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5 de set. de 2016

Reforma: Retorno as Escrituras

Por Luciana Barbosa

Então o sumo sacerdote Hilquias disse ao secretário Safã: "Encontrei o livro da Lei no templo do Senhor". Ele o entregou a Safã, que o leu.

O secretário Safã voltou ao rei e lhe informou: "Teus servos entregaram a prata que havia no templo do Senhor e a confiaram aos trabalhadores e supervisores no templo". E o secretário Safã acrescentou: "O sacerdote Hilquias entregou-me um livro". E Safã o leu para o rei.

Assim que o rei ouviu as palavras do livro da Lei, rasgou suas vestes e deu estas ordens ao sacerdote Hilquias, a Aicam, filho de Safã, a Acbor, filho de Micaías, ao secretário Safã e ao auxiliar real Asaías: "Vão consultar o Senhor por mim, pelo povo e por todo Judá acerca do que está escrito neste livro que foi encontrado. A ira do Senhor contra nós deve ser grande, pois nossos antepassados não obedeceram às palavras deste livro, nem agiram de acordo com tudo que nele está escrito a nosso respeito". O sacerdote Hilquias, Aicam, Acbor, Safã e Asaías foram falar com a profetisa Hulda, mulher de Salum, filho de Ticvá e neto de Harás, responsável pelo guarda-roupa do templo. Ela morava no bairro novo de Jerusalém.

Ela lhes disse: "Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Digam ao homem que os enviou a mim: Assim diz o Senhor: Eu vou trazer desgraça sobre este lugar e sobre seus habitantes; tudo o que está escrito no livro que o rei de Judá leu. Porque me abandonaram e queimaram incenso a outros deuses, provocando-me à ira por meio de todos os ídolos que as mãos deles têm feito, minha ira arderá contra este lugar e não será apagada’.

Digam ao rei de Judá, que os enviou para consultar o Senhor: ‘Assim diz o Senhor, o Deus de Israel, acerca das palavras que você ouviu:

Já que o seu coração se abriu e você se humilhou diante do Senhor, ao ouvir o que falei contra este lugar e contra seus habitantes, que seriam arrasados e amaldiçoados, e porque você rasgou as vestes e chorou na minha presença, eu o ouvi, declara o Senhor.

Portanto, eu o reunirei aos seus antepassados, e você será sepultado em paz. Seus olhos não verão toda a desgraça que eu vou trazer sobre este lugar’ ". Então eles levaram a resposta ao rei.”

2 Reis 22.8-20

Quando lemos esse texto que fala sobre o rei Josias, entendemos que este tinha conhecimento das Escrituras, pois, quando o livro que foi achado foi lido na sua presença, ele imediatamente rasgou suas vestes como sinal de arrependimento. Então diante disso devemos nos perguntar: Por que há a necessidade de se voltar a Lei de Deus? Para responder a essa pergunta gostaria de dividir a resposta em quatro pontos.

I - PORQUE SEM O CONHECIMENTO DA LEI DE DEUS, NÃO HÁ COMO PRESTAR CULTO VERDADEIRO (V. 16,17)

Quando o lugar da Escritura é trocado por outra coisa, o culto a Deus é segundo nossa própria imaginação, e se é pela nossa própria imaginação, cultuamos a outros deuses e não ao Senhor, logo há quebra do primeiro e segundo mandamento.

II - PORQUE SÓ ATRAVÉS DA LEITURA DA LEI DE DEUS CULTUAMOS O SENHOR COMO ELE É (V.11-13)

Só após ler a Lei do Senhor, Josias percebeu que o povo estava longe de Deus, pois este já conhecia e temia a Deus. Não há como conhecer a Deus sem ler (conhecer) a Sua Palavra.

III – PORQUE NECESSITAMOS RETIRAR DO NOSSO CULTO TUDO QUE NÃO AGRADA AO SENHOR (23. 4-14)

Depois que Josias tomou conhecimento do que Deus determinava em Sua Palavra fez uma varredura enorme: Derribou os postes-ídolos, tirou fora as estátuas dos deuses de outros povos, acabou com os prostitutos cultuais, matou os falsos sacerdotes, eliminou o espiritismo exercido por médiuns, adivinhadores e similares. Assim como fez o rei Josias, nós como povo exclusivo de Deus, devemos retirar do nosso culto tudo que não agrada a Deus, para que Ele venha aceitar nosso culto.

IV. PORQUE PRECISAMOS VOLTAR A ALIANÇA QUE DEUS FEZ COM SEU POVO (23.1-3)

Precisamos retornar para o lugar de onde nunca deveríamos ter saído, pois, é dentro da aliança que somos abençoados por Deus.

CONCLUSÃO

Necessitamos urgentemente retornar a Lei de Deus, necessitamos adorar somente a Deus, NÃO como achamos como Ele é, antes, como Sua palavra diz Ser o que Ele é: SANTO, JUSTO, PERFEITO, CIUMENTO e NÃO DIVIDE SUA GLÓRIA COM NINGUÉM.

“Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.”

Êxodo 20.1-5

23 de mar. de 2016

O Pacto de Obras

Por R.C. Sproul

A teologia do pacto é muito importante por várias razões. Embora a teologia do pacto, em torno de milênios, encontre sua formulação mais refinada e sistemática na Reforma Protestante. Sua importância, no entanto, tem sido intensificada em nossos dias por causa de sua relação com outra teologia que é relativamente nova. No final do século XIX, a teologia chamada de "dispensacionalismo" surgiu como uma nova abordagem para a compreensão da Bíblia. A velha Bíblia de Referência Scofield definiu dispensacionalismo em termos de sete dispensações distintas, de períodos, de tempos, dentro de Sagrada Escritura. Cada dispensação foi definida como "um período de tempo durante o qual o homem é testado em relação a obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus" (p. 5, Scofield Reference Bible). Scofield distinguiu sete dispensações, inclui inocência, consciência, governo civil, promessa, lei, graça e o período do reino. Contra esta visão diversificada da história da redenção, a teologia do pacto visa apresentar uma imagem clara da unidade da redenção, tal unidade é vista na continuidade dos pactos que Deus fez ao longo da história e como eles são cumpridos na pessoa e obra de Cristo.

Além da contínua discussão entre dispensacionalistas tradicionais e teólogos reformados no que diz respeito à estrutura básica da revelação bíblica, tem surgido em nossos dias uma crise ainda maior no que diz respeito à nossa compreensão da redenção. Esta crise se concentra no lugar da imputação, em nossa compreensão da doutrina da justificação. Assim como a doutrina da imputação foi a questão central no debate do século XVI entre os reformadores e os católicos romanos no entendimento da justificação, então agora a questão da imputação cresceu novamente, mesmo entre os evangélicos professos que negam a compreensão Reformada da imputação. O cerne desta questão da justificação e imputação é a rejeição do que é chamado por pacto das obras. A teologia da aliança histórica faz uma importante distinção entre o pacto das obras e o pacto da graça. A aliança das obras refere-se à aliança que Deus fez com Adão e Eva em sua pureza original, antes da queda, em que Deus lhes prometeu bem-aventurança se fossem obedientes as suas ordens. Após a queda, o fato de Deus continuar a promessa de redenção para as criaturas que violaram o pacto das obras, esse andamento da promessa de redenção é chamado de aliança da graça.

Tecnicamente, a partir de uma perspectiva, todos os pactos que Deus faz com suas criaturas são graciosos, no sentido que Ele não é obrigado a fazer quaisquer promessas a suas criaturas. Mas a distinção entre o pacto das obras e o pacto da graça adquire vital importância, uma vez que tem a ver com o Evangelho. O pacto da graça indica a promessa de Deus para nos salvar, mesmo quando deixamos de guardarmos as obrigações impostas na criação. Isto é visto com mais importância na obra de Jesus como o novo Adão. Repetidas vezes o Novo Testamento faz a distinção e contraste entre a falha e calamidades trazidas sobre a humanidade através da desobediência de primeiro Adão, e os benefícios que fluem através da obra de obediência de Jesus, que é o novo Adão. Embora haja uma clara distinção entre o novo e o velho Adão, o ponto de continuidade entre os dois é que ambos foram chamados a apresentar perfeita obediência a Deus.

Quando entendemos a obra redentora de Cristo no Novo Testamento, concentramos nossa atenção em grande parte em dois aspectos do mesmo. Por um lado, nós olhamos para a expiação. Isso claro nos ensinamentos do Novo Testamento, que na expiação Jesus carrega os nossos pecados e é punido por eles em nosso lugar. Isto é, a expiação é vicária e substitutiva. Neste sentido, na cruz, Cristo tomou sobre si as sanções negativas da antiga aliança. Ou seja, ele suportou em seu corpo a punição devida por àqueles que violaram não só a lei de Moisés, mas também a lei que foi imposta no paraíso. Ele tomou sobre si a maldição merecida por todos aqueles que desobedeceram a lei de Deus. Isto, a teologia reformada chama de "a obediência passiva de Jesus". Este ponto foca para a sua vontade de submeter-se a condição de receber a maldição de Deus em nosso lugar.

Além do cumprimento negativo do pacto de obras, ao tomar a punição devida àqueles que o desobedeceram, Jesus oferece a dimensão positiva que é vital para a nossa redenção. Ele ganha a bênção do pacto de obras para a descendência de Adão que deposita fé nele. Enquanto Adão foi o transgressor da aliança, Jesus é o cumpridor da aliança. Onde Adão não conseguiu conquistar a bem-aventurança da árvore da vida, Cristo conquistou a bem-aventurança por sua obediência, o que proporciona bem-aventurança para aqueles que depositam sua fé nele. Nesta obra de cumprir o pacto para nós em nosso lugar, a teologia fala sobre a "obediência ativa" de Cristo. Ou seja, a obra redentora de Cristo inclui não só a sua morte, mas a sua vida. Sua vida de perfeita obediência torna-se o único fundamento da nossa justificação. É a sua perfeita justiça, adquirida através de sua obediência perfeita, que é imputada a todos os que depositam sua fé nele. Portanto, a obra de Cristo de obediência ativa é absolutamente essencial para a justificação de qualquer um. Sem obediência ativa de Cristo ao pacto das obras, não há nenhuma razão para a imputação, não há motivo para a justificação. Se nós tiramos o pacto das obras, nós tiramos a obediência ativa de Jesus. Se tiramos a obediência ativa de Jesus, tiramos a imputação da sua justiça em nossa vida. Se tiramos a imputação da justiça de Cristo para nós, tiramos a justificação pela fé. Se nós tiramos a justificação pela fé, tiramos o Evangelho, e nós somos deixados em nossos pecados. Nós somos deixados como os filhos miseráveis de Adão, que só podem olhar para a frente sentindo a plena medida de maldição de Deus sobre nós por nossa desobediência. É a obediência de Cristo, que é o fundamento de nossa salvação, tanto na sua obediência passiva na cruz, como sua obediência ativa em sua vida. Tudo isso está indissociavelmente relacionado com a compreensão bíblica de Jesus como o novo Adão (Rm. 5:12-20), que teve êxito onde o primeiro Adão falhou, que prevaleceu onde Adão perdeu. Há nada menos do que a nossa salvação em jogo nessa questão.

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Fonte: Ligonier

Traduzido por Pedro Paulo.


26 de fev. de 2016

Aliança da Redenção

Por Michael Horton

Quase todas as alianças bíblicas são pactos históricos feitos por Deus com suas criaturas. A aliança da redenção, porém, é um pacto eterno entre as pessoas da Trindade. O Pai elege um povo no Filho, como seu mediador, que será levado à fé salvadora por meio do Espírito. Assim, a aliança feita pela Trindade na eternidade já leva em conta a queda da raça humana. Escolhidos dentre a massa condenada da humanidade, os eleitos não são melhores ou mais bem qualificados que o restante. Deus simplesmente escolheu, de acordo com a sua própria liberdade, demonstrar a sua justiça e a sua misericórdia, e a aliança da redenção é o ato de abertura desse drama da redenção.

Já podemos ver como uma estrutura pactual desafia a ideia de um déspota solitário. O Pai elege um povo no Filho por meio do Espírito. Nossa salvação, portanto, surge primeiro pela solidariedade das pessoas da divindade. A alegria de dar e receber, experimentadas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo derrama-se, por assim dizer, sobre o relacionamento Criador-criatura. Na aliança da redenção, o amor do Pai e do Espírito pelo Filho é demonstrado na dádiva de um povo que o terá como sua cabeça viva. Ao mesmo tempo, o amor do Filho pelo Pai e pelo Espírito é demonstrado pelo seu compromisso de redimir essa família a um grande custo pessoal.

É por isso que não devemos procurar o decreto secreto de Deus na predestinação ou tentar encontrar evidência dela em nós mesmos, mas, como insistia Calvino, ver Cristo como o “espelho” de nossa eleição. A predestinação de Deus nos é escondida, mas Cristo não é. O desvendar do mistério oculto em eras passadas, a pessoa e a obra de Cristo, torna-se o único testemunho confiável da nossa eleição. Aqueles que confiam em Cristo pertencem a Cristo e são eleitos em Cristo.

Até aqui ofereci algumas definições, mas ainda não apresentei qualquer defesa bíblica. Essa aliança da redenção é produzida por especulação teológica ou por cuidadosa interpretação bíblica?

Em resposta a essa pergunta, devemos observar primeiro que alguns teólogos reformados contemporâneos sugerem que a Escritura é silenciosa sobre essa aliança eterna. Contudo, esse mesmos escritores afirmam a doutrina reformada tradicional da eleição: Deus escolheu muitos da raça condenada de Adão para estarem em Cristo, à parte de qualquer coisa pertencente ou prevista naqueles que foram escolhidos e de acordo somente com a livre graça de Deus. Se nos ativermos simultaneamente à doutrina da Trindade e da eleição incondicional, não fica claro que objeção poderia ser feita, a princípio, para descrever esse decreto divino em termos do conceito de uma aliança eterna entre as pessoas da Divindade. Segundo, não contamos apenas com argumentos a partir do silêncio. No ministério de Cristo, por exemplo, o Filho é representado (especialmente no quarto Evangelho) como tendo recebido do Pai um povo (Jo. 6:39; 10:29; 17:2,4-10; Ef. 1:4-12; Hb. 2:13 citando Is. 8:18), que é chamado e guardado pelo Espírito Santo para a consumação da nova criação (Rm. 8:29,30; Ef. 1:11-13; Tt.3:5; 1 Pe. 1:5). Na verdade, afirmar a aliança da redenção é algo mais que afirmar que a auto-entraga do Filho e a obra regeneradora do Espírito foram a execução do plano eterno do Pai. Não somente fomos escolhidos em Cristo “antes da fundação do mundo” (Ef. 1:4), mas também o próprio Cristo é referido como “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap. 13:8).

A aliança da redenção destaca a soberania e a liberdade de Deus na graça eletiva, como também o caráter trinitariano e especificamente cristocêntrico desse propósito divino. Tudo acontece “em Cristo”; assim a ênfase na teologia da aliança sobre o tema de “Cristo, o mediador”. Mesmo antes da criação e da queda, os eleitos estavam “em Cristo” em termos do propósito divino para a História, ainda que não na História em si. Longe de ser resultado de especulação abstrata, esse conceito da aliança da redenção é um ensinamento revelado da Escritura e a melhor defesa contra essa especulação. Sempre que a soberania de Deus na predestinação for fortemente defendida fora de um arcabouço de aliança, a revelação concreta de nossa eleição em Cristo, de acordo com a promessa do evangelho, cede a debates teóricos que nos levam a especulações sem fim sobre os conselhos escondidos de Deus.

Apesar desse consenso passado, teólogos reformados em nossos dias não estão unanimemente persuadidos que o decreto eterno pode ser formalizado como uma aliança com base na exegese. Por exemplo, O. Palmer Robertson reconhece o decreto eterno:

Mas afirmar o papel da redenção nos conselhos eternos não é o mesmo que propor a existência de uma aliança pré-criação entre Pai e Filho. Um sentido de artificialidade tempera o esforço de estruturar em termos pactuais os mistérios dos conselhos eternos de Deus. A Escritura simplesmente não diz muito sobre o formato pré-criação dos decretos de Deus. Falar concretamente sobre uma “aliança” intertrinitariana [sic] com termos e condições entre Pai e Filho, mutuamente aprovados antes da fundação do mundo, é estender os limites da evidência das Escrituras além do que é próprio [1].

Além do mais, como uma “disposição soberana” poderia ser verdadeira no caso da Trindade?

Aqui vemos novamente os perigos inerentes a uma definição estreita demais de aliança. Nas passagens citadas acima, parece claro que as pessoas da Trindade estavam envolvidas numa disposição “pré-temporal” de alguma espécie: a eleição de um povo dado ao Filho como mediador a ser preservado pelo Espírito. Nessas passagens, especialmente no Evangelho de João, Jesus fala repetidas vezes de “aqueles que tu me deste” (17:6,9,11,12). A própria noção de mediação soteriológica requer alguma espécie de concordância de juramento. Na verdade, é exatamente essa aliança trinitariana que é capaz de contrabalancear uma tendência hipercalvinista de soteriologia unitariana em que “Deus” (isto é, o Pai) soberanamente decreta a salvação e reprovação sem ser pela operação do Filho e do Espírito. Uma soteriologia trinitariana emerge necessariamente dessa ênfase. “Assim como a bênção de Deus existe na relação livre das três Pessoas do Ser adorável, do mesmo modo, o homem encontrará bênção no relacionamento pactual com Deus”, escreve Vos [2].

Parte da dificuldade para os intérpretes é que essas passagens não identificam especificamente o decreto como uma aliança. No entanto, como já vimos, a aliança davídica só foi reconhecida como tal pelos profetas muito mais tarde (Sl. 89 e 132). Apesar de sua acusação de que essa doutrina de aliança é especulativa, o próprio Robertson introduz alianças antes jamais ouvidas. Além das alianças com Noé, Abraão, Moisés e Davi, ele acrescenta “uma aliança de começo” (com Adão pós-lapsariano) e uma “aliança de consumação” (Cristo) , nenhuma das quais é identificada especificamente como aliança na Escritura. Certamente a Escritura não reconhece o tipo de tratado de suserano-vassalo entre as Pessoas da Trindade. Afinal, cada pessoa é igualmente divina: não há senhores e servos no relacionamento trinitariano eterno. Além do mais, não existe uma estrutura formal de tratado nessa aliança da Escritura – nenhum prólogo histórico, nem estipulações, nada de sanções, e assim por diante. Já vimos, porém, que nem todas as alianças bíblicas se encaixam no estilo de suserania. Só uma definição exageradamente restrita de aliança poderia justificar a ideia de que a aliança da redenção é especulativa e não bíblica.

Portanto, a aliança da redenção é tão claramente revelada na Escritura quanto a Trindade e o decreto eterno de eleger, redimir, chamar, justificar, santificar e glorificar um povo para o Filho. Ao mesmo tempo, esse propósito eterno teria permanecido escondido de nós se não tivesse sido realizado em nosso tempo e espaço. É aí que se dá maior atenção bíblica. Enquanto a aliança da redenção é eterna e tem como participantes as pessoas da Divindade, as alianças da criação e da graça se desenrolam na história humana e tem como parceiros o Criador e criatura.

Uma das declarações mais sucintas desse esquema das duas alianças históricas se encontra no capítulo sete da Confissão de Fé de Westminster:

A distância entre Deus e a criatura é tão grande que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele, como bem-aventurança e recompensa, senão por voluntária condescendência da parte de Deus, a qual agradou a ele expressar por meio de um pacto. O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob condição de perfeita e pessoal obediência. Tendo-se o homem tornando, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio desse pacto, o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente chamado de pacto da graça; nesse pacto da graça ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por meio de Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele, para que sejam salvos, e prometendo o seu Santo Espírito a todos os que estão ordenados para a vida, a fim de dispô-los e habilitá-los a crer.
___________

[1] Robertson, Christ of the Covenants, 54
[2] Vos, Redemptive History and Biblical Interpretation, 245

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Trecho do livro O Deus da Promessa - Introdução à Teologia da Aliança. Ed. Cultura Cristã

12 de fev. de 2016

Teologia Reformada é Teologia do Pacto

Richard Pratt Jr.

A teologia reformada é frequentemente associada como "teologia do pacto." Se você ouvir atentamente, você vai ouvir muitas vezes pastores e professores que se descrevem como "reformado e pactual". Os termos "reformado" e "pactual" são utilizados em conjunto tão amplamente que cabe a nós entender por que eles estão conectados.

A teologia do pacto refere-se a uma das crenças básicas que os calvinistas têm mantido sobre a Bíblia. Todos os protestantes que se mantiveram fiéis à sua herança afirmam o Sola Scriptura , a crença de que a Bíblia é a nossa autoridade suprema e inquestionável. A teologia do pacto, no entanto, distingue a visão reformada da Escritura de outras perspectivas protestantes, enfatizando que os pactos divinos unificam os ensinamentos da Bíblia inteira.

Desenvolvida anteriormente no seio Reformado, a compreensão pactual da Escritura chegou a um ponto alto na Inglaterra do século XVII com a Confissão de Fé de Westminster (1646), a Declaração de Savoy (1658), de Londres, Confissão Batista de 1689, e cada uma representando diferentes grupos de ingleses - calvinistas. Com apenas pequenas variações entre estes documentos, eles dedicam um capítulo inteiro à administração das alianças de Deus com a humanidade revelando a unidade do todo que a Bíblia ensina.

Por exemplo, a Confissão de Fé de Westminster fala de Deus condescendendo para revelar-se à humanidade por meio de um pacto. Em seguida, ela divide toda a história da Bíblia em apenas dois pactos: o "pacto de obras" em Adão e o "pacto da graça" em Cristo. O pacto das obras foi arranjo de Deus com Adão e Eva antes da queda no pecado. O pacto da graça governa o resto da Bíblia. Neste ponto de vista, todas as fases do pacto de graça eram de mesma substância. Eles diferem apenas como Deus administrou Seu único pacto de graça em Cristo de várias maneiras ao longo da história bíblica.

Nessa mesma linha, uma série de teólogos reformados mais recentes têm afirmado a unidade pactual da Escritura, relacionando particulares alianças bíblicas para o que o Novo Testamento chama de "o reino de Deus". Jesus indicou a importância do reino de Deus nas palavras de abertura do Pai Nosso: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mateus 6: 9,10). As palavras de Jesus primeiro indicam que o principal objetivo da história é a glória e honra de Deus. No entanto, suas palavras indicam também que Deus receberá esta glória através da vinda de Seu reino à terra assim como no céu. O objetivo de Deus sempre foi de receber o louvor eterno de cada criatura, estabelecendo Seu glorioso reino na Terra. Pegando emprestado o louvor bem conhecido de Apocalipse 11:15, no fim da história "o reino do mundo [irá] tornar-se o reino de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre."

Recentes descobertas arqueológicas mostraram como às alianças de Deus sem relacionavam com o Seu reino terrestre. Nos dias da Bíblia, muitos reis das nações ao redor de Israel administravam a expansão de seus reinos através de tratados internacionais. Os estudiosos da Bíblia notaram semelhanças notáveis entre esses tratados antigos e as alianças bíblicas com Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi, e Cristo. Essas similaridades indicam que a Escritura apresenta os pactos como a maneira de Deus administrar a expansão do Seu reino na terra.

Alianças bíblicas enfatizam o que era necessário em fases específicas do reino de Deus, promovendo os princípios de alianças anteriores. Com Adão, Deus começou a revelar sua própria realeza, o papel da humanidade, e o destino que Ele havia planejado para a terra (Gn. 1-3). Estes princípios foram avançando, em diante, Deus promete estabilidade na natureza para o serviço da humanidade no pacto com Noé (Gn. 6,9). Deus reforça seus pactos anteriores, prometendo que os descendentes de Abraão se tornariam um grande império e espalhariam as bênçãos de Deus para todas as outras nações (Gn 15, 17). Deus fez esses pactos para abençoar a Israel com a sua Lei nos dias de Moisés (Êx. 19-24). Cada aliança anterior foi levada a novas alturas quando Deus estabeleceu a dinastia de Davi e prometeu que um de seus filhos iria governar com justiça sobre Israel e sobre o mundo inteiro (Sl. 72;. 89; 132). Todos os pactos do Antigo Testamento foram então promovidos e cumpridos em Cristo (Jr. 31:31; 2 Co. 1: 19-20). Como o grande filho de Davi, sua vida, morte, ressurreição, ascensão e retornar eternamente garantiram a transformação de toda a terra em glorioso reino de Deus.

Muitos cristãos evangélicos hoje acham difícil acreditar que tudo na Escritura após Gênesis 3:15 diz respeito ao reino de Deus administrado através do desdobramento de um pacto de graça. A maioria dos evangélicos americanos visualiza a Escritura como dividida em períodos de tempo regidas por, substancialmente, diferentes princípios teológicos. Quando os cristãos seguem esta abordagem popular com as Escrituras, não demora para que eles se convençam de que o novo pacto de nossos dias está, na verdade, em desacordo com muitos aspectos do Velho Testamento.

Pelo menos três questões muitas vezes passam para o primeiro plano: obras e graça, fé corporativa e individual, e preocupações terrenas e espirituais. Em primeiro lugar, muitos evangélicos acreditam que a ênfase do Antigo Testamento em boas obras é incompatível com a salvação pela graça mediante a fé em Cristo. Em segundo lugar, o relacionamento corporativo de Israel com Deus como comunidade parece ter sido substituído por um foco sobre as relações pessoais dos indivíduos com Deus. Em terceiro lugar, muitos evangélicos acreditam que o Antigo Testamento chama para estabelecimento de um reino terreno de Deus este em contraste com a ênfase do Novo Testamento sobre um reino espiritual em Cristo.

A teologia do pacto permitiu aos teólogos reformados a percepção de que o Novo Testamento é realmente muito semelhante ao Velho Testamento nessas três áreas. Primeiro, nessa visão a salvação pela graça mediante a fé em Cristo é a única forma de salvação em ambos os Testamentos. Toda a Bíblia chama para boas obras, porque a fé salvadora sempre produz frutos de obediência a Deus. Em segundo lugar, teologia da aliança nos ajuda a ver que ambos os Testamentos falam sobre relacionamentos individuais e corporativos com Deus. Todas as alianças de Deus lidam com pessoas em ambos níveis. Em terceiro lugar, a teologia do pacto mostra que o reino de Deus sempre foi terreno e espiritual. O Antigo e Novo Testamento se concentram em nossos serviços em ambos os reinos. Nesses e em outros aspectos, a teologia do pacto tem muito a oferecer a comunidade evangélica.

Ao mesmo tempo, há também uma necessidade crescente de que teologia do pacto seja fortemente reafirmada em círculos reformados contemporâneos. Nas últimas décadas, muitos defensores mais recentes da teologia reformada têm negligenciado a teologia do pacto.

Cada vez mais, vemos que a teologia reformada está sendo reduzida para o que costumamos chamar de, as doutrinas da graça - crenças essenciais como depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Claro, devemos valorizar essas verdades da Escritura, mas quando deixamos de salientar a estrutura maior que a teologia da aliança oferece, a nossa compreensão da Bíblia em breve começa a sofrer nas três áreas mencionadas.

Em primeiro lugar, as doutrinas da graça destituídas da teologia do pacto levam alguns a acreditar que a teologia reformada está principalmente preocupada em ensinar que a graça de Deus sustenta a vida cristã do início ao fim. Claro, com certeza isso é verdade. No entanto, as alianças de ambos os testamentos consistentemente ensinam que Deus sempre exigiu determinado esforço de seu povo em resposta à sua graça, e que Ele recompensará a obediência e punirá a desobediência.

Em segundo lugar, separadas da teologia do pacto, muitas pessoas em nossos círculos parecem pensar que nossa teologia é sempre sobre como encontrar maneiras exclusivamente reformadas para as pessoas aprimorarem suas relações com Deus. Em nossos dias, uma série de caminhos para a santidade pessoal e devoção foram tratados como as características centrais da teologia reformada. Tão importante quanto os indivíduos na Bíblia, a teologia do pacto, também, destaca o nosso relacionamento corporativo com Deus. Nenhuma aliança bíblica foi feita com apenas uma pessoa. Eles também envolvem Deus estabelecendo relacionamentos com grupos de pessoas. Por esta razão, ambos os testamentos nos ensinam que as famílias dos crentes são comunidades de aliança, em que a misericórdia de Deus é passada de uma geração para outra. Além disso, a igreja visível em ambos os testamentos é a comunidade da aliança em que recebemos o evangelho e os meios comuns de graça.

Em terceiro lugar, as doutrinas da graça facilmente nos passam a impressão de que a teologia reformada só está preocupada com assuntos espirituais. Muitas pessoas em nossos círculos estão profundamente preocupadas com a transformação interior por meio de uma verdadeira compreensão das Escrituras. No entanto, muitas vezes negligenciam os efeitos naturais e sociais do pecado e da salvação. A teologia do pacto dá-nos uma visão muito maior e mais convincente de nossas esperanças como cristãos. Em ambos os testamentos, os crentes expandem o reino de Deus, tanto para a esfera espiritual quanto terrena. Devemos ensinar o evangelho de Cristo a todas as nações para que as pessoas possam ser transformadas espiritualmente, mas essa renovação espiritual é por uma questão de estender o senhorio de Cristo a todas as facetas da cultura em todo o mundo.

Tudo isso é para dizer que a teologia do pacto tem muito a oferecer todos os cristãos. Então, quando nos perguntamos: "O que é a teologia reformada?" isto nos servirá de boa resposta: "a teologia reformada é teologia do pacto."
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Tradução cedida por Pedro Paulo, fonte original aqui.

2 de out. de 2015

É importante observar os Mandatos da Criação

Por Luciana Barbosa

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.

E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.” 

Gênesis. 1.26-28

Por que é importante observar os mandatos? Você sabe quantos e quais são os mandatos? Pois bem, não surgiu hoje mas, na criação do mundo. Leia esse texto e logo após volte a essas perguntas e responda para si mesmo.

4 de jun. de 2015

Um Estudo sobre o Batismo

Por Thiago Oliveira

 Roteiro:

1. Batismo: Ordenança e Sacramento
2. Batismo como Meio de Graça
3. O Batismo anterior ao Cristianismo
4. O Batismo de João
5. Crenças Equivocadas sobre o Batismo
6. A Forma de se Batizar
7. O Batismo Infantil

21 de dez. de 2014

A Nova Aliança

Por Thiago Oliveira

Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós.

Lucas 22.20

Cristo é aquele que confirma todas as alianças que vimos até aqui. As promessas feitas a Abraão e até a Adão, de que ele dominaria sobre a Terra são todas cumpridas na pessoa e na obra de Jesus Cristo. O nosso Senhor, na celebração da ceia com seus discípulos refere-se a uma Nova Aliança (Lc 22.20). Todavia, este novo concerto não está desvinculado dos outros pactos que estudamos até aqui. Jeremias, ainda no Antigo Testamento, já havia mencionado a Nova Aliança (Jr 31.31,32). Isto quer dizer que ela apresenta continuidade com o passado, embora represente novidade para o presente.

Para ilustrarmos melhor a ideia de continuidade com novidade, atentemos para as palavras de Jeremias: "Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias", declara o Senhor: Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo.” Jeremias 31:33

Aqui está algo crucial: A lei que será gravada no coração dos eleitos é a mesma lei que Deus havia escrito em tábuas de pedra e dado para os israelitas no Sinai. Mas, temos novidades e isto contrasta com a Antiga Aliança. Não podemos também achar que a Nova Aliança foi apenas um melhoramento da antiga. A nova, embora traga consigo elementos da primeira, é uma outra aliança, consumada em Cristo e vivenciada de uma forma diferente pelos cristãos, que não são israelitas aperfeiçoados, e sim, pessoas de todas as nacionalidades.

PERDÃO DOS PECADOS

O centro da nova Aliança é o perdão dos pecados. O que lemos na profecia são as seguintes palavras: “dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jr. 31.34). Sabemos que o sacrifício no calvário cumpriu bem este papel. Os Israelitas, quando tinham o tabernáculo, e posteriormente o templo, tinham no sacrifício de animais o mais importante ofício religioso. Os sacrifícios oferecidos eram no intuito de aplacarem a Ira Divina e receberem o perdão por seus pecados. Quando faziam isso em busca de perdão, de certa forma, estavam lembrando dos seus pecados. Então, na nova aliança, Cristo é o sacrifício final para que ninguém precise mais sacrificar nada. Este é um convite para nos libertarmos da lembrança do pecado. Esta é uma tremenda benção da Nova Aliança.

Um dos termos usados para descrever o que Cristo fez por nós é redenção, o significado desta palavra é jurídico. Ela indica libertação por meio de pagamento. Nós fomos comprados por alto preço (1 Co 6.20). O sangue de Cristo foi o pagamento que nos resgatou (1 Pe 1.18.19). Com sua morte Ele cancelou a nossa dívida (Cl 2.14) de modo que somos livres e nenhuma condenação há para os que estão n’Ele (Rm 8.1).  

OUTROS POVOS

Outro aspecto diferente da Nova Aliança é que o Israel étnico não mais será o fio condutor, por assim dizer, da revelação divina. Aqueles que antes não eram povo, serão chamados de povo, e amados como povo (Rm 9.25). Isto se dá porque parte dos israelitas quebram a aliança (Jr 31.32). Mas há um remanescente de Israel que será salvo (Rm 9.27 e 11.5). O sangue de Cristo comprou homens de todas as nacionalidades (Ap 5.9).

Na Nova Aliança, israelitas e gentios formam um só corpo. Tem os mesmos direitos e os mesmos deveres como filhos de Deus. O rebanho é único, e Deus não trata de maneira diferente, ou melhor, separada, a Igreja formada por judeus e a Igreja formada por outros povos. As palavras do apóstolo Paulo não nos deixam sombra de dúvida quanto a isso: “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e plenos herdeiros de acordo com a Promessa”. (Gl 3.28,29, grifo meu).

PARAÍSO RESTAURADO

Por fim, uma outra questão importante para ser vista aqui é a relação da promessa da Terra feita à Abraão, e a Igreja. Não podemos encarar tais promessas como algo referente a Palestina ou um outro pedaço de chão qualquer. João tem uma visão da Nova Jerusalém e ela mede 12 mil estádios (2400 km) de largura, altura e comprimento (Ap 21.16). A Palestina, mede apenas 64 km de largura. Isto demonstra que a antiga Jerusalém é tipológica. Ela foi prometida aos descendentes de Abraão como se fosse uma fotografia do paraíso.

Quando Deus colocou Adão no Éden, deu ordens para que ele dominasse sobre todas as coisas (Gn 1.28). Quando Adão quebrou o pacto de obras e o pecado entrou no mundo, a criação também sofreu e algumas coisas ficaram desajustadas com o propósito principal. Por isso é dito que a natureza geme como se estivesse sentido dores de parto, na expectativa da sua libertação (Rm 8.21,22). Com o preço que Cristo pagou pelo nosso resgate, Ele também restabeleceu a ordem natural das coisas. O mundo não mais será um ambiente de hostilidade para os remidos.

Isaías vai descrever a atmosfera do paraíso restaurado, com uma imagem surpreendente e comovente: “O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar”. (Is 11:6-9)

Tudo isso é possível apenas por meio de Cristo, que reconciliou consigo todas as coisas (Cl 1.20). Esta Nova Aliança é definitiva. As outras eram estágios para que a Aliança da Graça acontecesse e pela cruz desfrutássemos das infinitas bênçãos de um Deus que é fiel à Sua Palavra. Somos um povo, herdeiros das promessas de Abraão. Somos governados pela Lei do Senhor e pelo Rei que é da raiz de Davi e que reinará para todo o sempre. Louvemos a Deus por vivermos debaixo do sangue da Nova Aliança.

APLICAÇÕES

- Celebremos a salvação: Por meio da graça fomos salvos (Ef 2.8). Somos mais que vencedores em Cristo (Rm 8.37). O mérito não é nosso, é todo d’Ele. Isto nos faz lembrar que se não fosse o SENHOR estaríamos perdidos. Então não vamos nos vangloriar por termos sidos lavados e remidos. Façamos como disse o apóstolo Paulo: que eu jamais venha me orgulhar de nada, a não ser da cruz de Cristo (Gl 6.14). A Ele a glória! 

- Amemos todos os povos: Por estarmos debaixo da Nova Aliança, precisamos entender que nenhuma nacionalidade, etnia ou cultura deve ser inferiorizada. Racismo, xenofobia ou qualquer tipo de preconceito é algo inadmissível para os que foram salvos sem mérito algum. Que possamos nos amar como um só corpo e orar por aqueles povos que ainda não foram alcançados pelo Evangelho. Amar e orar devem nos impulsionar a evangelização mundial, sem limitações étnicas.

- Cumpramos nosso mandato: O mundo nos foi dado para zelarmos por ele. A ordem dada a Adão serve para nós. Deus é glorificado quando cuidamos daquilo que Ele colocou sob a nossa responsabilidade. Então que cuidemos da Terra com o objetivo de glorificarmos aquele que é o Criador e Senhor sobre todas as coisas. Assim estaremos agindo em conformidade com o padrão dos santos que estão inseridos nesta Nova Aliança.

7 de dez. de 2014

Aliança Davídica

Por Thiago Oliveira

“Firmarei a sua linhagem para sempre, o seu trono durará enquanto existirem céus.”

Salmos 89:29

Ao falar de uma aliança davídica, ou seja, com Davi, não devemos esquecer que se trata de mais uma dispensação soberana do plano redentor, no qual Deus conecta o pacto feito no Éden (Gn 3.15) com o pacto feito com Noé, com Abraão e com os hebreus no Sinai. Todas as alianças rementem ao Ungido de Deus, ou seja, o Messias, título que o Rei Davi detém. Porém Davi não passa de uma tipologia (i.é. ilustração) de Cristo, este sim, o ungido perfeito que vive e reina para todo o sempre.

O PANO DE FUNDO

A passagem bíblica que descreve a aliança de Deus com Davi se encontra no capítulo 7 de 2 Samuel. Embora não exista o termo aliança nesse registro, outras passagens da Escritura vão evocar o caráter aliancista da ocasião. O Salmo 89 celebra as palavras divinas ditas à Davi: “a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre” (2Sm 7:16 vide Sl 89.4,29). Outros salmos também fazem alusão a aliança (Sl 21, 72, 110 e 132). 

Precisamos entender o contexto em que o concerto que Deus fez com Davi, foi realizado. Logo no primeiro versículo de 2 Samuel 7 lemos que o SENHOR concedeu descanso à Davi de todos os inimigos que estavam ao seu redor. Isso se deu logo após a conquista de Jerusalém, quando Davi derrota os jebuseus (2Sm 5: 6-12). Antes da conquista ele havia se tornado rei, ungido em Hebrom pelo povo (2Sm 5:3). Davi faz de Jerusalém a capital de seu reino, e fez isso para unir em torno de si a nação de Israel. Por isso, Jerusalém ficou conhecida como a “cidade de Davi”.

Após seus êxitos militares, o rei ordena que tragam a arca da aliança para Jerusalém (2 Samuel 6). Isto representou a fusão do trono divino com o trono terreno. A arca era vista como o trono do qual Deus estava “assentado acima dos querubins”. Davi com isso, intencionava fazer do seu reinado o reinado do próprio SENHOR. Esta foi a primeira ação importante que Davi tomou. Ao levar a arca para o centro de Jerusalém, estabelece aquele lugar como o lugar de Deus, onde o próprio SENHOR reina, protegendo e santificando Jerusalém com a Sua presença.

PROMESSA DE UMA CASA PERPÉTUA

Davi então deseja fazer uma casa para que Deus habite, pois não achava justo viver num palácio enquanto Deus habitava numa tenda (tabernáculo). Por meio do profeta Natã, Deus fala ao rei que ele anda com Israel desde o Egito, peregrinando com o Seu povo. Através de Natã, Deus recorda a Davi que havia feito uma aliança e que através dela separou um povo exclusivo. A Abraão foi prometida uma grande descendência, ele seria pai de uma nação. No Sinai, os descendentes de Abraão, livres do cativeiro egípcio, ganham leis e podem se organizar nacionalmente. Aquele povo vai entrar na terra prometida ao seu antepassado. Deus fizera um Reino de ex-escravos e agora seria preciso um rei que os governasse com justiça. Este era o cumprimento de Dt 17: 14-20.

Deus promete a Davi que a sua descendência não perderia o trono. Seria o sucessor de Davi que construiria uma casa para Deus, este seria chamado de filho, uma relação diferente da que teve Saul. Como filhos, a descendência de Davi seria castigada quando desobedecesse, todavia, não seria desprezada, como foi a casa de Saul. Lamentações 3 mostra esse tipo de relação entre Deus e Israel, e afirma que as misericórdias do SENHOR são infinitas (Lm 3:22).

Por mais de 400 anos, a linhagem de Davi reinou. Quando o reino foi dividido após a morte de Salomão, a semente davídica continuou entronizada no Reino do Sul, enquanto que no Reino do Norte teve famílias diferentes e capitais diferentes. No Sul, a Cidade de Davi permaneceu como centro político e religioso. Mas conhecemos a história e sabemos que Jerusalém foi tomada pelos caldeus. Mesmo após o regresso do cativeiro babilônico, os judeus foram dominados por outras nações até se dispersarem no ano 70 d.C. Onde fica o “para sempre” que Deus havia jurado?

PROFETISMO MESSIÂNICO

Quando a monarquia ruiu, os profetas logo passam a entender (revelacionalmente) que a perpetuidade da aliança tem um caráter escatológico. O pacto davídico é reinterpretado à partir de uma perspectiva messiânica. A perplexidade dá lugar a esperança. Amós profetiza que o tabernáculo seria restaurado (Am 9:11), Isaías diz que um filho da casa de Davi governaria com justiça e retidão (Is 9:6-7) e os profetas ensinam que uma raiz do tronco de Jessé (pai de Davi) ainda criaria um reino ideal (Is 11.1-9; Jr 23.5; Zc 3.8).

Jesus é o cumprimento dessas promessas. É ele o filho de Davi, filho de Abraão (Mt 1:1). Pedro na sua pregação no dia de Pentecostes sobre a ressurreição de Cristo, afirma que o Nazareno, que fora crucificado, venceu a morte para assentar-se no trono de Davi (At 2:30) e assim reinar perpetuamente, pois como não morre, nunca será sucedido.

Em Apocalipse 21 o apóstolo João vê o Reino estabelecido, Jesus entronizado (v.5) e sendo ele mesmo, o Cordeiro, o templo (v.22). Cristo reina, para todo sempre. Amém.

APLICAÇÕES

Podemos fazer as seguintes aplicações:

- Somos de uma linhagem perpétua: Num sentido único, Jesus é o Filho, porém essa filiação é estendida a todos os que são inseridos na família de Deus (Jo 1:12). Debaixo do juramento divino para com Davi, podemos celebrar o fato de que a misericórdia não se apartará de nós. Temos uma relação pessoal e permanente com o Rei das Nações.

- Temos a herança garantida: Se somos filhos de Deus, logo somos herdeiros (Rm 8:17). Haveremos de ser glorificados tal como Cristo foi. Lembremos que antes da sua glorificação, houve padecimento. Portanto, se estamos debaixo de sofrimento, devemos lembrar que antes da coroa de glória veio a coroa de espinhos. Antes do trono veio a cruz. Todavia, nossos sofrimentos atuais não se comparam com a glória que nos será revelada (Rm 8.18).

- Reinaremos com Cristo: A parte mais graciosa e surpreendente é que reinaremos com Cristo e as Escrituras atestam isso claramente: Lc 22:30, 1Co 6:2, 2Tm 2:12, Ap 3:21, Ap 20:4. Agora imagine você, um reles pecador, santificado, glorificado e participante do trono de Cristo.

Louvado Seja Deus!

30 de nov. de 2014

Aliança da Lei

Por Thiago Oliveira

“E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus.”

Êxodo 6:7

O conceito de Aliança da Lei parece impróprio. As leis são sempre entendidas como instrumento para coagir, enquanto que uma aliança é um relacionamento. Sendo assim, Deus quer se relacionar com os seus através da coerção? Para responder a esta pergunta, é preciso entender o propósito da Lei.

A Lei faz parte do plano divino da redenção e está atrelado aos outros pactos. Os hebreus receberam a lei no Sinai quando foram libertos da servidão no Egito, portanto, o recebimento da Lei está atrelado a sua libertação. Lemos em Ex 2.23-25 que Deus ouviu os gemidos dos filhos de Israel e lembrou-se da aliança que fez com Abraão, com Isaque e com Jacó. Portanto, não podemos tratar, como sugerem alguns, a Aliança da Lei como se estivesse à parte da Aliança da Promessa. A Lei é consequência da promessa da benção feita ao patriarca israelita de que através de sua semente, seriam benditas todas as famílias da terra (Gn 12.3).

REVELAÇÃO ESPECIAL

Quando Deus faz uma aliança no Sinai com os descendentes de Abraão e a eles se revela através de preceitos que foram por Ele criados e estabelecidos, esta revelação deve ser considerada especial, pois até então, não havia ficado tão claro quem era o SENHOR e qual o comportamento Ele esperava do povo que estava formando para si.

No Sinai, o povo observou raios e trovões, terremoto, fogo e fumaça. Era o próprio Deus no topo daquele monte entregando a Lei a Moisés. Os preceitos que continham os Dez Mandamentos e leis específicas foram dados por Deus, e por Ele impostos ao povo. A resposta que os hebreus dão é a seguinte: “Tudo que falou o Senhor, faremos” (Ex 24.3). O caráter de aliança fica claro após o ritual feito pelo povo, sob a mediação de Moisés:

Moisés escreveu todas as palavras do Senhor, e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte, e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel; E enviou alguns jovens dos filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos e sacrificaram ao Senhor sacrifícios pacíficos de bezerros. E Moisés tomou a metade do sangue, e a pôs em bacias; e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar. E tomou o livro da aliança e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos. Então tomou Moisés aquele sangue, e espargiu-o sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras”. Êxodo 24:4-8.

A LEI É BOA

Devemos ter em mente que a Lei deve ser celebrada como algo bom que 1) permitiu que aquele povo se torna-se uma nação, 2) permitiu que o conhecimento sobre Deus fosse o mais claro possível e, por, último, 3) permitiu o autoconhecimento.

Alguns eruditos defendem o ponto de vista de que esta aliança difere da abrâmica por ter a obediência como condição. Todavia, a obediência fora requerida por Deus muito antes. O próprio Abraão devia ser obediente, ele e sua descendência, ou seja, os hebreus (Gn 17.9).

Mas podemos enxergar graça na Lei, sim, pois mesmo sob a condição de obediência, Deus estabeleceu um sistema de remissão de pecados através do sacerdócio e dos sacrifícios. Ali no tabernáculo, o Sumo-Sacerdote entrava uma vez por ano no lugar Santíssimo e através do sacrifício de um cordeiro sem mácula, realizava o ritual expiatório, para que a nação de Israel fosse perdoada. O que quer dizer este sistema?

APONTANDO PARA CRISTO

Os sacrifícios, as festas, o santuário e tudo mais que preceituava o código mosaico apontava diretamente para aquele que fora prometido em Gênesis 3.15. Tudo na lei tinha um apontamento messiânico. Na teologia usa-se o termo “arquétipo”, ou seja, um modelo. Quem melhor irá trabalhar este conceito é o escritor da Epístola aos Hebreus. O conteúdo desta carta é mostrar a superioridade de Cristo, mediador de uma nova aliança, sob a aliança sinática (feita no Sinai).

O apóstolo Paulo, em Gálatas 3.24-25 nos fala que a Lei foi a tutora que nos conduziu até Cristo. A Lei é incapaz de nos salvar, pois sempre tropeçamos nela devido a nossa natureza pecaminosa. Mas ela não foi empecilho para o Salvador, que a cumpriu por inteiro, e por nós. Concernentemente, foi a Sua retidão, e não a nossa, que nos tornou santos e nos deu acesso direto ao pai, coisa que nada e nem ninguém seria capaz de fazer. Isso deve nos fazer entender de uma vez por todas que até na Lei a graça de Deus é manifesta.

APLICAÇÕES

Podemos aplicar este estudo da seguinte maneira:

- Olhe para si mesmo: A Lei, como sendo uma revelação vinda diretamente do próprio Deus, indica que o que está nela é o padrão que o SENHOR requer para o seu povo. Todavia, devido ao nosso pecado, estamos muito longe de cumprir o que nela está prescrito. Devemos então observar o retrato de nossa miséria e recorrer ao único que pode nos salvar. Aqueles que tentam se achegar a Deus pelo caminho da moralidade, esforçam-se em vão, pois a Lei é uma unidade e quem quebra uma parte dela, quebrou-a em sua totalidade (Tg 2.10).

- Apele para a cruz: Se nós falhamos em cumprir o que Deus ordena, sabemos que houve um que lhe foi obediente até a morte, e morte de cruz. Devemos confiar a nossa vida a Jesus Cristo. Por meio d’Ele teremos a vitória sobre o pecado e não mais andaremos sob o julgo da lei. Atentemos que não está debaixo do julgo da lei não significa que devemos violar seus preceitos morais, como roubar, matar, cobiçar, etc.

- Reflita a imagem de Deus: Uma outra faceta da Lei foi revelar a nós o caráter divino. Pela lei sabemos que Deus é santo e que não há como servi-lo se não for pelo caminho da santidade. Devemos saber que Cristo não apenas morreu por nós, como vive em nós. Assim sendo, podemos sempre rogar para que Cristo nos transforme e nos amolde e que culminará quando estivermos na Glória. Precisamos compreender que não estamos sozinhos e nem na nossa própria força. É o próprio Deus quem nos santifica (1Ts 5.23).

Louvado seja Deus!