavelmente, que precisaria ser mais trabalhado é justamente o contexto da afirmação de Tiago. Notamos que a preocupação maior dos intérpretes está em definir o tipo de óleo ou o caráter terminológico da palavra “ungir”, e pouca atenção é dada às palavras “doente" e “enfermo”. Estariam elas realmente falando de doença física? 

Tiago orienta: "Está alguém entre vós doente?”. A palavra “doente" é astheney (σθενε), a qual, prioritariamente tem o sentido de “fraco”, “débil”. A palavra é aplicada desse modo, denotando “fraqueza espiritual” em várias passagens do Novo Testamento. Em Romanos 14.1, Paulo usa essa palavra para falar do irmão “fraco” na fé. Em 1Coríntios 8.7, Paulo fala de pessoas que têm uma “consciência fraca”, utilizando essa mesma palavra. Evidentemente, o termo pode ser aplicado para doença física, mas para isso, o contexto precisa ser claro. E não parece ser esse o caso do contexto de Tiago 5.

O contexto de Tiago 5 está evocando o perigo do pecado que acarreta juízo de Deus e, ao mesmo tempo, o modo como alguém pode ser resgatado desse pecado através do arrependimento e da oração por parte da igreja. No verso 11, Tiago elogiou aqueles que “perseveram firmes”, ou seja, que não se deixaram desviar dos caminhos de Deus, mesmo sob intenso sofrimento, e menciona o exemplo de Jó para isso. Porém, infelizmente, nem todos conseguem ser firmes e perseverantes como Jó, e Tiago sabe disso.

No verso 12, ele faz uma advertência formal: “Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo”. Portanto, ele parece estar mencionando alguma situação específica de perjuro entre os crentes, e relembrando o ensino do Senhor para que evitassem juramentos formais, mantendo apenas o padrão da verdade através de respostas simples: sim, sim; ou, não, não. Ou seja, um crente não pode viver "aquém" daquilo que a Palavra ensina, pois a fé sem obras é morta (Tg 2.26), mas também não deve ir “além”. Um excesso de rigor pode levar o crente a uma vida de legalismo, e, consequentemente, de uma fé morta pelo caminho oposto. De qualquer modo, Tiago está alertando o crente a evitar ser atingido pelo juízo de Deus por causa de um pecado que lhe cause uma queda espiritual.

Nesse contexto ele diz: “Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores” (Tg 5.13). “Sofrendo" é a tradução da palavra kakopathia (Κακοπαθε), e literalmente significa “sentimento mau”. A ideia é de um sentimento de aflição. Ou seja, se alguém está aflito, provavelmente em decorrência das pressões do mundo, deve fazer oração. Por outro lado, se está livre disso, ou seja, se mesmo enfrentando o sofrimento e a tribulação impostos pelo mundo, continua “animado” (εθυμε), então deve “cantar salmos” (ψαλλέτω). Nisso percebemos que ele está descrevendo situações emocionais e, ou, espirituais. Não se tratam de aspectos físicos, mas de estados de espírito, ou seja, o contexto se encaixa mais numa descrição de uma “doença espiritual”.

Então, temos os versos 14-15: "Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. Ou seja, se alguém está “débil" na fé (oposto de animado), possivelmente por alguma situação de pecado que gerou um “desvio” espiritual, essa pessoa deve chamar os presbíteros da igreja, e eles devem ungi-la com óleo, e orar por ela. Consequentemente, a oração da fé “salvará o enfermo”. Essas duas palavras são muito importantes. “Salvará” no texto grego é σώσει (sósei). O termo típico para salvação de pecados. E enfermo é κάμνοντα (kamnonta) que tem o sentido primário de “exaustão”. Portanto, o Senhor “salvará o desanimado”. É claro que todos esses termos podem ser aplicados a “doença física”, mas o assunto de Tiago não é “doença física” e sim “doença espiritual”. Ele está falando, provavelmente, de uma pessoa que pecou gravemente, se afastou dos caminhos de Deus, porém, ao ser tocada pelo arrependimento, deseja voltar, mas não tem forças. Assim, os presbíteros devem formalmente ir até ela, orar por ela e ungi-la. Assim, formalmente, o pecado cometido fica perdoado diante de Deus e dos homens. Nesse caso, o óleo é o símbolo do Espírito Santo renovando a vida espiritual desse pecador.

Que o assunto é esse, fica ainda mais claro na sequência do texto: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5.16). Ou seja, o pecador deve confessar seu pecado e receber oração formal, assim, é reconduzido à comunhão da igreja.

Sobre a pergunta que poderia surgir, ou seja, se homens pecadores poderiam fazer isso por outros pecadores, Tiago responde com o exemplo de Elias: “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” (Tg 5.17-18). Portanto, nisso está a eficácia da oração do justo. Não é a ideia de perfeição de quem está orando, pois Elias é citado aqui como “sujeito aos mesmos sentimentos”, mas sua oração foi ouvida por Deus. A metáfora de “abrir o céu” e “fechar o céu”, no caso de Elias, fica ainda mais significativa. Quando os presbíteros oram para que Deus restaure o pecador arrependido, isso tem uma correspondência direta com o que é decidido no céu. Em situação semelhante evocando disciplina, restauração e perdão de pecados, no famoso Mateus 18, Jesus disse: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus” (Mt 18.18).

Os dois últimos versículos do capítulo e do livro de Tiago não deixam dúvida de que o assunto é “perdão de pecados”: “Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados” (Tg 5.19-20).

Portanto, em que situação a carta de Tiago autoriza os presbíteros a utilizarem o óleo? Para ungir qualquer doente? Parece-nos que não. A prática desse ato pode facilmente conduzir aos abusos e a uma consideração idolátrica do óleo. Formalmente, os presbíteros poderiam utilizar o óleo para ungir um pecador arrependido, que cometeu um pecado grave e se desviou do caminho de Deus (talvez perjuro), porém arrependido deseja voltar, mas não tem forças espirituais para isso. Então, formalmente, os presbíteros vão até ele quando chamados, oram por ele, ungem-no com óleo, simbolizando a restauração espiritual através do Espírito Santo, e confiam que seu ato realizado na terra foi confirmado no céu. Isso retira qualquer "poder" de cura do óleo em si mesmo, e estabelece-o como um símbolo da ação restauradora do Espírito Santo.

10 de out. de 2014

Vale tudo para pregar a Cristo?

Por Augustus Nicodemus Lopes

Um amigo no Twitter me perguntou faz um tempo se Filipenses 1:18 não justificaria o evangelho gospel e o show gospel. E mais recentemente vejo pessoas usando o mesmo texto para justificar a construção do "templo de Salomão" pela Universal.

Para quem não lembra, Paulo diz o seguinte em Filipenses 1:15-18:

“Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei” (Fp 1:15-18).

A interpretação popular desta passagem, especialmente desta frase de Paulo no verso 18, “Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei” – é que para o apóstolo o importante era que o Evangelho fosse pregado, não importando o motivo e nem o método. A conclusão, portanto, é que podemos e devemos usar de todos os recursos, métodos, meios, estratégias, pessoas – não importando a motivação delas – para pregarmos a Jesus Cristo. E que, em decorrência, não podemos criticar, condenar ou julgar ninguém que esteja falando de Cristo e muito menos suas intenções e metodologia. Vale tudo.

Então, tá. Mas, peraí... em que circunstâncias Paulo disse estas palavras? Ele estava preso em Roma quando escreveu esta carta aos filipenses. Ele estava sendo acusado pelos judeus de ser um rebelde, um pervertedor da ordem pública, que proclamava outro imperador além de César.

Quando os judeus que acusavam Paulo eram convocados diante das autoridades romanas para explicar estas acusações que traziam contra ele, eles diziam alguma coisa parecida com isto: “Senhor juiz, este homem Paulo vem espalhando por todo lugar que este Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, que nasceu de uma virgem, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia, e que está assentado a direita de Deus, tendo se tornado Senhor de tudo e de todos. Diz também que este Senhor perdoa e salva todos aqueles que creem nele, sem as obras da lei. Senhor juiz, isto é um ataque direto ao imperador, pois somente César é Senhor. Este homem é digno de morte!”

Ao fazer estas acusações, os judeus, nas próprias palavras de Paulo, “proclamavam a Cristo por inveja e porfia... por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias” (verso 17).

Ou seja, Paulo está se regozijando porque os seus acusadores, ao final, no propósito de matá-lo, terminavam anunciando o Evangelho de Cristo aos magistrados e autoridades romanos.

Disto aqui vai uma looooonga distância em tentar usar esta passagem para justificar que cristãos, num país onde são livres para pregar, usem de meios mundanos, escusos, de alianças com ímpios e de estratégias no mínimo polêmicas para anunciar a Cristo. Tenho certeza que Paulo jamais se regozijaria com “cristãos” anunciando o Evangelho por motivos escusos, em busca de poder, popularidade e dinheiro, pois ele mesmo disse:

“Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” (2Co 2:17).

“Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2Co 4:1-2).

“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações” (1Ti 1:5-7).

“Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Ti 6:3-5).

“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” (1Co 2:1-5).

Portanto, usar Filipenses 1:18 para justificar esta banalização pública do Evangelho é usar texto fora do contexto como pretexto.

1 de out. de 2014

1 Tm 2.6 refuta a Expiação Limitada?

Por Thiago Oliveira

Os 5 pontos do Calvinismo, também conhecidos por TULIP, acróstico referente as iniciais de cada ponto na língua inglesa são: Depravação Total do Homem; Eleição Incondicional; Expiação Limitada, Vocação Eficaz e Perseverança dos Santos. Eles são um resumo da teologia extraída dos Cânones de Dort, isso no auge das disputas entre calvinistas e arminianos no séc XVII acerca das doutrinas da salvação. Dentre os 5 pontos, o terceiro talvez seja o mais combatido e o mais controverso dentro do segmento protestante/evangélico, por dizer que Jesus na cruz não morreu por todos os homens, e sim, morreu para remir os que Ele incondicionalmente elegeu.

“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”.  1 Timóteo 2: 5-6.

Alguns teólogos arminianos, como o Roger E. Olson, tem citado essa passagem com o intuito de refutar a bíblica doutrina da expiação limitada (indico a leitura de “Por Quem Cristo Morreu?” do puritano John Owen, disponível na internet em PDF). Outro expoente seguidor de Armínio, Vernon Grounds, disse que é necessário uma “ingenuidade exegética, beirando o sofisma” para que se negue a universalidade presente nesse texto de Paulo à Timóteo. No entanto, veremos que um exame diligente (e não ingênuo) das Escrituras não nos deixam nenhuma dúvida de que o apóstolo Paulo nem aqui e nem em nenhum outro lugar na Bíblia está defendendo a expiação universal.

Observando o princípio hermenêutico de que as Escrituras se interpretam entre si, vamos analisar não apenas 1 Timóteo 2, mas também outros escritos paulinos. Basta compreendermos que o termo “todos” aqui empregado não se reporta a indivíduos, e que esta palavra está dentro do contexto de que o presbítero de Éfeso deveria, no culto público, interceder em favor de todas as classes de homens, incluindo os reis e os que estão em eminência (v.2). Calvino, em seu comentário, nos lembra de que os magistrados nessa época eram os mais severos inimigos de Cristo. Mesmo assim a ordem apostólica é de que devemos orar também por estes perseguidores da igreja. Quando Paulo diz que o desejo de Deus é “que todos os homens se salvem” fica evidente que ele se refere a classe e não a totalidade de indivíduos na Terra.

Ao afirmar que Deus deseja que homens de cada posição social, nacionalidade ou gênero sejam salvos está corroborando com a ideia de que há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens´, a saber: Jesus Cristo (v.5). A ideia de Jesus como mediador de uma nova aliança quebra as barreiras nacionalistas do judeu e também esmaga o elitismo da cosmovisão grega. O termo “todos” é uma referência óbvia aos gentios, objeto do ministério paulino (v.7). Quanto a isso, Paulo interpreta a si mesmo em outras cartas: (Rm 3:29,1 Co 12: 13, Cl 3:28).

“É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente. Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão”. Romanos 3:29-30

“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. 1 Coríntios 12:13

“Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Gálatas 3:26-28

O universalismo da expiação não compreende a cada indivíduo. Afirmar isso apenas porque a expressão “todos” existe no texto é a verdadeira ingenuidade. Seria como dizer que uma reunião só começaria quando cada habitante do planeta chegasse, pois o chefe teria dito que só começaria quando “todos” estivessem presentes. Paulo está falando da abolição de classes que a mediação única de Cristo “dando a Si mesmo como preço da redenção (v.6)” produziu. Não existem vários mediadores e deuses competindo pela adoração da humanidade. Se antes, os demais povos estavam longe, separados da comunidade de Israel, com a mediação de Cristo Jesus fomos unidos aos membros da aliança:

“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz. E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito”. Efésios 2:14-18

Apoiando a teologia Paulina, temos Pedro que escreve a sua epístola aos “aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia”, dirigindo-se a todas as regiões gentílicas onde o Evangelho havia sido difundido e onde os eleitos de todos os povos poderiam ser encontrados. Estes são as “pedras vivas na edificação de uma casa espiritual” por meio (ou seja, mediação) de Jesus Cristo (1Pe 2: 5), fazendo povo de Deus aqueles que nem sequer eram povo e nem sequer haviam recebido misericórdia (1Pe 2:10). De igual modo, o apóstolo João, ao receber a revelação daquele que poderia abrir o livro da vida, relata que o canto que ecoava no céu era o seguinte:

"Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação”. Apocalipse 5:9
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Referências Bibliográficas:

1. BARCLEY, William. Comentário do Novo Testamento.E-Book.
2. CALVINO, João. Pastorais. Ed Fiel.
3. HENDRIKSEN , William. Comentário do Novo Testamento. Ed. Cultura Cristã.
4. KELLY, J.N.D. 1 e 2 Timóteo e Tito: Introdução e Comentário. Ed. Vida Nova.