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1 de dez. de 2016

Entrevista com Igor Miguel - Igreja, Missão e Missionalidade



É com prazer que publicamos mais uma entrevista. Agora com o pastor Igor Miguel, que é casado com a Juliana, pai do João, cristão reformado, teólogo, pedagogo e mestre em letras (língua hebraica) pela FFLCH/USP. Trabalhou por 6 anos com crianças e adolescentes vulneráveis como educador e consultor educacional em projetos sociais. Especialista em educação cognitiva na SERVED, uma organização internacional que trabalha com educação em contexto de crise, principalmente no Oriente Médio. Vice-presidente da AKET (Associação Kuyper de Estudos Transdisciplinares) e pastor na Igreja Esperança em Belo Horizonte - MG. Igor também escreve no seu blog Pensar...  

Quem realizou a entrevista foi o pastor e nosso articulista Thomas Magnum. A entrevista trata sobre o papel da Igreja na Missão. Desejamos que este conteúdo seja enriquecedor e promova edificação e instrução para toda a Igreja brasileira.

Igor, o assunto missionalidade ou igreja missional tem tomado boas proporções no Brasil, principalmente por pensadores calvinistas. O que se quer dizer com igreja missional? E qual é a diferença de uma abordagem missional para uma missionária?

Missionalidade é um modo de se fazer missão. A elaboração de um termo novo é adequado quando serve para identificar uma ênfase necessária ou a especificidade de um modo particular de se fazer missão. Sabemos que o Evangelho não muda, mas as exigências contextuais mudam drasticamente. Particularmente, o que se evidencia, é que em contextos urbanos pós-cristãos e secularizados, ambientes culturais em que evangélicos são rotulados por causa de maus exemplos (como no caso da imagem produzida pelo neopentecostalismo) ou ambientes em que a pregação pública do Evangelho é restrita por forças legais, o modo missional de testemunhar o Evangelho de Cristo pode ser muito eficaz.

Há muitos livros sobre o conceito de missionalidade. Mas, uma síntese conceitual que me ajuda a me localizar é que missionalidade é uma missão encarnacional. Ou seja, ela se inspira no movimento que o Verbo de Deus fez: o Logos tornou-se gente para se fazer conhecido aos que salvava (Jo 1:14). A missionalidade é um modo de dar testemunho, o que exige a presença da igreja de maneira intencional na vida ordinária e nas relações humanas corriqueiras. Diferente de modelos de evangelização em que não-cristãos são atraídos à igreja, nesse caso, a igreja torna-se uma plataforma missional quando equipa e educa cristãos a darem testemunho de Cristo nas relações concretas com a sociedade, no ambiente das relações familiares, comunitárias, no trabalho ou na vida cultural. Muito poderiam objetar a esta altura: “mas a evangelização sempre foi assim, não?” De certa maneira, mas há uma diferença, quando intencionalmente nos engajamos em relações humanas para que de maneira orgânica e relacional nossas vidas legitimam o poder transformador do Evangelho.

Missionalidade exige um profundo conhecimento da vida humana, exige penetração cultural sem mundanismo. Como Keller afirma com frequência em seu livro “Igreja Centrada”: um cristão missional é alguém que é igual e diferente ao mesmo tempo. Isto significa que um cristão não pode ser um “alien” em termos culturais amplos. Ou seja, não deve criar barreiras culturais desnecessárias. Por outro lado, seu modo de ver a vida, de lidar com o sofrimento, com as relações humanas, de encarar o trabalho e a cultura, dão testemunho de que ele é de outra “cidade”. E, é precisamente aí, que o testemunho cristão emerge, pois desta maneira ele quebra caricaturas sobre o que significa ser cristão e abre portas para o testemunho verbal da boa-nova de Cristo. Por superação de barreiras culturais desnecessárias entende-se que o cristão deve frequentar espaços comuns, ter conversas em linguagem comum (evitar o “evangeliquês”), praticar esportes, ter hobbys, ir aos teatros, ouvir boa música (não somente música gospel) e ter repertório cultural para criar pontos de contato com a cultura onde está inserido. Claro que esta relação com a cultura não é acrítica, ao contrário, cristãos tem um modo particular de lidar com a cultura e tais contextos. E, é esta particularidade que alavanca e oportuniza o testemunho do Evangelho.

Ao tratar sobre missionalidade, qual é a ligação que tal assunto tem com cosmovisão cristã?

A cosmovisão cristã implica um “imaginário social”, pra usar um termo do filósofo Charles Taylor. O cristão imagina a existência a partir da narrativa bíblica criação-queda-redenção. Uma cosmovisão cristã madura e bem-educada fornece critérios, competências culturais e sabedoria para interagir com um ambiente sem ser absorvido por ele. Ao mesmo tempo que consegue discernir os ídolos culturais e denunciá-los com a mensagem do Evangelho. Por outro lado, se entendemos cosmovisão como uma “mentalidade”, sabemos que nossa sociedade pós-moderna não quer apenas “coerência lógica”, ela aspira por narrativas plausíveis, visões de boa vida e sentido. Concordo com James K.A. Smith, filósofo cristão do Calvin College, de que cristãos precisam viver e oferecer, mais do que uma mentalidade, mas uma narrativa alternativa e melhor em lugar das inúmeras narrativas reducionistas das sociedades secularizadas. Temos que ter a capacidade de oferecer uma história definitiva que conduz os homens a seu florescimento, libertação e pautada em virtudes como: fé, esperança e amor.

Autores como Tim Keller - que escreveu Igreja Centrada - e Michael Goheen - que escreveu Igreja Missional - tem contribuído muito para formação de pensadores para missões urbanas. Como devemos encarar esse desafio urbano em nosso atual contexto de igreja no Brasil. Essa urbanidade da missão, de fato a um tipo de contextualização?

A missão urbana não é um luxo ou uma “modinha” misssiológica. É um desafio real e crescente na missão contemporânea. Keller traz dados importantes da ONU sobre a crescente urbanização do mundo. Nas próximas décadas a tendência é que tenhamos mais da metade da população mundial morando em algum grande centro urbano. Ou seja, o cenário futuro da missão é que ela será predominantemente urbana.  Entretanto, a missão urbana exige preparação, há um fluxo muito intenso de diversidade cultural, forças migratórias, trocas simbólicas, efervescência política e social. A cidade é complexa, o que exige uma abordagem missionária igualmente complexa. É fundamental ao missionário e ao cristão urbano um entendimento mais preciso das mazelas da cidade: solidão, individualismo, narcisismo, hedonismo, pobreza e violência. Em contrapartida, o cristão urbano tem que reconhecer as riquezas da cidade: produção cultural, engajamento científico, produção de bens intelectuais, poder de sinergismo humano por causas sociais e políticas legítimas, e influência.

A igreja precisa promover treinamento missional para que cristãos criem relacionamentos significativos, se interessem autenticamente pelas pessoas a seu redor, e que superem as forças de isolamento social que impedem os vínculos necessários para o testemunho evangélico.  Cristãos precisam ser treinados a acolher perguntas honestas para darem respostas honestas aos problemas levantados a respeito da vida, cultura, Deus e espiritualidade.

Claro, este é o lado da penetração cultural da igreja, em contrapartida, a igreja local tem um papel fundamental quando se envolve em alto compromisso em manter seu púlpito cristocêntrico e sermões contextualizados.  Ou seja, o membro da igreja deve se sentir seguro em levar um amigo cético ou de uma outra religião para um culto.  Deve ter certeza que uma linguagem “inclusiva” será utilizada, que a mensagem será transmitida de tal modo que o cristão seja edificado e o não-cristão evangelizado simultaneamente. Claro, isto exige a noção, que Kevin Vanhoozer propõe do “pastor como teólogo público”. Um pastor que fala em resposta às demandas de sua cultura sem alterar a verdade evangélica.

Existem limites para contextualização da missão?

Sem dúvida! A contextualização não pode ser fundada em uma “ortodoxia generosa” como propõem protagonistas do movimento chamado “igreja emergente” ou similares. No afã de nos tornarmos relevantes corremos o risco de nos secularizarmos ou de sermos assimilados por aspectos culturais estranhos ao Evangelho. Este, na verdade, é o grande desafio da contextualização. Algumas igrejas, por receio de serem “mundanizadas”, escolheram o caminho do isolamento cultural (como se isso fosse possível), o que ironicamente conduzirá essa igreja à irrelevância por sua incapacidade de comunicar antigas e importantes verdades em uma linguagem compreensível e que alcance as questões mais profundas da vida humana. Por outro lado, não podemos permitir que sejamos acometidos por uma ansiedade que nos leve a abrirmos precedentes que acabam comprometendo, em não raros casos, o núcleo da verdade evangélica.

Temos visto no Brasil um reflorescer do pensamento voltado para a integralidade da missão, vemos também que o que tem estado presente nesse reflorescimento é um relacionamento ideológico que não era presente em 1974 por exemplo quando muito se discutia sobre missão integral. Como você vê essa questão da ideologia sendo mesclada com a teologia cristã da missão e quais são os perigos e talvez pontos positivos dessa abordagem?

Indico os diversos textos escritos pelo teólogo Guilherme de Carvalho sobre o tema, suas críticas são importantes e não podem ser desprezadas no atual debate sobre a relação entre ideologia e a teologia da missão integral. O livro Ortodoxia Integral, do filósofo Pedro Dulci, também traz uma importante e atual contribuição para a reflexão.

Sendo muito direto: a missão cristã é “proto-ideológica”, ou seja, antes do conceito moderno da possibilidade de controle histórico da realidade, seja por livre iniciativa racional ou monopólio estatal-coletivista, o cristianismo já estava em missão pelo mundo. O que não significa que a missão cristã seja apolítica. Obviamente que não! Afirmamos um Senhor que é soberano sobre toda realidade, e que Cristo, crucificado e ressuscitado, subverteu todos os poderes deste século assumindo “todo poder nos céus e na terra”. Por esta razão, cristãos impulsionados pela Grande Comissão anunciam que não há área neutra e que todos os homens são convidados, uma vez regenerados e justificados, a se tornarem membros do Reino de Deus. A missão cristã deve ser integral no sentido de que a totalidade de Cristo atinge a totalidade da vida humana, bem nos termos do Pacto de Lausanne. Porém, o velho debate tem sido em termos metodológicos, ou seja, de que maneira podemos fazer uma missão que seja integral? Pra muita gente, Cristo se restringe à esfera confessional, seu senhorio e sua obra parecem perder força quando chegam à esfera pública. A tentação é tão grande para alguns, que parecem não encontrar recursos na fé evangélica para atuarem na dimensão da pobreza, da vulnerabilidade, nos direitos humanos e em políticas públicas. O que fazem então? Optam por uma ideologia e uma metodologia secular com raízes na noção de autonomia humana (neste ponto nem a direita ou a esquerda são inocentes), e assim, acabam comprando parcial ou totalmente o pacote progressista como referência missiológica.

Temos que reconhecer que muitos irmãos que estão no espectro progressista possuem sensibilidades que não podem ser desprezadas: a profunda desigualdade social, alguns abusos antiéticos por parte de corporações financeiras, relações abusivas inspiradas em racismo, o machismo, a misoginia, os índices altíssimos de jovens negros mortos em comunidades vulneráveis, a exclusão e a objetificação da mulher. Reconheço, me preocupo e até me envolvo pessoalmente com algumas dessas pautas. (É importante mencionar que nem todos esses problemas são adequadamente qualificados por militantes ou adeptos a ideologias à esquerda). De qualquer forma, meu questionamento não se dirige à pauta, mas à metodologia. Quando sirvo o pobre com alguma ajuda financeira, ou criando oportunidades, ou quando trabalho no campo da ciência para a promoção da pesquisa a partir de uma mentalidade cristã, ou ainda, quando me engajo no campo político, a glória não pode ser de Darwin, Howkings ou Marx, deve ser de Cristo. Para isso, preciso me valer de uma metodologia baseada no radical senhorio de Jesus, e todas as implicações inerentes a uma vida sob seu governo. Claro que, pra muita gente, isso seria confundido com movimentos que se apropriaram de nomes como Kuyper e Dooyeweerd e que propõem uma espécie de “dominação” teonomista da realidade. Nenhum dos autores mencionados concordariam com tal experimento. Cristãos operam no mundo, sem pretensões triunfalistas, ao mesmo tempo que evitam o quietismo anabatista.

Temos realmente uma necessidade de lermos a missão por uma ótica das ciências sociais?

Orientados pelas Escrituras, temos que ler a missão por uma ótica radicalmente centrada no conhecimento do Deus Trino pelo drama messiânico de Jesus Cristo: encarnação, nascimento, vida, sofrimento, crucificação, sepultamento, ressurreição, ascensão e retorno. E, os desdobramentos da missão de Deus na história da Igreja. Temos as Escrituras e de maneira secundária a tradição cristã como fonte para esse conhecimento. Essa seria a matriz de uma sabedoria cristã que pode fundamentar e orientar a missiologia cristã. Por outro lado, dependendo da área em que a missão cristã está engajada, as diversas ciências, por graça comum, podem fornecer importantes ferramentas e informações sobre fenômenos ou comportamentos, que podem ser úteis para o missionário. Mas, isso é muito diferente de produzir ou ler a missão a partir de um determinado campo científico. O contrário seria verdadeiro: a partir da matriz que inspira a missão cristã já mencionada, ler as ciências (seja social, biológica, psicológica etc) inclusive para discernir o que deve ser acolhido com ações de graças, criticado ou rejeitado.

Você tem estado envolvido com trabalhos em comunidades carentes. Ao olharmos para as críticas de pensadores mais voltados para a teologia calvinista clássica, vemos um calor na crítica a missão integral, mas, talvez, não tanto calor em desenvolver trabalhos relevantes em relação ao problema da pobreza. Como a igreja deve lidar com isso e como você analisa esse fato de reformados não estarem tão preocupados com a práxis cristã?

Engraçado, nesses 6 anos diretamente envolvido com comunidades vulneráveis, particularmente crianças e adolescentes, e em contato e conhecendo vários projetos nessa direção aqui no Brasil e em outros lugares no mundo, como África, América Central e Oriente Médio, o que tenho percebido, ironicamente, é que os mais engajados com vulneráveis não são nem gente com uma missiologia mais à esquerda, e tampouco calvinistas, mas o pentecostal ou o evangelical no sentido mais simples do termo. Essa é a ironia da década, a meu ver. E, eles não estão ali por razões ideológicas, ou porque possuem uma missiologia sofisticada, simplesmente entendem que precisam servir tais comunidades com o evangelho e com o serviço de misericórdia. Claro que existem excelentes trabalhos nos dois grupos mencionados, de fato, conheço projetos sociais de gente inspirada em missiologias mais progressistas, como há igrejas calvinistas que possuem comprometimento social. Mas, precisamos reconhecer que, sem entrar no mérito da eficiência, é fato que a maioria das iniciativas nessa área são de gente que vive uma fé evangélica simples e com a Bíblia na mão, muitos pentecostais históricos. Talvez o que a igreja mais necessite neste momento seja exatamente isso: que ela seja mais evangélica. Nestes termos, entendo que nossos irmãos reformados possuem a lenha, mas eles podem ter o fogo, a disposição evangélica de conectar o que se crê com o que se deve fazer. Em contrapartida, nossos irmãos evangelicais podem ser mais profundos e mais competentes, superando a tentação do anti-intelectualismo. E, nossos irmãos ainda hipnotizados ou ideologicamente intoxicados, podem abraçar e redescobrir o frescor da velha e boa evangelicalidade. Todos nós somos passíveis de extremos, manter-se no centro dessa conversa exige muita energia, eventualmente escorregaremos, mas precisamos sempre regular nossas intenções a partir da centralidade do Evangelho e da suficiência da obra de Cristo, sem quem, nenhuma missão é possível.

23 de abr. de 2015

Missões: uma tarefa inacabada

Por Thomas Magnum

Texto Bíblico: Lucas 15.1-7

Introdução

A graça de Deus é um assunto central nas Escrituras, o amor do Deus eterno pelo seu povo é profundamente impactante e transformador, sua eterna alegria na salvação dos seus eleitos é demonstrada de forma belíssima nessa passagem do Evangelho de Lucas. Examinaremos a estrutura das parábolas e veremos como Deus manifesta sua graça a pecadores e os princípios missionais contido no texto a respeito da Missio Dei. 

Deus é a fonte e a finalidade da obra missionária, o Evangelho de Deus veio a nós por sua maravilhosa graça por manifestação de sua vontade redentora. O Deus triúno salva pecadores e toda obra salvífica realizada através do Filho de Deus é satisfatória, suficiente e eternamente soberana no triunfo da cruz do Redentor.

2 de fev. de 2015

Três Ingredientes para uma Cultura Evangelística na Igreja

 Por Mike McKinley

Eu estou convencido de que é melhor que a sua igreja tenha uma cultura evangelística do que apenas uma série de programas evangelísticos.

Em uma igreja com uma abordagem evangelística orientada por programas, compartilhar o evangelho pode se tornar algo mais para certas pessoas em certos momentos, como quando a equipe de evangelismo sai para fazer visitações.

Mas em uma igreja com uma cultura evangelística, cada membro é encorajado a desempenhar um papel dentro do esforço geral da igreja, para alcançar pessoas à sua volta com a mensagem da salvação em Jesus. Evangelismo se torna parte da vida de todo crente.

Se você está procurando criar uma cultura evangelística na sua igreja local, aqui estão três ingredientes que podem ajudar.

1. O Evangelho: o Combustível para uma Cultura Evangelística

A mensagem do evangelho é o combustível que alimenta uma cultura evangelística em uma igreja. Todos nós naturalmente compartilhamos coisas que animam os nossos corações. Se os Philadelphia Eagles algum dia ganhassem o Super Bowl (eu sei...), você não conseguiria me fazer parar de falar sobre isso. Da mesma maneira, se queremos criar culturas em nossa igreja onde é natural que os membros falem sobre a mensagem do evangelho a não-cristãos, então precisamos ajudar os nossos membros a se apaixonarem profundamente pelo evangelho.

Isso significa que eles precisam entender a mensagem do evangelho. Significa também que a beleza da mensagem do evangelho deve ser colocada em evidência semana após semana nas nossas igrejas. Quando cristãos compreendem verdadeiramente a profundidade do seu pecado, a maravilhosa santidade de Deus, a perfeição de Cristo, a profundidade de seu sofrimento por eles, o poder da ressurreição e o dom da vida eterna para todos os que se arrependem e creem, as nossas afeições por Cristo crescerão.

A mensagem do evangelho também liberta cristãos de motivações que podem levá-los a não gostar de evangelismo. O evangelho diz que nós não temos que evangelizar para ganhar o amor de Deus. Nossa posição na família de Deus não depende do quão frequentemente compartilhamos o evangelho. Em vez disso, podemos ter certeza do amor de Deus, o que nos liberta da esmagadora preocupação com a opinião das pessoas à nossa volta, o que nos faz ter medo de falar sobre Jesus.

2. Oração: o Poder de uma Cultura Evangelística

Segundo, uma igreja que está compartilhando o evangelho deve ser comprometida com a oração. O evangelismo parece ser uma tarefa sem muita esperança. Nós estamos chamando pessoas espiritualmente mortas a abraçar a vida. Como equiparemos e encorajaremos pessoas para esse trabalho? Isso parece absolutamente inútil.

É por isso que uma cultura evangelística deve começar com uma cultura de oração. Na oração, os cristãos vão ao Senhor com uma confissão da sua insuficiência para a tarefa do evangelismo e da suficiente força de Deus. Somente Deus pode fazer as sementes que plantamos brotarem para a vida eterna em nossos ouvintes, então devemos começar com a oração.

Na nossa igreja, isso acontece especialmente nas noites de domingo. Nós nos reunimos como congregação para orar para que o Senhor espalhe o seu evangelho através de nós. As pessoas compartilham conversas sobre o evangelho que tiveram durante a semana anterior ou oportunidades que elas esperam ter na semana que virá.

Esse momento de oração serve para alguns propósitos. Em primeiro lugar, ele é um comprometimento dessas coisas ao Senhor, que normalmente faz com que peçamos antes que recebamos (Tg 4.2).

Em segundo lugar, ele envolve toda a igreja no trabalho de compartilhar o evangelho. Não é um fardo ou um projeto que empreendemos sozinhos, mas temos irmãos e irmãs para orar e nos encorajar.

Em terceiro lugar, esse compartilhamento deixa claro que evangelismo é trabalho de cristãos "normais". As pessoas que pedem por oração normalmente não são pastores, presbíteros ou evangelistas talentosos. São apenas crentes que abraçaram o seu chamado de compartilhar as boas novas com as pessoas à sua volta.

Por último, esse momento de oração dá às pessoas um bom ponto para começar a alcançar os seus vizinhos e colegas de trabalho. Se as pessoas estão nervosas ou incertas quanto a compartilhar as boas novas, nós as encorajamos a começar com oração. Elas podem orar para que o Senhor dê a elas oportunidades, e que ele traga à atenção delas pessoas que precisam do evangelho. Esse é um primeiro passo muito menos intimidador do que sair correndo com um folheto na mão.

3. Treinamento: o modelo para uma Cultura Evangelística.

Um terceiro ingrediente é treinamento, o modelo para uma cultura evangelística. Lembre-se de que o objetivo é que as nossas igrejas tenham culturas evangelísticas em vez de meros programas evangelísticos. Mas isso não significa que não haja lugar para que a liderança organize e equipe pessoas para compartilhar o evangelho. Na verdade, um amor pelo evangelho e oração podem não ser o suficiente para motivar cristãos a um estilo de vida de evangelismo.

Embora o evangelismo venha naturalmente para algumas pessoas na sua congregação, haverá muitas outras que amam o evangelho e oram fielmente, mas ainda assim precisam ser equipadas para compartilhar o evangelho. Aqui estão algumas maneiras através das quais a liderança poderá equipar a congregação.

Recomende bons livros sobre o tema. "Evangelização e a Soberania de Deus" de J.I. Packer e "Speaking of Jesus" de Mack Stiles são dois dos meus favoritos. Leia esses livros com as pessoas que você está discipulando, dê a pessoas que irão lê-los ou disponibilize-os na livraria da sua igreja.

Leve as pessoas com você quando tiver uma chance de compartilhar o evangelho. Quando sou convidado para dar uma palestra evangelística, eu levo comigo um jovem da minha igreja. É uma boa oportunidade para mostrar a eles como compartilhar as boas novas.

Fale a incrédulos em seus sermões. Os seus membros crescerão ao ouvir você envolver pessoas que não conhecem Jesus com as reivindicações do evangelho. Tome tempo para considerar cuidadosamente as perguntas ou objeções que um incrédulo possa ter quanto à mensagem do seu sermão, e então fale sobre essas questões.

Organize reuniões evangelísticas onde as pessoas possam trazer amigos e receber ajuda para compartilhar o evangelho. Se a sua igreja pode hospedar um café evangelístico ou um programa como Explorando o Cristianismo, você dará oportunidade para os seus membros convidarem os amigos e observarem como eles também podem compartilhar o evangelho.

Melhor do que o melhor programa

Não existe um programa que possa criar uma cultura evangelística na sua igreja. Em vez disso, ela vai exigir que a liderança ensine, dê o exemplo e ore até que os membros da igreja percebam que compartilhar o evangelho é seu privilégio e responsabilidade. Uma igreja com tal cultura será muito mais frutífera e eficaz do que uma igreja com os mais eficazes programas e estratégias.
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Fonte: Ministério Fiel

13 de out. de 2014

O Reino da Interioridade

Por Norma Braga
Uma vez, assisti com uma amiga querida à pregação em vídeo de um pastor famoso. Não lembro mais o tema, só lembro que ele falava bastante em “obra de Deus”, “serviço na igreja”, “excelência” e termos semelhantes. Depois de alguns minutos, não pude evitar o comentário: “Ele parece se referir a Deus como um empresário e a nós como os funcionários da empresa”. Minha amiga ficou um tanto desconcertada, mas vi que havia compreendido de algum modo minha observação.
Quando pensamos na hierarquia que a comparação sugere, não deixa de haver um ponto em comum entre a liderança empresarial e a liderança divina. Afinal, a Bíblia também nos designa como “servos” e Jesus Cristo é nosso Senhor: a ele devemos obediência. Mas há outras dimensões na Bíblia que não podem ser esquecidas, e todas elas sugerem uma grande intimidade: somos filhos de Deus (Mt 5.9; Gl 3.26); somos amigos de Cristo (Jo 15.14); somos, como igreja, a esposa de Cristo. Isso aponta para a dualidade de nossa relação com Deus: submissos, sim, como criaturas, mas também próximos e amados por Deus como filhos, amigos e esposa. Na verdade, quanto mais submissos, mais próximos de Deus estaremos (“Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando”, Jo 15.14).
Esse aspecto bíblico que entrelaça a obediência à intimidade mais profunda invalida por completo qualquer referência ao ambiente empresarial como uma comparação adequada para a igreja. Estar à frente de uma empresa é preocupar-se com produtividade, salário, carreira, status e resultados concretos, numericamente detectáveis. Essa mentalidade, transposta para a igreja, gera o fenômeno das “megaigrejas” com seus “megapastores”, que via de regra concentram todo o controle em si mesmos, mantêm uma relação impessoal ou cordialmente distante com os pastores assistentes (quando não com as próprias ovelhas) e norteiam a pregação mais pela necessidade de proporcionar um difuso bem-estar a seus ouvintes que pela Palavra. É óbvio que esse tipo de igreja sempre terá seus templos cheios demais, um inchaço que torna o pastoreio uma tarefa impossível. É triste que esse modelo seja tão imitado em algumas igrejas evangélicas hoje, igrejas que confundem audiências lotadas e música animada com um culto agradável a Deus.
No modelo bíblico, que é humano e pessoal, há um termo que resume perfeitamente nossas identidades como servos, filhos e amigos, enunciado pelo próprio Cristo em João 4.20: adoradores. São esses que Deus busca para cultuá-lo. Reconhecimento do verdadeiro ser de Deus, só possível pelo Espírito, a adoração é o alvo de toda a Escritura. Fiel a essa centralidade, o Catecismo maior de Westminster1  declara que o fim supremo e principal do homem é “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. É importante lembrar o tempo todo a prioridade que devemos atribuir à glória de Deus, pois nossos inimigos — o mundo, a carne e o diabo — procuram nos desarraigar de Cristo, e é pelos pontos principais da fé que conseguirão fazê-lo mais profundamente.
Na Conferência Fiel intitulada Evangelização & Missões, a que assisti por internet em outubro de 2011, o pastor Mauro Meister trouxe no dia 4 uma palavra essencial para quem se interessa pelo tema, identificando um erro corrente entre nós: as missões não são a razão principal da igreja; a glória de Deus vem em primeiro posto. Por que temos a tendência a considerar as missões (campanhas de evangelização, pregações em estádios, implantação de igrejas em terras distantes, o próprio pastorado etc.) como A missão? Respondo que um dos aspectos que subjazem a esse ponto de vista invertido consiste no desprezo, deliberado ou não, ao reino da interioridade — um dos pecados da cultura. E que, ironicamente, não é privilégio do pastor-empresário.
Senão, vejamos. Quando se fala em “missão da igreja”, muitos formam a imagem mental de algo público e notório, relacionado ao agir para fora, à comunicação do Evangelho aos povos. De fato, esse é o conteúdo do ide de Jesus: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Mas o ide não se contrapõe a todo autoexame contínuo, diante de Deus, que o Evangelho também pede. O ide é reflexo externo do que já ocorreu no interior, não a evitação de uma vida mais interiorizada. O ide, em suma, não significa “ide correndo como loucos e não presteis atenção a mais nada”. Mas é interpretado inadvertidamente por muitos dessa maneira, por causa dos tempos frenéticos em que vivemos. Mergulhados no ativismo que caracteriza nossa época, não damos o devido valor ao aprendizado pontual, à contemplação, à oração a portas fechadas, à reflexão ponderada, à leitura, ao cultivo dos relacionamentos, ao diálogo. Isso não é novidade do capitalismo, como muitos pensam: Jesus já chamava a atenção de Marta para a “melhor parte” escolhida por Maria, que é aprender aos pés do Senhor. E aprender aos pés do Senhor deveria ser algo cotidiano, priorizado pelo estudo da Palavra, claro, mas também vivido no dia a dia, em conversas abençoadoras, em momentos de oração e comunhão. Porém, mentes agitadas demais, sempre preocupadas com o cumprimento de uma agenda cheia, ainda que com o objetivo de abençoar pessoas, dificilmente obterão a tranquilidade necessária para ouvir a Deus e crescer na fé, exercendo o processo contínuo e vital, sempre evocado aqui, de reconhecimento de pecados, arrependimento, clamor pelo perdão divino e santificação. É preciso restabelecer a prioridade aí: a ausência de reflexão, autoexame e meditação atenta na Palavra — ou seja, tirar das vistas o próprio coração, como se somente o coração dos outros devesse ser alcançado — é algo que não glorifica a Deus.
Tudo se complica quando o evangelista, missionário ou pastor é casado. Se não for estabelecida a glória de Deus como prioridade (porque no coração glorificamos a Deus em primeiro lugar, pois dali é que procede todo o mais: Mc 7.21; Mt 12.34), só nos sentiremos “cumpridores da vontade divina” quando envolvidos em atividades sem fim; como resultado, não conseguiremos a quietude necessária para ouvir os pecados, os anseios e as necessidades dos que estão mais perto: a esposa, o filho, o neto, e até a ovelha que precisa de uma atenção individual. Se o foco é atingir o mundo lá longe, é falar às multidões e converter auditórios sem rosto, os de perto (que dependem de nós mais diretamente!) são os que mais sofrerão. O efeito disso tudo é o desastre familiar: adultério, divórcio, filhos revoltados e fora da igreja, solidão dentro de casa, ressentimento, falta de comunicação, discórdia. No entanto, como pode o pregador falar da boa-nova do Evangelho aos outros se, enraizado nessa mesma boa-nova, não toma conta de suas primeiras responsabilidades?
Ainda há dúvidas de que a prioridade não é Deus, “missões” (entendidas exclusivamente como evangelismo para as massas e pregação para povos distantes) e família, nessa ordem, mas sim Deus, família e todo tipo de serviço na igreja? Ora, é a própria Palavra que informa: a liderança eficaz do homem no lar é um requisito para o serviço na igreja. Se é requisito, é porque deve vir em primeiro lugar. E o que seria uma liderança eficaz na família? Em 1Timóteo 3.2-13, Paulo lista esses requisitos, que são ao mesmo tempo muito amplos e muito específicos. Primeiro, o candidato à liderança deve ser irrepreensível, ou seja, deve ter uma boa reputação de forma geral. Isso não está relacionado à hipocrisia, como se o que dizem sobre nós fosse tudo o que somos, mas sim a esses pecados que acabam se tornando públicos (e que caracterizam alguém, por exemplo, como um trabalhador leviano ou desonesto, um mau pagador, um homem que não cumpre a palavra, que não cuida dos pais na velhice, etc.). Esses pecados muito revelam sobre cada um e sobre em que estágio se encontra na caminhada com Deus. As qualidades que se seguem são: ele deve ser equilibrado, modesto, hospitaleiro, com aptidão para o ensino, não dado a bebedeiras, não violento, cordato, avesso a brigas, generoso e já com certo tempo de convertido, para não se orgulhar de seu posto. Pelas qualidades, podemos depreender tudo o que o líder não pode ser: descontrolado, soberbo, antissocial, sem talento para ensinar, viciado em bebidas ou algo pior, agressivo (violência verbal e não verbal), maleducado, brigão, avarento e novo convertido. E eu pulei de propósito a descrição mais longa de um dos requisitos: “Deve governar bem a própria casa, mantendo os filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)”. Eis a prioridade claramente estabelecida: cuide primeiro da sua família. Se esse cuidado for eficaz, você poderá responsabilizar-se pela igreja.
Quão distantes estamos disso! Se pudéssemos publicar aqui testemunhos de coração aberto de esposas e filhos de pastores, será que haveria muitos relatos felizes? Geralmente, a família é preterida pelo pastor ou líder, seja movido por sentimentos legítimos, como a preocupação com as atividades da igreja, seja por ilegítimos, como é o caso de alguns que são carreiristas ou tosquiadores e só se interessam por poder e dinheiro. Ora, ambos estão pecando do mesmo jeito quando invertem as posições e colocam o cargo pastoral, com suas ocupações às vezes assoberbantes, acima do pastoreio de sua própria casa.
O trecho também fala diretamente de disciplina filial. Para que um pai discipline o filho, é necessário que o conheça bem, que passe tempo com ele, que esteja atento a seus pecados, que ande com ele em firmeza e amor. 2 Disciplinar não é pôr de castigo de vez em quando e de modo aleatório (se for assim, talvez seja melhor nem fazer nada), mas agir de forma consistente (punindo sempre o mesmo pecado e deixando claro o motivo) de modo a preparar o coração do filho para uma vida de santidade, ajudando-o a enxergar suas tendências pecaminosas e facilitando seu processo futuro de arrependimento e mudança. A criança indisciplinada é a criança que foi praticamente abandonada pelos pais (ou por um dos pais) que, em desobediência à Palavra de Deus (o livro de Provérbios também fala muito sobre a disciplina), terão falhado em uma de suas mais importantes tarefas. Criado sem autoconhecimento suficiente e sem parâmetros claros de certo e errado, o filho terá de tropeçar muito até que perceba por si só, em meio a muitas dores, os pecados de que precisa se arrepender. No meio do processo, porém, talvez se perca de modo definitivo, e nenhum pai deveria expor seu filho a isso.
“Missão” é primordialmente oferecer-se a Deus, todos os dias, para ser santificado. Também é guiar espiritualmente a família e os mais próximos, em um trabalho lento, cotidiano e interior. Quando as “missões” são consideradas apenas em uma dimensão exterior, em que não se contempla a interior, somos como pobres legalistas pragmáticos, orientados somente para o fazer, imprestáveis para adorar a Deus e pôr em prática o amor ao próximo, algo só possível com paciência e olhos atentos. Porém, quando privilegiamos o alvo correto, não somos tão ativistas, mas vivemos a missão primordialmente onde deve ser vivida: dentro de nós, em nossos corações, onde está o trono de Deus; e, dali, espraiando-se para fora. É nesse reino da interioridade, habitação do Espírito Santo, que serão esmagados, pela graça de Deus, todos os pecados graves que nos impedem de ter a disposição para amar. É ali que tudo começa; se não começar ali, não terá começado de modo algum (e precisa recomeçar a cada dia!). De fato, amar é o principal de todos os mandamentos, de acordo com Jesus: em primeiro lugar, amar a Deus com todo o coração, toda a alma, todo o entendimento e toda a força; em segundo, amar o próximo como a si mesmo (Mc 12.30-31). Não é amar a “obra de Deus”, entenda! É amar como em círculos concêntricos que se propagam: primeiro, Deus, o único a ser adorado; segundo, o seu lar, esposa e filhos; terceiro, os mais próximos, e dali em diante. Os desconhecidos necessariamente virão depois. Mas, se conseguimos nos convencer de que amamos primeiro o “povo de Deus”, as “tribos inalcançadas”, os “pobres”, os “oprimidos” ou qualquer outra abstração conveniente, por quem jamais poderemos ter uma responsabilidade direta e individualizada, não estamos demonstrando, prestes a deixar de lado os mais queridos e os dependentes reais, que temos um ídolo no coração? Um ídolo que, mascarado de amor, levará à destruição de nosso lar e da nossa alma.
A consciência de que a fé cristã pertence, em primeiro lugar, ao reino da interioridade é algo que se aplica de modo especial à vocação do pastoreio. Afinal, pastorear é, sobretudo, cuidar de gente. O pastor não deveria ser o que se inebria com o aplauso das multidões, mas o que se alegra em ver, em cada coração, que a Palavra de Deus fez a diferença fundamental.
Adaptado e ampliado de Norma Braga Venâncio, A mente de Cristo; conversão e cosmovisão cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 206-212.
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Notas:
1 Catecismo maior de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. Há versões disponíveis para consulta na internet.
2 Sobre a disciplina filial que visa não ao comportamento exterior, mas ao coração, sugiro o excelente livro de Tedd Tripp, Pastoreando o coração da criança. São José dos Campos: Fiel, 2000.

3 de out. de 2014

Os Protestantes, As Redes Sociais e Sua Posição Política


Por Thomas Magnum

É inegável que as redes sociais são nesse processo de campanhas eleitorais uma ferramenta de extremo valor e uma trincheira absolutamente necessária para os principais partidos envolvidos nos maiores números percentuais de intenção de voto no Brasil. A morte do presidenciável Eduardo Campos trouxe um verdadeiro furacão e reviravolta no cenário político brasileiro. As pesquisas apontavam Eduardo numa média de 8% das intenções de voto, a briga acirrada estava sendo pleiteada pelos candidatos do PT e PSDB, respectivamente a presidente Dilma Rousseff e Aécio Neves. O acidente ocorrido em 13 de Agosto desse ano, trouxe uma comoção nacional e ateou fogo ao contexto político, isso sendo somado aos processos econômicos no Brasil como a recessão e o escândalo da Petrobrás. Tudo isso tem elevado os ânimos e desabrochado um verdadeiro tiroteio de acusações e ataques entre os candidatos a presidência da república.

No contexto do eleitorado evangélico é fácil perceber que esse grupo social tem hoje uma voz no Brasil e uma força política, não falamos somente da bancada evangélica, mas, de líderes evangélicos das mais variadas vertentes teológicas que são muito influentes sobre o rebanho e que tem suas preferencias políticas, consequentemente o eleitorado evangélico é guiado pela liderança na escolha dos candidatos a cargos políticos.

A presença de dois evangélicos na candidatura a presidência da república tem sido um incomodo para os demais candidatos e interessados por políticas capitalistas, marxistas, naturalistas e comunistas. Em entrevista ao Jornal da Globo a candidata evangélica da Assembleia de Deus Marina Silva foi perguntada por Willian Waack se governaria o Brasil tomando decisões influenciada pela Bíblia. Existe realmente um temor por parte de muitos em que um evangélico assuma a chefia da nação. Um exemplo claro disso é que muitos dizem que a candidata Marina Silva imporia o ensino do criacionismo nas escolas, coisa que ela nunca declarou, ou que os homossexuais vão perder seus direitos, dentre muitas outras historietas.

O outro candidato Pastor Everaldo, tem se pronunciado abertamente contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e isso tem sido uma ofensa para os demais partidos. O candidato é apoiado pela Assembleia de Deus, que é a maior denominação evangélica do país e pelo conhecido pastor Silas Malafaia que já se posicionou ao lado de Marina no segundo turno. A presidente Dilma Rousseff tem sido apoiada pela igreja Universal do Reino de Deus, o seu líder máximo Edir Macedo tem dado apoio à candidata. Notamos com isso o forte interesse pelos votos evangélicos.

Nunca a difusão e campanha política foram tão intensas como na utilização das redes sociais, o ciberespaço tem sido solo fértil para política e as páginas dos candidatos têm milhares de seguidores, e através de suas redes sociais os candidatos podem fazer seus pronunciamentos e até lançar seus planos de governo como fez Marina Silva. Muitos tem se surpreendido com a força política dos protestantes, mas se surpreendem porque desconhecem a história. Poderíamos citar muitos exemplos como Martin Luther King, como os Puritanos que colonizaram os Estados Unidos, até mesmo o influente pensamento político dos reformadores no século dezesseis nas pessoas de Marinho Lutero, Ulric Zuinglio e João Calvino. Podemos citar a influência cristã de modo geral na política também, na verdade a política está ao alcance da religião para influenciá-la, o pensamento geral entre os cristãos não é mais um domínio sobre o estado mais garantir a liberdade religiosa que foi algo conquistado por protestantes também. A influência cristã na economia pode ser pontuada aqui com o pai da contabilidade chamado Fra Luca Pacioli, monge franciscano italiano da Renascença, publicou um livro revolucionário em 1494: Suma de arithmetica, geometria, proportioni et proportionalita

Goethe disse que era uma das maiores descobertas do intelecto humano. Certa vez Fidel Castro disse que admirava muitos dos evangélicos de Cuba. Isso porque eles trabalhavam duro, comparecem ao trabalho pontualmente, não burlam o sistema [1]. Podemos apontar também a contribuição dos evangélicos na educação na fundação das maiores universidades do mundo como: Oxford, Cambridge, Yale, Princeton e muitas outras. A contribuição na educação no Brasil com escolas cristãs e isso se inicia com os missionários Robert Kalley e Sara Kalley com o trabalho de escola dominical. O proeminente educador americano, dr. Samuel Blumenfeld pesquisou as origens do ensino público para seu polêmico livro Is public education necessary? Ele declara que as raízes do ensino das massas remetem a reforma e, especialmente, a João Calvino. A prensa inventada por Gutenberg também é uma contribuição cristã a cultura mundial, a invenção da tipografia ajudou a preparar o caminho para a Reforma Protestante, porque os reformadores queriam que o povo fosse educado e soubesse ler, para lerem a Bíblia.  Antes de sua morte Calvino funda a Academia de Genebra que era um centro acadêmico onde se ensinava direito, medicina e teologia. Vemos então a grande influência dos protestantes no desenvolvimento da humanidade.

Vemos que na cosmovisão reformada Calvino versa até sobre taxa de juros e empréstimos [2]. Max Weber distorce de certa forma o pensamento de Calvino pondo o reformador como o pai do capitalismo, que se propor a estudar as obras o reformador e seu pensamento social e político verá que Weber estava equivocado, ou analisou grupos calvinistas que estavam distantes do pensamento de Calvino.

Portanto, os evangélicos têm contribuído muito na política e isso é observado na história. Em relação ao contexto que vivemos no Brasil, os evangélicos podem se posicionar, porque são guiados sim, pela Bíblia, isso é um princípio da reforma, Sola Scriptura, por isso não podemos ser burlados dos nossos direitos, se existe democracia, temos direitos civis, sociais e políticos. Por isso podemos opinar e candidatar-nos a cargos públicos, e defender nossos ideais. Não incomoda uma nação ter governantes ateus, mas, incomoda ter governantes cristãos. Porque valores não podem ser defendidos pelo ateísmo, conheço ateus que tem valores, mas isso é uma contradição a sua crença. Embora não seja partidário, não me iluda com promessas políticas, não defendo uma inercia por parte dos evangélicos, embora sejamos peregrinos  temos o dever de lutar pela verdade, justiça e igualdade. Se os demais grupos sociais têm direitos, nós também temos, se eles defendem, nós também defendemos.  Também temos cidadania.