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21 de fev. de 2015

Aquele que não ama a seu irmão, não pode amar a Deus

Por Paul Washer
Agora, precisamos examinar nossa vida à luz dessas verdades. Amamos o povo de Deus e com isso demonstramos a realidade de nossa fé? Nosso amor é base de atitudes e emoções escondidas que não podem ser provadas ou é demonstrado por evidências reais, práticas e discerníveis, tais como palavras, atitudes e ações? Para nos auxiliar em ver onde estamos nesta questão de suma importância, as seguintes perguntas podem nos ajudar.
Primeiro, de quem é a companhia em que você tem maior prazer? Você busca comunhão com outros crentes e se deleita em conversas sobre Cristo? Ou prefere a companhia do mundo e raramente fala sobre as coisas de Deus? Quando foi a última vez em que você esteve com outros crentes com a única intenção de estar com eles e exaltar a Cristo? Devemos cuidar de como respondemos a essa pergunta, reconhecendo que muito do que se chama de comunhão cristã tem pouco a ver com Cristo.
Segundo, você se identifica publicamente com Cristo e seu povo? Ou se envergonha do escândalo envolto nos que confessam a Jesus como Senhor e procuram viver em submissão a sua Palavra? Os seus colegas descrentes identificam você como sendo um “desses cristãos”? Ou você está tão alinhado ao mundo e conformado à sua imagem que uma acusação dessas raramente, ou nunca, seria feita contra você? Você se coloca entre o povo de Deus como um espetáculo ao mundo, que se considera sofisticado demais para aceitar nossas ilusões religiosas?[1] Ou se distancia da igreja como uma pessoa se distancia do parente próximo do qual está envergonhado? Você consegue se identificar com Moisés, que “recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado” (Hebreus 11.24–25)?
Terceiro, embora esteja cônscio das muitas fraquezas e falhas morais da igreja, você tem o compromisso de promover sua melhora? Ou se alinha com o Diabo e o mundo nas acusações contra ela?[2] Temos de nos lembrar sempre de que o Diabo é o acusador de nossos irmãos, e os que estão de fora da igreja com acusações similares, estão fazendo a obra de seu pai, o Diabo.[3] Em contraste, o verdadeiro crente responde às falhas de seu irmão com um amor que encobre multidão de pecados, e se entrega à sua restauração e aperfeiçoamento.[4] Não pode abandonar a igreja nem o santo caído, não obstante as muitas vezes em que eles se desviam. Ele é compelido pelo amor de Deus a buscá-los, assim como Oseias buscou a Gomer, e labutar em seu benefício e para sua glória futura.[5]
Quarto, você é membro atuante e contribuinte de uma congregação local e visível de crentes? Temos de nos lembrar de que a espécie de amor que João escreve só seria manifestado no contexto de relacionamentos com outros crentes no corpo de Cristo. Você está morrendo para seu eu e entregando sua vida em serviço ao próximo cristão? Está labutando para a edificação da igreja através de seus diversos dons espirituais? Em termos simples, o que você faz para edificar o povo de Deus e promover a causa de Cristo entre eles?
Estas perguntas não são restritas somente aos pastores, mas pertencem a cada membro do corpo de Cristo. De fato, uma das evidências de que somos membros do corpo é que somos úteis para ele. Correspondentemente, uma das evidências de não ser convertido é a inutilidade para toda e qualquer boa obra.[6] Amor sem obras, como fé sem obras, é morto.[7] Faríamos bem em lembrar que as ovelhas e os bodes eram divididos pelo que faziam ou não faziam para o povo de Deus.
Concluindo, o amor não é apenas uma boa coisa entre muitas, mas a mais excelente, maior ainda que a fé e a esperança.[8] Sendo assim, não é incomum que João desse ao amor lugar exaltado entre as outras provas conversão. Temos de pesar nossa ortodoxia doutrinária contra o padrão da Escritura e examinar nossa piedade pessoal e vida devocional à luz dela. Porém, sobretudo, temos de provar a nós mesmos quanto ao amor. Esta virtude tem de ser encontrada em nós e manifestada em nossas obras, antes de ousarmos assegurar a nossos corações que o temos conhecido, conforme João relembra muitas vezes: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte” (1João 3.14). “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1João 4.20).
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[1] 1Coríntios 4.9–13.
[2] O nome “diabo” vem da palavra grega diábolos, que pode ser traduzida “acusador”. Refere a alguém tendente a maledicência e falsas acusações.
[3] João 8.44; Apocalipse 12.10.
[4] 1Pedro 4.8.
[5] Oseias 3.1–3.
[6] Romanos 3.12.
[7] Tiago 2.17.
[8] 1Coríntios 12.31; 13.13.

10 de nov. de 2014

Recuperando o Evangelho

Paul Washer

O evangelho de Jesus Cristo é o maior de todos os tesouros dados à igreja e ao cristão como indivíduo. Não é uma mensagem entre muitas, mas a mensagem acima de todas as outras. É o poder de Deus para a salvação e a maior revelação da multiforme sabedoria de Deus aos homens e aos anjos. É por essa razão que o apóstolo Paulo deu primazia ao evangelho em sua pregação, esforçando-se com tudo que tinha para proclamá-lo com clareza, pronunciando até mesmo uma maldição sobre todos que pervertessem sua verdade.

Cada geração de cristãos, pelo poder do Espírito Santo, é responsável pela mensagem do evangelho. Deus nos chama a guardar este tesouro que nos foi confiado. Se quisermos ser fiéis mordomos, teremos de estar absorvidos no estudo do evangelho, tomando grande cuidado para compreender as suas verdades, comprometendo-nos a guardar o seu conteúdo. Ao fazê-lo, garantimos nossa salvação, bem como a salvação daqueles que nos ouvem.

Como sabemos comumente, a palavra Evangelho vem do vocábulo grego euangélion, que é traduzida como “boas novas”. Num sentido, toda página da Escritura contém o evangelho, mas em outro sentido, ele se refere a uma mensagem muito específica — a salvação realizada para um povo caído, por meio da vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Conforme o bom prazer do Pai, o Filho eterno, que é um com o Pai e a exata representação de sua natureza, deixou voluntariamente a glória do céu, foi concebido pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem, e nasceu o homem-Deus: Jesus de Nazaré. Como homem, ele andou sobre a terra em perfeita obediência à lei de Deus. Na plenitude do tempo, os homens rejeitaram-no e o crucificaram. Sobre a cruz, ele carregou o pecado do homem, sofreu a ira de Deus, e morreu no lugar do homem. Ao terceiro dia, Deus o ressuscitou da morte. Esta ressurreição é a declaração divina de que o Pai aceitou a morte de seu Filho como sacrifício pelo pecado. Jesus pagou a penalidade pela desobediência do homem, satisfez as demandas da justiça e aplacou a ira de Deus. Quarenta dias após a ressurreição, o Filho de Deus ascendeu ao céu e se assentou à destra do Pai, e foi-lhe dada glória honra, e domínio sobre todas as coisas. Ali, na presença de Deus, ele representa seu povo e intercede junto a Deus em seu favor. Deus perdoará plenamente a todos quantos reconhecem seu estado de pecado e incapacidade, e se lançam sobre Cristo, sendo por ele declarados justos e reconciliados a ele. Este é o evangelho de Deus e de Jesus Cristo, seu Filho.

Um dos maiores crimes cometidos pela presente geração de cristãos é a negligência do evangelho, e é devido a essa negligência que nascem todos os nossos outros males. O mundo perdido não é tão endurecido quanto é ignorante do evangelho, porque muitos que proclamam sua mensagem também ignoram suas verdades mais básicas. Os temas essenciais que compõem o próprio cerne do evangelho — justiça de Deus, depravação total do homem, expiação pelo sangue, a natureza da verdadeira conversão, e a base bíblica para a segurança da salvação — estão demasiadamente ausentes dos púlpitos atuais. As igrejas reduzem a mensagem do evangelho a algumas declarações do credo, ensinam que a conversão é apenas uma decisão humana e pronunciam a segurança da salvação para qualquer um que tenha feito a “oração do pecador”.

O resultado desse reducionismo evangélico tem sido de longo alcance. Primeiro, endurece ainda mais o coração dos não convertidos. Poucos “convertidos” dos dias modernos entram na comunhão da igreja, e os que o fazem, muitas vezes, se desviam ou têm as vidas marcadas pela carnalidade habitual. Milhões sem conta andam por nossas ruas e se assentam, não transformados pelo verdadeiro evangelho de Jesus Cristo. No entanto, estão convencidos de sua salvação, porque em dado momento de sua vida levantaram a mão em uma campanha evangelística ou repetiram uma oração aceitando Jesus. Esse falso senso de segurança cria uma grande barreira que, frequentemente, isola estes indivíduos de ouvir o verdadeiro evangelho.

Em segundo lugar, tal evangelho deforma a igreja, fazendo com que, em vez de ser um corpo espiritual de crentes regenerados, seja um ajuntamento de homens carnais, que professam conhecer a Deus, mas o negam por suas obras. Com a pregação do verdadeiro evangelho, os homens chegam à igreja, sem o entretenimento evangélico, atividades especiais ou promessas de benefícios além daqueles realmente oferecidos pelo evangelho. Aqueles que vêm o fazem porque desejam a Cristo e tem fome da verdade bíblica, adoração de coração e oportunidades de servir. Quando a igreja proclama um evangelho menor que isso, ela se enche de homens carnais, que compartilham pouco interesse pelas coisas de Deus. Manter tais pessoas é um fardo pesado para a igreja. A igreja então diminui o nível das demandas radicais do evangelho para uma moralidade conveniente, e a verdadeira dedicação a Cristo cede a atividades projetadas para suprir as necessidades sentidas pelos seus membros. A igreja torna-se dirigida por atividades ao invés de ser centrada em Cristo, e cuidadosamente filtra ou faz novo pacote da verdade, a fim de não ofender a maioria carnal. A igreja deixa de lado as grandes verdades da Escritura e do cristianismo ortodoxo, e o pragmatismo (ou seja, aquilo que mantém a igreja em movimento e crescimento) se torna a regra do dia.

Em terceiro lugar, um evangelho desse tipo reduz o evangelismo a pouco mais que um esforço humanista dirigido por estratégias de marketing sagazes, baseadas nas últimas tendências da cultura. Após anos testemunhando a impotência de um evangelho não bíblico, muitos evangélicos parecem convencidos de que ele não vai dar certo, e que o homem de alguma maneira tornou-se um ser complexo demais para ser salvo e transformado por mensagem tão simples e escandalosa. Hoje em dia há maior ênfase em entender nossa cultura decaída e seus modismos do que compreender e proclamar a única mensagem que tem o poder de salvá-la. Como resultado, o evangelho é constantemente reapresentado, de forma a caber na caixinha do que a cultura contemporânea considera mais relevante. Esquecemos que o verdadeiro evangelho sempre é relevante a toda cultura porque é a palavra eterna de Deus para todo homem.

Em quarto lugar, um evangelho assim traz repreensão ao nome de Deus. Uma proclamação diluída do evangelho faz com que os carnais e não convertidos entrem na comunhão da igreja, e pela negligência quase que total do que seja uma igreja bíblica, é permitido que eles permaneçam sem correção ou repreensão. Isso mancha a pureza e reputação da igreja e é blasfêmia ao nome de Deus entre os incrédulos. No final, Deus não é glorificado, a igreja não é edificada, os membros não convertidos na igreja não são salvos, e a igreja tem pouco ou nenhum testemunho ao mundo descrente.

Não fica bem a nós, ministros ou leigos, estarmos tão próximos, vendo “o glorioso evangelho de nosso bendito Deus” substituído por um evangelho de menor glória, e não fazermos nada sobre isso. Como mordomos desta verdade, temos o dever de recuperar o único evangelho verdadeiro e proclamá-lo com ousadia e clareza a todos. Faríamos bem em atender as palavras de Charles Haddon Spurgeon:

Nestes dias, sinto-me impelido a voltar repetidamente às verdades elementares do evangelho. Em tempos de paz, talvez sintamos liberdade de fazer excursões aos interessantes distritos da verdade que se encontram em campos distantes; mas agora precisamos manter-nos em casa, guardando os corações e lares da igreja, defendendo os primeiros princípios da fé. Na era presente, tem surgido na própria igreja, homens que falam coisas perversas. Há muitos que nos perturbam com suas filosofias e novas interpretações, com as quais negam as doutrinas que professam ensinar, solapando a fé que têm compromisso de manter. É bom que alguns de nós, que sabemos no que cremos, e não forjamos significados secretos para nossas palavras, simplesmente batamos o pé e nos recusemos a tanto, apresentando a palavra da vida, e declarando claramente as verdades fundamentais do evangelho de Jesus Cristo.
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Fonte: Trecho do Livro “Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão”, do autor Paul Washer, lançamento da Editora Fiel de março.