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9 de mai. de 2016

Bençãos e Deveres dos Filhos de Deus (1 Jo 3.1-10)


Por Thiago Oliveira


Texto Base 1 João 3:1-10

1. Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu.

2. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é.

3. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.

4. Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei.

5. Vocês sabem que ele se manifestou para tirar os nossos pecados, e nele não há pecado.

6. Todo aquele que nele permanece não está no pecado. Todo aquele que está no pecado não o viu nem o conheceu.

7. Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo.

8. Aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo.

9. Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus.

10. Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus; e também quem não ama seu irmão.

Introdução

O capítulo 3 da carta fala sobre a filiação que herdamos através de Cristo. Aqueles que são membros da igreja do Senhor ostentam a graça de serem chamados filhos de Deus. É a partir daí que o apóstolo vai tratar acerca de nossos deveres, pois, ser filho não redunda apenas em privilégios, existem também as obrigações. Vejamos a partir de agora quais são nossos deveres filiais.

Gerados do Alto (1-2)

A benção de sermos chamados “filhos de Deus” é enfatizada por João como sendo uma evidência do tamanho do amor que Deus tem por nós. É como se diante de uma coisa assombrosamente grande alguém começasse a exclamar “Uau! Venham ver, olhem o tamanho disso!”. De fato, ter a filiação divina é algo que nos deixa maravilhados e perplexos, pois, como nos diz o apóstolo Paulo, éramos filhos da ira, da desobediência (Ef 2). Passamos a ser filhos, graças ao sacrifício de Cristo feito em nosso favor. Por causa dele fomos não apenas adotados, mas gerados, o que expressa o novo nascimento que só o sacrifício na cruz foi capaz de operar. A palavra no original não traz a ideia de filhos adotados, mas sim gerados. Poderia ser traduzida como “crianças nascidas de Deus”. Isso não anula a ideia da adoção tão presente nos escritos paulinos, apenas demonstra que a adoção divina é tão eficaz que não apenas legitima a filiação, mas também transforma o filho adotado em filho gerado. Isso é um verdadeiro milagre e uma prova incontestável do amor que Deus tem por nós. Podemos experimentar desse amor e vivenciar tamanha benção em nosso dia a dia.

Contudo, o mundo não reconhecerá essa benção e nos desprezará. O apóstolo João afirma que de igual modo não reconheceram ao Senhor. Mas não devemos ficar chateados por não termos o reconhecimento mundano. O que vale para nós é saber que Deus nos conhece e nos chama de filhos. Este é o nosso tesouro e também a nossa esperança. João fala que ainda que a realidade da filiação seja concreta, ela não foi devidamente manifesta. Este é o famoso paradoxo do “já, ainda não” que todo o cristão vive. A manifestação da nossa filiação se dará quando Jesus retornar para julgar os vivos e os mortos. É no cenário escatológico do dia do Juízo que todos verão nossa real identidade que temos em Cristo. Da forma como o veremos, glorificado, também seremos.

A Pureza Requerida (3-6)

É a esperança na glorificação que nos move a um viver puro. Sabemos que no céu, teremos uma natureza incorruptível, diferente do que somos na atualidade, no céu não pecaremos, pois, o nosso estado será de pureza total e irreversível. Mas, os que anseiam viver assim já dão os primeiros passos ainda no lado de cá. Todo o crente que almeja viver na presença de Deus atenta para um viver santo. Se o Deus que nos chama e nos regenera é puro, e se nós somos seus filhos, devemos nos purificar também. Pecar é transgredir a lei, é ir de encontro com a vontade soberana do nosso Pai celestial. Logo, todo transgressor da lei é alguém que desonra o seu Pai e o entristece.

Devemos ter o conhecimento da pureza divina, e também atentarmos que desde a eternidade Ele articulou um plano para nos purificar de nosso pecado ao entregar Jesus para morrer em nosso lugar, não deixando impune a ofensa do pecado. Todo aquele que peca de maneira deliberada não conhece a Deus e nem é conhecido por Ele. Por isso, os filhos devem ter uma aparência distinta, eles são separados para refletir o caráter do Pai.

Pratiquemos a Justiça (7-10)

Se nosso interior for puro, nossas ações serão justas, isto é, retas. A noção de justiça extraída em toda a Escritura remonta a relacionamentos corretos. Ser justo é proceder corretamente para com Deus e para com meu próximo, observando as ordenanças bíblicas. João novamente vai trabalhar os contrastes. De um lado estão os praticantes da justiça, que agem conforme o caráter justo de seu Pai. Do outro estão os pecadores depravados que tem o diabo como pai. Não existe um meio termo entre os polos, ou se está na família de Deus ou na família de Satanás.

Cristo foi manifesto para derrotar as obras do diabo. Foi na cruz que ele teve sua grande vitória e apenas consumará quando retornar entre as nuvens. Já existe uma sentença contra Satanás e os que a ele pertencem. Enquanto isso não acontece, os filhos de Deus seguem firmes na caminhada, afastando-se do pecado que outrora os escravizava. O nascido de novo é alguém que não mais caminha de maneira desordenada procurando atender os seus desejos carnais. Dessa forma, um paralelo é traçado para identificar quem é filho de Deus e quem não é. Os que são justos são de Deus, e os justos, os que se relacionam de maneira correta, amam seus irmãos.

Aplicações

1. Tenho noção da benção que é ser filho de Deus? Sou grato por isso? Como venho demonstrando minha gratidão de maneira prática?

2. Como venho encarado a questão da pureza? Será que tenho relativizado as exigências que Deus faz para que o seu povo seja santo?

3. Como venho me relacionando com Deus e com as pessoas que são do meu convívio? Será que meus relacionamentos estão corretos? 

10 de dez. de 2015

Cristãos: Não façam do Facebook um Monstro

Por Thiago Oliveira

"Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem".

1 Pedro 1:15

Sou um entusiasta das redes sociais e acho que elas têm uma função importante. Mas também vejo o lado ruim delas. Não só vi este lado como também já vivi. Por isso, ao escrever essa breve reflexão, não faço como alguém que superou os problemas da rede e escreve com um "quê" de eu faço o correto enquanto as demais pessoas pisam na bola. Escrevo também para tentar superar os exageros que vivenciei e que deixei de vivenciar logo que me percebi usando o Facebook de uma maneira não muito sóbria. Como cristãos, nossa responsabilidade é grande em representar aquele que nos chamou para sermos santos. Santidade também precisa estar presente na websfera, por isso, vão aqui alguns pontos dignos para refletirmos juntos:

4 de dez. de 2015

Meu corpo e minhas regras

Por Morgana Mendonça

Não, esse texto não se trata de aborto. Inclusive sobre esse assunto há pastores e teólogos levantando-se contra tamanha aberração midiática promovida até pela maior emissora do país. O ponto central desse texto é o que hoje em dia tem sido denominado por "namoro integral". Falar sobre relacionamento afetivo pode ser algo super desgastado, todavia, falar sobre todas as implicações de um relacionamento afetivo cristão, ainda não.

3 de dez. de 2015

Lutando contra os Males da Pornografia

Por Hugo Coutinho
Não é fácil ser um jovem nos dias de hoje. Talvez nunca tenhamos vivido tempos tão complicados como os atuais. Os desafios que os jovens cristãos, que querem realmente se manter em santidade, enfrentam parecem ser mais difíceis do que nunca. Nossa sociedade se entregou ao sexo. A sexualidade é exaltada e propagada de todos os modos. Desenhos, propagandas, filmes ou revistas, para onde quer se olhe há exaltação da sexualidade. Vivemos num tempo em que a cultura esta toda voltada ao sexo.

20 de fev. de 2015

Nada de Cinza

Por Kevin DeYoung

Não há nada de cinza a respeito de um seguidor de Cristo ver 50 Tons de Cinza. A questão é preta ou branca. Não vá. Não assista. Não leia. Não alugue.

Eu não quero sequer falar sobre isso. Outro blogueiro e eu andamos em círculos por várias semanas pensando em como poderíamos escrever uma resenha crítica satírica alfinetando aqueles que acham que precisamos ver esse filme para sermos relevantes. Não conseguimos. Não há forma de fazer um humor forte o suficiente para condenar filme tão vil.

E não, eu não fui ver o filme. Nem sequer assisti o trailer. Também não li uma única página do livro. Ler sobre a premissa na Wikipedia e no IMDb por alguns minutos me convenceu de que eu não precisava saber mais. O sexo é um presente maravilhoso de Deus mas, assim como todos os presentes de Deus ele pode ser aberto em um contexto errado e reembalado em um pacote feio. Violência contra mulheres não é aceitável só porque ela é aberta à sugestão, e o sexo não é aberto a todas as permutações, até mesmo em um relacionamento adulto. Consentimento mútuo não cria uma filosofia moral.

Sexo é um assunto privado para ser compartilhado na privacidade e santidade do leito matrimonial (Hebreus 13.4). Sexo, assim como Deus designou, não é para atores que fingem (ou não) que estão fazendo “amor”. O ato da união conjugal é o que casais casados fazem a portas fechadas, não o que discípulos de Jesus Cristo pagam dinheiro para assistir em uma tela do tamanho de suas casas.

Como já disse antes, precisamos ser criteriosos no que colocamos em frente aos nossos olhos, sendo homens e mulheres sentados em lugares celestiais (Colossenses 3.1-2). Se 50 Tons de Cinza é um problema, qual é o padrão de aceitação para o resto da sexualidade livremente consumida? Veja bem, a consciência do pecado não é por si só o problema. A Bíblia é cheia de relatos de imoralidade. Seria simplista e moralmente insustentável – até mesmo antibíblico – sugerir que você não pode assistir ou ler sobre um pecado sem pecar. Mas a Bíblia nunca se deleita em sua descrição do pecado. Ela nunca pinta o vício com as cores da virtude. Ela nunca se entretém com o mal (senão para zombá-lo). A Bíblia nunca cauteriza a consciência tornando o pecado normal e a justiça estranha.

Cristãos não deveriam tentar “redimir” 50 Tons de Cinza. Não devemos achar bonitinho e divulgar uma nova série de sermões chamada “50 Tons de Graça”. Não devemos envergonhar a arte ou a santidade ao pensarmos que, de alguma forma, algo tão escuso como 50 Tons vale a pena ser visto ou analisado. De acordo com a lógica de Paulo, é possível expor um pecado e mantê-lo escondido ao mesmo tempo (Efésios 5.11-12). “Um bom homem se envergonha ao falar do que várias pessoas não se envergonham de fazer” (Matthew Henry).

Alguns filmes não merecem uma análise sofisticada. Eles merecem um sóbrio repúdio. Se a igreja não pode estender graça a pecadores sexuais, nós perdemos o coração do evangelho. E se nós não podemos falar que as pessoas devem ficar longe de 50 Tons de Cinza, perdemos a cabeça.
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Fonte: Reforma21

29 de dez. de 2014

Santidade e Justiça

Por Herman Bavinck

A santidade e a justiça de Deus caminham de mãos dadas com a Sua bondade e com a Sua Graça. Deus é chamado o Santo não apenas porque Ele é exaltado sobre todas as Suas criaturas, mas especialmente porque Ele é separado de tudo o que é pecaminoso e impuro no mundo. Portanto, Ele exige que Seu povo, que pela Sua livre Graça Ele escolheu para que fosse Seu, seja santo, e Ele se santifica a Si mesmo nesse povo através de Cristo (Ef 5.26,27),pois apesar de Cristo ter santificado a Si mesmo por Seu povo e em lugar dele, esse povo pode ser santificado na verdade (Jo 17.19). E a retidão e justiça de Deus estão intimamente relacionadas com a Sua santidade, pois, sendo o Santo, Ele não pode ser amigo do pecado. Ele abomina o pecado (SI 45.7; Jó 34.10), levanta-se contra ele (Rm 1.18), é zeloso de Sua honra (Ex 20.5) e, portanto, não pode inocentar o culpado (Ex 25.5,7). 

Sua natureza santa requer também que, fora de Si mesmo, no mundo de Suas criaturas, Ele mantenha a justiça e, de forma imparcial, retribua a cada um segundo as Suas obras (Rm 2.2-11; 2Co 5.10). Hoje em dia há aqueles que tentam fazer com que outras pessoas acreditem que Deus não se importa com os pensamentos e atos pecaminosos do homem. Mas o Deus vivo e verdadeiro que as Escrituras nos apresentam pensa muito diferente sobre isso. Sua ira contra o pecado é terrível, e Ele pune o pecador tanto temporal-mente quanto eternamente por meio de um justo julgamento (Dt 27.26; Gl 3.10).

Mas Ele não apenas pune os incrédulos de acordo com Sua justiça. É um ensino notável das Escrituras que de acordo com essa mesma justiça Ele conceda salvação aos santos. De fato, esses santos são pecadores também, e em nada são melhores do que os outros. Mas enquanto o incrédulo oculta os seus pecados ou os encobre, os santos os reconhecem e confessam. Essa é a distinção entre eles. Apesar de serem pessoalmente culpados e impuros, eles estão do lado de Deus e contra o mundo. Eles podem, portanto, apelar à promessa do pacto da Graça, à verdade da Palavra de Deus, à justiça que Deus realizou em Cristo.

Em termos dessa justiça nós podemos dizer, corajosa e reverentemente, que Deus é obrigado a perdoar os pecados de Seu povo e dar-lhe vida eterna. E se Deus deixa que Seu povo espere por Ele e prova sua fé por um longo tempo, segue-se que em sua perfeita redenção a integridade e a fideli­dade de Deus são demonstradas mais gloriosamente.
O Senhor aperfeiçoará aque­les que pertencem a Seu povo, pois Sua misericórdia dura para sempre (SI 138.8). O Senhor é mi­sericordioso e gracioso, longânimo e abundante em bondade e verdade.
Uns confiam em carros, ou­tros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Se­nhor, nosso Deus. Esse Deus é o nosso Deus para todo o sempre; Ele será o nosso guia até à morte(SI 48.14). Ele é um Deus abençoador glorioso (ITm 6.15; Ef1.17). E feliz é o povo cujo Deus é o Senhor (SI 33.12).
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Fonte: O Calvinismo

11 de dez. de 2014

A Ideia Bíblica de Santidade e Santificação

Por Louis Berkhof

NO ANTIGO TESTAMENTO

Na Escritura, a qualidade da santidade aplica-se primeira¬mente a Deus, e, aplicada a ele, sua idéia fundamental é a de inacessibilidade. Esta se baseia no fato de que Deus é divino e, portanto, absolutamente distinto das criaturas. Neste sentido, a santidade não é apenas um atributo em coordenação com os demais em Deus. Ele é santo em sua graça bem como em sua justiça, em seu amor bem como em sua ira. Estritamente falando, a santidade só vem a ser um atributo no sentido ético posterior da palavra. O sentido ético do termo desenvolveu-se do sentido de majestade.

Este desenvolvimento parte da idéia de que um ser pecador está mais agudamente cônscio da majestade de Deus, do que um ser sem pecado. O pecador fica ciente da sua impureza quando esta é contrastada com a majestosa pureza de Deus, cf. Is 6. Otto  fala da santidade no sentido original, como numinosa,  e se propõe denominar a reação típica a isto "sentimento de criaturidade, ou consciência de ser criatura", uma desvalorização do ego, reduzindo-o à nulidade, ao passo que fala da reação à santidade no sentido ético derivado como um "sentimento de profanidade". Assim é que se desenvolve a idéia da santidade como pureza majestosa ou sublimidade ética. Esta pureza é um princípio ativo em Deus, que necessariamente se afirma a si próprio e defende a sua honra. Isto explica o fato de que a santidade é apresentada na Escritura também como a luz da glória divina transformada num fogo devorador, Is 5.24; 10.17; 33.14,15.

Em contraste com a santidade de Deus, o homem se sente não meramente insignificante, mas positivamente impuro e pecaminoso, e, como tal, como objeto da ira de Deus. Deus revelou no Antigo Testamento a sua santidade de várias maneiras. Ele o fez com terríveis juízos sobre os inimigos de Israel, Ex 15.11,12. Também o fez separando para si um povo, que ele retirou do mundo, Êx 19.4-6; Ez 20.39-44. Tomando e retirando este povo do mundo impuro e ímpio, ele protestou contra esse mundo e seu pecado. Além disso, ele o fez repetidamente, poupando o seu povo infiel, porque não queria que o mundo não santo se regozijasse com aquilo que poderia considerar fracasso em sua obra, Os 11.9.

Num sentido derivado, a idéia de santidade também é aplicada a coisas e pessoas que são colocadas numa relação especial com Deus. A terra de Canaã, a cidade de Jerusalém, o monte-templo, o tabernáculo e o templo, os sábados e as festas solenes de Israel - todas estas coisas são chamadas santas, visto serem consagradas a Deus e introduzidas no resplendor da sua augusta santidade. Similarmente, os profetas, os levitas e os sacerdotes são chamados santos na qualidade de pessoas que foram separadas para o serviço especial do Senhor. Israel tinha os seus lugares sagrados, as suas épocas sagradas, os seus ritos sagrados e as suas pessoas sagradas. Contudo, esta ainda não é a idéia ética da santidade. Uma pessoa podia ser sagrada e, todavia, estar inteiramente vazia da graça de Deus em seu coração. Na antiga dispensação, como também na nova, a santidade ética resulta da influência renovadora e santificante do Espírito Santo. Deve-se lembrar, porém, que mesmo quando a concepção de santidade é completamente espiritualizada, sempre expressa uma relação. Nunca a idéia de santidade é a de bondade moral, considerada em si mesma, mas sempre é a idéia de bondade ética vista em relação com Deus.

NO NOVO TESTAMENTO

Ao passarmos do Antigo Testamento para o Novo, damo-nos conta de uma notável diferença. Enquanto no Antigo Testamento não há nem um só atributo de Deus que sequer lembre alguma semelhança com a proeminência dada a sua santidade, no Novo Testamento raramente se atribui santidade a Deus. Exceto nalgumas citações do Antigo Testamento, somente nos escritos de João a santidade é atribuída a Deus, Jo 17.11; lJo 2.20; Ap 6.10. Com toda a probabilidade, a explicação para isso está no fato de que a santidade, no Novo Testamento, projeta-se como a característica especial do Espírito Santo, por quem os crentes são santificados, são qualificados para o serviço e são conduzidos ao seu destino eterno, 2Ts 2.13; Tt 3.5.


A palavra hagios é empregada em conexão com o Espírito de Deus cerca de cem vezes. Contudo, a concepção de santidade e de santificação no Novo Testamento não é diferente da que se vê no Antigo Testamento. Tanto naquele como neste a santidade, num sentido derivado, é atribuída ao homem. Num e no outro a santidade ética não é mera retidão moral, e nunca a santificação é mero melhoramento moral. Há confusão destas duas coisas atualmente, quando falam em salvação pelo caráter. Um homem pode gabar-se de um grande melhoramento moral, e, todavia, não ter nenhuma experiência da santificação. A Bíblia não insiste no progresso moral puro e simples, mas no progresso moral em relação com Deus, em atenção a Deus e com vistas ao serviço de Deus. Ela insiste na santificação. Justamente neste ponto, muita pregação ética dos dias atuais é completamente enganosa; e o corretivo para isto está na apresentação da verdadeira doutrina da santificação. Pode-se definir a santificação como a graciosa e contínua operação do Espírito Santo pela qual ele liberta o pecador justificado da corrupção do pecado, renova toda a sua natureza à imagem de Deus, e o capacita a praticar boas obras.
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Texto condensado da Teologia Sistemática de Berkhof, p. 488 e 489.

5 de dez. de 2014

A Busca da Santidade

Por John Stott

Muitos dos segredos da santidade nos são revelados nas páginas da Bíblia. De fato, um dos objetivos principais da Escritura é mostrar ao povo de Deus como levar uma vida que lhe seja digna e que lhe agrade. Porém um dos aspectos mais negligenciados na busca da santidade é a parte que compete à mente, conquanto o próprio Jesus tenha posto o assunto fora de qualquer dúvida quando prometeu: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. É mediante a sua verdade que Cristo nos liberta da escravidão do pecado. De que forma? Onde se encontra o poder libertador da verdade?

Para começarmos, precisamos ter um quadro bem claro do tipo de pessoa que Deus pretende que sejamos. Temos de conhecer a lei moral de Deus e os mandamentos. Como o expressou John Owen: “o bem que a mente não é capaz de descobrir, a vontade não pode escolher, nem as afeições podem se apegar”.. Portanto, “na Escritura o engano da mente comumente se apresenta como o princípio de todo pecado”.

O melhor exemplo disso pode-se encontrar na vida terrena do nosso Salvador. Por três vezes o diabo aproximou-se dele e o tentou no deserto da Judéia. Nas três vezes Ele reconheceu ser má a sugestão que lhe fizera Satanás e contrária à vontade de Deus. Três vezes Ele se opôs à tentação com a palavra gegraptai: “está escrito”. Jesus não deu margem a qualquer discussão ou argumentação. A questão já estava decidida, logo de partida, em sua mente. Pois a Escritura estabelecera o que é certo. Este claro conhecimento bíblico da vontade de Deus é o segredo básico de uma vida reta.

Não basta sabermos o que deveríamos ser, entretanto. Temos de ir mais além, resolvendo, em nossas mentes, a alcançá-la. A batalha é quase sempre ganha na mente. É pela renovação de nossa mente que nosso caráter e comportamento se transformam. Assim é que, seguidamente, a Escritura nos exorta a uma disciplina mental nesse sentido. “Tudo o que é verdadeiro”, diz ela, “tudo o que respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”.

De novo: Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

De novo ainda: “Os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz”.

O autocontrole é, antes de tudo, o controle da mente. O que semeamos em nossas mentes, colhemos em nossas ações. “Ler É Viver” foi o lema de uma recente campanha publicitária. É um testemunho do fato de que a vida não consiste apenas em trabalhar, comer, dormir. A mente tem de ser também alimentada. E o tipo de comida que nossas mentes receberem determinará que tipo de pessoa seremos. Mentes sadias têm um apetite sadio. Temos de satisfazê-las com alimento saudável, e não com drogas e venenos intelectuais perigosos.

Há, entretanto, uma outra espécie de disciplina mental a que somos convocados no Novo Testamento. Temos que considerar não somente o que deveríamos ser, mas também o que, pela graça de Deus, já somos. Devemos constantemente nos lembrar do que Deus já fez por nós, e dizer a nós mesmos: “Deus uniu-me com Cristo em sua morte e ressurreição, e assim acabou com a minha velha vida e me deu uma vida completamente nova em Cristo. Adotou-me em sua família e me fez seu filho. Pôs em mim seu Espírito Santo, fazendo de meu corpo seu templo. Também tornou-se seu herdeiro e prometeu-me um destino eterno, consigo, no céu. Isto é o que Ele fez para mim e em mim. Isto é o que sou em Cristo”.

Paulo não se cansa de nos incitar a que deixemos nossas mentes pensar nessas coisas. “Quero que saibais”, ele escreve. “Porque não quero, irmãos, que ignoreis...”E cerca de dez vezes em suas cartas aos Romanos e Coríntios ele profere esta pergunta incrédula: “Não sabeis...” “Não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus , fomos batizados na sua morte?” Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos...? “Não sabeis que sois santuários de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?

A intenção do apóstolo nesta enxurrada de perguntas não é apenas fazer-nos sentir envergonhados por nossa ignorância. É antes fazer com que nos dizem respeito, as quais de fato nos são bem conhecidas; e que falemos entre nós sobre elas até o ponto em que se apoderem de nossas mentes e moldem o nosso caráter. Não se trata do otimismo de autoconfiança de Norman Vicent Peale, cujo método procura conseguir que façamos de conta que somos algo que não somos. O método de Paulo é nos lembrar do que realmente somos, porque assim nos fez Deus em Cristo.


Fonte: Crer é também pensar, John Stott. (via monergismo.com)

1 de dez. de 2014

Santidade pelo poder do Espírito

Por Kevin DeYoung

Faz todo sentido pensarmos que o Espírito Santo desempenha papel primordial em nos tornar santos. De acordo com 1 Pe.1.2, somos “salvos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito”, para que sejamos obedientes a Jesus Cristo e borrifados por seu sangue. A santificação, nesse sentido, possui dois sentidos. O Espírito nos separa em Cristo para que sejamos purificados por seu sangue (santificação definitiva), e ele opera em nós para que possamos ser obedientes a Jesus Cristo (santificação progressiva). Através do Espírito recebemos uma nova posição e somos infundidos com novo poder. Ou, para utilizar a linguagem paulina, já que não estamos mais na carne e sim no Espírito, pelo mesmo Espírito devemos mortificar os feitos da carne (Romanos 8.9-13).

Mas voltando à pergunta prática: como é que o Espírito, de fato, opera em nós, tornando-nos santos? Uma das formas é nos fortalecendo com poder em “o íntimo de nosso ser” (Ef 3.16). A obra do Espírito está frequentemente associada a poder (Atos 1.8; Rm 15.19; 1Co 2.4; 1Ts 1.5). Esse poder pode se manifestar em sinais e maravilhas, em dons espirituais para edificar o corpo, e na capacidade de gerar fruto espiritual. O mesmo Espírito que esteve presente na criação e fez com que você nascesse de novo, está agindo para capacitar o íntimo de seu ser (ou seja, sua vontade ou coração) para que você possa resistir aos pecados que não conseguia resistir anteriormente e para fazer coisas boas que, de outra sorte, seriam impossíveis à você. Cristãos derrotistas não lutam contra os pecados porque concluem que “nasceram assim”, ou “jamais mudarão”, ou “não possuem fé suficiente”, e, por isso, não estão sendo humildes. Eles desonram o Espírito Santo que nos capacita com poder sobrenatural.

Mas isso não é tudo que o Espírito faz para nos santificar. O Espírito é poder, mas também é uma luz. Ele brilha nas trevas de nosso coração e nos traz convicção de pecado (João 16.7-11). Ele é uma lâmpada a iluminar a Palavra de Deus, ensinando-nos o que é verdade, fazendo com que isso nos salte aos olhos como precioso (1Co 2.6-16). E o Espírito acende os refletores sobre Cristo, para que possamos enxergar a glória Dele e sermos transformados (João 16.14). É por isso que 2 Coríntios 3.18 afirma: “E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito”. Assim como Moisés teve a sua face transformada quando contemplou a glória do Senhor no Monte Sinai (Ex 34.29; conf. 2Co 3.7), assim seremos transformados quando, pelo Espírito, contemplarmos a glória de Deus na face de Cristo.

Resumindo, então, o Espírito é para nós uma luz de três formas diferentes: (1) Ele expõe o pecado para que possamos reconhece-lo e voltar-lhe as costas; (2) ele ilumina a Palavra para que consigamos entender seu significado e captar suas implicações; (3) ele remove o véu para que possamos contemplar a glória de Cristo e nos tornarmos semelhantes àquele que contemplamos. Ou, em outras palavras, o Espírito santifica ao revelar o pecado, revelar a verdade e revelar a glória. Quando fechamos os olhos para essa luz, a Bíblia chama essa ação de resistir (At 7.51), ou apagar (1Ts 5.19) ou entristecer o Espírito (Ef 4.30). Pode haver pequenas nuanças entre estes três termos, mas todos fazem alusão a situações onde não aceitamos a obra santificadora do Espírito em nossa vida. Se cedermos ao pecado ou desistirmos da justiça, a culpa não é do poder do Espírito, mas sim de nossa pelas trevas do mal e não pela luz do Espírito (João 3.19-20).
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Fonte: Extraído do capítulo 5 do livro "Brecha em nossa Santidade". Editora Fiel, 2013. 

28 de nov. de 2014

Os Crentes Devem Sentir-se Culpados o Tempo Todo?

Por Kevin DeYoung

Imagino que existem inúmeros crentes que raramente sentem o aguilhão da consciência ou as tristezas do arrependimento. Mas também conheço muitos, muitos crentes (incluindo eu mesmo) que facilmente se sentem infelizes por coisas que não fazem ou fazem-nas menos do que perfeitamente. De fato, estou convencido de que a maioria dos cristãos sérios vivem quase constantemente com um baixo senso de culpa.

Como nos sentimos culpados? Deixe enumerar algumas maneiras.

Poderíamos orar mais.
Não somos bastante ousados em evangelizar.
Gostamos demais de esportes.
Assistimos freqüentemente a filmes e à televisão.
Nosso tempo devocional é curto e esporádico.
Não contribuímos de modo suficiente.
Compramos um novo móvel.
Não lemos muito para nossos filhos.
Nosso filhos comem Cheetos e batatas fritas.
Reciclamos pouco.
Precisamos perder alguns quilos.
Poderíamos usar melhor nosso tempo.
Poderíamos viver em um lugar mais difícil ou em uma casa menor.

O que fazemos por trás de todos esses cenários de culpa? Não sentimos aquele tipo de remorso paralisante por causa dessas coisas. Mas essas imperfeições podem ter um efeito cumulativo pelo qual até o crente maduro pode sentir-se como alguém que está desapontado a Deus e, talvez, um mero cristão.

Eis a parte delicada: às vezes devemos nos sentir culpados, porque às vezes somos culpados de pecado. Além disso, a complacência na vida cristã é um perigo real, especialmente na América.

Mas, apesar disso, não creio que Deus nos redimiu pelo sangue de seu Filho para que nos sintamos como fracassos permanentes. Depois do Pentecostes, Pedro e João pareciam torturados por temor introspectivo e repugnante de si mesmos? Paulo se mostrou constantemente preocupado com o fato de que poderia fazer mais? Admiravelmente, Paulo disse em certo momento: “De nada me argúi a consciência” (1 Co 4.4). E acrescentou logo: “Nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor”. Parece que Paulo dormia toda noite com uma consciência limpa. Então, por que tantos crentes se sentem culpados o tempo todo?

1. Não recebemos completamente as boas-novas do evangelho. Esquecemos que fomos vivificados com Cristo. Fomos ressuscitados com ele. Fomos salvos somente pela fé. E isso é um dom de Deus, e não um resultado de obras (Ef 2.4-8). Podemos ficar com tanto medo do antinomianismo – um perigo legítimo –, que receamos falar profusamente sobre a graça de Deus. Mas, se nunca fomos acusados de ser antinomianos, talvez o evangelho não nos foi apresentado em toda a sua glória extraordinária (Rm 6.1).

2. Os cristãos tendem a motivar os outros por culpa e não por graça. Em vez de instarmos nossos irmãos a serem o que realmente são em Cristo, nós os ordenamos a fazerem mais para Cristo (quanto à motivação correta, ver Rm 6.5-14). Por isso, vemos a semelhança com Cristo como algo em que estamos realmente fracassando, quando deveríamos vê-la como algo que já possuímos e no qual precisamos crescer.

3. A maior parte de nosso baixo nível de culpa se enquadra na ambígua categoria de “não fiz o suficiente”. Examine a lista que apresentamos. Nenhum dos itens é necessariamente pecaminoso. Dizem respeito a possíveis infrações, percepções e maneiras como gostaríamos de fazer mais. Essas são as áreas mais difíceis de lidarmos porque, por exemplo, nenhum crente jamais confessará que tem orado de modo suficiente. Assim, é sempre fácil nos sentirmos horríveis quanto à oração (ou à evangelização, ou a contribuir, ou a qualquer outra disciplina cristã). Precisamos ter cuidado para não insistirmos em algum padrão de prática quando a Bíblia insiste apenas em um princípio geral.

Quero dar um exemplo. Todo crente tem de contribuir generosamente, para as necessidades dos santos (2 Co 9.6-11; Rm 12.13). Podemos insistir nisso com absoluta certeza. Mas, como é essa generosidade, quanto devemos dar, quanto devemos reter – essas coisas não estão delimitadas por alguma fórmula, nem podem ser exigidas por compulsão (2 Co 9.7). Portanto, se queremos que as pessoas sejam mais generosas, faremos bem se seguirmos o exemplo de Paulo em 2 Coríntios e enfatizarmos as bênçãos da generosidade e a sua motivação alicerçada no evangelho, em vez de envergonharmos os outros que não contribuem muito.

4. Quando somos verdadeiramente culpados de pecado, é imperativo que nos arrependamos e recebamos misericórdia de Deus. Paulo tinha uma consciência limpa não porque nunca pecava, e sim porque, eu imagino, buscava imediatamente o Senhor, quando sabia que havia errado, e descansava no “nenhuma condenação” do evangelho (Rm 8.1). Se confessarmos os nossos pecados, disse João, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Deus não nos salvou para nos sentirmos miseráveis o tempo todo. Ele nos salvou para que vivamos na alegria de nossa salvação. Portanto, quando pecamos – e todos pecamos (1 Rs 8.46; 1 Jo 1.8) –,confessamos o pecado, somos purificados e prosseguimos.

Isso enfatiza um dos grandes perigos da culpa constante: aprendemos a ignorar nossa consciência. Se pecamos verdadeiramente, precisamos arrepender-nos e rogar ao Senhor que nos ajude a mudar. Mas, se não estamos pecando, se não somos tão maduros como deveríamos ser, nem tão disciplinados como outros crentes, nem estamos fazendo escolhas diferentes que talvez sejam aceitáveis, mas não extraordinárias, não nos devemos sentir culpados. Devemos nos sentir desafiados, estimulados, inspirados, mas não culpados.

Como pastor, isso significa que não espero que todos em minha igreja sintam-se apavorados a respeito de tudo que prego. Afinal de contas, é justo que todos obedeçamos aos mandamentos de Deus. Não perfeitamente, não sem alguns motivos incertos, nem tão plenamente como deveríamos, mas com fidelidade e obediência que agrada a Deus. A pregação fiel não exige que os cristãos sinceros sintam-se miseráveis o tempo todo. De fato, a melhor pregação deve fazer que os cristãos sinceros vejam mais de Cristo e experimentem mais de sua graça.
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