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20 de mai. de 2016

O Novo Calvinismo Deformado

Por Thomas Magnum

A cada dia o movimento reformado no Brasil vai ficando mais estranho. E suas características vão se aproximando do secularismo, mundanismo, anti-pactual, reducionista e mais uma série de mazelas. Quem acabou de ler um texto de blog ou ver um vídeo de um "outro" contra um ponto tradicional da fé reformada já se acha capaz de mostrar os "erros dos calvinistas tradicionais". É um fenômeno curioso, sempre antes da apostasia doutrinária vem um estabelecimento de uma "nova ortodoxia", e esse fato corrobora historicamente para uma situação de declive.

Já tenho dito faz tempo que as causas iniciais possíveis nesse novo "Calvinismo Deformado" (título que dou a tal movimento) é fruto da mesma gênese das controvérsias teológicas, a saber: presunção e arrogância. A tradição reformada carrega nos ombros uma sólida teologia pactual que segue em linha exegética histórico-gramatical. Essa abordagem hermenêutica faz muita diferença num processo de interpretação dentro de uma teologia bíblica. Ao meu ver, o biblicismo de muitos reformados requerendo texto comprobatório pra tudo (achando que isso é seguir a risca o sola scriptura) é desmoronador de suas próprias convicções. A teologia pactual é progressiva, orgânica e adaptável na teologia bíblica, segue o desenvolvimento da revelação de Deus. Uma forma estanque de abordagem biblicista é estranha ao método histórico-redentivo de olhar teologicamente o processo de revelação divina.

Teologia não se faz assistindo vídeos de três minutos, nem lendo um texto corrido de quatro mil caracteres. A teologia reformada tem um contexto, uma construção lógica, hermeneuticamente aplicável a nosso contexto. Acho que o desforque do atual Calvinismo Deformado se dá pela falta de maturidade com a teologia reformada, leiam historia da teologia, história do pensamento cristão, leiam as confissões de fé, catecismos e catecismos comentados, leiam teologia bíblica do Antigo e Novo Testamento, é precido parar de achar que conhece teologia sem ler responsavelmente o que ela diz e é preciso uma disposição paciente e honesta de anos de estudos para uma maturação teológica.

Esse Calvinismo anômalo é secular, anti-confessional, conectado as seduções de interpretações pós-modernas. Quão estranho é ver neófitos apaixonados pelo calvinismo, de forma a exaltar o que é para servir e se tornam servos de um coração soberbo e imaturo. Não é um "sobrenome" como: Fulano de Tal Puritano ou Reformado que faz de você alguém respeitável teologicamente, isso só é adquirido com suor sobre páginas, lágrimas sobre a Escritura, de joelhos diante da majestade de Deus. 

O verdadeiro Calvinista segue e se esforça pela piedade cristã, pela simplicidade, pela humildade, pela paixão pela glória de Deus, pelo zelo doutrinário e pela proclamação da verdade.

6 de mai. de 2016

O Seminarista e os Livros

Por Thomas Magnum


O objetivo desse texto é uma tentativa de elucidar com conselhos simples aos estudantes de teologia (com uma preocupação inicial a seminaristas), sobre a importância de um cabedal de conhecimento amplo, que ajudará o pensador teológico a compreender e aplicar a teologia cristã a outras esferas de conhecimento.

Quais as vantagens de um amante da teologia ter um maior repertório de leituras não teológicas?

1 - Uma compreensão mais larga sobre questões sociais e políticas o levarão a uma reflexão teológica que responderá a questões antropológicas, psicológicas, sociais e filosóficas.

Ao lidarmos com essa questão devemos ter alguns cuidados, mas, não devemos ser alienados do mundo nem do que acontece em nosso contexto. Temos o perigo de estudantes que se deslumbram com outras áreas do conhecimento humano e acabam pautando seu trabalho teológico por visões da filosofia, sociologia, psicologia e afins. A importância de termos uma leitura mais ampla em relação a questões sociais não é para que leiamos a teologia com outras lentes, mas, que a teologia seja a lente usada para ler outras disciplinas do conhecimento humano. A graça comum é um ponto a ser ressaltado, podemos encontrar bom material em autores de outras áreas e em autores não cristãos. No entanto é necessário o estudante ter um bom repertório teológico. Conhecer as doutrinas bíblicas, ter um bom conhecimento das confissões de fé da igreja e um potencial conhecimento de interpretação bíblica. Com esse fundamento ele poderá discernir o que é bom ou não em literatura pagã.
  
2 - Uma leitura mais atenta e profunda das obras clássicas da literatura e crítica literária levará o estudante a um exercício intelectual vantajoso para um treinamento aguçado em escrita e leitura.

É admirável estudantes de teologia não terem apreço por literatura, não que sejam obrigados a ter, mas, no estudo teológico já somos introduzidos a riqueza literária da Bíblia, então uma apreciação de autores consagrados como C.S. Lewis, Tolkien, Dostoyevski, William Shakespeare, T.S. Eliot, Northrop Frye, Rodrigo Gurgel – os três últimos escritores e críticos literários e culturais - será de grande valia para o estudante que deseja ter um maior arsenal de conhecimento. Ao estudarmos grandes nomes como Abraham Kuyper, Herman Bavinck, Herman Dooyeweerd, Hans Rookmaaker, Francis Schaeffer, Gordon Clark, Cornelius Van Til, entre outros, notamos claramente a grande influência de outras áreas de conhecimento em suas teologias, contudo, apenas como somatória e não como linha de interpretação teológica, que no caso de todos os citados eram reformados calvinistas. É perceptível aos leitores desses autores calvinistas que eles tinham uma larga compreensão do seu tempo e aplicaram a teologia reformada ao seu momento na linha do tempo, seu trabalho teológico respondia questões presentes em sua época.

3 - Perceber que a graça comum de Deus é manifesta nas obras de escritores não cristãos, que podem contribuir muito com o trabalho de um estudante de teologia. 

Não podemos ignorar a graça comum dada por Deus a muitos produtores de conteúdo culturais como escritores, poetas, historiadores, sociólogos, cientistas, literatos. Leituras dessa espécie nos ajudarão a termos um repertório de linguagem e expressão mais vasto e uma compreensão mais larga do que tem sido produzido por pessoas que tinham muito a dizer sobre várias áreas de conhecimento.

4 - A leitura de clássicos da filosofia, literatura ficcional, literatura narrativa e escritos consagrados na história nos situam no tempo e podem nos ajudar a fazermos úteis correspondências e pontes com a história do cristianismo e o desenvolvimento histórico e teológico do pensamento cristão.

Comumente o estudante de teologia se enclausura em um mar de literatura teológica que o afoga em um mundo literário. Isso tem um lado bom e ruim. O lado positivo é que nosso conhecimento em teologia cresce, mas, isso não quer dizer que amadurece. Evidentemente a leitura de livros não teológicos não é sinônimo de amadurecimento intelectual por parte do estudante, mas, pode contribuir para uma visão de mundo mais precisa do ponto de vista intelectual e do que tem sido dito e debatido de várias formas nas artes.  A leitura de Dostoyevski pode nos levar a uma fantástica compreensão de uma crítica política através de um romance. Considerando também o crescimento cultural do leitor em transitar pelas linhas de um pensador e notar como ele enxergava o mundo e os homens.

5 - Tais leituras poderão ser instrumentos secundários úteis na formação intelectual de um teólogo. O amadurecendo em questões filosóficas e políticas que lhe darão condições de responder através da teologia de forma responsável, madura e verdadeira.

Considero esse último ponto importante pelo fato de instrumentalizar o teólogo intelectualmente, o levando a um amadurecimento horizontal em seu pensamento filosófico, gostaria de mencionar uma breve leitura que fiz do não muito conhecido filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos que refletiu profundamente em questões sociais e não foi consumido pela filosofia esquerdista que impera em ciclos acadêmicos. Mário deve ser lido por pensadores teológicos e acredito ser de grande utilidade. Vivemos em no calor das descobertas de pensadores holandeses no Brasil como Dooyeweerd e Kuyper, mas, não devemos desprezar outros filósofos que podem contribuir para um crescimento e amadurecimento de um pensar teológico que possibilite versar e transitar pelas ciências e debates antropológicos, sociais, científicos, políticos e filosóficos. A teologia mesmo não tendo a proposta de ser um mecanismo de determinação cientificista, nos guia a uma cosmovisão bíblica para uma análise epistemológica cristocêntrica em todas as áreas de conhecimento. 

Espero que essa breve reflexão sirva de incentivo a estudantes de teologia, pastores e professores de seminários teológicos. E é interessante também notificar e recomendar o livro de dois teólogos importantes publicado no Brasil: O Pastor como Teólogo Público de Kevin Vanhoozer e Owen Strachan que trata muito bem sobre isso que estamos falando. Por fim, a Palavra de Deus nos é suficiente, mas, isso não exclui nosso dever de sermos preparados intelectualmente para o bem do povo de Deus e da sociedade que nos cerca. Essa questão deve também nos ser lembradas como cumprimento das duas tábuas da lei que são resumidas em amarmos a Deus e amarmos o próximo.